Imagine ChaMel 5ª Temporada (Filhos) - Capítulo 35: Novos caminhos

No enorme jardim de uma casa de festas na zona sul do Rio de Janeiro, Nícolas celebra seu aniversário de 10 anos na presença de amigos e familiares. A festa com tema circense conta com uma tenda que imita a lona de um circo, palhaços, malabaristas e outros detalhes que remetem a este universo.

Isabela caminha pelo jardim com um algodão doce azul nas mãos e quase esbarra em uma criança que brinca de pega-pega. Ela sorri e olha para os lados, buscando por Felipe. Ela encontra o namorado sentado com Chay em uma mesa e vai até eles.

— Quem diria que o meu primeiro primo já está completando uma década.

— Uma hora você se acostuma que as crianças crescem — diz seu pai. — Olha só para vocês.

Felipe ri e toma um gole de seu refrigerante.

— Pois é, semana passada sua caçula fez 19 anos.

— Uma jovem mulher. — Isabela passa a mão no cabelo comprido.

— Já consigo enxergar os cabelos brancos daqui — provoca Chay e sua filha devolve rapidamente:

— Só se forem os seus voando. — Os três riem. — Olha só quem chegou! — exclama Isabela e Chay se mexe inquieto em sua cadeira. 

Eles observam Mel cruzar o jardim e cumprimentar Luiza, que chama por Nícolas. O garotinho interrompe a brincadeira com os amigos e corre até a tia, que o pega no colo, girando-o no ar. A visão dos dois juntos faz Chay relembrar dos primeiros anos de vida de Vinícius e um sorriso nostálgico desabrocha em seu rosto. 

Mel coloca Nícolas no chão, tira um embrulho da bolsa e entrega ao sobrinho, que logo volta a correr com os amigos. As duas irmãs conversam rapidamente e Luiza aponta para o lado discretamente. Mel segue a indicação e vê Daniel conversando com Bernardo com Miguel no colo. Luiza faz mais um comentário e dá de ombros. Anelise se junta às duas.

— Meu Deus, quantos amiguinhos o Nícolas tem, hein? — comenta a jornalista. — Quase fui derrubada três vezes até chegar aqui — sorri passando a mão na testa para enxugar as pequenas gotas de suor que começavam a se formar próximo à raiz do cabelo.

— Essa fase é terrível — diz Luiza soltando um suspiro. 

— Ainda bem que os meus já passaram faz tempo — responde Mel. — Falando nisso, a Isabela já chegou?

— Todo mundo já chegou — ri Anelise. — Você que estava atrasada.

— Nossa, desculpa, fiscal de horário.

— Sua filha está ali. — Mais uma vez, Luiza aponta com discrição para um local do jardim. Mel sente seu estômago embrulhar ao ver na companhia de quem a filha está.

— Por que você não me avisou que o Chay viria? — questiona para a irmã.

— Porque se você soubesse, você não teria vindo.

— Até quando vocês vão ficar se evitando? — Anelise reflete. — Já passou da hora de vocês se acertarem.

— A nossa volta não seria fácil — Mel responde de imediato.

— Eu não estava falando deste tipo de acerto, e sim de uma relação entre duas pessoas maduras que têm dois filhos.

— Os nossos filhos são maiores de idade já, não temos mais nada para tratar.

— Legalmente não, mas você sabe que vai muito além de questões legais.

— Tenho percebido — resmunga Luiza.

— Nem vamos comentar o seu caso. Ainda não digeri isso — admite Anelise. 

— Quer saber de uma coisa?! — exclama Luiza. — Vamos logo cantar parabéns!

Todos os convidados se reúnem em frente à mesa principal sob a tenda circense. Nícolas se posiciona paralelo ao bolo colorido com Daniel do seu lado esquerdo e Luiza do lado direito com Miguel. Berenice e André, os avós maternos, ficam próximos de Luiza juntamente com Mel. Chay, Isabela e Felipe se acomodam perto de Daniel. Bernardo e Anelise se espremem diante da mesa entre as crianças, que são maioria na festa, e alguns poucos pais que foram convidados. Eles cantam Parabéns Pra Você, desejam muitos anos de vida para Nícolas e por fim, Felipe incentiva:

— Faz um pedido antes de soprar a velinha, Ni!

O garoto se inclina sobre o bolo, dizendo:

— Que a mamãe e o papai se casem de novo! — Ele assopra as velas de 1 e 0 sob os aplausos constrangidos dos adultos e gritinhos de entusiasmo dos amigos.

Luiza mantém o olhar pregado no filho com o sorriso congelado no rosto enquanto Daniel a observa seguindo rapidamente para Mel, Berenice e André que estão logo atrás. Todos eles com expressão de desconforto.

— Por que eu abri a boca? — Felipe sussurra para Isabela.

