Imagine ChaMel 5ª Temporada (Filhos) - Capítulo 7: Jonas se culpa por ter atirado em sequestrador

Com as armas em punho três policiais invadem o cativeiro em que os jovens foram mantidos presos por quase dois dias e se surpreendem com a cena que encontram. Isabela e Yasmin estão encostadas em uma parede, trêmulas e aos prantos e na frente delas está Jonas com os braços esticados segurando uma arma de fogo. Bruno está caído desacordado diante deles com crescentes manchas de sangue na calça e na camisa.

Assim que vê a porta da casa aberta, Yasmin segura no pulso de Isabela e sai correndo. Ao passarem pela porta são amparadas por uma equipe de socorristas. Isabela não oferece resistência quando um paramédico passa um braço por baixo de seus ombros e a guia até uma das ambulâncias ali perto. Seus olhos lacrimejantes ficam incomodados com a luz forte do sol do começo da tarde e tudo o que seus ouvidos captam é um grande tumulto após sua saída com Yasmin.

Isabela não enxerga sua amiga da faculdade driblar o bloqueio policial e entrar na casa.

As pernas de Beatriz fraquejam quando ela adentra no espaço em que seu irmão está caído. Policiais rodeiam ele e Jonas, que continua paralisado com a arma na mão. Os olhos dela não conseguem se desviar de Bruno e tudo o que ela escuta são frases soltas.

— Está tudo bem.

— Abaixa a arma lentamente.

— Você está seguro agora.

— Precisamos de um socorrista aqui!

Do lado de fora, Chay consegue finalmente se desprender do policial e parte em direção à ambulância que viu Isabela sendo levada. As portas traseiras estão abertas e dentro do veículo a jovem recebe atendimento médico.

— Filha! — exclama o cantor invadindo a ambulância. Ele ignora o paramédico e abraça Isabela com força. Ela não retribui o abraço. — Como você está? — pergunta Chay se afastando para enxergar o rosto dela. — Você está ferida? — Diante da paralisia da garota, ele se vira para o socorrista. — Ela está bem?

Chay não presta atenção na resposta do homem, pois volta a encarar a filha quando ela fala:

— Foi horrível. O Jonas… eu não… não era isso…

Chay fica assustado e Isabela levanta lentamente, olhando para fora da ambulância. O cantor segue seu olhar e vê Jonas sendo levado para outra ambulância. Rapidamente, Isabela empurra o socorrista que atende ela e desce correndo de sua ambulância rumo à de seu ex-namorado.

— Jonas — diz parando na frente dele. Ao contrário de como estava agindo segundos antes, agora ela fala energeticamente: — Você está bem? — questiona para o jovem que está pálido com gotas de suor na testa e o olhar distante. — Desculpa — ela pede voltando a chorar. — A culpa é minha, eu tive a ideia. Não era para ter acontecido isso.

— Eu sou um assassino — sussurra Jonas olhando para ela. Isabela fica sem reação e gagueja:

— C-como?

— Eu matei aquele cara — diz Jonas com os olhos frios e inexpressivos.

Sentindo o estômago doer de ansiedade e nervosismo, Mel conversa com Vinícius pelo telefone caminhando pelo hall de entrada da mansão de Sophia e Micael.

— Fica calma, mãe — pede o jovem.

— Como vou ficar calma com a sua irmã e o seu pai naquele lugar? — questiona Mel chorando. — E se acontecer alguma coisa com eles? Eu não vou suportar, Vinícius.

— Não vai acontecer nada. A polícia está lá, a nossa advogada também. Eles vão sair de lá bem, mãe!

— Estou tentando pensar nisso, mas meu coração está apertado e qu… Espera aí. — Mel corre até a sala e vê Sophia rodeada por todos. — Já te retorno, filho — diz a empresária desligando e se aproximando da sócia. — O que aconteceu?

— Eles invadiram o cativeiro — conta Sophia entre lágrimas e sorrisos. — Eles foram resgatados e estão bem!

A emoção é tamanha que Mel tem que se apoiar em Felipe para não cair. O rapaz passa um braço por sua cintura, firmando seu corpo.

— Ai meu Deus — Mel chora sorrindo. — Meu Deus, meu Deus! — Sophia vai até ela e a abraça. Lentamente, Micael também se aproxima deles três assim como Malu, Thiago e todos se abraçam e choram em comemoração.

— Mas onde elas estão agora? — questiona Felipe ignorando a participação de Jonas da mesma maneira que Victor faz.

— Estão sendo levadas para o hospital — responde Sophia enxugando as lágrimas do esposo.

— Vamos para lá — diz o rapaz de imediato.

Chay segue a ambulância de Isabela no carro de Fabíola, sua advogada.

— Eu ainda não estou entendendo o que aconteceu — diz o cantor aliviado, mas preocupado com o estado de saúde da filha.

— Só depois deles prestarem depoimento que nós vamos conseguir saber exatamente o que aconteceu — Fabíola responde.

— Mas a Isabela não está nem conseguindo falar coisa com coisa.

— Eles ainda estão muito abalados com tudo o que se passou, Chay.

— Fabíola — chama o cantor com a voz mais grave. — É verdade que foi o Jonas? Foi ele quem disparou aqueles tiros?

— Foi.

— Meu Deus — sussurra Chay. Ele fica em silêncio por alguns minutos, então tira o celular do bolso e liga para Vinícius. — Eles foram soltos! — conta com animação quando o filho atende.

