Imagine 5ª Temporada | Capítulo 46: Parceria inesperada



O quarto de Jonas reflete a confusão interna em que ele se encontra. Ao lado de sua cama, pares de tênis se acumulam, assim como várias peças de roupas estão jogadas sobre a mobília do cômodo. Até sua mesa de estudos está bastante caótica, com diversas anotações soltas e livros abertos um sobre o outro. 

De cabelo molhado e sem camisa, ele se senta na cama e faz uma chamada de vídeo com Samuel e Pedro para contar tudo o que aconteceu com Maísa nos últimos dois dias. Tanto Pedro, quanto Samuel ficam estarrecidos com os acontecimentos.

— Caralho! — exclama Pedro. — Ele ainda ameaçou ela.

— E o pior, indiretamente — comenta Samuel.

— Eu estou com tanto ódio, tanto ódio! E eu tenho que ficar disfarçando para poder acalmar a Maísa — fala Jonas. 

— E como ela está? — quer saber Samuel.

— Em choque. Ainda sem acreditar no que aconteceu. Hoje a noite ela vai contar tudo para a mãe dela, até as suspeitas sobre a morte do Edson. Depois desses anos acho que está na hora da Lorena saber dessa teoria.

— Olha, quando você comentou com a gente sobre isso — diz Samuel —, eu confesso que achei que era loucura da cabeça da Maísa, mas depois disso tudo com o Everaldo eu estou achando que pode ter um fundinho de verdade nessa história.

— A minha vontade é de matar aquele homem! — esbraveja Jonas. — Ele e o assessor assediador dele. 

— Emboscadas são bem comuns no meio deles — comenta Pedro em tom de inocência. — Ninguém ia desconfiar de você.

Em seu apartamento em Porto Alegre, Samuel arregala os olhos.

— Acho que quando o Jonas quis dizer matar foi mais uma força de expressão, cara.

— Eu não estou falando para ele matar o homem, óbvio que não. Porém, não seria de todo mal uma emboscada que fizesse o Everaldo e o assessor dele pagarem um pouco pelo o que fizeram. E ainda ia ajudar o Jonas a extravasar a raiva.

Samuel ri com incredulidade.

— Essa é a ideia mais bizarra que eu já ouvi. — Ele olha para Jonas, esperando que ele concorde, porém um brilho maligno ilumina os seus olhos.

— Mas como eu montaria uma emboscada para ele? — pergunta o acadêmico de Economia. 

— Jonas!? — exclama Samuel. — Isso é insanidade.

— Aquele homem não pode passar impune!

— E o que você vai fazer? Cercar o carro dele? Ele deve andar com seguranças, cara.

— A Maísa comentou que nem sempre.

— É só aproveitar a oportunidade — avisa Pedro e Samuel retorque:

— Mano, para de dar ideia!

— Eu estou falando sério. Se quiser ajuda, Jonas, tamo aí.

Samuel sacode a cabeça completamente atônito com o andamento da conversa e Jonas se anima em seu quarto.

— Como a gente poderia fazer isso?

— Sei lá, nunca armei uma emboscada para ninguém.

— Você não está dando a ideia?

— A gente teria que pensar, né? Sei lá, observar a rotina dele e atacar quando ele estivesse sozinho.

— O assessor tem que estar junto — faz questão Jonas.

— Aí já complica, né? Mas acho que rola também.

— Beleza, e aí iriam vocês dois baterem nos caras? — Samuel tenta desacreditar a ideia na cabeça dos amigos. — Eles iam reconhecer vocês.

— Acho que ele nunca me viu — comenta Jonas.

— Muito menos eu — completa Pedro.

— Seria só eles entrarem no Instagram da Maísa que dariam de cara com vocês.

— A gente usa máscara então — fala Jonas.

— E o carro? Eles poderiam anotar a placa do seu carro, Jonas.

— É só a gente não usar o carro do Jonas — comenta Pedro.

— E usariam qual? Eles iriam chegar no proprietário de qualquer jeito.

— É só usar um carro roubado.

