Imagine ChaMel 5ª Temporada (Filhos) - Capítulo 5: Jovens são mantidos em cativeiro


A sala principal da mansão de Micael e Sophia encontra-se apinhada de pessoas que caminham de um lado para o outro, conversando agitadamente entre si e fazendo ligações. Os primeiros raios de Sol tingem o céu de um laranja amarelado, porém ninguém no cômodo dá importância para o amanhecer. Os donos da casa conversam com Chay e os pais de Jonas, Heitor e Diana, sentados em dois espaçosos sofás. Dividindo uma poltrona, Maísa e Laís sussurram uma para a outra. Em um canto, Felipe, Malu, Thiago, Camila e João discutem uma maneira de informar Victor e Marina sobre o sequestro de Yasmin, Isabela e Jonas.
— Não tem um jeito suave de contar isso — diz Malu.
— É melhor falar sem rodeios — apoia Thiago.
— Ok — Felipe concorda —, mas eu vou esperar passar mais algumas horas.
— Por quê? — questiona Camila.
— Porque eles estão dormindo agora. Não vou acordá-los para dar uma notícia dessas. Eles não podem fazer nada mesmo.
— Por que você não manda uma mensagem para o Victor pedindo para ele te ligar assim que puder? — sugere João. — Assim você não tem que se preocupar em ficar supondo a hora que ele já estará acordado.
— Boa ideia. — Felipe pega o celular e faz o que João disse.


Chay caminha até o corredor mais próximo que, ao contrário da sala, está vazio e liga para o filho em Paris.
— Oi, pai — atende Vinícius com a voz cansada.
— Oi, Vinícius.
— E aí, como estão as coisas por aí? A mãe já voltou da delegacia?
— Ainda não — responde o cantor.
— Meu Deus, eu estou muito angustiado.
— Você está em casa?
— Sim, não tenho cabeça para ir para lugar nenhum.
Chay se apoia em uma mesinha de flores e cruza os tornozelos.
— Vinícius — chama ainda mais sério.
— O que foi?
— Fiquei sabendo pelo Felipe sobre… sobre o sonho.
Vinícius solta um suspiro.
— Fazia anos que isso não acontecia, pai.
— Fazia anos que não acontecia nenhuma tragédia com a nossa família.
— Estou me sentindo tão impotente — lamenta-se o jovem. — É ainda pior estar longe em uma hora dessas.
— Ah, filho, aqui você não faria muita diferença, né? Agora só nos cabe confiar nos nossos advogados e na polícia.
— Estando aí eu poderia ficar ao lado da mãe. Como ela está?
— Não sei — responde Chay. — Eu vim direto do meu apartamento e ela foi direto de casa para a delegacia, ainda não nos encontramos.
— Queria estar com ela.
— Fica calmo, Vinícius — Chay tenta tranquilizar o filho, porém ele mesmo está uma pilha de nervos. — A Mel vai voltar com boas notícias.
— É tudo o que eu espero — torce Vinícius. — Me mantenham informado.
— É claro, assim que a gente souber de mais alguma coisa eu te aviso.


Agora que não está mais na presença dos criminosos, Isabela encontra-se um pouco menos nervosa e analisa o espaço em que está presa com Yasmin e Jonas. O cômodo é sujo, de paredes encardidas, com uma janela coberta por tábuas de madeira e desprovido de qualquer móvel. O olhar da universitária perpassa por Yasmin, que mira fixamente uma mancha na parede causada por uma infiltração, e por Jonas, que encara o chão enquanto sacode a perna inquietamente.
— Sua cabeça está inchando — comenta e ele olha para ela.
— Pensei que depois daquela tentativa de assalto no Otávio Mendes nunca mais eu levaria uma coronhada na minha vida.
— Nunca diga nunca — resmunga Yasmin e se mexe impaciente. Como estão amarrados pela mesma corrente, Isabela e Jonas sentem uma pressão em seus pulsos com a movimentação da loirinha. — Isso está muito apertado — reclama tentando inutilmente afrouxar a corrente.
— Se você ficar se mexendo piora ainda mais — retruca Jonas e Yasmin revira os olhos.
— Com tantas pessoas no mundo eu tinha que ser sequestrada justamente com esse embuste, meu Deus? — indaga Yasmin olhando para cima como se falasse diretamente com Deus.
— Acredite, eu estou tão infeliz quanto você.
— Não comecem vocês dois! — intervém Isabela. Jonas e Yasmin trocam um olhar enfurecido, mas não falam mais nada. — Eu queria muito saber onde a gente está — diz minutos depois esticando o pescoço para tentar ver algo através das frestas das madeiras na janela.
— Eu estava muito confuso ou a gente caminhou um tempinho virando em vários lugares até chegar aqui? — pergunta Jonas.
— A gente caminhou — ela confirma.
— Parecia que a gente estava andando em um labirinto — Yasmin comenta lembrando da sensação que teve.
— E se eles fizeram isso para despistar a gente? — supõe Jonas.
— Mas a gente estava vendado, não ia fazer diferença.
— Vai saber.
— Eu só quero ir para casa — sussurra Isabela trazendo os joelhos para perto do tronco. Ela encaixa o queixo nos joelhos e fica encolhida.