— É sério? — A voz de Vinícius demonstra emoção. — Como foi? A negociação deu certo?

— Não — responde Chay ficando sério novamente. — Foi uma confusão, filho.

— Como assim? — questiona o jovem.

— Eu estava conversando com a amiga da Isabela, você acredita que ela e a família acreditavam que o rapaz estava morto?

— Que história é essa? — estranha Vinícius.

— Eu te conto uma outra hora. Enfim, eu estava conversando com ela quando nós ouvimos três disparos de dentro do cativeiro e a polícia invadiu depois diss…

— Três disparos? — interrompe Vinícius sentindo o coração disparar.

— Sim. — Como não está vendo a expressão de pânico do filho, Chay prossegue: — Eu não sei direito o que aconteceu lá dentro, mas logo depois da polícia invadir as meninas saíram correndo de lá de dentro e fora levadas para ambulâncias.

— Como elas estão? — pergunta Vinícius esquecendo-se de suas angústias e se preocupando ainda mais com a irmã e a melhor amiga. — Elas foram baleadas?

— Não, graças a Deus. A Isabela está em estado de choque. É sério, filho, eu nunca vi a sua irmã daquele jeito. Ela não está falando coisas com lógica. E depois eu fui tentar ver a Yasmin, mas ela estava tão agitada que os paramédicos resolveram dar um tranquilizante para ela, que adormeceu ainda na ambulância. Agora estamos indo todos para o hospital.

— E o Jonas? — indaga Vinícius.

— Ai, filho, eu não consigo imaginar o que esse menino está passando.

— Do que você está falando, pai?

— Eu nunca fui com a cara dele por causa de tudo o que a sua irmã sofreu quando eles terminaram, mas meu coração está apertado por ele.

— Pai, o senhor está me assustando. O que aconteceu com o Jonas? Ele foi atingido?

— Lembra que eu falei de três tiros? — indaga Chay e Vinícius sente todo o ar escapar de seu corpo ao imaginar Jonas ensanguentado. — Foi o Jonas quem atirou.

O jovem em Paris praticamente grita:

— O quê?

— Exatamente. Eu não sei exatamente como tudo aconteceu, mas o Jonas baleou o sequestrador.

— E ele mo… qual é o estado de saúde do sequestrador?

Chay suspira.

— Eu não sei. Estou preocupado com o Jonas, com a amiga da Isabela, tão inocente quanto as meninas, mas agora eu só consigo depositar minhas energias na Isabela e na Yasmin. Até eu chegar no hospital e me certificar que elas estão bem eu não vou conseguir me concentrar em mais nada.

— Sim. Mas eu estou perplexo. O Jonas atirando no sequestrador… eu jamais poderia pensar nisso. — Pai e filho conversam por mais um tempo e despedem-se.

Com rapidez, Vinícius joga o celular no sofá e vai para o seu quarto. Ele se estica e pega uma mala de viagem em cima do armário, onde começa a guardar várias peças de roupa e pertences.

A família de Jonas recebe a notícia do desfecho do sequestro por meio de Leila, mãe de Daniela.

— E o Jonas? Como o Jonas está? — pergunta Diana ainda nervosa.

— Ele está sendo encaminhado para o hospital neste exato momento. Tem uma coisa que vocês precisam saber — completa Leila apreensiva.

Maísa, que comemorava abraçada em Laís, para e questiona para ela:

— Aconteceu alguma coisa com o Jonas?

— O sequestro não acabou porque as negociações foram efetivadas. De alguma forma que a gente ainda não sabe, os meninos renderam o sequestrador e… o Jonas atirou no rapaz.

Diana despenca no sofá mais próximo e é amparada por Laís. Maísa se apoia em uma poltrona e Heitor continua olhando fixamente para a advogada.

— Como assim, Leila?

— Fiquem calmos. Sentem, por favor — pede apontando para os sofás. Ela também se acomoda e conta tudo o que sabe até o momento.

Após almoçarem, Lorenzo, Daniela, Aline e Alexandre saem caminhando do restaurante universitário. Aline e Daniela riem de uma piada feita por Alexandre quando Lorenzo diz:

— Gente, presta atenção aqui.

— O que foi? — pergunta Daniela vendo o amigo sério.

— O sequestro acabou — conta o universitário olhando para seu celular e todos exclamam.

— E aí? — indaga Daniela. — Eles estão bem?

— Pelo o que saiu na mídia, sim. Não tem muita informação, apenas que os três foram liberados e encaminhados para o hospital.

— E o bandido? — questiona Aline.

— Ele foi baleado e levado para um hospital também.

— Caramba! — exclama Alexandre.

— Vou mandar mensagem para a minha mãe, ela deve saber de mais coisas — diz Daniela pegando o celular na mochila.

— Avisa o Iago — Alexandre fala para Aline. — Ele estava super preocupado também, coitado.

Nos Estados Unidos, Marina caminha com Victor de volta para o laboratório onde ela tem aula.

— Fica aqui, eu só vou pegar minhas coisas — diz para o irmão e entra no laboratório. A morena ignora o olhar de censura de seu professor quando sai novamente da sala agora com sua mochila. — Está tudo bem? — pergunta vendo Victor apoiado na parede pálido.

— Eles foram libertados — diz o loiro.

— Oh my Gosh! — exclama Marina. — E aí?

— Eles estão aparentemente bem, foram levados para o hospital.

— Nossa, que alívio! — suspira Marina. — Quem te avisou?