— Além da emboscada, vocês estão dispostos a roubar um carro? — choca-se Samuel.

— Roubar carro já é demais — esquiva-se Jonas. — Não tem como a gente fazer isso.

— É claro que não. Estou falando de comprar ou alugar um carro que já tenha sido roubado.

— E onde vocês fariam isso? — Samuel pergunta com uma curiosidade genuína. 

— Teríamos que encontrar alguém que tenha contatos com esse tipo de pessoa. Eu não conheço nenhum ladrão de carros.

— Muito menos eu. 

— Você não era bad boy no ensino médio? — provoca Samuel, satisfeito em ver a ideia dos amigos se desmanchando. 

— Eu era arrogante e mimado, não tinha amigos com envolvimento em coisas ilegais. Isso era coisa do…

— Thiago! — completa Pedro. Ele vibra de animação e Jonas sorri.

— É isso. O Thiago pode ajudar a gente.

Samuel volta a se desesperar.

— Não é possível que vocês realmente vão fazer isso.


Na manhã seguinte, Felipe estaciona seu carro em uma vaga próxima à entrada do bloco de seu curso. Ele passa a alça da mochila pelo ombro e equilibra nos braços as pastas referentes ao seu estágio. Ainda na calçada, é abordado por Jonas.

— O que você está fazendo aqui? — questiona surpreso.

— Preciso bater um papo com você — responde o namorado de Maísa com seriedade, deixando Felipe curioso. — Você tem um tempinho?

O acadêmico de Matemática confere as horas em seu relógio de pulso.

— Quinze minutos.

— É o suficiente.

Os dois se acomodam em uma das mesas de concreto dispostas na entrada no bloco e Jonas vai direto ao ponto que o levou até ali.

— Eu preciso de ajuda para armar uma emboscada para o Everaldo e o assessor dele.

Felipe segue olhando inexpressivo para ele. Nos segundos seguintes, o jovem pisca os olhos rapidamente, questionando:

— É sério?

— Sim. O Pedro está dentro. A gente precisa de mais uma pessoa para dirigir o carro e ficar na retaguarda enquanto a gente faz o que tem que fazer.

— E você quer que eu seja essa pessoa? — surpreende-se Felipe. — Por que eu?

— Porque eu percebi o quão revoltado você ficou quando eu contei tudo o que aconteceu com a Maísa e também porque tem que ser alguém de confiança.

Felipe arqueia as sobrancelhas, cada vez mais surpreso.

— Você confia em mim?

Jonas desvia o olhar, desconfortável com o que está prestes a admitir.

— A Isabela confia, então eu confio também.

Felipe ri.

— Quem diria, hein Jonas? Você pedindo a minha ajuda e ainda falando que confia em mim.

— Você topa ou não? — questiona Jonas voltando a encará-lo.

— Preciso saber mais alguns detalhes. Você tem noção que isso é muito sério, né? É mexer com gente realmente perigosa.

— Eu não tenho medo — diz Jonas erguendo o queixo.

— Ok. Como vocês vão encurralar o deputado?

— Ainda hoje vou contratar um detetive para acompanhar a rotina do Everaldo e saber em quais momentos ele fica sozinho com o assessor. É nesse momento que a gente vai agir. Vamos usar um carro roubado e máscaras para não sermos identificados.

— E onde vocês vão arrumar um carro roubado?

Jonas hesita antes de responder.

— É aí que vamos precisar de mais uma ajuda sua. O Thiago deve saber de alguém que trabalhe nesse ramo, não? Você poderia falar com ele?

Felipe ri.

— Meu Deus, isso é loucura! 

— Eu sei — concorda Jonas ainda bastante sério. — Mas eu não consigo permanecer sem fazer nada depois do que eles fizeram com a Maísa. Imagina se fosse com a Isabela ou a Yasmin.

Automaticamente, Felipe sente os braços formigarem com a corrente de raiva que se espalha até a ponta de seus dedos.

— Eu topo — fala por fim. — Vou te ajudar nessa emboscada.