— Isso não tem nada a ver com você, Camila — opina João sentado em frente a saída do provador feminino de uma loja de roupas de banho. Camila analisa o biquíni amarelo em seu corpo e fica hesitante.

— Para mim está um arraso. — Yasmin surge atrás da amiga e dá um tapinha em uma das nádegas dela. — O que vocês acham? — pergunta dando uma volta sem sair do lugar. Tanto João, quanto Camila ficam encantados com o maiô preto com pedrarias que Yasmin usa.

— Você vai parar a festa — comenta João.

— Esta é a intenção — ri a loirinha. — Estou tão animada com nossa primeira viagem ao litoral italiano!

— Nossa esse final de semana promete — diz Camila. — Praia, festas, muito álcool!

João gargalha.

— E boa parte da nossa turma vai, né?

— Isso que está me animando. Vocês sabem se aquele Matteo vai?

— Está interessada, amiga? — pergunta Yasmin sorrindo.

— Demais. Héteros lindos que fazem moda é difícil achar.

— Eu estou aqui, ok? — acena João.

— Desde quando você é hétero?

— Eu sou livre, sem rótulos, mas sou lindo — ri João.

— Tadinho, está carente ele — ri Yasmin passando a mão no cabelo do amigo. — Quer elogios? 

— Cala a boca — ele empurra a mão dela.

— Eu acho que o Matteo vai — Yasmin responde a Camila. — Ele, o Paolo, o Fabrizio, o Luca.

— É muito colírio para pouca vista — brinca Camila.

Minutos depois os amigos deixam o shopping e seguem para o apartamento que estão dividindo no centro de Milão. Assim que chega, Yasmin vai até o seu quarto, deixa as sacolas de compra em uma canto e se joga na cama com o celular nas mãos.

— Oi, amore mio!

Victor ri.

— Oi, my love.

— Você está tão lindo, o que fez? — indaga Yasmin analisando o visual do namorado pela tela.

— Eu sou lindo, né Yasmin? Mas respondendo a sua pergunta, eu cortei o cabelo.

— Ficou sexy.

— Sexy está você com esse bronze.

— É o Sol da Itália — ri Yasmin. — Você vai ver realmente o bronze depois que eu voltar da praia.

— Já é este final de semana a viagem?

— Sim! — vibra Yasmin. — Você tem que ver as roupas que eu comprei, amor.

— Pode ser mais tarde? Eu estou finalizando uma atividade agora.

Yasmin dá um leve sorriso.

— Tudo bem, vou te perdoar porque você está muito gato. — Eles sorriem, se despedem e encerram a chamada de vídeo.

— Meu Deus, que vergonha! — exclama Luiza sentada em uma mesa embaixo da tenda com Berenice e Isabela. As crianças já voltaram a correr após se deliciarem com o bolo e os docinhos. A maioria dos adultos também conversam espalhados pelo jardim, o que torna a tenda um pouco mais reservada.

— De onde ele tirou essa ideia de casar de novo? Para casar de novo, vocês teriam que ter se separado — comenta Berenice. 

— O Nícolas não é idiota, né? — diz Isabela.

— Não, mas a Luiza disse para ele que o Daniel foi passar uns dias sozinho para pensar sobre a vida, não era para ele achar que os pais estão se separando.

— Mas ele percebeu que tem algo acontecendo. Já se passaram semanas que o Daniel deixou a cobertura.

— Em momento algum foi citada a palavra divórcio perto do Nícolas — garante Luiza. — Até porque nem a gente sabe se é isto que está acontecendo. O que é fato é que as coisas foram ficando cada vez mais frias entre a gente, ele mais distante e eu preferi pedir um tempo para ver como reagiríamos. 

— E como você está reagindo? — pergunta Berenice.

— Não vou dizer que é fácil ficar com os meninos sozinha.

— Além das questões envolvendo as crianças.

Luiza dá de ombros.

— Não sei. Foram tantos anos de união que eu estou tendo que aprender a ver a vida sem o Daniel nela.

— E como é a vida sem ele? — Isabela indaga.

— Estranha.

— Estranha para boa ou ruim?

— Ainda não sei dizer — responde Luiza. — É claro que em dias como o de hoje a saudade bate forte. Só que é uma saudade do que a gente já foi um dia, não do que estávamos sendo nos últimos tempos.

— Acho que esse tempo vai ser importante para vocês refletirem o que realmente sentem um pelo outro — opina Berenice. — E no fim vocês vão perceber que nasceram para ficar juntos. O divórcio nem sempre é a melhor opção para resolver os problemas, ainda pode afetar de uma forma irreparável toda a família, o Chay e a Mel são prova disso.

— Ei! — exclama Isabela. — Eu e o Vinícius não estamos afetados por causa do divórcio.