— O Felipe. — Ele umedece os lábios e diz: — Eu vou para o Brasil.

— Ah, não, de novo essa história não! — Um estudantes que passa pelo corredor olha com estranheza para os irmãos que conversam em português. Victor responde:

— Marina, a Yasmin precisa estar rodeada de pessoas que amam ela.

— E ela estará. Victor, isso é loucura. A gente não pode se ausentar assim de repente, você sabe como funciona aqui.

— Eu não me importo.

— Se importa, sim! — retruca Marina apertando o braço dele. — Presta atenção, Victor. São mais de doze horas de voo daqui para o Rio, ou seja, você passará mais de um dia só viajando. Você vai se prejudicar muito, pensa bem.

— Eu quero ver a Yasmin — diz Victor em um tom de voz baixo. — Eu preciso, Marina.

Os olhos de Isabela correm pelo quarto do hospital em que ela está deitada em uma cama. Cortinas brancas filtram a claridade do Sol, que incide sobre uma poltrona bege ao seu lado. Não há muitos outros objetos no espaço, por isso ela fica analisando os aparelhos conectados a seu corpo. A porta é aberta e a acadêmica de jornalista sobressalta-se. Uma enfermeira entra acompanhada por um policial e Fabíola.

— Como você está? — pergunta a advogada parando ao lado da cama dela.

— Não sei — sussurra Isabela. — Onde estão a Yasmin e o Jonas? — questiona com mais firmeza.

— Eles estão bem — tranquiliza Fabíola. — Esse é policial Sampaio, ele vai ter fazer algumas perguntas, tudo bem?

— Tudo bem — murmura Yasmin no quarto ao lado diante de uma outra enfermeira, um policial chamado Gomes e Olavo, advogado de seus pais. Gomes puxa a poltrona idêntica à do quarto de Isabela para mais perto da cama da loirinha, Olavo senta aos pés da cama e a enfermeira fica parada ao lado da porta.

— Como vocês foram abordados pelos sequestrados?

Com apatia, Yasmin narra:

— Eu tinha saído da casa noturna para conversar com o meu namorado. Procurei um lugar silencioso, porque não estava ouvindo ele direito, então eu sentei na frente de um barzinho que estava fechado e fiquei lá conversando com ele. Depois a Isabela chegou com o Jonas e a gente ia voltar para a rua da casa noturna, mas aí um carro parou do nosso lado e um cara desceu mostrando uma arma e mandou a gente entrar. A gente ficou com medo e obedeceu.

— Depois que vocês entraram no carro, as pessoas falaram alguma coisa para vocês? — questiona Sampaio para Isabela.

— Eles disseram que a gente ia passar em caixas eletrônicos para sacar o máximo de dinheiro possível — responde a morena olhando para as próprias mãos pousadas em sua barriga. — Eles pararam em um caixa eletrônico e disseram para o Jonas descer. Ameaçaram ele dizendo que se ele tentasse fazer alguma coisa eles machucariam eu e a Yasmin.

— O Jonas voltou e a gente estava indo para outro caixa eletrônico — Yasmin conta para Gomes. — Só que no caminho a mulher que dirigia o carro viu um outdoor da MelPhia com a minha foto e eles me reconheceram. Então eles levaram a gente para aquele lugar — sua voz treme ao falar do cativeiro e seus olhos ficam marejados. — No caminho eles tamparam nossos olhos com umas camisas e quando a gente chegou lá prenderam nossos braços para trás com uma corrente de ferro.

— De manhã a mulher disse que pesquisaram sobre a gente e descobriram quem são os nossos pais — fala Isabela. — Em vários momentos eles disseram que iam ganhar muito dinheiro com a gente, eles estavam animados por isso. E… — ela engole em seco e fecha os olhos, lutando contra as lágrimas.

— E o quê? — pergunta Sampaio.

— Eles batiam na gente o tempo todo — conta Isabela deixando uma lágrima rolar por seu rosto. — O que mais apanhou foi o Jonas, mas a mulher sempre que podia batia eu mim e na Yas ou chutava nossas pernas.

— Vocês ficaram sabendo quando dois dos sequestradores saíram da casa? — Gomes indaga para Yasmin.

— Sim. Eu e o Jonas estávamos dormindo, mas a Isabela estava acordada e ouviu. Então ela acordou a gente também e contou que o Bruno tinha ficado sozinho.

— Vocês sabiam o nome do sequestrador?

— A Isabela deduziu pelo o que ela ouviu e depois quando a polícia começou a conversar com ele a gente teve certeza.

— Você sabia do parentesco da sua amiga chamada Beatriz com o Bruno? — Sampaio pergunta e Isabela confirma com a cabeça.

— Ontem na hora que eles foram servir nosso almoço eu vi “Cidade de Deus” escrito na sacolinha plástica. Então eu perguntei se a gente estava lá e eles ficaram assustados. Nessa hora a Yasmin comentou que a minha amiga da UFRJ Beatriz morava lá. Então… — ela volta a chorar —, então o Bruno encostou a arma na minha cabeça e perguntou que curso eu fazia. Eu respondi e pela reação dele percebi que ele conhecia a Bia. Ele estava muito perto e pela primeira vez eu observei bem o rosto dele. Os dois são parecidos, então eu perguntei para ele se eles eram parentes e… ele deu uma coronhada na minha cabeça e eu desmaiei. Quando eu acordei não consegui dormir mais e foi aí que eu ouvi os outros dois saírem.

