Imagine ChaMel 5ª Temporada (Filhos) - Capítulo 6: Três disparos


Com as mãos trêmulas, Vinícius pega seu celular na mesinha de centro ainda largado no chão de seu apartamento. Seu primeiro impulso é ligar para Chay, porém não quer preocupá-lo com seu sonho e, principalmente, ouvir comentários a respeito de suas previsões.
— Vinícius? — Graziele estranha a ligação.
— Oi, Grazi. Desculpa te incomodar. — Ele confere as horas e indaga: — Você está em aula?
— Não, estou no intervalo. Aconteceu alguma coisa? — questiona a ruiva se perguntando por que é Vinícius quem está ligando para informar alguma coisa e não Maria Luíza.
— Que eu saiba, não — ele responde para o alívio dela.
— Então por que você está me ligando? — indaga estranhando ainda mais.
— Eu preciso conversar com alguém que não esteja diretamente ligado ao que está acontecendo lá no Rio.
— Por que você não ligou para a Marina?
A indagação de Graziele surpreende Vinícius, pois o nome de Marina não passou por sua cabeça.
— Não sei — ele sussurra mais para si mesmo.
— Enfim, pode falar — diz Graziele.
— Eu não consegui dormir a noite toda, fui pegar no sono agora há pouco.
— Que horas são aí em Paris?
— Duas da tarde.
A garota assente e pergunta:
— E aí?
— Eu tive um sonho — começa Vinícius e Graziele sente um arrepio na nuca.
— Um sonho? — repete já imaginando onde o amigo quer chegar.
— Eu sonhei que estava correndo por uma favela e ouvia três disparos e os gritos da Isabela e da Yasmin — desabafa Vinícius falando muito rápido.
— Meu Deus — sussurra a ruiva.
— Desculpa despejar isso em cima de você, mas eu precisava contar para alguém e não quero deixar todo mundo ainda mais preocupado lá no Rio. Eu estou cansado também desses sonhos, Grazi. Não quero mais isso. Eu nunca quis.
— Nossa, Vini, eu não sei nem o que te dizer.
— Eu estou com medo — confessa o jovem.
— Você acha que pode ter sido uma… premonição?
— Não sei. Nunca tive sonhos seguidos com coisas que aconteceram.
— Então pode ter sido apenas um sonho — Graziele tenta tranquilizá-lo —, já que você está pensando muito nisso.
— É o que eu espero, mas meu coração está apertado. Estou me sentindo muito mal, Grazi. Eu meditei durante horas mais cedo, mas nem isso está me deixando menos angustiado.
Graziele suspira.
— Eu também estou preocupada, mas não é hoje que eles vão ser resgatados? A Malu me disse que está marcado para de noite a entrega do dinheiro.
— Sim, mas eu estou com medo.
— Calma. Olha, eu preciso voltar para a aula agora, mas qualquer coisa me liga, me manda mensagem, o que seja, tá?
— Tá bom. Obrigado por me ouvir.
— Não precisa agradecer. Fica bem.
— Você também. — Eles se despedem. Vinícius levanta e vai para a cozinha preparar um café.


— Levanta! Levanta! — Isabela, Yasmin e Jonas acordam assustados e confusos. — Levanta, p*rra! — ordena o sequestrador chutando as pernas deles. Atordoados, os três ficam em pé com dificuldade.
— O que está acontecendo? — pergunta Jonas vendo o rapaz caminhar agitadamente pelo espaço e olhando nas frestas da janela. Isabela cutuca Yasmin e elas disfarçadamente trancam os cadeados que mantêm a corrente em seus pulsos. Um segundo depois Jonas faz o mesmo.
— A polícia cercou a casa — diz Bruno visivelmente nervoso. — Justo agora que eu estou sozinho — fala para si mesmo. — Merda, merda, merda! Vocês — ele aponta a arma para os três —, vão para a sala. Rápido!
Entre tropeços, os universitários caminham acorrentados até o cômodo ao lado, que possui apenas uma estante encostada em uma parede mofada.
— Sentem aí — manda Bruno apontando para a parede ao lado da porta do quarto em que eles estavam.
— A casa está cercada — eles ouvem uma voz grave do lado de fora. — Nós sabemos que você está sozinho, Bruno. Liberta os meninos e se entrega.
— Como eles sabem o meu nome? — se pergunta Bruno andando de um lado para o outro. Ele passa a mão pelo cabelo e Isabela nota que ele treme, assim como Yasmin, que está ao seu lado.
— O que vai ser da gente? — pergunta a loirinha com a voz embargada.
— Cala a boca! — grita Bruno e a loirinha se encolhe. — Meu Deus, eu estou ferrado, ferrado!


