Imagine ChaMel 4ª Temporada (Filhos) - Capítulo 369: Frustração marca retorno de Marina ao Brasil
— Assim espero — Victor diz. — Quer dizer, o Vinícius espera, né? — ri.
— Idiota.
— Enfim, já conversei demais com você hoje. Agora eu vou dormir, faz algumas noites que eu não tenho dormido para valer.
— Dorme bem — deseja Marina. — Amanhã eu estou de volta!
— Infelizmente.
— Cala a boca — ri a morena. — Eu sei que você está morrendo de saudade de mim.
— Uhum, vai pensando — sorri Victor. Eles se despedem e Marina estica-se na cama de Juliana.
— Nem se acomoda — fala Juliana ao sair de seu closet.
— Como assim?
— Nós vamos sair?
— Nós quem?
— Ué, eu, você e o Brian — responde a jovem em tom de obviedade.
— Por quê?
— Hello!? Hoje é a sua última noite aqui, né, vamos comemorar!
— Comemorar por que é a minha última noite? — ri Marina.
— Comemorar a sua estadia, idiota! Vai logo trocar de roupa.
— Para onde nós vamos? — pergunta Marina levantando da cama.
— Isso é surpresa.
— E como eu vou saber que roupa escolher?
— Mantém o estilo das últimas vezes que a gente saiu que vai dar certo.
Marina caminha até a porta sorrindo.
— Quero só ver o que vocês estão aprontando — fala ao sair do quarto.
Ao sair do banho, Anelise se junta a Bernardo e Nícolas na sala. A criança foi deixada no apartamento no começo da noite por seus pais, que seguiram para um jantar de negócios. Ela está sentada sobre o tapete concentradíssima no tabuleiro de xadrez que se encontra na mesinha de centro. Do outro lado do móvel, Bernardo explica algumas regras do jogo enquanto manipula as peças no tabuleiro.
— Ainda bem que a Ane chegou — fala para Nícolas. — Ela joga muito melhor do que eu, vai saber te ensinar direitinho.
— Jogo melhor mesmo — assume Anelise —, mas é porque você é ruim mesmo. — O casal ri, porém Nícolas continua olhando com intensidade para as peças, tentando compreender o jogo.
— É muito difícil — fala segundos depois erguendo os olhos até Anelise.
— No começo é mesmo — ela o tranquila —, mas depois que você entende fica tudo mais fácil.
— Vai ensinando ele aí — diz Bernardo levantando —, vou tomar um anti-flamatório.
— O que é isso? — pergunta Nícolas acompanhando o movimento do médico.
— É um remédio — simplifica Bernardo.
— Você está doente?
— Estou com uma infecção na garganta.
Nícolas arqueia as sobrancelhas.
— Nossa!
— Não é grave não — fala Bernardo diante da reação dele. — Se eu cuidar direitinho, logo logo ficarei bom.
— Você está cuidando direitinho, né? — pergunta Nícolas e Anelise sorri.
— Claro — Bernardo responde caminhando até a cozinha. — Esse é o meu trabalho, né? — ri e desaparece no interior do apartamento. Nícolas olha para Anelise e indaga:
— O Bernardo cuida de você também?
— Bastante — responde Anelise pensando em um sentido muito mais amplo do que a pergunta simplista de Nícolas. — Principalmente quando eu estou dodói — acrescentando sorrindo para ele.
— Deve ser legal ter um médico em casa, né? Você nunca precisa ir no hospital!
Anelise gargalha.
— Não é bem assim, mas é por esse caminho.
— Como assim?
— Eu também tenho que ir ao hospital, igual a você e todo mundo.
— Por quê?
— Porque, por exemplo, não tem como eu fazer exames em casa, né? E também eu preciso ir no médico especial para mim que sou mulher.
— Você tem um médico especial para você?
— Sim, se chama ginecologista.
— E o Bernardo não é isso?
— Não — responde Anelise. — O Bernardo é clínico geral. O ginecologista também é clínico geral, mas ele se especializou na saúde da mulher.
— E o Bernardo se especializou em quê?
— Por enquanto em nada — fala a jornalista. — Mas ele quer se especializar em cirurgia geral.
— O que é isso?
— Ele vai operar as pessoas, abrir elas e mexer lá dentro.
Nícolas estremece.
— Credo! — exclama causando risos em Anelise.
— Você não gosta?
— Eu não — responde Nícolas. — Não quero ser isso.
— O que você quer ser?
O garotinho dá de ombros.
— Não sei, minha mãe fala que ainda é muito cedo para eu pensar nessas coisas.
— E ela tem razão — diz Anelise arrependida de ter feito o questionamento a ele.
Bernardo retorna e senta ao lado da esposa no tapete.
— E aí, vocês vão ficar de papinho ou vão começar a jogar? — indaga e eles riem.
Em passos lentos, Jonas e Maísa caminham por uma rua, próximo ao Jardim Botânico, em que se localiza um restaurante de cozinha francesa, um dos favoritos dele.
