Imagine ChaMel 5ª Temporada (Filhos) - Capítulo 17: Casais sofrem com as consequências da distância

Samuel deixa um dos banheiros do casarão em que está acontecendo a festa promovida por Jaqueline. Ele fica parado em frente a porta por alguns segundos, tentando lembrar qual é o caminho de volta para o quintal. Nesse meio tempo, ouve sussurros próximos e reconhece uma das vozes de imediato. O rapaz caminha tentando não fazer nenhum ruído até o cruzamento dos corredores e a voz de Malu se torna mais nítida:

— Por que você está achando isso?

— Eu não sei — responde Marina com angústia. — Desde quando a gente chegou no Brasil, a gente não se fala normal. Está estranho.

— Estranho como?

— Estranho. A gente se fala, se beija, mas parece que não é a mesma coisa.

— A mesma coisa não vai ser mesmo, Marina. Vocês viveram muitas coisas e ainda estão vivendo, não tem como agir como esse nada disso fosse mudar a vida de vocês.

— Como você e o Samuel conseguem? — indaga Marina e Malu gargalha.

— Quem disse que a gente está conseguindo?

— Vocês estão juntos, não?

— Estar junto não significa estar bem.

— Vocês não estão bem? — Marina estranha. — Eu não percebi nada.

— Porque você está presa nos seus próprios problemas, né? Eu e o Samuel brigamos e eu não sei como estamos, para ser bem sincera.

— Vocês não conversaram?

— Você sabe que não é simples assim.

— É aí que está, quando eu dou conselhos para os outros parece tão simples. Gente, diálogo é tudo.

— Mas na prática você não consegue dialogar, sei bem como é — completa Malu.

— Vamos fazer um combinado? — anima-se Marina e a outra garota ri.

— Lá vem.

— Até o final dessa festa a gente vai ter conversado com o Vinícius e o Samuel.

— Nem pensar! — exclama Malu. — Não vou estragar a vibe da festa tendo uma conversa dessas com o Samuel.

— E você prefere continuar curtindo a festa estranha com o seu namorado?

— Não sei — ri Malu. — Só não acho que aqui seja a melhor oportunidade para a gente ter esse tipo de conversa com eles.

— Eu concordo, mas eu já tive oportunidades melhores e não conversei — Marina dá uma risada seca. — Acho que o problema sou eu, Malu.

Elas gargalham.

— Relaxa, vai dar tudo certo. Vocês só precisam conversar.

— Um conselho que você pode aplicar também.

Malu ri.

— Vem, vamos voltar para a festa.

Samuel continua parado no corredor até ter certeza que as duas se afastaram. Em seguida, ele vira o corredor e também segue para a área externa do casarão. O rapaz começa a procurar por seus amigos ao mesmo tempo que evita o local que Malu está. 

— Desculpa — pede ao esbarrar em Graziele, que também caminha pelo espaço. A ruiva acena com a mão, dizendo:

— Relaxa. — Ela contorna Samuel e continua andando com os olhos estreitos. — Ainda bem que te achei! — exclama ao encontrar com Danilo. O jovem, que dançava com Aline e Daniela, olha para a amiga e pergunta:

— O que foi?

— Acho que vou cometer uma loucura, amigo — diz Graziele e Danilo ri.

— O que foi again?

— Vem cá. — Graziele puxa Danilo para uma área mais vazia e conta: — Eu acho que quero ficar com o Thiago.

— Peraí! — exclama Danilo rindo. — Você acha que quer não, né meu amorzinho, se chegou a essa conclusão é porque quer realmente.

— Que seja. Você acha que é muito retrocesso? — Danilo hesita e Graziele ri. — Ok, já tenho a resposta.

— Não, amiga, calma — ele sorri. — Eu só estou surpreso com essa informação. O que te fez achar que você quer ficar com ele de novo?

— Não sei.

— Ai, Graziele, me ajuda a te ajudar.

— Eu não sei — ri a jovem. — É que fazia tempo que a gente não se via, né? Acho que deu uma abaladinha ver ele agora.