— Depois disso o que aconteceu? — questiona Gomes e Yasmin conta a ideia de Isabela deles abrirem os cadeados com um dos grampos que estavam em sua cabeça.

— A gente acabou pegando no sono — diz Isabela. — Hoje de manhã fomos acordados pelo Bruno e ele estava transtornado. Ele falou que era para a gente sair do quarto e a gente trancou os cadeados de novo para ele não descobrir que a gente tinha conseguido abrir.

— Onde vocês ficaram? — Gomes pergunta e Yasmin responde:

— Na sala, encostados em uma parede na frente do corredor. — Ela olha para as manchas arroxeadas em seus pulsos e acrescenta: — Ele estava louco, ficava andando de um lado para o outro, ameaçando atirar na gente o tempo inteiro. Quando a irmã dele, amiga da Isabela, começou a falar ele ficou ainda pior. De repente ele foi para dentro da casa e a Isabela autorizou a gente a abrir os cadeados. Ela também disse que tinha um plano para a gente render o Bruno e fugir.

— Qual era o seu plano, Isabela? — Sampaio indaga.

— Como o Bruno foi para os fundos da casa, eu tinha esperança dele fazer isso de novo. Então quando ele voltasse para a sala a gente já estaria sem as correntes. A ideia era eu e a Yasmin nos esconder na parede oposta e o Jonas ficar na do lado do corredor. Quando o Bruno entrasse na sala o Jonas atacaria ele pelas costas, jogando ele no chão e pegaria a arma. Então, sem a chance dele atirar na gente, nós três sairíamos correndo.

— E o plano da Isabela deu errado? — indaga Gomes e Yasmin assente.

— Deu. — Todos no quarto aguardam ela continuar, porém a loirinha silencia.

— Por que deu errado?

— A gente fez exatamente o que estava previsto. O Bruno ouviu um barulho vindo dos fundos e foi checar o que era. Nessa hora nós três soltamos as correntes, eu e a Isabela corremos para a parede e o Jonas ficou perto do corredor. — Seus olhos estão extremamente vermelhos, mas seu olhar continua frio e distante assim como sua voz. — Quando o Bruno voltou o Jonas pulou nele e caiu por cima dele. Com a queda a arma escapou da mão do Bruno e o Jonas pegou. Ele veio correndo para perto da gente, mas o Bruno levantou rapidamente também.

“Eu e a Isabela ficamos grudadas na parede e o Jonas na nossa frente. Ele apontou a arma para o Bruno e disse para ele não se aproximar, senão ele atirava. O Bruno começou a rir e disse que ele não teria coragem. O Bruno foi chegando cada vez mais perto e a gente ficou apavorado, pensando que ele poderia tomar a arma do Jonas a qualquer momento e… ele ia matar a gente se isso acontecesse. Ele disso isso!

O Jonas voltou a falar para o Bruno não chegar mais perto, porque ele iria atirar sim. O Bruno continuou duvidando e dizendo que ia matar a gente, que deveria ter feito isso desde o começo. O Jonas engatilhou a arma e o Bruno… ele ergueu as mãos e correu na nossa direção. Eu e a Isabela nos abraçamos gritando e o Jonas… atirou.”

— Não era para ter sido assim — diz Isabela aos prantos. — O Jonas não queria matar ninguém. Ele só ficou com medo porque o Bruno estava vindo para cima da gente. Ele iria nos matar se conseguisse pegar a arma. — Ela se engasga com o próprio choro e o policial intervém:

— Ok. Acho que nós podemos parar por aqui.

Isabela encara Sampaio aflita.

— Como a Yasmin e o Jonas estão?

— A Yasmin também está prestando depoimento agora e Jonas está em observação.

— Por que ele não está sendo interrogado como a gente? — questiona a jovem desconfiando da tranquilidade na voz do policial. — Qual é o estado de saúde dele?

Sampaio olha para Fabíola, que diz suavemente:

— O Jonas não está em condições de prestar depoimento.

— Por quê?

— Ele está muito abalado com o que aconteceu. Não está conseguindo conversar logicamente ainda.

— E ele vai ficar bem? Digo, ele agiu por legítima defesa. Nenhum de nós queria que o Bruno morresse, não…

— Isabela — corta Sampaio. — O acusado não morreu.

— Como?

— Dois dos três tiros que o Jonas disparou acertaram o acusado na perna e no tórax, mas ele está vivo, foi encaminhado para um hospital. O terceiro disparo atingiu o armário que tinha no cômodo.

— Mas o Jonas disse que ele tinha morrido.

— Como disse — responde Fabíola — ele não está conseguindo dizer nada com nexo.

— Meu Deus — sussurra Isabela.

— Agora você precisa descansar também.

— Eu quero ver meus pais — pede a universitária com urgência.

— As visitas serão autorizadas em breve.

— Eu quero vê-los agora.

— Agora você precisa descansar — retorque Fabíola. — O que vocês passaram não foi fácil, Isabela.

Atordoados, Heitor e Diana passam pela porta da emergência do hospital e vão até o balcão de atendimento seguidos por Maísa e Laís.

— Boa tarde — diz o pai de Jonas —, nós queremos informações sobre um paciente que deu entrada agora há pouco.

— Qual é o nome do paciente? — pergunta a funcionária sentada em frente a um computador.

— Jonas Amorim.

A mulher digita agilmente e corre os olhos pela tela do computador. Maísa aperta as mãos e morde os lábios com nervosismo.