Acompanhada pela advogada da família, Mel chega à mansão de Micael e Sophia e instantaneamente é bombardeada de perguntas.
— Alguma novidade?
— Já descobriram onde eles estão?
— O que aconteceu com eles?
— Os sequestradores entraram em contato com você?
— Gente, calma — pede a empresária e estilista passando as mãos no cabelo. Ela respira fundo e diz: — Eu preciso sentar.
— Vem aqui. — Sophia guia a amiga até um dos sofás e todos se acomodam ao redor delas.
— A polícia já começou as investigações — conta Mel. — Eles analisaram as câmeras de segurança dos estabelecimentos que ficam na quadra da casa noturna e viram o momento em que eles foram abordados por um homem que desceu de um carro.
— Meu Deus! — exclama Diana levando as mãos à boca.
— Como foi isso? — indaga Chay.
— De acordo com o que o delegado disse, a Yasmin estava em uma rua na lateral da casa noturna falando no telefone quando a Isabela e Jonas se aproximaram. Eles conversaram brevemente e quando estavam retornando para a rua da casa noturna foram cercados.
— Nossa, eles já estavam voltando — lamenta Sophia.
— E agora, o que a gente tem que fazer? — Heitor faz a pergunta que passa pela cabeça da maioria.
Mel olha para a sua advogada, que diz:
— Agora é esperar a ação da polícia e, é claro, aguardar o telefonema dos sequestradores.
— Então eles vão ligar mesmo? Tipo filme? — questiona Malu assustada.
— É provável que sim. Pelo o que a gente deduziu era para ser um sequestro relâmpago, em que geralmente os meliantes ficam com as vítimas por pouco tempo, mas suspeitamos que eles descobriram que as meninas são filhas de famosos ou suspeitam do grande poder aquisitivo dos três e por isso resolveram mantê-los em cárcere para conseguir ainda mais dinheiro.
— Que horror — sussurra Camila para João.
— É importante que essa situação seja mantida em absoluto sigilo, ok? — diz Micael olhando para cada um deles. — Tudo o que a gente não precisa é de exposição na mídia, isso pode prejudicar muito o resgate deles, né? — pergunta para o próprio advogado.
— Exatamente. É fundamental que isso não saia daqui.
Felipe assente e olha para os demais, todos visivelmente tensos e assustados.