— E ele está gatinho, né? — comenta Danilo.

— Você está de que lado, Danilo?

— O da p*taria, sempre — gargalha o rapaz. — Mas falando sério, não acho que seja um retrocesso total, Grazi, mas pensa bem se é isso que você quer mesmo, porque vocês vão ter que lidar com isso depois, né?

— Será?

— É claro, vocês têm uma história juntos, acha mesmo que se vocês ficarem aqui vai ser algo facilmente esquecível?

— Isso é, mas se ficar estranho a gente volta para BH depois das férias mesmo.

— Sim, mas ainda estamos no começo de dezembro. Você está disposta a lidar com as consequências durante todo o restante das férias?

— Mas você acha que vai ser uma desgraça total a ponto de afetar o restante das férias?

— Não sei, amiga, estou apenas considerando todas as hipóteses. Mas faz o que o seu coração está te dizendo para que você não se arrependa depois.

Graziele assente.

— É, mas agora fiquei meio assim.

— Meu assim como, meu anjinho?

— Não quero afetar o resto das minhas férias. E outra, quem garante que o Thiago vai querer ficar comigo?

Danilo ri novamente.

— Ai, amiga, todo mundo sabe que ele é gado por você.

— Menos, Danilo, bem menos. Mas você tem razão, vou considerar um pouco antes de fazer qualquer coisa.

— Então vamos considerar bebendo, porque não te quero sobrea jamais — ri Danilo arrastando a amiga até o bar.

Não muito distante deles, Jaqueline dança com seu namorado, Gabriel.

— Às vezes eu não acredito que nós estamos juntos de novo, sabia? — ela comenta.

— Por que não?

— Sei lá, a gente passou tanto tempo separado.

— Porque você não queria me dar outra chance.

— Bem menos, né Gabriel — ri Jaqueline. — Você está piranhando por aí.

— Ué, porque você não me queria apenas.

— Mentiroso — ela sorri e dá um selinho nele. — Mas tudo bem, o importante é que estamos juntos agora. E eu te amo.

Gabriel aperta Jaqueline em seus braços.

— Eu poderia ouvir só isso o restante dos meus dias.

— Nossa, que dramático! — ri a loira antes de beijá-lo.

O beijo dos dois é interrompido por Samuel, que cutuca a amiga.

— Você viu a Luciana?

— Ele estava dançando ali — Jaqueline aponta para a direção da piscina e Samuel enxerga quem procura.

— Valeu. — Ele caminha até a amiga, que dança com Amanda e Talita. — Preciso falar com você.

— Aconteceu alguma coisa?

— Acho que sim — ele dá um leve sorriso.

— Vem cá.

Luciana pega na mão de Samuel e o guia até o interior do casarão. Os dois sentam em um pufe verde na sala principal e Luciana indaga:

— Então, o que houve?

— Eu ouvi uma conversa da Malu com a Marina.

— Vish! E aí?

— Pelo o que eu entendi, ela estava aconselhando a Marina sobre o Vinícius e a Marina comentou sobre a gente.

— Hum.

— Daí a Malu disse que a gente não estava bem e a Marina disse que tudo se resolveria com uma conversa e a Malu disse que não queria conversar aqui na festa, porque não é a melhor ocasião.

— Sensata.

— Mas aí é que está, eu não sei se quero conversar com a Malu.

— Como assim, Samuel? Você não quer se acertar com ela?

— Quero, mas eu não quero ter essa conversa, sabe? 

— Posso ser bem sincera?

O rapaz sorri e assente.

— Pode.

— Pra mim isso é falta de sexo. — Samuel cai na gargalhada e Luciana completa: — É sério! Cara, com uma boa transa vocês esquecem de toda essa frescura.

— Será mesmo?

— Você só vai saber se tentar — diz a jovem dando um sorriso.

— A gente nem está se falando, que dirá transar, Lu.

— Ah, mas se eu fosse a Malu eu não iria resistir a uma investida sua, não. 

Samuel ri e passa a mão no rosto.

— Caramba, isso é muito difícil!