Com uma camiseta de seu curso, Iago espera seu café ficar pronto encostado na pia de seu apartamento em São Paulo. Ele olha distraidamente para os utensílios no escorredor e entristece ao ver a caneca favorita de Yasmin.
— Como será que você está agora, minha parceira? — Ele pega seu café da manhã e caminha até a mesa na sala de estar. Sozinho, ele come com os pensamentos em Yasmin, Isabela e Jonas.


A porta do quarto de Vinícius na mansão de Mel é aberta abruptamente e Chay sai correndo usando uma samba-canção e uma camisa de algodão. Ele vai às pressas até o quarto que durante anos também foi seu e bate insistentemente na porta.
— Mel? Mel? — chama por várias vezes, mas não obtém resposta. O cantor gira a maçaneta e adentra no cômodo. Uma avalanche de recordações inunda seu cérebro e ele sente o coração bater mais rápido ao olhar para a cama, onde Mel está adormecida. O cantor desperta do transe e corre até a cama. — Mel? Mel, acorda — pede sacudindo o braço dela.
A empresária desperta de sobressalto e se espanta com a proximidade do ex-marido.
— Chay, o que você está fazendo aqui? — questiona puxando as cobertas até o queixo.
— A polícia encontrou o cativeiro dos meninos!
— Como é? — Mel senta com rapidez.
— Eles cercaram o local e estão fazendo negociações para libertá-los!


No cativeiro, Bruno caminha de um lado para o outro esfregando a cabeça e falando sozinho. Encostados na parede, Isabela, Yasmin e Jonas o observam assustados.
— Eu não posso ser pego, não posso ser pego — repete o sequestrador.
Lentamente, para não chamar a atenção dele, Jonas chega perto de Isabela e sussurra:
— A gente não pode se soltar?
— Ainda não é o momento — responde Isabela olhando para ele. Repentinamente, Bruno se aproxima dos dois e Isabela solta um gritinho de espanto.
— Eu não disse para vocês ficarem de boca calada? — grita apontando a arma para eles. — Eu não tenho mais nada a perder, vocês estão me entendendo? — Isabela e Jonas assentem. — Vocês estão me entendendo? — berra Bruno dando um chute nas pernas de Jonas.
— Sim — responde o jovem sentindo o joelho latejar. Yasmin chora silenciosamente e fecha os olhos.


A sala principal da mansão de Sophia e Micael nunca esteve tão movimentada. As pessoas conversam com vozes alteradas em pequenos grupos e também em celulares. Mel e Chay já estão presentes e ouvem atentamente orientações de seus advogados. Felipe está junto de Malu e Thiago, mas não participa da conversa dos dois. Ele levanta e vai até o hall de entrada, onde liga para Vinícius.
— E aí, alguma novidade? — pergunta o jovem em Paris.
— Sim, cara.
— O que foi? — indaga Vinícius com urgência.
— A polícia encontrou o cativeiro deles, cercou o local e está negociando a libertação — informa Felipe apoiado em uma mesa de flores.
— Meu Deus do céu! — exclama o irmão de Isabela. — Como foi isso?
— Não sei, quando o investigador ligou para o nosso advogado foi para falar que o cativeiro já tinha sido localizado e que eles estão lá.
— E onde fica?
— Na Cidade de Deus.
Vinícius entra em estado de pânico.
— Não é possível.
— O que é que tem?
— Nada — mente o rapaz.
— Por que você teve essa reação?
— Eu não sei, Felipe, só estou assustado.
— Vinícius, você está sentindo alguma coisa?
— Não, cara! — exclama o cozinheiro irritado. Seu coração bate descompassadamente e seus olhos se enchem de lágrimas. — Não é nada — completa tentando normalizar a voz.