— Me acompanhem, por favor — diz a funcionária saindo de trás do balcão.

— O Jonas não está na emergência? — questiona Diana quando eles entram em um elevador atrás da funcionária do hospital.

— Está.

— Então por que nós estamos saindo de lá?

— São orientações da direção do hospital — responde a mulher. Diana olha confusa para Heitor, que dá de ombros tão desorientado quanto ela. O casal sai do elevador e juntamente com Maísa e Laís caminham por um larga corredor atrás da funcionária. — Fiquem aqui — ela diz ao parar em frente à uma porta azul. — Daqui a pouco algum médico virá informar a respeito do estado de saúde do paciente.

Com a testa franzida, Maísa entra no espaço e estranha encontrar Mel, Chay, Sophia, Micael, Felipe, Thiago e Malu acomodados em poltronas da mesma cor da porta.

— Acabou! — exclama Mel aliviada indo abraçar Diana.

— O que está acontecendo? — pergunta Heitor. — Nós só queremos saber como está o Jonas.

— Calma — pede Chay também ficando em pé —, está tudo bem. Eles só estão mantendo a gente aqui nessa sala para nos preservar.

— Preservar? — repete Maísa.

— É, por causa de toda a repercussão do caso. Eles disseram para a gente aguardar aqui a hora da visita.

— Então nós vamos poder visitá-los? — pergunta Diana com os olhos brilhando.

— Sim — sorri Chay. — Daqui a pouco. Sentem, fiquem à vontade.

Maísa e Laís se acomodam ao lado de Felipe, Thiago e Malu.

— O que vocês sabem sobre o estado deles? — pergunta a loira sem paciência para aguardar a chegada do médico.

— Eles estão bem — informa Malu. — Só muito abalados e com ferimentos leves. A polícia estava conversando com a Isa e a Yasmin, disseram que vão falar com o Jonas depois, porque ele não está muito bem para falar.

— Como assim?

Malu se cala e é Thiago quem pergunta:

— Vocês ficaram sabendo o que aconteceu, né?

— Do que você está falando? — rebate Laís.

— Do… do desfecho.

— Ah sim! A gente ficou sabendo que… que…

— O Jonas atirou no sequestrador — Maísa pronuncia o que todos evitavam. Ela começa a chorar. — Eu não consigo imaginar o que ele está passando.

Felipe observa a namorada de Jonas e abaixa o olhar. Ao lado deles, Sophia diz para Diana e Heitor:

— Tem café e chá ali se vocês quiserem.

— Não, obrigada — recusa a mãe de Jonas, mas Mel levanta e segue até as garrafas térmicas. Ela se serve de chá e quase o derruba em sua roupa ao sentir uma mão pousar em suas costas.

— Vamos lá para fora — pede Chay em seu ouvido. A empresária deixa a sala com o ex-marido.

— O que foi? — pergunta.

— Nada, eu só queria sair dali por um tempo. Está todo mundo muito tenso ainda.

— É compreensível — responde Mel tomando um gole de chá. Eles dão passos lentos e curtos caminhando a esmo pelo corredor.

— Claro. Mas eu só consigo pensar que em breve nossa filha vai estar em casa.

— Graças a Deus — suspira Mel. — Eu só espero que essa história não deixe traumas muito grandes na Isabela.

— Ela vai precisar da nossa ajuda.

— Sim, e ela terá. Eu vou cancelar a minha viagem para Paris.

— Você tem certeza? A Isabela pode ficar comigo.

— Eu não vou conseguir deixá-la aqui depois disso tudo. Como o Vinícius nem sabe dessa viagem, não haverá problemas.

— Mesmo se ele soubesse, o Vinícius compreenderia. Coitadinho, ele está todo assustado com o sonho que teve.

— O Vinícius sempre foi um garoto muito sensível.

— Com certeza. Eu tenho que ligar para ele mais tarde para contar a respeito da Beatriz.

— A amiga da Isabela que é irmã de um dos sequestradores?

— Ela mesma.

— Contar o quê? — pergunta Mel.

— A história dela é muito triste. Ela me contou um pouco antes de tudo acontecer. — Chay e Mel sentam nas cadeiras que estão espalhadas ao longo do corredor e ele narra o passado de Beatriz para ela.

Estrelas iluminam o céu noturno do Rio de Janeiro e Yasmin desperta sozinha em seu quarto. Ela observa a agulha que está em seu braço injetando soro e fica agradecida ao constatar que sua visão deixou de ser turva agora que os efeitos dos tranquilizantes que lhe foram dados passaram totalmente. Seu peito também está mais leve e ela dá um leve sorriso acariciando o lençol da cama.

— Acabou — sussurra. Com o auxílio dos tranquilizantes, do soro e das horas de sono, a loirinha tem a sensação de que está cem por cento novamente. Ela arranca a agulha do braço e senta na cama. A movimentação faz com que ela perceba que não está inteiramente bem, pois suas costas latejam e seus joelhos doem. Ignorando o mal estar, salta da cama e calça os chinelos que estão no chão.

Yasmin vai até a janela e fica contemplando o estacionamento praticamente vazio do hospital. Ela se recorda do que o advogado de sua família disse quando ela perguntou por Isabela após o término do depoimento: “Ela está bem e descansando no quarto ao lado”. A acadêmica de design de moda caminha até a porta de seu quarto e coloca a cabeça para fora, certificando-se de que o corredor está vazio. Em seguida, salta para fora do quarto e tenta correr até a porta seguinte, porém suas pernas fraquejam e ela se apoia na parede para recobrar o equilíbrio. Quando sente suas pernas mais firmes, caminha até a porta seguinte. Ela gira a maçaneta e visualiza um corpo pequeno e magro sob um cobertor. Quando ouve a porta do quarto do outro lado do seu abrir e uma voz feminina sair de lá, a loirinha se apressa em entrar no quarto da amiga.

