Imagine 5ª Temporada | Capítulo 58: Um áudio


Um festival de pagode é uma das grandes atrações que agita o Rio de Janeiro no penúltimo sábado de setembro. Em um camarote exclusivo, Yasmin celebra o 20º aniversário com amigos do Rio e de São Paulo, incluindo Renan, com quem está se envolvendo há pouco mais de um mês. O produtor rural já tentou aprofundar a relação com a universitária, mas Yasmin mudou de assunto todas as vezes em que ele falou de namoro. 

Com drinks nas mãos, Isabela e Malu conversam acima da música.

— Eu tô adorando! — exclama Malu ao ser questionada sobre a vida sob o mesmo teto que Samuel. 

— Confesso que não imaginava vocês morando juntos tão cedo.

— Nem eu — ri Malu. — Mas, você sabe como o Samuel é emocionado, né? E eu não resisti. 

— Mas que bom que você tá curtindo.

— Sim! É claro que nem tudo são flores. Às vezes a gente se desentende por coisas bestas, sabe?

— Tipo o quê? — quer saber Isabela.

— Tipo coisa de casa mesmo. Organização das coisas, cada um tem o seu jeito, né? A gente ainda está descobrindo como a gente funciona morando junto. Apesar disso, tá sendo boa a experiência. Recomendo. 

Isabela ri.

— Vamos com calma — diz tomando um gole de seu drink.


Com o seu copo de cerveja vazio novamente, Yasmin tenta sambar no meio da roda que os amigos fizeram ao redor dela. A loira sorri e remexe o quadril. Ela busca o olhar de Renan e o seu sorriso aumenta ainda mais. 

— Você pode passar o tempo que for em São Paulo — grita Thiago para ser ouvido pela loirinha no centro —, mas nunca deixará de ser carioca!

Yasmin vibra e continua dançando com os amigos, celebrando a idade que completou no meio da semana.


Em Boston, Marina, Vinícius e Victor também celebram um aniversário. A comemoração é de uma das amigas da irmandade de Marina e a casa em que a filha de Arthur e Lua morava com elas é o cenário da festa. 

Em grupos, os jovens conversam, bebem e riem ao som de rap americano. Ao lado de amigos, Victor comenta:

— A Em tá me ignorando a noite inteira.

— Eu desisti de entender a relação de vocês — devolve um amigo dele.

— Cara, a gente se gosta, mas ela não consegue se entregar totalmente.

— Você sabe o porquê, né? — indaga Vinícius sem pensar. Ele e o cunhado trocam um olhar intenso. Marina fica incomodada com o clima entre eles e diz:

— Relaxa, Victor. Na hora certa ela vai te ouvir e vocês vão se resolver.


No palco do festival, Thiaguinho canta uma de suas músicas mais famosas. O público ecoa os versos de "Falta Você" enquanto dança em sincronia a coreografia do refrão. No camarote do aniversário de Yasmin não é diferente. Totalmente entregue à festa, a loirinha dança já com o cabelo preso para minimizar o calor. 

— Falta de tudo, não sei de nada — canta Isabela ao seu lado. — É só trabalho, volto pra casa não tem você!

— Falta você! — completa Thiago.

— Não tem seu cheiro no travesseiro — canta Yasmin olhando para Renan. — Quando eu me espalho na nossa cama, não tem você.

— Falta você. — O produtor rural dá um selinho nela. Ainda de olhos fechados, recebendo o afeto do rapaz, Yasmin vê o rosto de Victor invadindo a sua mente enquanto Thiaguinho canta mais uma vez o refrão da canção.

A imagem do ex-namorado deitado na cama dela é tão vívida que Yasmin abre os olhos imediatamente para voltar à realidade. Um calor totalmente diferente do provocado pela alta temperatura se espalha do seu peito aos braços. Movida por um impulso, a loirinha se afasta discretamente dos amigos, o suficiente para alcançar o seu celular na bolsa sem que ninguém espie a tela do aparelho. 


Na irmandade Kappa Delta Chi, Victor vê Emilly em um grupo próximo a mesa de bebidas e tenta novamente estabelecer contato com a jovem de cabelos loiros e olhos azuis profundos. Ele vai em direção ao grupo, fingindo que está apenas servindo o seu copo com mais bebida. Porém, seus olhos não saem de Emilly.