Em uma lanchonete perto do campus da Ilha do Fundão, Gabriel e Luciana tomam um café preto sentados em uma mesa de plástico. Jaqueline entra no estabelecimento carregando sua bolsa da faculdade.
— Bom dia — deseja ocupando a única cadeira vazia. Ela se estica e dá um selinho em Gabriel.
— Bom dia — respondem os dois.
— Mais um pouco a gente abre a lanchonete, hein? — comenta olhando para os lados. Somente eles estão no local.
— Só assim para a gente tomar o nosso tradicional café da manhã juntos e você ir para a sua faculdade — responde seu namorado. Jaqueline chama a atendente e pede um café e uma coxinha de frango.
— É hoje, né? — comenta a loira ficando séria.
— Estou tão nervosa — admite Luciana.
— Que horas eles vão entregar o dinheiro? — Gabriel pergunta.
— Durante a noite — responde Jaqueline.
— Será que vai dar certo isso, gente? — Luciana comenta sentindo o estômago embrulhar.
— Tem que dar — diz sua amiga. — Não consigo nem imaginar… nem quero falar.
— Então não fala — responde Gabriel pegando na mão dela por sobre a mesa. Luciana dá um leve sorriso e olha para o lado. Um senhor, que é proprietário da lanchonete, caminha por entre as mesinhas organizando os guardanapos e paliteiros. Ele vai até o final do salão, onde há uma velha televisão de tubo suspensa na parede e liga o aparelho.
Gabriel chega mais perto de Jaqueline e dá um selinho nela.
— Não surta, tá?
— Ele é um dos meus melhores amigos — diz ela.
— Eu sei, mas ele vai sair dessa bem.
A loira encosta sua testa na dele e fecha os olhos, sussurrando:
— É tudo o que eu mais quero.
O casal toma um susto e se afasta repentinamente quando Luciana arrasta a própria cadeira e levanta. A acadêmica de medicina contorna a mesa seguinte e para diante da televisão. Jaqueline e Gabriel prestam atenção no telejornal e o coração da loirinha salta ao ler na tela “Polícia cerca cativeiro de jovens sequestrados”. Jaqueline vai até a amiga correndo.
— Eles estão falando do Jonas?
— Exatamente — responde Luciana com os olhos fixos na televisão. — Encontraram o cativeiro deles, Jaque.
— E o que mais?
— Disseram que eles estão fazendo negociações.
O repórter despede-se e a imagem volta para o estúdio, em que o âncora passa a falar da previsão do tempo.
— Caramba! — exclama Jaqueline perplexa.
— Vou ligar para a Maísa — diz Luciana retornando para a mesa.
— Boa! — apoia Jaqueline seguindo a amiga. — É bem provável que ela tenha mais informações do que está acontecendo.


Na mansão Abrahão-Borges, todos se reúnem ao redor dos advogados das famílias.
— Não é permitido que vocês vão até o local do cativeiro — pontua Olavo, advogado de Sophia e Micael.
— Por que não? Nós somos os pais deles! — exclama Micael agitado.
— Justamente por isso — responde Fabíola, advogada de Chay e Mel. Mesmo após a separação ela permanece sendo a representante dos dois. — A presença de todos vocês pode dificultar as negociações.
— A gente não vai fazer nada — argumenta Sophia.
— Vocês não podem garantir isso — diz Olavo.
— E se fosse apenas um de nós? — propõe Chay. Fabíola e Olavo trocam um olhar e o cantor acrescenta: — Por favor, não tem como continuar aqui nessa agonia. Um vai e fica passando informações para os outros.
— Podemos tentar — responde Fabíola.
— Eu vou ligar para o delegado — fala Olavo tirando o celular do bolso. Ele se afasta para fazer a ligação e Mel questiona:
— Quem vai?
— Eu — respondem Chay, Sophia e Micael simultaneamente.
— A gente precisa se decidir.