Horas depois, Jonas e Felipe voltam a se encontrar ainda na cidade universitária da UFRJ, agora em frente ao bloco de Medicina.

— Thiago! — Felipe chama ao ver o amigo saindo com a mochila nas costas e o jaleco pendurado em um dos braços.

— E aí? — Thiago para em frente aos dois na calçada.

— A gente precisa levar um papo sério com você.

— Os dois? — surpreende-se Thiago. — Juntos?

— Você viu? — Felipe passa um braço ao redor dos ombros de Jonas. — Agora o Jonas quer ser nosso amigo.

O acadêmico de Economia empurra Felipe. 

— Para de gracinha.

— Eu tenho pouco tempo de almoço — fala Thiago. — A gente pode conversar em uma lanchonete aqui perto?

— Claro. 

Os três entram no carro de Thiago e seguem para uma lanchonete a duas quadras do bloco de Medicina. Após pedir um lanche e refrigerante, Thiago se volta para Felipe e Jonas.

— E aí, o que está pegando?

Felipe conta de forma resumida as suposições sobre a morte de Edson, o assédio sofrido por Maísa e a ameaça implícita feita por Everaldo. 

— O Jonas quer montar uma emboscada para ele — finaliza em um sussurro e Thiago arregala os olhos.

— Você quer matar o cara? — indaga elevando a voz.

— Fala baixo! — pede Jonas. — Claro que eu não vou matar ninguém. — Assim que conjuga o verbo, ele se recorda da ocasião em que teve que atirar contra o sequestrador dele, Yasmin e Isabela. Um calafrio percorre suas costas. Ele sacode a cabeça e fixa o olhar em Thiago, forçando-se a afastar a memória. — Vou só dar um susto nele.

— Hum. — Thiago não consegue formular mais nenhuma frase diante da ideia que ao seu ver é absurda e com altíssima probabilidade de dar errado. 

Felipe continua olhando para o amigo, esperando pela pergunta mais óbvia, porém Thiago permanece em silêncio.

— Você não quer saber onde você entra nessa história?

— Na verdade, não — Thiago dá um leve sorriso —, mas fala.

— A gente precisa de um carro roubado.

— E eu tenho cara de ladrão de carros?

— Claro que não, né? Mas você tem o contato de ninguém que possa desenrolar isso para gente?

— Nossa, é assim que vocês me julgam? — Thiago ri. — Olha, diretamente eu não tenho, não. Vocês sabem que o meu ramo era drogas, né? Como o Jonas sempre gostou de ressaltar no colégio — ele lança um olhar cortante para o outro rapaz.

— Pô, desculpa, cara — pede Jonas. — Eu era idiota demais.

— E agora quer espancar um deputado e sair impune, acho que não mudou muita coisa.

Felipe intervém:

— Mas e aí, você não conhece ninguém mesmo?

— Não. Mas eu posso ver com o pessoal se eles conhecem.

— Por favor, ajuda a gente — pede Jonas.

— A gente? — Thiago olha para Felipe. — Você está metido nessa história?

— Eu vou dirigir o carro.

— Vocês estão loucos! — ri Thiago com incredulidade. — A Isabela por acaso sabe disso?

— Óbvio que não. E nem pode saber, ela jamais concordaria com isso. Então, não conta para ninguém, nem para a Grazi.

— Relaxa, não vou falar nada. 

— Até quando você acha que consegue ver com os seus amigos? — pergunta Jonas com ansiedade.

— Ah, sei lá. Acho que em uma semana vocês têm o carro.

— Ótimo! Até lá o investigador vai apurando a rotina deles.

Thiago sacode a cabeça enquanto sorri.

— Vocês ficaram loucos.


Com cada um apinhado com a própria bagagem, Yasmin e seu grupo de amigos chegam no sábado de manhã à casa em que ficarão hospedados durante o final de semana em Veneza, que fica a um pouco mais de uma hora e meia de trem de Milão.

— Esse lugar é lindo! — deslumbra-se Camila parada no centro da sala de estar, que é integrada à sala de jantar.