Ao som de uma batida eletrônica, Marina, Isabela e Yasmin dançam juntas.

— É tão bom estar com vocês de novo! — exclama a loira abraçando as amigas. Marina sorri e passa a mão pelo cabelo, tirando alguns fios suados da testa.

— A amizade de vocês é tudo pra mim — sorri Isabela e Yasmin arregala os olhos.

— Ai meu Deus! — Ela tira seu celular de dentro de um bolso de seu short, sendo observada com estranheza por Marina e Isabela. 

— O que foi? — indaga Marina. Com o celular no ouvido, Yasmin responde:

— É aniversário de uma amiga minha da faculdade eu quase es… Nara! — exclama quando sua amiga atenda ao telefonema. — Parabéns, minha linda! Perdoa o atraso. — Ela ri. — Tudo de bom pra você, muita luz, felicidade, amor e saúde. Eu adoro a sua companhia. Que você continue evoluindo e se torne um ser humano de luz.

Marina sorri e com Isabela quando sente uma mão em suas costas. Ao olhar para trás enxerga Vinícius.

— Oi — diz abrindo um leve sorriso para ele.

— Oi, meu amor. — Vinícius dá um selinho demorado nela. — Eu estava vendo vocês dançarem. — Ele acaricia o rosto dela com o polegar e acrescenta: — Você é tão linda.

O sorriso de Marina aumenta e ela rodeia os ombros dele com seus braços.

— Eu te amo, Vinícius — se declara olhando intensamente para ele.

— Eu também te amo.

— Você não acha que tem algo de estranho entre a gente?

— Isso é inegável. — Vinícius é tão sincero que causa um desconforto no estômago de Marina. 

— Como a gente lida com isso?

— Assim — ele responde com a mesma simplicidade —, ficando junto. 

— E se não for suficiente?

— Eu tenho certeza que será. 

— Tenho minhas dúvidas — admite Marina dando um leve sorriso.

— Nós precisamos pelo menos tentar.

— Eu estou disposta a fazer qualquer coisa para que a gente fique bem.

— Calma, né? Qualquer coisa é muita coisa — ri Vinícius.

— Pra você ver o quanto você é importante para mim.

— Obrigado — ele sorri. — Eu nem preciso dizer o quanto você é importante para mim, né?

— Não, mas eu gosto de ouvir — brinca Marina e eles riem.

— Você é a mulher da minha vida — sussurra Vinícius e apesar da música alta, Marina entende. — Eu me sinto muito bobo falando isso com a idade que eu tenho, mas tenho certeza que nunca vou sentir isso por mais ninguém.

— Como você pode ter tanta certeza?

— Não sei, eu apenas sinto. Eu te amo tanto e não é só amor, é admiração, confiança, respeito, não é fácil encontrar tudo isso em uma pessoa só e que seja recíproco. E eu acho que é, nesse caso — ele ri.

— Hum, será que é recíproco? — Marina devolve a brincadeira. — Eu também não sei se vou conseguir sentir isso por outra pessoa. E na verdade, eu não tenho o menor interesse de sentir também — ela sorri. 

Vinícius acompanha seu sorriso e lentamente aproxima os lábios dos dela. O casal dá um beijo apaixonado e intenso. Após o afeto, Marina desliza a ponta do nariz pela bochecha do namorado e ouve ele dizer:

— Viu como tudo pode ser leve?

— Como assim?

— Se eu te conheço como acredito, você ficou aflita pensando nessa conversa, não? — Marina sorri e confirma com a cabeça. — Pois é, e foi só falar. Eu sempre estarei aqui para te ouvir, Marina — acrescenta com o tom de voz mais sério. — Não importa o que você tenha para dizer, eu sempre vou te ouvir e procurar te entender.

— No fundo eu sei, mas eu fiquei com medo também.

— Medo?

— De perder o que a gente tem.

— Não fica pensando nisso. O que importa é que nós dois temos consciência do que estamos enfrentando e estamos dispostos a passar por isso. Juntos.

— Sim. Vou tentar ser mais transparente.

— Eu também — promete Vinícius. Marina sorri e abraça o namorado com força.