— Tudo o que eu sei é o que está nos noticiários — conta Maísa ao telefone, sentada em uma cadeira da sala de estar do casarão da família de Jonas.
— Qualquer coisa manda uma mensagem para a gente — pede Luciana. Jaqueline toma o celular da mão dela e pergunta para sua veterana:
— Não estava tudo certo para a entrega do dinheiro hoje a noite? Como que do nada eles cercaram o cativeiro agora?
— Nós não sabemos direito. A gente já acordou com essa notícia. Está tudo uma confusão, estamos muito nervosos — diz observando Heitor caminhar pela sala.
— Eu também. Já estava pronta para ir para a faculdade, mas acho que agora nem vou mais. Não vou conseguir me concentrar.
— Eu definitivamente não vou.
— O pessoal me perguntou sobre você ontem — comenta Jaqueline. — Está todo mundo curioso, sabem que o Jonas é seu namorado.
— Essa é uma das razões pela qual eu não vou aparecer nas aulas.
— Ok. Se você tiver mais novidades, nos avisa.
— Tá bom. Tchau.
— Tchau.
Maísa desliga, levanta da cadeira e vai até sua sogra, que está em um sofá.


O advogado de Sophia e Micael volta para perto de seus clientes e pergunta:
— O delegado autorizou a presença de um de vocês acompanhado pelo advogado. Então, quem vai?
— Eu vou — responde Chay, vencedor do zerinho ou um que eles realizaram. Ele se volta para Fabíola e diz: — Vamos?
— Vamos. — A advogada pega seus pertences. No hall de entrada eles são alcançados por Mel.
— Chay — chama a estilista e ele olha para trás.
— O que foi?
— Não faça nada que prejudique o resgate deles, tá bom?
Chay pega nas mãos de Mel e percebe que elas estão mais geladas do que as próprias.
— É claro que eu não vou fazer nada.
— Não deixe que a emoção fale mais alto.
— Não deixarei.
Uma lágrima escorre pelo rosto de Mel.
— Boa sorte.
— Obrigado. — Chay enxuga o rosto dela e a abraça com força. — Eu vou voltar com a nossa filha.


No cativeiro, Yasmin não consegue parar de chorar, Isabela reza mentalmente e Jonas acompanha cada movimento do sequestrador.
— Sua melhor opção é se entregar, Bruno — diz a mesma voz grave de antes, do lado de fora. — Seus parceiros foram pegos quando estavam tentando voltar. Eles também acham que você deve se render.
— Eu quero falar com eles — exige Bruno gritando.
— Eles não estão mais aqui.
Bruno dá uma risada seca.
— Vocês estão mentindo para mim. — Ele volta a andar de um lado para o outro. — Eles estão mentindo para mim, eles estão mentindo para mim — sussurra.
— É melhor acabar logo com isso, cara — diz Jonas. Yasmin abaixa a cabeça, chorando ainda mais, e Isabela lança um olhar cortante para o ex-namorado por ele ter aberto a boca.
Bruno aponta a arma diretamente para Jonas.
— Você quer que eu acabe com isso? — questiona e engatilha a arma. — Quer mesmo que eu acabe logo com isso? — Seus olhos têm um brilho assustador e Jonas paralisa.
— Bruno!
Isabela ofega e Bruno abaixa a arma. Os dois olham automaticamente em direção à porta, como se estivessem vendo ali a menina que chamou pelo rapaz.
— Beatriz — pronuncia Bruno indo até a janela, que assim como a do quarto em que o trio estava é tampada por tábuas de madeira.
Yasmin ergue a cabeça e encara Isabela. Em seu rosto está estampado o questionamento que passa por sua mente e Isabela confirma lentamente com a cabeça de que se trata de sua amiga da faculdade.
— Bruno, por favor, se entrega — pede Beatriz e é perceptível por sua voz que ela está chorando. — A Isabela é minha amiga. Não faz nada com eles, por favor! Se entrega, Bruno, esse não é você. — Ela soluça. — Você não é assim, meu irmão.
Bruno fica ainda mais nervoso e descontrolado. Ele começa a andar em círculos falando coisas que nenhum dos três consegue entender. Ainda dizendo coisas inaudíveis, deixa a sala por um corredor ao lado de onde Isabela, Jonas e Yasmin estão.
— Agora — sussurra Isabela e eles começam a destrancar os cadeados.
— O que a gente vai fazer? — questiona Yasmin.
— Ele está louco, ele vai matar a gente — diz Jonas desesperado. Isabela sinaliza para eles ficarem quietos e diz:
— Prestem atenção.