— Isabela — chama parando ao lado da cama da irmã de Vinícius. — Isabela.

— Yas? — A morena franze a testa ao enxergar a amiga, duvidando do que está vendo. — É você mesma? — ela estica a mão e toca no braço da loirinha.

— Sou — confirma Yasmin ao mesmo tempo. — Como você está se sentindo?

— Confusa. Acho que me deram algum remédio depois da visita do Felipe, porque eu apaguei e só acordei agora com você me chamando.

— Deve ter sido o mesmo que me deram na ambulância, porque eu estava assim quando me acordaram para falar com o policial, só que agora já passou. Você recebeu visitas também?

— Sim, dos meus pais e do Felipe.

— É, eu também recebi visitas deles depois de contar o que aconteceu para o policial. Quer dizer, dos meus pais e do Felipe.

Isabela dá um leve sorriso.

— Então o nosso cronograma foi o mesmo. Falamos com os policiais e depois recebemos visitas.

— Será que com o Jonas foi assim também? — indaga Yasmin subitamente preocupada com o rapaz.

— Acho que não. Ele não deu depoimento igual a gente, a nossa advogada disse que ele não estava em condições, estava muito abalado e não dizia nada com nada.

Yasmin senta na cama de Isabela e sente dores no quadril devido ao esforço.

— Você tem noção do que ele fez?

— Ele salvou as nossas vidas.

— Sim. Sabe-se lá Deus o que poderia ter acontecido se aquele cara conseguisse tomar a arma do Jonas. — As duas se calam, lembrando do pânico que viveram horas antes ainda no cativeiro. O coração de Isabela começa a acelerar e lágrimas inundam seus olhos.

— Eu pensei que depois daquilo que a gente passou na fazenda nunca mais sentiria medo daquele jeito, mas estava enganada.

Yasmin leva a mão na barriga onde ainda tem uma cicatriz decorrente do tiro que levou do pai de Daniel.

— O importante é que dessa vez nós escapamos bem.

— Fisicamente bem — corrige Isabela. — Não sei você, mas eu não estou nada bem mentalmente.

— Eu também não. Estou com medo de ficar sozinha, por isso vim aqui. Nada vai ser a mesma coisa depois disso que a gente viveu.

— Não mesmo. — Isabela se cala e observa as marcas nos pulsos de Yasmin idênticas às dela. Ela volta a encarar a amiga quando ela diz:

— Eu queria ver o Jonas, saber como ele está.

Os olhos de Isabela se iluminam com uma ideia.

— A gente pode ir até o quarto dele.

— Você sabe onde ele está? Porque eu só te encontrei, porque o nosso advogado disse que você estava no quarto ao lado do meu.

— Quando os meus pais vieram me visitar, disseram que a gente está em uma ala especial do hospital, mais reservada. Parece que o nosso sequestro teve grande repercussão na mídia, por isso resolveram isolar a gente ao máximo. O Jonas deve estar em um desses quartos também.

— Então, vamos. — Yasmin ajuda Isabela a se levantar e com os braços entrelaçados elas saem do quarto e vão até o que fica ao lado. Yasmin espia o interior e sacode a cabeça, fechando a porta.

— Tem um senhorzinho dormindo lá dentro.

— Vamos ver no do lado do seu. — Elas dão passos lentos por causa das dores que ambas sentem nas pernas. Quando estão prestes a abrir a porta ouvem uma movimentação no corredor ao lado. Sem se importar se de fato o quarto é o de Jonas, Yasmin arrasta Isabela para dentro e fecha a porta atrás delas. Quando se vira para o interior encontra os rostos surpresos de Jonas e Maísa. — Acertamos — diz com obviedade para Isabela, que se solta dela e se aproxima da cama, parando ao lado de Maísa.

— O que vocês estão fazendo aqui? — indaga a prima de Laís olhando preocupada para as duas que usam vestes hospitalares e chinelos dedo. Ela começa a imaginar se a perturbação psicológica não foi grande o suficiente para enlouquecê-las.

— Nós viemos saber como o Jonas está — responde Yasmin parando do outro lado da cama. — O que você está fazendo aqui? O horário de visitas não foi no final da tarde? Agora são… — ela olha automaticamente para seu pulso esquerdo, onde geralmente há um relógio, porém tudo o que vê é uma mancha roxa.

— Nove e trinta e cinco — Maísa diz por ela conferindo no próprio relógio de pulso. — As visitas para o Jonas foram autorizadas só agora há pouco, a Diana acabou de sair, inclusive.

Yasmin se lembra de ter ouvido vozes femininas do quarto ao lado do seu quando saiu para procurar Isabela.

— Ah.

— Só agora eu pude receber visitas — Jonas fala pela primeira vez —, porque antes eu não estava… bem.

— A advogada da minha família comentou que de nós três você era o que estava pior. — Isabela se assusta com a franqueza com que suas palavras saem e culpa a medicação por isso.

— É claro que eu estaria pior, fui eu quem matei aquele cara.

Isabela abre a boca para contestá-lo, mas Maísa é mais rápida:

— Eu já te disse que ele não morreu.