— Você mandou bem demais escolhendo esse lugar — fala Paolo, deixando suas malas ao lado de um grande sofá vermelho.

— Victor, olha isso! — exclama Yasmin com o celular na mão, gravando um vídeo para o namorado. — Esse lugar é simplesmente perfeito — fala em português. — Olha o visual! — Ela se posiciona na janela que tem vista para um canal e chega a sacudir o celular de animação. — Diz se eu não vou passar o meu aniversário em grande estilo? — A jovem envia o vídeo para o namorado e se volta para os amigos. — E aí, qual é a primeira programação? — indaga, voltando a falar em inglês.

— Está animada, hein? — comenta João surgindo do corredor já sem suas bagagens.

— Eu quero aproveitar muito essas 48h! — responde Yasmin com os olhos brilhando.


Aproveitando o sábado ensolarado do Rio de Janeiro, Mel, Isabela, Felipe, Nicolas e Miguel almoçam na beira da piscina. Em um determinado momento do almoço, Isabela conta para Mel o caso de assédio sofrido por Maísa.

— Meu Deus, que horror! — choca-se Mel. — E o deputado ainda defendeu o assessor. É revoltante, mas é mais comum do que a gente imagina.

— É horrível, né? Eu fiquei indignada. 

— E como a Maísa está? — pergunta Mel.

— Se recuperando, mas vai ser um trauma eterno, né? Lembra daquilo que aconteceu com a Marina no banheiro do colégio durante uma festa?

— Lembro.

— Até hoje ela fica assustada e com medo em determinadas situações.

— É um trauma que a pessoa carrega para a vida inteira — comenta Felipe.

— Exatamente. Por isso é importante ter uma rede de apoio para tentar passar por isso da maneira menos traumática possível.

— E ainda me surpreendo com o fato do Jonas ter se endireitado — fala Mel. — Para mim aquele menino era um caso perdido. Ia crescer imaturo e irresponsável.

Isabela ri, bebericando seu suco de acerola. 

— Ele mudou bastante desde que a gente acabou a escola. Mas às vezes ele ainda tem umas recaídas de irresponsabilidade — ela sorri. — Agora mesmo, por exemplo, acho que ele está aprontando alguma coisa.

Felipe fica em estado de alerta, porém se esforça para continuar comendo normalmente. Mel questiona:

— Como assim? Por que você acha isso?

— Acho que ele está pensando em alguma coisa a respeito dessa situação da Maísa, mas eu não sei o que é. Só sei que a Maísa não desconfia de nada. Mas eu já percebi que ele anda trocando mensagens escondido dela.

— Será que ele está traindo ela? — supõe Mel, lembrando do histórico de infidelidade do rapaz.

— Não, acho que não é isso. Só sei que pelo pouco que eu conheço da Maísa, ela não vai gostar nem um pouco de saber que o Jonas está aprontando algo pelas costas dela. Na verdade, ninguém gosta de ser enganado, né?

Agora Felipe não é o único a ficar tenso, Mel se remexe na cadeira.

— A gente precisa analisar os motivos pelos quais ele está enganando ela — diz a empresária.

— Nada justifica mentira, mãe.

— Às vezes é por um bom motivo. Ele deve estar com receio de contar para ela.

— Nenhum medo deve ser maior do que a sinceridade — fala Isabela. — Você mesmo me ensinou isso.

— A vida é muito complexa, Isa — fala Felipe. — Não dá para ser tudo preto ou branco.

Isabela ri, alternando o olhar entre a mãe e o namorado.

— O que deu em vocês que estão querendo justificar mentira? Parece até que estão escondendo alguma coisa.

Felipe e Mel forçam uma risada, cada um aprisionado à própria farsa.

— Que isso.

— Claro que não.


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Comentários

  1. Meu Deus! HAHAHAHA
    Renata do céu, o que vai ser dos próximos capítulos? Quanta curiosidade.
    Isabela como ser indo atrás dos fatos

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  2. Eitaaaa, meu Deus hein que nervoso, vamos fazer uma maratona.
    Aprienciva aqui pra continuação.

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