Imagine 5ª Temporada | Capítulo 42: De volta ao Rio


Em um dos blocos da Nuova Accademia di Belle Arti fica localizado um ateliê de moda para estudos. No centro do espaço há cinco fileiras com três mesas que comportam luminárias, desenhos, peças de roupas, tecidos dos mais diversos e utensílios para composição e costura. Encostadas nas paredes, outras quatro mesas são utilizadas para anotações. 

Em uma delas, Yasmin aproveita o silêncio da sala vazia do início da manhã para escrever um relatório que compõe uma de suas notas do intercâmbio. 

— Buongiorno, signorina — cumprimenta Luca com a cabeça apoiada no batente da porta.

— Buongiorno! — Yasmin levanta o olhar de seu relatório e sorri para ele. — Você chegou na hora certa, está ocupado?

— Para você? Nunca. — Ele ri e passa pela porta, caminhando até a mesa em que Yasmin se encontra. — Está precisando de ajuda? — ele indaga ao olhar para as folhas e tecidos que rodeiam o notebook de Yasmin.

— Talvez um pouco — ela ri. — Estou fazendo uma análise sobre tecidos e texturas típicas italianas, mas estou me perdendo um pouco com a tradução. Você pode me ajudar?

— Mas o seu relatório é em português, não? — constata o rapaz passando os olhos pelo texto que ela escreve.

— Sim, eu preciso encaminhar para a minha professora no Brasil. 

— E como você quer que eu te ajude com a tradução? — questiona Luca, sentando na banqueta ao lado dela.

— Estou pesquisando referências em inglês, mas muita coisa interessante está em italiano. É aí que você entra.

Luca sorri e assente.

— Agora entendi. — Ele confere as horas em seu celular e diz: — Tenho uma hora até minha próxima aula.

— É o suficiente para mim.

— Então vamos lá! — Luca pega as referências de Yasmin e começa a ajudá-la.



O dia ainda está amanhecendo no Brasil e Chay e Mel escapam de seus dormitórios no retiro para assistirem o Sol surgir atrás de um morro. Sentados na grama, eles dividem um cobertor e conversam abraçados.

— Sexta-feira, hoje a gente volta para a cidade — comenta Chay.

— De volta à vida.

— Agora sim a gente vai entender esse retorno, né?

— O nosso?

— Sim.

Mel observa o rosto de Chay, dizendo:

— Eu já entendi o nosso retorno.

— Eu digo no sentido de voltar para a rotina. Vai ser diferente — constata Chay.

— Ah sim, isso vai. Mas nada muda a minha disposição de tentar fazer dar certo novamente.

Chay sorri e dá um beijinho no cabelo dela.

— Isso era tudo o que eu precisava ouvir.

— Desde quando você passou a ser inseguro assim? — ri Mel.

— Eita, essa conversa virou uma análise?

— Eu só estou brincando — justifica-se Mel.

— Sei, dizem que toda brincadeira tem um fundinho de verdade, não? — Ele sorri. — Acho que insegurança é normal após anos de um divórcio traumático.

— Traumático!? — Os dois riem. — Pelo menos uma coisa eu continuo reconhecendo em você, o drama.

— Um dos meus principais charmes — ri o cantor antes deles se beijarem.

— Sabe o que vai ser realmente difícil? — pergunta Mel quando o afeto termina. — Esconder isso das crianças.

— Sim, pelo menos o Vinícius não está aqui, do jeito que ele é capaz de reconhecer no nosso rosto a verdade. Ou sonhar!

— Nem brinca com isso — pede Mel. — Graças a Deus faz tempo que ele não tem nenhum desses sonhos premonitórios.

— Eu já aconselhei ele a procurar um auxílio espiritual, mas ele se nega.

— Acho que ele tem medo. Mas o importante é que por ora ele está conseguindo lidar com esse… dom.

— Sim. Agora, vamos ter que tomar muito cuidado com aquela pequena jornalista investigativa que habita sob o seu teto.

Mel gargalha.

— Depois da faculdade ela deu para dizer que sua curiosidade sempre foi um sinal de que estava destinada a fazer jornalismo.

— Só se fofoqueira tem outro nome — gargalha Chay. — O importante é que eles fiquem felizes com o nosso retorno.

— Eles querem a nossa felicidade, então acredito que vão ficar felizes sim.

— Até porque eu estou muito feliz — diz Chay apertando Mel em seus braços. Ela afunda no peito dele, sorrindo.

— Assim como eu.