— Ainda.

— Para de pensar o pior, Jonas.

— Eu não quero ser o responsável pela morte de alguém. — O rapaz cai no choro e Yasmin desvia o olhar, porém Isabela continua encarando seu rosto e Maísa acaricia sua bochecha, que está arroxeada.

— Não se culpe por algo que nem aconteceu — pede a loira.

— Você salvou a nossa vida — diz Isabela pegando na mão dele. — Se nós estamos relativamente bem agora, é porque você nos salvou. Pensa nisso ao invés de ficar se culpando por ter atirado no irmão da Bia.

— Ainda tem essa — Maísa dá uma risada áspera.

— Como assim? — Yasmin pergunta olhando para ela. Toda a suavidade com que falava com Jonas anteriormente desaparece quando Maísa diz:

— Eu acho muito suspeito o fato de um dos sequestradores ser alguém conhecido.

— O Bruno não é conhecido — discorda Isabela. — Eu nem sabia que a Beatriz tinha um irmão mais velho, ela nunca falou dele.

— Isso só deixa tudo ainda mais suspeito — retorque a namorada de Jonas. — Quem garante que essa menina não está envolvida, gente? Que tudo isso não foi planejado?

— Eu garanto — responde Isabela de imediato. — Eu estou no quarto semestre e a Beatriz está do meu lado desde o primeiro dia de aula. O Jonas sabe muito bem disso — diz se referindo ao primeiro encontro dos dois na universidade que foi presenciado por Beatriz.

Yasmin sai em apoio a Isabela:

— Não faz sentido tudo ter sido planejado, Maísa. Eu saí da boate para falar com o Victor e decidi lá fora ir para a rua lateral porque estava silenciosa. E outra, eles abordaram a gente quando já estávamos voltando. Supondo que tinha alguém me observando, o que é impossível porque a rua estava deserta, mas vamos lá, supondo isso, por que eles não me pegaram antes quando eu estava sozinha conversando com o Victor?

— Porque o alvo não era você, e sim a Isabela.

— Não teria como eles saberem que eu ia sair da casa noturna — responde Isabela irritada.

— Não foi planejado — diz Jonas e as três param de se encarar e olham para ele. — Era um sequestro relâmpago até eles reconhecerem a Yasmin em um outdoor.

— Eu não deveria ter voltado a modelar para a MelPhia — resmunga a loirinha.

— Eles só ficaram sabendo quem a Isabela era depois — continua Jonas. — E o cara ficou tão surpreso quando descobriu a ligação entre a Isabela e a irmã dele que deu uma coronhada nela.

Com a menção, Isabela sente uma pontada na cabeça.

— Está vendo, Maísa? — questiona olhando para a atual de seu ex-namorado.

Ainda não totalmente convencida, a loira responde:

— Continuo achando esquisito.

Mesmo se sentindo extremamente abatido, Jonas percebe o incômodo que se instalou no quarto e esforça sua mente para dizer algo que atenue o clima.

— Como vai ser de agora em diante? — pergunta para ninguém em específico.

— Não sei — Yasmin responde. — A única certeza que eu tenho agora é que não vou voltar para São Paulo tão cedo.

— O quê? — Isabela ergue as sobrancelhas para a amiga, espantada.

— Eu não consigo nem ficar sozinha no quarto de um hospital, Isabela, como vou voltar para a minha rotina em São Paulo?

A morena fica sem saber o que responder. Neste instante, a porta se abre e um enfermeiro entra.

— O que vocês estão fazendo aqui? — indaga para Isabela e Yasmin. — Vocês não deveriam ter saído do quarto.

— Tchau, Jonas — despede-se Isabela fazendo um carinho na mão dele.

— Fica bem — deseja Yasmin. As duas não oferecem resistência quando o enfermeiro as guia de volta para seus respectivos quartos.

— O horário de visitas acabou — acrescenta o funcionário retornando para o quarto de Jonas.

— Tchau, amor — Jonas se despede da namorada. Ele recebe um selinho dela, que sai acompanhada pelo enfermeiro.

Na tarde seguinte, com ajuda de uma enfermeira, Isabela toma banho e troca a roupa hospitalar por peças próprias trazidas por Mel. Com os cabelos presos em um rabo de cavalo no topo da cabeça, aguarda sentada alguém aparecer em seu quarto. Como possui baixa estatura, seus pés não alcançam o chão e ela tenta balançar as pernas no ar como costuma fazer nessas ocasiões, no entanto seus joelhos continuam doendo e ela interrompe a tentativa de imediato. A porta é aberta e Felipe entra. Ignorando todas as dores, Isabela pula da cama e se lança contra o corpo do namorado.

— Como é bom te abraçar — diz o rapaz envolvendo a cintura dela. — Como está se sentindo?

Isabela hesita, mas diz:

— Bem.

— Tudo vai ficar melhor agora que você vai voltar para casa.

— É tudo o que eu espero. — Eles se beijam e Isabela o abraça com intensidade.

— Pensei que eu nunca mais fosse fazer isso.

— Eu estou aqui. — Felipe acaricia os braços dela. — A Yasmin está recebendo alta agora também, eu vou com ela. Mais tarde eu passo na sua casa para te ver, tá?

— Tudo bem. — O casal se beija mais uma vez.

— Vou ficar aqui até mais alguém aparecer.

— Obrigada.

Os dois se espremem na poltrona e mesmo sentindo um incômodo nas costas Isabela não se afasta do namorado.