Assim que o relógio marca seis horas, o despertador de Victor toca. Ele alcança seu celular e desliga a função, coçando os olhos. O loiro passa alguns segundos fitando o teto, buscando forças para sair da cama, e então pega o celular novamente. É nesse momento que ele lê a mensagem de Felipe.
— Ué, o que será que ele quer comigo? — se pergunta estranhando a mensagem e ainda mais o horário em que ela foi enviada. Ele liga para o amigo, sentando na cama. — Oi, Felipe, o que foi?
— Oi, Victor — responde Felipe com a voz grave. — É… eu não sei a melhor forma de dizer isso.
— Dizer o quê?
— A Yasmin, a Isabela e o Jonas foram sequestrados nessa madrugada — conta Felipe. Victor congela e fica mudo, para a preocupação de Felipe. — Victor?
— O que você está me falando?
— É exatamente isso, cara — diz o moreno sem querer repetir as palavras.
— Como assim, Felipe? — questiona Victor levantando da cama agitado. — Eu conversei com a Yasmin ontem, estava tudo bem.
— Foi exatamente depois de falar com você que eles foram levados.
Victor senta na cama novamente.
— Não acredito nisso. E eles ainda estão…?
— Sim — responde Felipe com pesar. — A polícia está investigando, mas até agora não temos nenhuma outra notícia.
— Não acredito nisso — repete Victor.
— Calma, os nossos advogados estão bastante otimistas com relação ao trabalho da polícia.
— Mas até agora eles não deram nenhuma notícia — lembra o loiro e Felipe suspira.
— É.
— Eu… eu não sei o que fazer.
— Não há nada que você possa fazer.
— E o que você espera que eu faça, vá para a faculdade normalmente com a minha namorada sequestrada?
— Não foi isso que eu disse — rebate Felipe. — Mas infelizmente nenhum de nós pode fazer nada para ajudá-las. A Laís está fazendo uma roda de oração lá embaixo, mas você nem acredita na existência de Deus então acho que rezar aí também não vai ser muito útil.
— A Marina já sabe? — questiona Victor preferindo ignorar o comentário do amigo.
— Acho que não.
— Ok. Se vocês tiverem qualquer novidade, qualquer mesmo, me avisa.
— Pode deixar.
Assim que desliga, Victor salta da cama, puxa um casaco do MIT de um cabideiro, o qual passa pela cabeça rapidamente, e sai do quarto usando chinelos e uma calça moletom. Ele não ouve os cumprimentos dos colegas que tomam café da manhã quando desce correndo as escadas e passa pela porta principal da fraternidade em que mora.


Com o olhar distante e abatido, Mel observa o jardim da mansão de Sophia e Micael através de uma das grandes janelas da sala de estar. Ela está sentada em um poltrona segurando uma xícara de chá de camomila com um prato com ameixas apoiado em suas coxas. Seus pensamentos estão tão longe que ela não percebe a aproximação de Chay até ele estar parado em sua frente apoiado no batente da janela.
— Ah, bom dia — diz olhando para ele.
— Assim espero — responde o cantor cruzando os braços. — Como você está?
— Sinto que meu estômago está sendo corroído por uma gastrite nervosa. A Diana me aconselhou a comer alguma coisa — fala indicando as ameixas —, mas eu não consigo. Quer?
— Não, obrigado — ele dispensa com um aceno de mão. — Vai dar tudo certo, Mel — fala dando um afago no ombro dela. — Temos que ser otimistas.
— A nossa filhinha está nas mãos de bandidos! — exclama a empresária à beira de uma crise de choro.
— A polícia está fazendo o possível para encontrá-la.
— E se quando eles acharem ela já for tarde demais?
Chay estremece.
— Eu não quero nem consigo pensar nisso — responde segundos depois sentindo um forte aperto no peito. Mel levanta e deixa o prato e a xícara na poltrona. Ela ergue os braços e envolve os ombros de Chay em um abraço terno. O cantor retribui e desliza os braços ao redor da cintura dela, alinhando-a em seu corpo.
O telefone principal da mansão começa a tocar e Mel e Chay se soltam sobressaltados. Eles trocam um olhar e correm até o centro da sala. Sophia atende o telefonema e busca de imediato o olhar de Micael. Todos no cômodo prendem a respiração.


Nos Estados Unidos, Victor sobe correndo os degraus da escada da varanda da irmandade de Marina. No instante em que ele ergue a mão para tocar a campainha, a porta do casarão abre-se.
Victor e Marina se encaram.
— Você já sabe — deduz a jovem e Victor assente lentamente.
— Vou embarcar para o Rio ainda hoje — ele conta de repente. — Queria saber se você vem comigo ou não.
Marina permanece fitando intensamente o irmão e fica preocupada com o brilho obstinado que vê em seus olhos.
— Como assim, Victor? — indaga após notar que o irmão usa chinelos.
— Eu vou para o Brasil.
A morena olha por sobre o ombro e em seguida fecha a porta atrás de si, segurando com firmeza nos braços do irmão e o arrastando até as poltronas da varanda.
— Você ficou maluco? — questiona energeticamente.
— A Yasmin foi sequestrada! — exclama Victor. — E a Isabela também — acrescenta esquecendo de Jonas. — Eu não vou ficar aqui de mãos atadas.
— E lá no Rio você vai fazer o quê? Sair atrás do cativeiro delas? Para de ser louco, Victor!
— Eu não sei, mas eu não vou conseguir ficar aqui.
— Vai sim! — insiste Marina e aperta os pulsos dele como se temesse que o irmão pudesse simplesmente sair correndo. — Victor, raciocina. Você ir para o Brasil só vai causar ainda mais confusão. Pensa! E outra, hoje é terça-feira, não é amanhã que você tem que apresentar um trabalho?
— O que é um trabalho perto da Yasmin?
— Victor, pelo amor de Deus! — exclama Marina. — Você fala como se indo para o Rio fosse salvar as meninas e Jonas e isso não vai acontecer. Eu sei que você está nervoso e preocupado, eu também estou, mas a gente tem que pensar no que é melhor para eles e para nós. Ir para o Brasil definitivamente não está nessa lista.
O rapaz solta um suspiro e abaixa a cabeça.
— Eu não consigo parar de pensar nela. Depois de tudo o que ela passou há dois anos naquele dia na fazenda… E se ela tomar outro tiro? E se ela…
— Não fala isso — interrompe Marina não suportando a ideia da morte da cunhada. — Eles vão encontrar o cativeiro deles e eles vão ser resgatados — torce a jovem.
— E como é que você ficou sabendo?
— O Vinícius me contou — responde Marina. — Ele teve um daqueles sonhos.
— No sonho tinha alguma indicação do que vai acontecer com elas?
— Não, claro que não — diz a morena. — Mas nós temos que ser otimistas.