Desde o início da semana Felipe tem dormido com Isabela na mansão de Mel. Após tomar banho, ele arruma seus pertences, ainda sonolento, para mais um dia de faculdade. Uma movimentação na cama indica que Isabela também está despertando. 

— Hoje a minha mãe volta para casa — ela diz após eles se cumprimentarem. 

— Ah é, último dia para eles daquele retiro sagrado — comenta Felipe em tom de escárnio.

— Para de zoar — pede Isabela, girando na cama para encará-lo melhor. — A gente ficou tempo insuficiente para ver algum resultado. Foi mais para relaxar mesmo.

— O único momento que eu relaxei foi quando a gente entrou no táxi para voltar para casa.

Isabela ri e se senta, prendendo o cabelo em um rabo de cavalo.

— Para a minha mãe estava fazendo efeito — diz. — Ela ficou super tranquila quando eu consegui encontrá-la e disse que o meu pai também estava lá. Ela disse que até já sabia. Acho que eles realmente se superaram.

— Até que enfim, né? — comenta Felipe sentando no pé da cama. Ele coloca uma das mãos sob os lençóis e fica acariciando a perna da namorada, que diz:

— É, ninguém aguentava mais o climão entre eles. E até hoje nenhum dos dois me disse o porquê disso. Só sei que começou depois do aniversário do Thiago na fazenda.

— Velho é tudo doido — brinca Felipe. Isabela se arrasta na cama e senta sobre as coxas dele. 

— Como será que a gente vai ficar na idade deles?

— Espero que juntos pelo menos — responde Felipe e eles gargalham.



As malas de Chay, Anelise e Bernardo se agrupam na recepção do retiro. O médico usa óculos escuros e está apoiado em uma das bagagens, observando os irmãos se despedirem dos funcionários.

— Muito obrigado por esses dias — fala Chay de mãos dadas com o professor de meditação. — Foi muito importante para mim. 

Até mesmo Anelise, que se sente revigorada após a semana no retiro, olha com estranheza para o irmão. No caminho para o carro, ela questiona:

— O que de tão maravilhoso aconteceu com você nesse retiro, Chay?

— A vida se tornou mais colorida.

— A minha se tornou mais verde — comenta Bernardo fazendo referência à paisagem e à alimentação dos últimos sete dias enquanto acomoda as malas no veículo.

— Tem algum motivo especial para isso? — Anelise pergunta ao irmão. — Ou alguém? — completa com astúcia.

Chay mantém o mesmo sorriso tranquilo ao responder:

— Eu saio daqui com muitas composições, Anelise. Muitas cores para o meu novo álbum.

— Ah sim — responde a jornalista, sentando no banco do passageiro. — Entendi.



Já na estrada de volta para a capital carioca, Luiza aproveita que Mel está na direção do carro para enviar uma mensagem de voz para Daniel.

— Estou voltando para o Rio — informa a psicóloga. — Estou morrendo de saudade dos meninos, quero muito ver vocês. A gente precisa conversar — acrescenta e envia a mensagem.

— Podia ter falado que estava com saudades dele também, né? — palpita Mel.

— Eu não sei como ele está se sentindo a respeito desse tempo — esquiva-se Luiza, mascarando o próprio orgulho. — Pessoalmente a gente conversa. 

— Acho que você está perdendo tempo. A vida pode ficar mais leve se a gente agir sem medo — poetisa e Luiza franze a testa.

— Você está tão estranha. Tão animada.

Mel lança um olhar de esguelha para a irmã.

— Eu sou uma pessoa animada, ok?

— Ultimamente você estava estressada e culpada por não passar tempo suficiente com a Isabela.

— Isso ficou nas malas do passado. Agora estou construindo novas bagagens.

Luiza assente e encara a paisagem da estradinha de terra.

— Ok, né!



Após almoçarem juntos, Jonas para seu carro em frente a Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. Ele olha para o prédio com pesar e encara Maísa.

— Até quando você vai estagiar no gabinete desse cara, amor?

A acadêmica de Direito bufa e solta o cinto de segurança.

— A gente já teve essa conversa, Jonas.

— Eu não gosto de você trabalhando no meio desse povo. Aquele Everaldo não me parece ser boa gente.

— Ele era próximo do meu pai. Já comecei a conversar com algumas pessoas, analisar alguns arquivos, eu vou descobrir o que de fato aconteceu com o meu pai.

— Quanto mais tempo passa, mais eu acredito que a gente deva aceitar o motivo divulgado.

— O meu pai não cometeu suicídio, Jonas. Ele não faria isso com a gente. Ele estava pressionado pelo partido por causa daquele caso de desvio de dinheiro da construção do hospital, mas ele não seria capaz de fazer isso. Eu tenho certeza.

