Imagine 5ª Temporada | Capítulo 61: Reencontro
— Não se mexe — pede Renan ao se agachar ao lado de Yasmin.
— Minhas costas estão doendo — reclama a jovem, deitada de barriga para cima.
— Eu vou te levar pra sede. Fica calma. — Cuidadosamente, Renan pega Yasmin no colo. Ele caminha longos minutos de volta para a sede da fazenda enquanto a loirinha tenta ignorar a dor em suas costas.
Renan deita Yasmin na cama do quarto dele.
— O que aconteceu com ela? — questiona a cozinheira da fazenda, que entra preocupada no cômodo.
— Caiu do cavalo — responde Renan.
— Normal, minha filha, o primeiro tombo a gente nunca esquece — tranquiliza a funcionária que viu o parceiro de Yasmin crescer.
— Minhas costas estão doendo muito — reclama Yasmin, tentando encontrar uma posição confortável na cama.
— Vou pegar uma pomada pra passar em você — diz a cozinheira saindo do quarto.
Renan continua observando Yasmin, preocupado.
— Vamos almoçar e eu vou te levar pra São Paulo.
— Não precisa, com a pomada deve melhorar.
— Vai que você quebrou alguma coisa? A gente precisa ir pra um hospital.
Yasmin, que nem comentou com ele que além das costas está sentindo uma dor cruciante no pulso, diz:
— Não quero te atrapalhar. Amanhã vai vir o comprador das vacas.
Renan dá um leve sorriso e senta na beira da cama.
— Não tem gado nenhum que valha mais do que sua saúde.
O estilo de decoração moderna dá o tom principal do apartamento de Maria Luiza e Samuel, na capital carioca. Malu está sentada no sofá, lendo um livro em seu Kindle quando Samuel se aproxima, sorrindo de orelha a orelha.
— Adivinha o que iremos fazer na próxima sexta? — Ele se senta ao lado dela e Malu fica desconfiada do sorriso animado dele.
— O que vamos fazer na próxima sexta? — ela devolve a pergunta.
— Jantar mensal da…
— Não! — Malu nem deixa o namorado terminar a frase. — Eu não vou.
— Por quê, Malu?
— Porque eu não gosto.
— Mas a gente já vai há alguns meses.
— Por isso mesmo — retruca Malu apoiando o Kindle na coxa. — É chato, é cafona e eu não vou mais me colocar em situações constrangedoras como esta.
— Por que é constrangedor? — questiona Samuel e recebe um olhar duro da namorada.
— Eu preciso mesmo te lembrar de quando a mãe da Jaqueline me colocou contra a parede falando de casamento?
— E só por isso você vai deixar de ir nos jantares mensais da Jaque?
— Este é só um dos motivos. — Ela se acomoda do sofá para ficar com o corpo totalmente virado para ele. — Olha, Sam, a Jaqueline é sua amiga. Sua. Você pode ir sozinho.
— Mas é um jantar de casais.
— Por isso que eu falo que é cafona! E outra, nem sei porque só vão casais, a gente chega lá e fica homens de um lado, falando de “coisas de homens” — ela faz as aspas com os dedos — e as mulheres de outro, falando de “coisas de mulheres”. Eu não tenho saco pra isso, Samuel. No último, ficaram tentando convencer a Maísa a fazer harmonização facial. A Maísa, que é naturalmente harmonizada.
— Então você não vai? — Samuel perguntando com a voz manhosa.
— Não.
— Isto é um não definitivo?
— Sim — Malu volta a olhar para o seu livro digital.
Samuel pula do sofá com a mesma animação que chegou à sala.
— Ok, quinta-feira a gente volta a conversar. — Ele desaparece no interior do apartamento e Malu abaixa o Kindle mais uma vez.
— Que ódio! — exclama pra si mesma baixinho. — Eu não vou ceder desta vez, eu não vou ceder desta vez — repete pra si. Em seguida, pega o celular na mesinha de centro e liga para Graziele. As duas ficam longos minutos falando sobre o relacionamento de Malu e Samuel.
— Mas o quê? — Sophia empurra os papéis que analisava no escritório de sua casa. — Você caiu do cavalo, Yasmin?
— Calma, mãe — tenta tranquiliza-la Yasmin. — A gente já está indo pra São Paulo. Eu vou no hospital.
— Você vai direto pro aeroporto, vai pegar um jatinho e vir pro Rio de Janeiro, Yasmin.
— Mãe, não viaja. Eu estou bem — mente Yasmin, que sequer consegue mexer os dedos da mão direita.
Renan, que fingiu não perceber o inchaço no pulso dela, dirige o mais rápido que pode, em silêncio.
— Yasmin Abrahão Borges — fala Sophia pausadamente. — Eu quero você hoje no Rio de Janeiro. Já vou avisar o Dr. Bonilha. Você vai chegar direto pro consultório dele, fui clara?
Yasmin revira os olhos e olha para Renan.