— Lindo dia, não? — diz a mulher entrando no quarto em que Isabela, Yasmin e Jonas estão. Os três formam um amontoado no centro do espaço, um deitado sobre o outro. Isabela ergue a cabeça levemente ao ouvi-lá entrar, Yasmin abre os olhos, mas não se mexe e Jonas segue adormecido. — Não é da conta de vocês, mas o Bruno está ligando neste exato momento para a família de vocês. — Isabela registra o nome de um dos dois homens em sua mente e permanece calada. — Foi bem fácil descobrir quem vocês são, sabia? — diz a mulher se agachando em frente a Isabela e Yasmin. — Foi só jogar no Google MelPhia e lá estavam os vários sites de fofoca dizendo que a filha da dona da marca tinha voltado a modelar. E em várias fotos você também aparecia — fala olhando para Isabela. — Agora esse outro aí que foi um pouco difícil de achar — ri lançando um olhar para Jonas. — Mas nada como uma boa busca para descobrir que ele é o filho único do maior corretor de imóveis do Rio de Janeiro. Nós vamos ganhar tanto dinheiro com vocês! — vibra sorridente.
— Onde nós estamos? — pergunta Isabela em um sussurro quase inaudível.
A mulher crava um olhar penetrante nela.
— O que mais você quer saber? O nome da rua, número da casa? — Ela se aproxima tanto da jovem que seus narizes ficam a pouquíssimos centímetros um do outro. — Se você abrir a boca mais uma vez para fazer perguntas idiotas eu vou estourar seus miolos. — Uma risada desdenhosa rompe o silêncio que se segue após a ameaça. Tanto a mulher quanto Isabela olham com curiosidade para Yasmin, que continua rindo. — Qual é o motivo da risada, garota? — vocifera a mulher.
— Vocês não podem matar a gente — responde Yasmin encarando a mulher com raiva. — Você acabou de falar que querem ganhar dinheiro com a gente.
— Já passou pela sua cabecinha fútil que talvez a gente mate vocês depois de conseguir o dinheiro do resgate? — Yasmin engole em seco e a mulher sorri. — Continua me desafiando para ver se você não vai ser a primeira a rodar. — Ela dá um tapa forte no rosto de Yasmin e sai do quarto.
— Filha da p*ta! — esbraveja Yasmin se contorcendo de ódio. Jonas acorda assustado e olha ao redor.
— Aconteceu alguma coisa? — pergunta para Isabela.
— Nós vamos morrer — responde a garota pálida.


— Eram os sequestradores — informa Sophia e várias exclamações são ouvidas pela sala.
— O que eles disseram? — indaga Heitor com urgência.
— Eles querem um resgate de cinco milhões de reais.
— Cinco milhões? — repete Felipe boquiaberto.
— De cada uma das famílias — acrescenta Sophia olhando para Micael, Chay, Mel, Diana e Heitor.
— Eu não tenho essa quantia em dinheiro agora — diz Chay.
— Eu tenho — responde Mel ao seu lado.
— Calma, pessoal — interrompe o advogado de Sophia e Micael. — Nós temos que informar ao investigador sobre o telefonema. Vamos ver como anda as buscas por eles e qual é a recomendação da polícia.
Os responsáveis por Yasmin, Isabela e Jonas e seus advogados encontram-se em reunião com o investigador de polícia quando Camila e João despedem-se no hall de entrada da mansão.
— Não deixem de nos contar as novidades — pede Camila abraçando Felipe. — Por favor.
— E se vocês precisarem de qualquer coisa não hesitem em entrar em contato com a gente — completa João.
— Obrigado — agradece Felipe. Camila e João entram no táxi e partem rumo ao aeroporto para retornar a São Paulo.
— Era para a Yasmin estar voltando com a gente — lamenta-se Camila.
— Mas se tudo der certo ela vai estar de volta o mais rápido possível — João responde.