— Você pode até estar certa, amor, mas qual é o preço para descobrir a verdade? Se mataram o seu pai e montaram um cenário de suicídio, o que eles podem fazer com você?

Maísa engole em seco. Apesar da vontade de fazer justiça pela morte de Edson, o medo aperta seu coração todas as tardes que passa na Assembleia, vasculhando arquivos do gabinete do deputado estadual Everaldo Luís.

— Eles não vão tentar nada contra, eles não sabem quais são os meus reais interesses. Acham apenas que eu quero seguir carreira política como o meu pai e que confio neles. Apenas isso, amor.

Jonas passa a mão no rosto com aflição e balança a cabeça, desistindo de tentar negociar com a namorada.

— Bom estágio.

— Obrigada. Boa aula para você. — Maísa dá um beijo morno em Jonas, pega seus pertences e sai do carro. Jonas acompanha com o olhar ela entrar no prédio, a boca seca e o estômago embrulhado.



— Que dê tudo certo, meu Deus — pede Luiza no elevador do hotel em que Daniel está hospedado desde que saiu da cobertura em que eles moravam juntos.

— Mãe! — exclama Nícolas correndo até Luiza assim que Daniel abre a porta do quarto.

— Oi, meu amor! — Luiza vibra, tirando o filho do chão. — Que saudade que eu tava de você, garoto!

— Eu também tava com saudades da senhora — diz Nícolas beijando a bochecha da mãe. Os dois ficam abraçados por um tempo, contemplados por Daniel, que sorri tranquilamente. — Cadê o seu irmão? — pergunta ao colocar Nícolas no chão.

— Está no quarto — responde a criança.

— Na cama, ele quis dizer — corrige Daniel e Luiza olha de relance para ele.

— Vem, mãe! — chama Nícolas pegando na mão de Luiza e tentando puxá-la para dentro do cômodo.

— Posso entrar? — ela pergunta para Daniel.

— Claro, amo… claro — atrapalha-se o arquiteto.

Luiza se deixa ser guiada por Nícolas até a cama de casal, em que Miguel dorme silenciosamente. A psicóloga se agacha ao lado dele e Nícolas a imita.

— Oi, meu pequenino — ela sussurra, passando a mão suavemente pelo cabelo do filho. — Como você passou a semana, meu amorzinho? A mamãe está de volta, tá bom? Te amo, Miguel. 

— Te amo, Miguel — repete Nícolas baixinho. 

Luiza sorri e se volta para o filho mais velho, abrindo os braços para abraçá-lo novamente. Os dois sorriem e sentam sobre o carpete.

Após vários minutos ao lado dos filhos, Luiza levanta e pede para Nícolas:

— Fica aqui com o seu irmão, tá bom?

Obediente, o garoto assente e também deita na cama de casal. Luiza passa a mão pela calça, mais na tentativa de se acalmar do que para ajustar a roupa. 

— Podemos conversar a sós? — pergunta para Daniel, que esteve todo o tempo sentado em um sofá próximo à sacada.

— Vamos ali — diz indicando o espaço atrás de si. Eles se acomodam em poltronas na sacada e Daniel pergunta em tom cordial:

— Foi boa a semana no retiro?

— Foi agradável — conta Luiza. — Parecia um programa furado, mas no fim das contas saí de lá com alguns aprendizados.

— Então valeu a pena.

— Acredito que sim.

— Que bom. Os meninos se comportaram muito bem — conta Daniel. — Nos primeiros dias eles sentiram a sua falta, principalmente o Miguel. O Nícolas entendeu direitinho que você ia voltar em breve.

— Fico feliz que eles tenham ficado bem com você.

— Sim, é importante, né? Ainda mais daqui para frente. — Daniel olha para o horizonte.

Luiza se mexe na cadeira e apoia os cotovelos nas coxas.

— É exatamente sobre isso que eu quero falar com você.

O arquiteto volta a encará-la e despeja as palavras com urgência como se quisesse acabar o quanto antes com a conversa.

— Eu sei que eu demorei mais do que o necessário para aceitar a nossa separação e se você estiver disposta a seguir em frente eu não vou mais causar nenhum impedimento. Nós podemos assinar o divórcio assim que os advogados acertarem tudo e com relação aos meninos eu faço questão de ter guarda compartilhada, porque é muito importan…

— Daniel, calma — pede Luiza esticando as mãos na direção dele. — Não terá guarda compartilhada, assinatura de divórcio, nada disso. Quer dizer… isso se você ainda quiser continuar casado comigo.

A perplexidade preenche o rosto de Daniel.