Em um dos inúmeros laboratórios do MIT, Marina assiste a uma aula de programação. Seus olhos pregados no professor disfarçam o fato de seus pensamentos estarem distantes. Ela abaixa o olhar ao sentir seu celular vibrar em seu colo e lê uma mensagem de Victor. A morena ergue a cabeça com a testa franzida e segundos depois levanta de sua carteira, caminhando discretamente até a porta. No corredor, encontra-se com seu irmão gêmeo.
— O que você está fazendo aqui? — pergunta, pois sabe que as aulas de Victor são em um prédio diferente do seu.
— A polícia cercou o cativeiro da Isabela e da Yasmin e está neste exato momento fazendo negociações para soltar elas — conta o loiro e Marina se apoia na parede.
— O quê? Mas o resgate não ia ser feito a noite… que… como assim?
— Foi o que o Felipe me disse. Eu vim correndo te contar. Eu estou apavorado, Marina.
— Calma — pede a garota, porém ela mesma está visivelmente assustada. — Meu Deus. — Ela passa as mãos no cabelo. — Nem vou conseguir voltar para a aula agora. Vem comigo — diz pegando no pulso de Victor.
— Onde nós vamos?
— Tem uma lanchonete aqui perto. Vamos sentar e… e sei lá.


Aglomerados sob um guarda-sol, Lorenzo, Daniela, Aline e Alexandre conversam na fila do restaurante universitário.
— Hoje a fila está quilométrica, hein? — reclama Daniela.
— Normal, é sempre assim — responde Alexandre.
— É bom que dá para colocar o papo em dia — ri Aline —, já que a gente não estuda mais juntos mesmo.
— Vocês estão sabendo que a polícia cercou o cativeiro da Isabela, da Yasmin e do Jonas? — pergunta Daniela.
— Não! — exclama Aline levando as mãos à boca.
— Está saindo em todos os lugares — comenta Lorenzo.
— Pois é. Eles estão desde de manhã tentando fazer o bandido se entregar — conta Daniela.
— E até agora nada? — questiona Alexandre.
— Nada — diz Daniela. — Dois já foram presos, porque eles saíram do cativeiro ontem e quando foram voltar a polícia já estava lá e pegou eles. Agora o que está lá dentro está resistindo bastante. Até a irmã dele foi chamada e pasmem, a menina é amiga da Isabela da faculdade.
— P*ta que pariu! — exclama Alexandre.
— Como que você sabe de tudo isso? — questiona Aline.
— Hello!? Minha mãe é advogada dos pais do Jonas, lembra?
— Ah, é verdade!
— Não sabia disso — diz Lorenzo.
— Agora sabe — responde Daniela. — Só sei que a polícia está fazendo o possível e o impossível para que esse resgate ocorra bem, porque está em tudo quanto é lugar, né?
— Filha de famosos e gente rica dá nisso — fala Alexandre. — Quantos outros jovens são mortos dentro das comunidades e ninguém fala nada? Agora pelos riquinhos a polícia até subiu o morro.
— Para você ver — diz Aline. — Tomara que tenha um desfecho positivo. Eles não mereciam estar passando por isso.


— Eu não quero morrer, eu não quero morrer — diz Yasmin balançando o pé. — Meu Deus, por favor, eu não posso ser baleada de novo.
Jonas se recorda que Yasmin levou um tiro há dois anos na fazenda de Chay e relaciona o trauma ao fato dela não parar de chorar. Ele estica a mão e alcança os dedos dela.
— Você não vai morrer nem ser baleada — diz. — Nós vamos seguir o que a Isabela falou e vamos sair dessa.
— Mas e se der errado? E se ele não sair mais daqui? E se…
— Nós temos que ser otimistas — interrompe Isabela. — Se Deus quiser nós teremos a oportunidade de fa… — ela se cala pois ouve passos próximos. Bruno surge no corredor e volta para o centro da sala, tão nervoso quanto antes.
Isabela, Yasmin e Jonas permanecem com os braços para trás como se os cadeados ainda mantivessem a corrente presa em seus pulsos.