— Ai, como eu estava com saudade de você!

Horas mais tarde, quando a festa já adentrou a madrugada, Felipe sobe as escadas com uma latinha de cerveja nas mãos. Ele traça o caminho até o banheiro mais próximo e se depara com a porta fechada. Ao dar duas batidinhas na madeira, escuta a voz de Graziele:

— Tem gente.

— Grazi, é o Felipe. — A ruiva não responde e ele pergunta: — Você está sozinha?

— Estou.

Felipe toma um gole de sua cerveja, pensando no que dizer.

— Você viu a Isabela por aí? — indaga.

Graziele demora para responder, até que diz:

— Não.

— Você tem certeza que está sozinha? — insiste Felipe e mais uma vez sua amiga não responde. — Grazi? — Ele ouve passos e a porta é destrancada. Graziele coloca a cabeça para fora do banheiro e fala:

— Ela pediu para não chamar nenhum de vocês.

Felipe suspira e pergunta:

— Ela está bem?

— Bem bêbada. 

— Deixa eu entrar — ele pede.

— Eu estou cuidando dela, Felipe.

— Estou virando especialista nisso já, Grazi.

— Tem sido comum? — estranha a ruiva.

— Toda cervejada.

— Caramba! — exclama Graziele.

— Ela não admite, mas essa é uma das formas dela descontar todo o estresse da faculdade.

— Isso é sério.

— Eu sei, mas tem sido só em festas mesmo, então eu não me preocupo tanto.

— É bom ficar de olho para que isso não se torne algo recorrente na vida.

— Sim. — Eles ouvem um ruído de dentro do banheiro e Graziele retorna para dentro, deixando a porta entreaberta. Felipe aproveita a oportunidade e se esgueira para o interior do cômodo.

Isabela está agachada em frente ao vaso sanitário. Seu cabelo está preso em um rabo de cavalo feito com uma de suas pulseiras. Em sua coxa, está apoiada uma toalha de rosto. Graziele fica ao seu lado, passando a mão em suas costas e dizendo:

— Vomita tudo o que tiver que vomitar.

— Já passou — sussurra a morena.

— Amor? — chama Felipe e Isabela vira o rosto para o lado contrário, reclamando:

— Eu não disse que não queria ninguém aqui?

— Ele apareceu — justifica Graziele. Felipe se aproxima dela e diz:

— Pode ir, Grazi, eu cuido dela daqui pra frente.

— Você quer que eu fique ou que eu vá? — Graziele pergunta para Isabela, mas a jovem permanece calada olhando para o box do banheiro. — Isa?

— Pode ir — ela responde baixinho.

Graziele levanta, troca um olhar com Felipe e sai do banheiro. O rapaz suspira, deixa sua latinha de cerveja na pia e se ajoelha ao lado da namorada.

— Mais uma vez, né Isa?

— Você veio aqui para me criticar? — ela rebate.

— Eu vim para cuidar de você, né? Como sempre.

— Não preciso dos seus cuidados. — Isabela levanta com dificuldade e caminha para fora do banheiro. Felipe segue ela até um dos quartos. No espaço há diversos colchões infláveis amontoados em um canto. Isabela puxa um deles para o chão e se joga nele. Felipe senta ao seu lado e fica observando a jovem em silêncio.

— Quero dormir — sussurra Isabela instantes depois.

— Dorme, meu amor — diz Felipe pacientemente. Ele se inclina e tira os sapatos dela. 

— Você vai ficar aqui comigo?

— O que você acha?

— Que não.

Felipe sorri e também tira os seus sapatos.

— Você está errada. — Ele deita ao lado dela e respira fundo. — Apesar de você não precisar dos meus cuidados, vou ficar aqui com você.

— Eu realmente não preciso dos seus cuidados — Isabela sorri e acrescenta com a voz manhosa: —, só do seu amor.

— Isso é o que não falta — responde Felipe. Ela se acomoda no peito dele e fecha os olhos.

— Nunca mais eu vou beber.

Felipe não se controla e ri.

— Eu sei.

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