— Você… você está falando sério?

— Com toda a minha alma — responde Luiza, pegando nas mãos dele. — Durante esses dias no retiro eu percebi que minha vida não faz sentido sem você. Aquela cobertura não é a mesma sem você. Os meninos sentem a sua falta. Eu sinto a sua falta — admite por fim.

— Isso quer dizer que…

— Você aceita voltar a ser meu esposo?

Daniel sorri, ainda incrédulo.

— Claro que eu aceito. Você é o amor da minha vida, não teve um dia em que eu não pensasse em você e quisesse voltar para o nosso lar.

— Então volta — pede Luiza. — Volta para as nossas vidas, afinal você nem deveria ter saído.

Eles sorriem e levantam, selando a volta com um beijo apaixonado. 

— Que tal uma nova lua de mel? — propõe Daniel após o afeto.

— Como? — Luiza surpreende-se.

— Cinco dias na cidade mais apaixonante do mundo, topa?

— Ao seu lado eu topo ir para qualquer lugar, até para aquele retiro engraçado. — Eles riem e se beijam mais uma vez.



Chay está em seu apartamento, lendo um livro na sacada da sala. Ele escuta de longe o toque de seu celular e adentra no apartamento. Após pegar o aparelho na mesinha de centro, atende:

— Oi, filho! Como está?

— Oi, pai — responde Vinícius, caminhando por uma rua de Paris. — Estou bem e você?

— Estou ótimo.

— Como foi o retiro?

Chay solta um suspiro e sorri involuntariamente.

— Revigorante.

— Que bom! A Isabela me contou que a mãe também estava lá, né? Vocês resolveram fazer um retiro de família e não me convidaram? — brinca o jovem.

— Pois é, só faltou você para a família Fronckowiak-Rocha estar toda reunida — ri o cantor. — Foi uma surpresa saber que a Mel estava lá. A Luiza convidou e acabou não comentando com a Anelise, então a gente não sabia. Assim como a Mel também não sabia que eu ia, porque a Anelise não falou nada.

— Caramba. Coisa do destino, hein!

— Sim. Acho que era pra ser. Foi uma semana muito boa, compus algumas músicas também.

— Olha só! — exclama Vinícius, entrando na rua de seu prédio. — Eu estou realmente sentindo que você está mais alegre, dá para perceber pelo seu tom de voz.

— Você sempre sentindo as coisas — sorri Chay.

— E descobrindo antes de vocês nos contarem.

O coração de Chay dispara.

— Do que você está falando? O que você está descobrindo?

Vinícius gargalha enquanto para em frente à porta de seu prédio e alcança a chave no bolso de seus jeans.

— Eu tenho alguma coisa para descobrir? — ele responde com outra pergunta.

— Não.

Vinícius ri e Chay fica sem compreender o motivo da risada.

— Sua felicidade me deixa feliz — diz o rapaz subindo as escadas. — Você e a minha mãe felizes é o mais importante para mim.

— Você está querendo dizer alguma coisa, filho?

— Acabei de chegar em casa, pai — desconversa Vinícius. — Vou tomar banho rapidão que eu preciso ir para o restaurante. Bom retorno para o Rio para você.

— Obrigado, filho. Beijos, te amo!

— Beijo, também te amo. Tchau! — Eles desligam e Vinícius balança a cabeça, deixando as chaves e o celular em uma banqueta.

No Brasil, Chay senta no sofá e coloca uma mão no queixo, tentando entender a conversa com o filho.

— Será que o Vinícius está desconfiando de alguma coisa ou que eu me entreguei?




Comentários

  1. ChaMel não vão conseguir esconder essa volta, não, cê é doido! Se entregam demais!

    O Vinícius já sonhou com o negócio, olhe só kkkkkk

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  2. Velho é tudo doido — brinca Felipe. Isabela se arrasta na cama e senta sobre as coxas dele.

    — Como será que a gente vai ficar na idade deles?

    — Espero que juntos pelo menos — responde Felipe e eles gargalham.

    Kkkkkkkkkkkkkk assim mesmo Felipe, tudo doido

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  3. — Sei, dizem que toda brincadeira tem um fundinho de verdade, não? — Ele sorri. — Acho que insegurança é normal após anos de um divórcio traumático.

    — Traumático!? — Os dois riem. — Pelo menos uma coisa eu continuo reconhecendo em você, o drama.

    É que ele é canceriano, Mel! No sangue o drama.

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  4. Aí meu Deus, como eles vão fazer pra manter em segredo hein, Amo meu Chamel de volta .so não demora a postar mais

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