Por volta das duas da tarde, Yasmin, Isabela e Jonas recebem marmitas dos sequestradores.
— Como a gente vai comer desse jeito? — questiona Jonas com os braços amarrados às costas por correntes de ferro.
A mulher olha para o homem de rosto redondo, que diz para ela:
— Vamos soltar eles.
— E se eles tentarem alguma coisa?
— Eles não vão tentar nada. — Todos giram as cabeças na direção do rapaz mais jovem que entra no cômodo com a arma apontada para o trio.
O homem de rosto redondo tira um molho de chaves do bolso e abre os cadeados que mantinham as correntes apertadas nos pulsos dos três. Isabela gira os pulsos, sentindo fortes dores na região, e Yasmin fica assustada com as manchas avermelhadas em sua pele. O estômago de Jonas embrulha quando ele destampa a marmita. Isabela e Yasmin também torcem o nariz para a comida de aparência duvidosa.
— Se vocês não querem comer avisem logo que poupa o nosso tempo — comenta o rapaz, que acompanha a reação deles.
— A gente quer — responde Jonas pegando a colher. Sua fome é maior do que a aversão à marmita. Isabela e Yasmin hesitam, mas também acabam comendo. Durante toda a refeição eles ficam sob a mira do rapaz.


As pessoas estão dispersas pela mansão de Sophia e Micael. A proprietária da casa conversa com Heitor em um canto da sala enquanto Chay e Mel estão adormecidos em um sofá diante da televisão que transmite a reprise de uma partida de futebol americano.
— Gente! Gente! — chama Malu ao entrar correndo no espaço. Sophia e Heitor olham para ela e Chay e Mel despertam assustados.
— O que foi, Malu? — indaga Sophia.
— Acho que vocês deveriam ver isso. — A jovem pega o controle da televisão e troca de canal.
— Meu Deus! — exclama Mel endireitando-se no sofá. Chay sente seu sangue ferver ao constatar que o sequestro dos jovens está sendo noticiado em um programa de fofoca.
— Nós tomamos todo o cuidado para isso não vazar — diz Sophia parando na frente da televisão.
— Pelo visto vazou — sussurra Malu.
— O que aconteceu? — pergunta Felipe descendo as escadas com o cabelo molhado depois do banho. — Meu celular não para de receber notificações.
— O sequestro das meninas e do Jonas vazou na mídia — conta Malu.
— Não acredito! — exclama o rapaz. — Agora nós não vamos ter sossego.


Depois de comer Isabela se sente um pouco menos fraca. Ela não abre a boca nem se mexe quando o homem de rosto redondo aproxima-se para prendê-los novamente com a corrente.
— Você não pode prender um pouco menos forte? — indaga Jonas. — Não tem como a gente fazer nada mesmo com vocês do lado de fora.
— Claro — responde o homem com a voz gentil para o espanto de Jonas. No entanto, o jovem quase grita quando o homem rodeia seus pulsos com a corrente usando uma força descomunal. — Otário — ri dando um chute na costela dele.
Com as mãos já amarradas atrás do corpo, Isabela estica os braços e pega na mão de Jonas, tentando tranquilizá-lo. Ele não olha para ela, porém aperta seus dedos instantaneamente. O olhar da jovem deixa o rosto do ex-namorado para observar a mulher, que guarda as embalagens das marmitas em sacolas de plástico. O sequestrador mais novo continua com a arma apontada para eles e o de rosto redondo amarra os pulsos de Yasmin.
Isabela estreita o olhar ao perceber que há o nome de um estabelecimento gravado na sacola.
— Nós estamos na Cidade de Deus? — questiona Isabela já que o estabelecimento leva o nome da comunidade.
Os sequestradores trocam um olhar e nesse meio tempo, Yasmin comenta:
— Não é aqui que aquela sua amiga Beatriz da UFRJ mora?
Imediatamente o rapaz que empunha a arma se aproxima de Isabela e se agacha em sua frente.
— Que curso você faz? — questiona.
— O-o quê? — gagueja a garota espantada com a reação dele. O rapaz encosta a arma na testa dela e repete lentamente:
— Que-curso-você-faz?
— Jo-jornalismo — responde Isabela com o coração batendo descompassadamente. Ela e o rapaz continuam se encarando em silêncio nos segundos seguintes. Algo no olhar dele faz com que ela não consiga desviar e de repente uma ideia vem à sua mente. — Você é parente da Beatriz? — questiona observando a semelhança entre o rosto do criminoso e o de sua melhor amiga da faculdade. O rapaz não responde e continua analisando-a profundamente, o que a faz ter certeza de sua suposição. Em choque, repete: — Você é parente… — ela não termina de falar, pois em uma fração de segundo o rapaz se mexe e bate com o cano da arma na lateral de sua cabeça.
O tronco de Isabela cai sobre Jonas quando ela desmaia e Yasmin solta um grito de horror.