Como a maioria dos alunos estão em aula, Victor e Marina são os únicos que ocupam uma mesa da lanchonete ao ar livre. O rapaz tamborila com os dedos a mesa e ela procura o contato do namorado em seu celular.
— Oi, Vinícius.
— Oi, Marina.
— Você já está sabendo que o cativeiro foi cercado?
— Sim, o Felipe me ligou há algumas horas contando.
Marina estranha o fato de seu namorado não ter lhe informado a novidade, porém prefere não comentar sobre isso.
— Você sabe de mais alguma coisa? — indaga.
— Não. Nada mudou. Meu pai chegou lá agora há pouco. A polícia continua lá e eles chamaram também a irmã do sequestrador para ajudar.
— Ela não sabia de nada?
— Não, ela é amiga da Isabela.
— O quê?
— A menina também faz jornalismo na UFRJ.
— Meu Deus! Mas, Vini, eles têm certeza de que a menina não sabia de nada mesmo? — questiona Marina.
— Têm.
— Não é esquisito que justamente o irmão de uma amiga da Isabela seja o sequestrador?
Victor arregala os olhos e pergunta:
— Que história é essa?
Marina ergue a mão pedindo para ele esperar e ouve a resposta de Vinícius.
— Você está supondo que esse sequestro tenha sido premeditado?
— Não sei, só acho muito bizarro essa coincidência.
— A polícia acredita que tenha sido um sequestro relâmpago inicialmente e depois que eles ficaram sabendo de que se tratava de jovens ricos resolveram prendê-los e pedir resgate.
— Bom, se a polícia acredita nisso… Como você está?
Vinícius instantaneamente lembra do sonho que teve.
— Apreensivo — se limita a dizer.


Dentro do cativeiro, Bruno encosta na porta e fica observando os três jovens encostados à parede. Seu olhar demora em Isabela e ele se recorda das palavras de sua irmã “A Isabela é minha amiga, não faz nada com eles, por favor”. Ele desvia a atenção ao escutar um ruído vindo dos fundos da casa em que estão.
— Vocês ouviram isso? — pergunta, mas nenhum dos três responde. Bruno empunha a arma e vai para o corredor. Isabela acompanha o rapaz desaparecer e olha para Yasmin e Jonas.
— Agora.