A garota, que tem se esforçado para ficar o mais distante dele o possível durante toda a noite, percebe a mais nova tentativa de aproximação e finge precisar ir ao banheiro. 

Victor suspira com frustração e pega o celular no bolso para disfarçar o incômodo.


Com a voz de Thiaguinho vibrando em seus ouvidos, Yasmin desbloqueia o celular com reconhecimento facial. Como o único canal de contato com Victor que pode ter é a conta no Instagram, ela procura o perfil do gêmeo de Marina e sem pensar duas vezes toca na tela em cima do ícone de seguir, que rapidamente dá lugar à palavra “solicitado”. 


A quase 8 mil quilômetros de distância e com uma hora de diferença, Victor franze a testa, sem acreditar na notificação que chega ao seu celular. Embora esta não seja a primeira vez em que Yasmin pede para segui-lo desde o término há nove meses, a sensação que invade o seu corpo é a mesma de todas as vezes anteriores. O coração fica acelerado, o rosto começa a arder como se estivesse em chamas e a respiração fica entrecortada.

Contrariando toda a sua racionalidade e as ocasiões anteriores, Victor aceita a nova seguidora.


O queixo de Yasmin cai enquanto todos ao seu redor continuam vidrados no show de pagode. Sem sentir as pontas dos dedos, ela começa a navegar pelo perfil de Victor, observando com detalhe cada uma das 6 fotos do jovem. Ela não deixa de reparar que em todas as imagens Victor aparece sozinho e que não há mais nenhum registro dos anos em que ele viveu no Brasil em seu perfil. 

Ela nem imagina que no mesmo instante Victor também analisa a conta dela. Para ele não há muitas novidades, visto que as publicações de Yasmin sempre estiveram públicas para ele consultar sempre que teve vontade. 

Porém, desta vez ele não usa nenhum aplicativo para esconder sua identidade ao assistir os stories ativos da irmã de Felipe. Os vídeos de Yasmin dançando e cantando no festival de pagode fazem Victor sorrir, espelhando a felicidade que a loirinha transparece nas imagens. O sorriso do rapaz vai diminuindo conforme ele nota a presença de um outro jovem loiro, sempre bem próximo a Yasmin.

Em carne e osso, Renan caminha até Yasmin.

— Ei, cansou de dançar? — pergunta abraçando a jovem por trás. Yasmin se assusta e abaixa o celular com rapidez, bloqueando a tela.

— Acho que estou ficando velha — brinca fazendo referência ao aniversário. Ela faz um esforço para apagar o rosto do ex-namorado da mente e se concentrar no outro rapaz à sua frente. 


Horas depois, Isabela dorme tranquilamente em seu quarto na casa dos pais. A estudante de jornalismo divide a cama com a melhor amiga. Ao contrário da morena, Yasmin está bem desperta, olhando para o teto. Ela ainda não consegue acreditar que Victor permitiu que ela o seguisse. 

O raciocínio comprometido pelo excesso de álcool influencia diretamente na percepção dela dos fatos. Ainda assim, Yasmin não deixa de reparar que desde a pequena interação virtual entre eles seu peito está preenchido por uma felicidade que há tempos ela não sentia. 

Yasmin sorri na escuridão do quarto de Isabela. Minutos passam sem que ela consiga voltar a dormir novamente. Ela gira na cama e alcança o celular para consultar as horas. 4:30.

A loirinha sai silenciosamente da cama e se esgueira pela porta rumo à sacada. O sol está prestes a surgir no horizonte e a loirinha observa o jardim abaixo. Embora seus olhos estejam fixos na vegetação, o que ela realmente enxerga são lembranças de anos atrás.

O mesmo impulso que a fez seguir Victor toma conta novamente e Yasmin desbloqueia o celular mais uma vez para buscar o ex-namorado. Desta vez, a jovem abre a janela de mensagens diretas. 

Sem pensar no que está prestes a fazer, Yasmin pressiona o comando de mensagem por voz.