A lua ilumina o céu quando Sophia para no topo da escada de sua casa. Na sala de estar, estão apenas Micael, Chay, Mel, Felipe e Thiago, os demais foram para suas residências tomar banho e se trocar.
— Os sequestradores ligaram de novo — conta a empresária e todos olham para ela. Micael sobe a escada correndo e ampara a esposa.
— Como assim?
— Eles ligaram no meu celular… eles disseram para a gente entregar o dinheiro amanhã às oito horas da noite na praça Amores Roubados.
Thiago, que tomava um suco de acerola, engasga e começa a tossir. Os demais estão tão absortos nas palavras de Sophia que ignoram o ocorrido.
— Que praça é essa? — pergunta Mel. — Nunca ouvi falar desse lugar.
— Fica em um bairro na periferia — Thiago relata.
— Você conhece?
— Conheço — ele responde sucintamente sem querer compartilhar que foi nessa praça que pediu Graziele em namoro há pouco mais de dois anos.
— A gente tem que contar para a polícia — diz Chay pegando o celular no bolso.


O ponteiro do relógio pendurado na parede do apartamento de Vinícius marca 1h15. O irmão mais velho de Isabela conversa com a namorada pelo telefone.
— Como eu já tinha faltado às aulas — ele fala — fiz um esforço e fui para o estágio agora à noite. Foi um fracasso, Marina.
— Por quê? — questiona a jovem deitada na cama de Victor na Alpha Theta Pi.
— Eu estava totalmente desconcentrado. Errei duas vezes a receita que eu estava fazendo antes de cortar meu dedo. Fui parar na emergência.
— Meu Deus! — exclama Marina sentando em um salto. — Você está bem?
— Sim, só levei alguns pontos. A parte boa é que consegui um atestado e não vou precisar ir para o restaurante no resto da semana.
— Para alguma coisa isso tinha que servir. O Victor queria voltar para o Brasil — ela conta baixinho para o irmão que toma banho não ouvir.
— Sério?
— Sim, mas eu consegui colocar na cabeça dele que seria uma estupidez.
— Devo admitir que essa ideia passou várias vezes pela minha cabeça, ainda mais agora que eu estou de atestado.
— Mas você pretende ir? — indaga Marina.
— Não. Meu pai disse que é melhor eu ficar por aqui. Eu aparecer por lá poderia deixar a minha mãe ainda mais ansiosa. — Ele coça a testa e diz: — Não sei o que está acontecendo com as pessoas.
— Como assim? — ela pergunta sem entender o que ele quer dizer.
— Parece que todo mundo está com medo de mim ou esperando que eu preveja algo, sabe? Estou começando a sentir falta da época que ninguém sabia desses sonhos bizarros que eu tenho.
— É, mas foi você mesmo que preferiu contar para todo mundo, lembra?
— Sim, porque eu achei que isso tinha ficado no passado. Me enganei.
Marina suspira.
— Não está sendo fácil para ninguém. Tenta ignorar essas impressões, isso só vai te fazer mal.
— Você tem razão — concorda Vinícius. — Não vou ficar dando uma importância acima da conta para isso.