— Não falo por vocês diretamente, falo por eles mesmos. Veja, anos depois eles ainda ficam se evitando nas festas de família por causa de questões mal resolvidas. Ou melhor, uma questão. Amor.

Isabela olha para fora da tenda onde cada um de seus pais está em uma extremidade.

Marina aproveita o final de tarde ensolarado em Boston para corredor pelo bairro em que fica a sua irmandade. Quando está retornando para a casa, recebe um telefonema de Vinícius.

— Oi, Vini!

— Oi, meu amor. Como você está?

— Ofegante — ri Marina diminuindo o ritmo da corrida até estar caminhando. — Estava correndo — explica.

— Ah sim. Eu estou voltando para o apartamento.

— Como foi o quinto dia no estágio novo?

— Está melhorando. Ainda estou me acostumando com o ritmo da cozinha, com as pessoas. Hoje entrou mais uma estagiária. Agora não sou mais o único.

— Isso é bom, né?

— Por um lado sim, por outro não.

— Como assim? — pergunta Marina virando a esquina da rua de sua irmandade.

— O lado bom é que tem alguém para dividir as experiências e responsabilidades comigo. O lado ruim é que é mais uma pessoa concorrendo para ser efetivado depois que acabar o curso.

Marina ri.

— Isso é verdade. Se bem que você vai ficar trabalhando poucos meses antes de vir para cá, não é?

— Sim. Por isso que eu não estou tão desesperado em ser efetivado depois.

— Me conta mais sobre essa nova estagiária. Ela é da Ferrandi também? — Marina chega à sua irmandade e se senta nos degraus da entrada.

— Não, é de outra escola de gastronomia, mas eu não cheguei a conversar com ela ainda. A única coisa que eu sei é que ela é americana.

— Olha só! 

— E você, além de ofegante está como? — ri Vinícius. — Deu certo aquele teste?

— Ai, Vinícius, nem te conto! — exclama Marina e passa os próximos minutos contando como foi o mais recente teste que fez no MIT para o namorado.

Luiza, Daniel e os filhos juntamente com Mel e dois amiguinhos de Nícolas foram os únicos que restaram na festinha. Mel brinca com as crianças enquanto os pais delas não chegam. Luiza recolhe alguns pertences dos filhos, desviando dos funcionários que desmontam a festa. Daniel ainda brinca com Miguel no escorregador. Ele vê Luiza pegando uns bonecos embaixo de uma árvore e vai até ela, deixando Miguel na piscina de bolinhas.

— Posso te ajudar com alguma coisa? — pergunta ao se aproximar. Luiza, que estava perdida em pensamentos, se assusta com a chegada dele.

— Oi?

— Quer ajuda?

— Não, está tudo sob controle. Só vou esperar os amiguinhos do Nícolas irem embora e estou indo também.

— Este final de semana eles ficam comigo, né?

— Sim, como o combinado.

— Eu estava pensando em levá-los ao cinema. Quer ir com a gente?

Luiza encara Daniel. 

— Pode aproveitar sozinho esse momento com eles.

— Tá bom. — Daniel olha ao redor, conferindo se Miguel está bem sozinho. Em seguida volta a encarar Luiza, que também observava o filho. — Desculpa pelo o que o Nícolas disse.

— O que ele disse?

— Na hora de fazer o pedido.

— Ah, aquilo. — Luiza engole em seco. — Não precisa se desculpar, ninguém tem a ver com aquilo. Aliás, eu nem se de onde ele tirou aquela ideia. Na cabeça dele nós deveríamos estar casados,  ainda nem falamos de divórcio.

— Ainda?

— Foi uma maneira de dizer.

— Um ato falho?

— Dá licença que a psicóloga aqui sou eu. — Eles acabam sorrindo.

— Enfim — fala Daniel —, eu pedi desculpas, porque acho que o Nícolas ouviu uma conversa minha com um amigo e tirou aquela ideia.

O queixo de Luiza treme involuntariamente. 

— Vocês estavam conversando sobre divórcio?

— Claro que não.

— E por que o Nícolas remeteu a casar de novo, sendo que a gente nem se separou?

Daniel olha para o chão e Luiza percebe que ele corou levemente.

— Eu estava falando em casar de novo com você. Quando tudo isso passar, é claro. Renovar os votos.

Luiza empurra a vontade repentina de chorar garganta abaixo e sussurra:

— Daniel.

— A verdade é que até hoje eu não entendi por que você pediu para eu sair de casa por um tempo.

— Talvez porque não tenha dado tempo suficiente para você entender. — Ela olha para o jardim. — Os pais do Matheus chegaram! Vou me despedir dele. — Rapidamente Luiza se afasta, deixando Daniel sozinho e abalado.

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