— Os médicos acharam melhor o Jonas permanecer por mais um tempo internado — ele conta para Isabela.

— É?

— Sim, mas ele está bem — acrescenta Felipe rapidamente para não preocupá-la. — Nunca pensei que fosse dizer isso, mas estou muito grato pelo o que o Jonas fez.

— Eu também. Ele foi incrível.

— Assim como você, me disseram que toda a ideia saiu dessa sua cabecinha.

— Mas não era pra ter terminado assim.

— O que importa é que vocês estão bem.

— E… — Isabela respira fundo e questiona: — Como está o Bruno?

— Fiquei sabendo que ele foi operado para a retirada das balas e está estável.

— A Beatriz nunca falou dele.

— Vish, a história é tão cabulosa por trás disso.

— Como assim?

— Depois eu te conto.

— Não, fala agora — pede Isabela com autoridade. Felipe umedece os lábios e resume o que ficou sabendo por meio de Vinícius:

— Esse cara, irmão da sua amiga, se envolveu com o tráfico logo na adolescente, saiu de casa e a família perdeu o contato com ele. Depois de um tempo ficaram sabendo que ele tinha morrido.

— O quê? — Isabela está atônita.

— Pois é, a sua amiga achava que o irmão estava morto.

— Meu Deus, coitada da Bia!

Felipe dá um leve sorriso e afaga o bochecha de Isabela.

— Mesmo nesse estado você consegue se sensibilizar pelos outros.

— Ela é minha amiga e é tão vítima quanto eu dessa situação. Se a gente for parar para analisar até o Bruno foi vítima de certa forma.

— Como? Isabela, se dependesse desse cara você estaria morta agora.

— A vida dele foi destruída como de inúmeros jovens que são vítimas da desigualdade social desse país.

— Por mim algum tiro do Jonas poderia ter sido fatal.

— Felipe?! “Bandido bom é bandido morto”, é isso o que você está querendo me dizer?

— Se dependesse desse cara eu estaria velando os corpos da minha irmã e da minha namorada agora — as palavras dele assustam Isabela —, você quer que eu sinta pena dele?

— Não pena — ela responde tentando afastar de sua mente a imagem dela própria e de Yasmin em caixões. — Só que ele tem que ser punido pelo o que fez, e não morrer. Morte não é justiça.

— Não foi isso que eu quis dizer.

— Foi isso que deu para entender.

— Eu não sei mais o que estou dizendo, ok? — responde Felipe. — Toda a minha energia está aqui em você e na Yasmin. Eu não me importo nem quero me importar com o irmão da sua amiga.

Isabela respira fundo e decide não prolongar ainda mais o assunto. Logo a porta se abre mais uma vez e Chay e Mel entram acompanhados por um médico. Isabela recebe oficialmente alta e sai com os pais e namorado.

— Vamos sair pelos fundos — informa Chay.

— A entrada está cheia de jornalistas — explica Mel e Isabela estremece. Felipe percebe e diz:

— Ninguém vai chegar perto de você. A gente se vê mais tarde, ok?

— Ok. — Eles dão um beijo curto e Felipe vai até o encontro de sua família. Amparada pelos pais, Isabela deixa o hospital.

Cerca de uma hora depois, Yasmin chega na casa de seus pais e é recebida com muita comoção pelos funcionários. Ela é abraçada por cada um deles e demora em Sandra.

— Fiquei com tanto medo de te perder — ela diz.

— Eu também senti muito medo — responde a loirinha. — Mas as coisas vão melhorar — completa com otimismo.

— Não tenho dúvidas disso.

Yasmin recebe o carinho de Ulisses e então se vira para os pais e o irmão, que acompanham o reencontro sentados em um sofá.

— Eu gostaria de falar com vocês.

Com um aceno, Micael dispensa os funcionários. Quando eles se encontram sozinhos, Sophia pergunta:

— O que foi, minha filha?

Yasmin senta em uma poltrona e começa:

— Eu pedi para o Felipe entregar junto com as minhas roupas o meu celular e…

— Felipe? — censura Micael e o jovem encolhe os ombros.

— Ela disse que era importante.

— Você sabe muito bem como as redes sociais dela estão turbulentas — retorque Sophia.

— Eu não cheguei a ler nada — Yasmin interrompe a bronca. — Eu usei para fazer uma ligação.

— Que ligação? — pergunta seu pai.

A loirinha respira fundo parecendo reunir coragem para prosseguir.

— Eu tenho um pedido para fazer a vocês.

— Que pedido?

— Eu não me sinto preparada para voltar para São Paulo.

— Tudo bem — responde Sophia —, você pode ficar aqui em casa o tempo que precisar.

— Eu… estava pensando em outro lugar. — Felipe estreita os olhos entendendo aonde a irmã quer chegar. Yasmin inspira profundamente mais uma vez e diz: — Eu quero passar um tempo nos Estados Unidos.

Chay estaciona o carro na mesma vaga que seu carro ocupou por anos na mansão de Mel. Eles descem com Isabela e ela segue a dianteira para o interior da casa. Chay e Mel alcançam a filha na entrada da sala principal e estranham o fato dela estar imóvel ali. A cadelinha dela corre em sua direção e pula em suas pernas, mas Isabela continua paralisada.

— Meu Deus! — exclama Mel ao olhar para o centro da sala de estar, compreendendo a reação da filha.

— Oi, família — sorri Vinícius.

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