— Não dá! — exclama Yasmin. Isabela e Jonas olham assustados para ela. — Eu não aguento mais ficar aqui — diz a loirinha mirando a parede. Lágrimas inundam seus olhos e ela encolhe os joelhos. — Eu só queria comemorar o meu aniversário — fala aos prantos. — Por que isso está acontecendo? Por quê?
Isabela e Jonas trocam um olhar aflito e ela é a primeira a falar:
— A gente nunca vai saber por que isso está acontecendo com a gente. Só que nós vamos sair dessa, Yasmin.
— Quem garante? — questiona a loirinha soluçando. — Quem garante? Você não ouviu a mulher falando? Pode ser que eles matem a gente depois de pegarem o resgate. Eu não quero morrer.
— Ninguém vai morrer — retruca Jonas. — Presta atenção, Yasmin. Nossos pais são influentes, eles têm dinheiro, vão encontrar a gente.
— Vai fazer um dia que nós estamos trancafiados aqui.
— As investigações levam tempo — argumenta Isabela pacientemente. — Mas eu concordo com o Jonas, vão encontrar a gente.
— Eu só quero voltar para a minha casa — chora Yasmin.
— Todos nós queremos — responde Jonas pensando no conforto que é estar deitado em sua cama. — A gente tem que ser forte, Yasmin.
— Eu não consigo mais ser forte.
— Consegue, sim — ele diz e toca na mão dela. O contato surpreende Yasmin, que fita seus olhos escuros. — Nós vamos sair dessa — completa Jonas retribuindo o olhar.
Yasmin engole o choro para o interior de seu corpo e assente.


Assim que sobe para o seu quarto após o jantar, Malu pega seu notebook e liga para Graziele.
— Oi, Malu — diz a ruiva atendendo a chamada de vídeo. — Como estão as coisas por aí?
— Tensas, muito tensas — responde a morena. — Nunca vi o pessoal tão preocupado como agora.
— A investigação está tendo sucesso pelo menos?
— Sim. O Felipe me disse que os sequestradores ligaram e marcaram de receber o resgate e soltar os três amanhã à noite.
— Nossa! — exclama Graziele assustada.
— Então, mas a polícia pretende agir antes.
— Como assim?
— Eu não tenho todas as informações, mas parece que eles descobriram onde é o cativeiro e vão agir antes do resgate.
— Meu Deus! Mas isso não é perigoso? Digo, e se alguma coisa acontecer com eles?
— Eu também estou preocupada com isso — admite Malu —, mas a gente tem que acreditar na polícia, né? Teoricamente eles sabem o que estão fazendo.


A luz do cativeiro continua acesa mesmo durante a madrugada e ainda assim, Yasmin e Jonas dormem um por cima do outro. No entanto, Isabela, que está com um galo na lateral da testa, permanece acordada. Desde que despertou após o desmaio ela não conseguiu fechar os olhos. Seus ouvidos estão atentos, porém o máximo que ela escuta é uma buzina distante ou alguma risada ao longe de vez em quando. Seu coração dispara quando ela começa a ouvir um falatório abafado no cômodo ao lado.
Isabela apura os ouvidos para entender o que os criminosos falam.
— Gente — sussurra cutucando as costas de Jonas. — Gente, acorda — pede baixinho enquanto cutuca Yasmin com o joelho.
Após algumas tentativas consegue acordar os dois sem fazer muito barulho.
— O que foi? — indaga Yasmin coçando os olhos.
— Dois deles saíram — conta Isabela. — A mulher e eu acho que aquele cara mais velho. Pelo o que eu entendi o mais novo é que se chama Bruno. Ele disse para os dois irem tranquilos que ele dava conta da gente, mas que é para eles voltarem antes da hora do almoço.
Yasmin e Jonas observam a morena atentamente.
— Tá, mas e daí? — pergunta Jonas.
— Vocês não entendem?! Esse é o momento certo para a gente agir, fazer alguma coisa para sair daqui. Ele, o Bruno, está sozinho.
— Mas ele está armado, Isa — lembra Yasmin. — Você sabe muito bem o que ele é capaz de fazer.
Isabela sente o impulso de passar a mão sobre o galo em sua testa, mas como suas mãos estão presas ela não o faz.
— Ele está armado, eu sei — responde. — Mas ele é só um e nós somos três.
— Que estão amarrados por correntes de ferro — completa Jonas.
— Eu tive uma ideia com relação a isso.
— Que ideia? — questiona Yasmin sentindo a esperança florescer por seu peito.
Isabela se volta para Jonas.
— Lembra que quando a gente namorava você se gabava por abrir portas e cadeados com grampos?
— Sim, mas não temos nenhum grampo aqui — retorque o rapaz.
— Temos, sim — é Yasmin quem responde parecendo perplexa com a ideia de Isabela —, no meu cabelo.
Jonas olha para a cabeça dela e seu cabelo semi-preso em um penteado que agora está bagunçado. Isabela diz:
— Se a gente conseguir pegar um grampo do cabelo da Yasmin, a gente consegue abrir os cadeados e se soltar.
— E o que vamos fazer depois disso? — indaga a loirinha repentinamente animada.
— Não sei — Isabela responde para o desapontamento dos outros dois —, mas a gente já vai ter alguma vantagem.
— Não é vantagem, na verdade — analisa Jonas. — Ele vai continuar armado.
— Seremos três contra um, nós podemos tentar desarmá-lo — argumenta Isabela e Yasmin estremece ao pensar na ideia, porém não fala nada.
— Ok, então vamos tentar nos soltar — fala o rapaz. — Mas vai ser difícil alcançar a cabeça da Yasmin com as mãos para trás.
— Nem que a gente precise se contorcer todo, mas a gente vai conseguir — responde Isabela. — Mas não façam barulho, lembrem-se disso!
Yasmin deita o mais próximo que consegue das mãos de Jonas, que com bastante dificuldade vai apalpando o cabelo dela até chegar nos grampos próximos ao topo da cabeça. Ele tira um e se controla para não comemorar alto.
— Ok, agora tenta soltar a gente — pede Isabela empolgada. — Só que quando a gente conseguir se soltar vamos permanecer nessas posição até pensarmos em alguma ideia para desarmar ele, ok? Se ele entrar aqui a gente prende os cadeados de novo.
— Está maluca? — questiona Jonas.
— É melhor a gente ter o trabalho de se soltar de novo e ele não desconfiar de nada, do que ele descobrir que a gente se soltou. Sabe-se lá o que ele pode fazer — diz arrepiando-se.