Do lado de fora, Chay está apoiado em uma viatura da polícia com um copo de plástico de água nas mãos. Ele nunca esteve tão trêmulo e nervoso em toda sua vida e olha atentamente para o delegado e os policiais que conversam diante da entrada do cativeiro. Outras viaturas estão por perto assim como ambulâncias. Há muitos curiosos acompanhando as negociações nas casinhas ao redor, ignorando o sol quente sobre eles.
— Oi. — O cantor esteve tão compenetrado na entrada do cativeiro que não notou a aproximação de uma garota de olhos bastante redondos e castanhos.
— Oi.
— Eu sou a Beatriz, amiga da Isabela e… irmã do Bruno — acrescenta tentando controlar as lágrimas.
— Ah sim! — Chay rapidamente tira os óculos escuros e aperta a mão dela. — Você esteve ajudando nas negociações, né?
— Sim. Os investigadores entraram em contato comigo ainda de madrugada me contando que o meu irmão estava envolvido no sequestro. Na hora eu fiquei… — O celular dela começa a tocar. — Só um instante — pede e se afasta para atender. — Era minha tia ligando do hospital — conta voltando a parar ao lado de Chay.
— Hospital? — repete o cantor sem compreender.
— A minha mãe passou mal quando soube da história. Foi um caos lá em casa, meus irmãos chorando, meu padrasto tentando acalmar eles, minha mãe passando mal, tive que ligar para a minha tia pedindo ajuda. Até agora eu não consigo acreditar que isso tudo esteja acontecendo. Do nada a gente recebe a informação de que o Bruno está vivo e envolvido no sequestro da Isab…
— Espera aí — corta Chay. — Como assim “está vivo”? Vocês achavam que o seu irmão tinha morrido?
Beatriz solta um suspiro e também se apoia na viatura.
— É muito difícil crescer em meio ao tráfico, sabe? Hoje em dia a gente tem programas e mais oportunidades, mas quando eu e o Bruno éramos crianças não era assim. Minha mãe criou a gente sozinha e por isso tinha que trabalhar dia e noite, isso mudou quando ela conheceu meu padrasto anos mais tarde, mas aí já era tarde demais. Nós passávamos o dia sozinhos, eu ficava dentro de casa estudando, mas o Bruno saia para brincar.
“Um dia minha mãe descobriu que ele estava traficando, foi horrível. Ela brigou com ele, chegou até a bater e ele disse que ia parar. Mas ele não parou. Quando minha mãe se casou de novo foi a gota d’água para o Bruno. Ele não se entendia com o meu padrasto, porque o meu padrasto sabia que ele continuava traficando e tentava botar ele na linha. Foi então que o Bruno saiu de casa.
“Minha mãe fez de tudo para ele voltar, mas nada foi suficiente. Ele começou a crescer dentro da quadrilha e logo a gente perdeu o contato com ele. Nessa época eu estava no ensino médio e um colega da minha sala me contou que ficou sabendo que o Bruno tinha ido morar do outro lado do morro. Passou um tempo e se espalhou que ele tinha morrido em um confronto com traficantes de outro lugar. A gente chorou a morte dele por meses. No fundo tanto a minha mãe quanto eu tínhamos a esperança de que um dia ele ia voltar para casa. Hoje em dia eu já tinha aceitado que meu irmão tinha sido mais uma vítima desse sistema.
“Fiquei apavorada quando soube do sequestro da Isabela e ainda mais quando fiquei sabendo que ela estava aqui no morro. Eu podia esperar por qualquer coisa, menos que era o meu irmão um dos sequestradores. Isso não parece real. Parece que eu estou vivendo um grande pesadelo.”
— É exatamente assim que eu me sinto — responde Chay, abalado com o relato dela.
— Sinto muito pelo o que está acontecendo com a Isa — diz Beatriz começando a chorar. — Eu sei que não podia fazer nada, mas eu me sinto culpada. É o meu irmão.
— Ei, você não tem culpa de nada — diz Chay pegando na mão dela. — Você e a sua família não têm culpa do caminho que o seu irmão tomou. Agora a gente tem que torcer para ele se entregar e responder pel…
A frase de Chay é deixada no ar. O cantor e Beatriz se viram para a entrada da casa de onde eles escutaram o som de três disparos de arma de fogo e gritos de pavor. Imediatamente os policiais arrombam a porta de madeira e invadem o cativeiro. Chay sente seus pés se desgrudarem do chão e seus pernas correrem até a porta, porém um policial aparece em seu caminho.
— O senhor tem que ficar aqui.
— É a minha filha! — ele ouve a própria voz, mas não tem consciência do que diz, apenas os tiros ecoam em sua cabeça.



Comentários

  1. Apenas três palavras...adrenalina, medo e curiosidade. 😲 Melhooooor imagine!!!!

    ResponderExcluir
  2. Posta logo por Favor, estou Ansioso

    ResponderExcluir
  3. Nesse Sequestro podia acontecer alguma coisa com o Chay, pra ele ter que ficar na casa da Mel

    ResponderExcluir
  4. Quando tera o outro capítulo,? Estou ansiosa,mas bem que nessa confusão toda eles poderiam voltar ,

    ResponderExcluir
  5. Renata, parece até serie da Netflix esse imagine hahaha não nos deixe muito ansiosos para o próximo capítulo

    ResponderExcluir
  6. Levanta a mão quem tá doidinho (a) pelo próximo capítulo!!! 🙋 kkkk

    ResponderExcluir
  7. Por Favor!! Posta logo não Aguento esse Suspense kkkkkkkkkkk

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Veja mais

Mostrar mais

Postagens mais visitadas deste blog

Imagine ChaMel 4ª Temporada (Filhos) - 1º Capítulo: Os rebeldes se reencontram

Imagine ChaMel 4ª Temporada (Filhos) - Capítulo 85: Isabela reencontra Jonas no primeiro dia de aula