— Minha mãe quer que eu volte direto pro Rio — fala abafando o celular. — Precisamos arrumar um jatinho ou ver se tem vaga em algum voo pró…
— O jatinho do meu pai já está esperando a gente — interrompe Renan sem desviar os olhos da estrada.
Yasmin não reage.
— Como é?
— Eu já tinha avisado o seu pai, que também achou que você tinha que ir direto pro médico da família de vocês.
— Meu Deus, é um complô?
— Você deve ter quebrado o pulso, Yasmin — retorque Renan sem rodeios.
— Claro que não, eu só… EI! — Yasmin puxa o braço com rapidez quando Renan ameaça pegar no pulso dela. — Foi só uma torção.
— Que história é essa de pulso quebrado? — questiona Sophia do outro lado da ligação.
— Mãe, a gente conversa melhor quando eu chegar no aeroporto. Tchau! — Yasmin desliga antes que Sophia possa falar mais alguma coisa. — Renan, desde quando você tem o telefone do meu pai?
— Eu não tinha, mandei uma mensagem pra ele no Instagram.
Yasmin revira os olhos.
— Não estou gostando desse seu lado super protetor — resmunga olhando para fora do carro.
— Você já sofreu demais nessa vida.
Yasmin volta a encarar Renan.
— Do que você está falando?
Renan diminui a velocidade da caminhonete, mas continua olhando para frente.
— Na bebedeira da formatura da Isabela você me contou porque tem essa cicatriz na barriga. — Yasmin sente um embrulho estômago ao se lembrar do tiro que tomou anos atrás. — Você também contou do sequestro com a Isabela e o Jonas.
— Tá bom, chega! — corta sem suportar as lembranças de seus maiores traumas. Ela vai o restante do trajeto até a capital paulista em silêncio e Renan respeita o espaço dela.
Victor, Marina, Vinícius e Chay chegam à mansão de Arthur e Lua.
— A gente deveria ter passado lá em casa pra pegar as malas de vocês — fala Vinícius.
— Não tem problema — responde Marina, jogando em um dos sofás a bolsa que o namorado levou com itens para eles tomarem banho. — Depois a gente pega.
— Eu vou lá e trago pra vocês — diz Chay. Rapidamente, o cantor deixa os três jovens sozinhos na mansão.
Vinícius senta ao lado da namorada no sofá enquanto Victor continua parado no centro da sala, observando lentamente cada objeto e móvel. Lembranças de um ano atrás tomam conta de sua mente, principalmente a mais dolorida de sua última vez no Brasil.
Yasmin estava sentada diante dele na cama do rapaz, na manhã de 25 de dezembro.
— Aconteceu algo no meu último dia de intercâmbio, que não tive coragem de te contar por telefone. Me desculpa só contar agora, mas é que eu precisava te falar pessoalmente. Precisava estar na sua frente para te dizer que… que… — Yasmin abaixou o rosto, fazendo com que lágrimas caíssem em seu colo.
— O que aconteceu? — ele questionou com o olhar atento nela.
Yasmin chorou por algum tempo, sacudindo a cabeça.
— Me desculpa, me desculpa — repetiu.
— Te desculpar pelo o quê? O que aconteceu, Yasmin? — questionou Victor com a voz mais séria.
— Eu… eu e o Luca… nós ficamos. — Ainda chorando, Yasmin se encolheu na cama.
— Victor!
O loiro desperta da memória e olha para a irmã.
— Oi?
— Perguntei se você já quer pedir o almoço.
— Ah, pode ser — responde o rapaz, sentando na poltrona perto do casal. Marina e Vinícius estão fingindo que não percebem o quanto o loiro está abalado desde que saiu do hospital. — Nós vamos voltar pro hospital que horas?
— Eu combinei com o pai lá pelas sete da noite — diz Marina. — Assim eles podem vir jantar e dormir aqui.
— E vocês têm tempo pra dormir um pouco — incentiva Vinícius. — Vocês precisam descansar também.
— Boa ideia — concorda Victor ainda apático.
Mesmo no jatinho, Yasmin continua fechada, ainda chateada por seus pais e Renan a forçarem a voltar para o Rio de Janeiro para ser atendida pelo médico da família. Ao chegarem na capital carioca, já tem um carro à espera do casal.
— Mas que merda! — exclama Yasmin dentro do veículo, encarando a tela do próprio celular.
— O que foi? — pergunta Renan ao lado dela no banco de trás.
— O médico não está no consultório dele hoje, a gente vai ter que ir no hospital que ele está de plantão.
— Que diferença faz, Yas? O importante é que você vai ser atendida — fala Renan fazendo um afago na coxa dela.
Yasmin não responde e olha pela janela. Sua chateação aumenta ao pensar que terá que ir ao mesmo hospital onde ficou internada quando foi baleada há anos.
Isabela está sentada em uma poltrona, contemplando o jardim da mansão dos pais. Embora a jardinagem esteja impecável, não são as flores que prendem a sua atenção.