— Oi — fala em um sussurro. Os olhos dela ficam marejados como se Victor estivesse ouvindo sua voz. — Que estranho falar com você depois de tanto tempo. — Ela fica em silêncio mais uma vez, porém o dedo permanece firme na tela. — Vai fazer um ano e eu ainda consigo ouvir o som do seu sorriso. Aquele riso debochado que só você tem… — ela se engasga com o próprio choro, mas continua: — Não tem um dia que eu não pense em você. Se tudo aquilo que a gente viveu foi real, não é possível que você não sinta o peito apertado como eu sinto. — Yasmin respira fundo, tomando clareza do que está fazendo. — Eu sinto sua falta — sussurra. — Victor… — o queixo dela treme ao pronunciar o nome dele —, te amo. 

Yasmin envia o áudio e se agacha na sacada, chorando em silêncio. O dia está quase amanhecendo quando ela busca o equilíbrio para caminhar e retornar para a cama ao lado de Isabela. 


O dia amanhece nublado em Boston, porém o humor dos irmãos Blanco-Aguiar parece ignorar o céu cinzento. Marina prepara o café da manhã, feliz por ter o fim de semana para relaxar e esquecer os afazeres da faculdade. Victor faz companhia para a irmã na cozinha do apartamento que ela divide com Vinícius. 

Ainda incrédulo com a iniciativa de Yasmin na noite anterior, ele luta contra o agradável calor que preenche o seu peito e tenta ignorar o aperto na boca do estômago que tenta levá-lo ao celular na sala, em busca de mais uma interação com a ex-namorada. Agora sóbrio, o universitário briga consigo mesmo por ter cedido à solicitação de Yasmin. Ainda assim, não consegue ignorar a alegria em saber que ela ainda pensa nele, não importa o motivo. Ele se irrita ainda mais ao se dar conta de que além da felicidade e da culpa, também está sentindo ciúmes do loiro desconhecido que ele viu ao lado de Yasmin durante o show. 

Victor não presta atenção em nada do que Marina fala durante o café da manhã, nem mesmo nas próprias respostas automáticas aos comentários dela. Quando termina de lavar a louça da primeira refeição deles, cede à ansiedade e praticamente corre até a sala. 

Vinícius chega da corrida matinal e cruza com o cunhado. 

— Tá tudo bem? — questiona parando para observar Victor.

— Tá, por quê? — rebate Victor sentando no braço do sofá. 

— Você tá… diferente — comenta Vinícius.

— É a alegria de estar na minha companhia! — brinca Marina entrando na sala. Vinícius sorri e dá um beijo rápido na namorada antes de ir tomar banho, deixando para trás as impressões sobre o cunhado. 

Marina senta no sofá no lado oposto ao que Victor está e fica analisando o irmão. A jovem conclui que as bochechas de Victor estão mais coradas do que o habitual e a respiração dele está muito acelerada para quem está em repouso. 

— O que você tem? — indaga rompendo o silêncio.

Victor esteve tão concentrado na nova notificação vinda de Yasmin que nem percebeu que a irmã se aproximou dele.

Marina paralisa ao ver a tela do celular do irmão. Sem se importar com a presença dela, Victor reproduz o áudio. Os gêmeos ouvem com atenção cada palavra de Yasmin: 

— Oi —. Victor fica estático ao ouvir a voz de Yasmin após meses. — Que estranho falar com você depois de tanto tempo. — O jovem não precisa de imagens pra saber que ela estava chorando no momento da gravação. — Vai fazer um ano e eu ainda consigo ouvir o som do seu sorriso. Aquele riso debochado que só você tem… — Enquanto ouve ela soluçar no áudio, Victor esboça um sorriso ao lembrar da risada dela. — Não tem um dia que eu não pense em você. Se tudo aquilo que a gente viveu foi real, não é possível que você não sinta o peito apertado como eu sinto. — A respiração profunda de Yasmin é perceptível no áudio ao passo que Victor não consegue puxar o ar pelas narinas. — Eu sinto sua falta. — Ele apura os ouvidos quando a voz dela perde volume. — Victor… — O coração dele bate freneticamente ao ouvir o próprio nome como um chamado. — Te amo. 

Com a boca seca, Marina ergue os olhos do celular para o rosto do irmão, que está inexpressivo. A morena apoia as costas no sofá, em choque com a declaração que ouviu. Ela volta a encarar Victor e questiona:

— O que você vai fazer?



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