A quarta-feira amanhece ensolarada no Rio de Janeiro. Assim que acorda, Maísa pega seu celular à procura de alguma novidade a respeito do sequestro, porém não encontra nada.
— Eu não aguento mais essa angústia — diz para Laís, que dormiu com ela na casa de Heitor e Diana.
— Nenhuma mensagem do Felipe?
— Nada, nenhuma atualização — responde Maísa saindo da cama de Jonas. Ela abre o guarda-roupa e fica olhando para as roupas do namorado. — Estou tão preocupada com ele! — exclama abraçando uma camisa dele. Em seguida olha para a prima e pergunta: — Você vai para a faculdade?
— Você vai?
— Não tenho cabeça.
— Então eu também não vou — responde Laís. — Não vou te deixar sozinha.
Maísa fecha o guarda-roupa e caminha até ela.
— Obrigada. — As duas se abraçam e Laís acaricia as costas da loira.
— Fica calma. O resgate está marcado para hoje a noite, eles vão sair dessa.


Vinícius, que passou a noite em claro em Paris, finalmente adormece na hora do almoço largado no sofá de seu apartamento. Quando atinge o sono profundo sonha que está correndo por vielas de uma comunidade.
O rapaz desvia de algumas pessoas que cruzam seu caminho e corre a toda velocidade, olhando por sobre o ombro em determinados momentos. Ele tropeça em alguns degraus, mas não para de correr em nenhum instante. Subindo uma ladeira, avista uma viatura de polícia e aumenta sua velocidade, sentindo o pulmão arder. Entretanto, paralisa e cai de joelhos antes de alcançar a viatura, pois ouve três disparos de arma de fogo e os mesmos gritos de pavor de Isabela e Yasmin.
Vinícius acorda com o coração descompassado e cai do sofá ao se mexer. Ele olha para a mesinha de centro e o tapete ao seu lado, constatando que se encontra em seu apartamento, na França, e que as vielas faziam parte de um sonho. O cozinheiro passa a mão nos cachos de seu cabelo, pálido e assustado. Lágrimas deslizam por suas bochechas feito cascata e seu peito fica apertado com medo do sonho, mais uma vez, o alertar  de alguma forma para algo que vai acontecer.


Comentários

  1. aiii meu deus, continua o mais rápido possível, por favor

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  2. Ai, Renataaa! Que agonia esse capítulo, acaba logo com isso hahaha Essa ideia de tentar fugir do cativeiro vai dar ruim, quer ver...

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