— Logo agora que a Yasmin parece estar superando de vez o Victor, ele volta pro Brasil. — A morena puxa algumas pelinhas soltas de seus lábios. — Será que eu deveria contar pra ela que ele está aqui? Mas ela está longe também, que diferença ia fazer? — reflete Isabela. — Não, melhor, deixar ela aproveitar esses dias com o Renan. Quando ela voltar pro Rio, eu conto antes que a notícia chegue a ela.
Enquanto alguns profissionais transitam pelos corredores do hospital com carrinhos com os jantares dos pacientes, Victor é tomado por um impulso. Assim que entra na capela do hospital, é inundado por uma avalanche de recordações de anos anteriores. O espaço segue inalterado mesmo com o passar do tempo, com a mesma aura de serenidade e acolhimento e velas iluminando apenas o altar, do lado oposto ao da porta.
Ele se recorda de quando sentou no primeiro banco das três fileiras e rezou pela primeira vez, pedindo para Yasmin se recuperar do tiro que levou na fazenda:
— Minha mente e o meu corpo estão exaustos, mas eu não consigo relaxar pois só penso em como a Yasmin deve estar agora. Eu só quero vê-la bem de novo, sorrindo, dançando, fazendo palhaçadas e porquices. Sei que conheço ela não faz muito tempo, mas eu a amo muito, a dor que eu estou sentindo agora prova isso. Por isso eu volto a implorar, salvem a Yasmin! Ela é jovem, tem muita coisa pra fazer ainda, muitos sonhos para realizar e, é egoísta o que eu vou dizer, mas eu não posso viver sem ela. Por favor, eu sei que eu não mereço ser atendido por vocês, afinal eu não acredito em vocês, mas ela acredita. Eu não estou pedindo por mim, eu peço por ela. Salvem a Yasmin, por favor!
De volta ao presente, Victor sente o coração ficar apertado com a lembrança e a recordação emocional da possibilidade de perder Yasmin. Ele dá um sorriso melancólico, pensando que a loirinha não faz mais parte de sua vida, mas logo o sorriso se ilumina.
— Mas ela foi forte e se recuperou. — Ele encara o altar. — Obrigado por terem salvado a vida da Yasmin.
A poucos metros dali e sem nem desconfiar que Victor se encontra no mesmo hospital que ela, Yasmin deixa a sala de gesso com o pulso direito imobilizado. A loirinha segue na direção contrária de onde sabe que Renan a aguarda para ir ao banheiro mais próximo, indicado pelo profissional que engessou seu pulso quebrado.
Com apenas uma mão, ela separa um punhado de lenços para as mãos e deixa, em um canto da pia, o seu celular apoiado sobre eles. Enquanto usa o sanitário pensa que o dia começou alegre com ela andando a cavalo com Renan.
— Que ódio — reclama consigo mesma dos eventos seguintes. Após sair do banheiro, a loirinha constata que está diante da capela do hospital.
Sentado no mesmo banco que anos atrás, Victor volta a rezar.
— Olha eu aqui de novo. Mas desta vez, eu não venho implorar para vocês salvarem alguém. Se vocês realmente sabem o que é melhor para todos nós, então façam o que for melhor para o meu avô. — Ele engole em seco, empurrando para o fundo da garganta um choro que insiste em se formar. — Se for para ele viver, que ele se recupere logo. E se não for… que ele se vá. — As lágrimas tomam conta dos olhos dele. — Só não deixem ele neste sofrimento. É a única coisa que eu peço a vocês.
Do lado de fora, Yasmin segue contemplando a porta semi-aberta da capela. A loirinha franze a testa, dá um passo na direção da entrada, mas balança a cabeça e se vira na direção do corredor em que veio. Quando está quase chegando na recepção onde Renan está, resolve contar para Isabela tudo o que se passou, já que ela não conversou com ninguém além de Sophia o dia inteiro. Só então se dá conta de que deixou o celular sobre a pia do banheiro.
— Hoje realmente não é o meu dia. — Yasmin vai se arrastando de volta ao banheiro e encontra o celular no mesmo lugar em que deixou. Antes mesmo de sair mais uma vez do banheiro, começa a gravar um áudio para a melhor amiga: — Cara, estou de volta ao Rio. Você acredita? Ai, amiga, nem estou no meu inferno astral pra coisas ruins acontecerem comigo, sabe? — Ainda com o dedo pressionado para a gravação, ela abre a porta do banheiro com a única mão funcional.
Ainda com os olhos vermelhos, Victor sai da capela no mesmo instante em que Yasmin deixa o banheiro. A voz da loirinha chega aos seus ouvidos uma fração de segundos antes de seus olhos encontrarem a jovem do outro lado do corredor. No mesmo momento, o coração de Victor dispara e sua boca seca.
A perplexidade é espelhada no rosto de Yasmin, que paralisa com o celular ainda próximo à boca, gravando um áudio que agora ficou silencioso. O choque é tamanho que a loirinha sente as pernas fraquejarem e o ar escapar de seus pulmões.
Saudade. Mágoa. Tristeza. Arrependimento. Tesão. Angústia. Felicidade. Victor e Yasmin compartilham tudo isso em uma única troca de olhares.
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