— Adorei nosso jantar — comenta Jonas de mãos dadas com a namorada.
— Eu também — responde Maísa, porém sem a mesma animação que ele.
— O que você quer fazer agora? — ele pergunta sem reparar no humor dela.
A loira para em frente a vitrine de uma joalheria e olha distraidamente algumas gargantilhas ali expostas.
— Na verdade eu estava pensando em ir a um lugar — responde. Jonas passa os braços pela cintura dela, abraçando-a por trás. Enquanto a jovem observa as gargantilhas, os olhos dele analisam os anéis de noivado.
— Que lugar?
Maísa vira de frente para ele e apoia as mãos em seus ombros.
— Eu quero ir na minha casa.
A expressão de Jonas torna-se séria em uma fração de segundos.
— O quê?
— Eu estou com vontade de ir na minha casa.
— Você tem certeza? Já está tarde.
— Tenho — responde Maísa decidida.
— Maísa...
— Eu vou de qualquer jeito, Jonas. Você vem comigo ou não?
Ele respira fundo.
— É claro que eu vou com você.
— Você chama o Uber?
Jonas tira o celular do bolso e olha mais uma vez para ela.
— Você realmente tem certeza disso?
— Jonas.
— Ok, vou chamar.
Os olhos de Marina ficam marejados quando ela gira a maçaneta da porta de entrada da casa de Peter, não em decorrência do vento frio que enfrentou para chegar até ali, e sim por causa do que encontra. Espalhados pela sala estão seus melhores amigos de Nova York, todos sorrindo e acenando para ela. Aria destaque-se dos outros ao caminhar em sua direção.
— Você não achou que a gente deixaria você ir embora sem uma despedida, né? — fala pegando na mão da amiga. Brian ajuda a ex-namorada a retirar o casaco e ela é levada por Aria até o centro da sala. — Senta aqui — pede Aria apontando para um sofá.
— O que vocês querem fazer? — pergunta Marina emocionada olhando para todos.
— Senta logo — fala Mark, um dos melhores amigos de Victor.
Marina sorri e atende ao pedido dos amigos, que também se sentam pela sala. Começa a ser projetado em uma das paredes um vídeo de um ensaio das líderes de torcida do colégio deles. O sorriso de Marina aumenta ao se ver no posto de capitã.
— Que isso, cara? — se pergunta colocando a mão na boca. Brian acaricia o joelho dela e eles trocam um olhar repleto de emoções. Diversos vídeos de Marina são projetados. Ela animando os jogos de futebol americano, torcendo por Brian na arquibancada, brincadeiras no refeitório do colégio e momentos de descontração com os amigos em sala de aula. — Olha o Victor ali! — exclama ao ver o irmão atrás dela no corredor de seu antigo colégio. — Ai meu Deus, que saudade! — fala quando as imagens desaparecem.
— Calma, ainda não acabou — diz Aria sorrindo. Marina volta a olhar para a parede quando mais imagens surgem. "Nós lamentamos você ter ido embora, nos deixando aqui sem você" aparece na parede. "Mas nós estamos sempre te acompanhando. Aonde quer que você vá."
Um vídeo de Marina correndo pela praia de Copacabana segue as palavras e o queixo dela cai.
— Oh meu Deus! — exclama começando a chorar automaticamente.
"Diz para o pessoal o que você está fazendo?" a voz de Victor aparece no vídeo. "Estou mantendo a forma de capitã, né querido" responde Marina sorrindo. O vídeo que vem em seguida é um de Marina dançando funk na festa junina de seu atual colégio no Rio de Janeiro. "Requebra essa bunda, Marina! Você é brasileira, gata!" ouve-se a voz de Mayara e apenas Marina reconhece e entende as palavras dela. No entanto, como colocaram legenda no vídeo todos caem na gargalhada. Em seguida várias fotos são passadas. Marina em festas, no show de Chay, fantasiada de caveira ao lado de Vinícius. Nesse instante os olhos dela ficam ainda mais marejados.
"Você pode não estar de corpo presente, mas sempre estará entre nós. Te amamos!"
Marina cai no choro e é abraçada por Brian.
— A gente te ama — fala dando um beijo na testa.
— Eu também amo muito vocês — ela diz olhando para os amigos.
O jardim de entrada da mansão de Mel é observado por Isabela e Felipe, que estão na sacada do quarto dela.
— E se você passar? — pergunta Felipe sobre o vestibular da Cásper Líbero.
— Eu não sei. São Paulo não é minha primeira opção — comenta Isabela.
— Você quer UFRJ, né?
— Exatamente.
— Você não fica assustada ao pensar que vai estudar em uma universidade pública?
Isabela reflete por alguns instantes sobre a pergunta.
— Um pouco, né? Mas também penso pelo lado de que vai ser uma experiência incrível.
— É, eu me assusto um pouco.
— Pensa, amor, a gente vai ter contato com diversos tipos de gente. Nós, que sempre vivemos nessa espécie de bolha, vamos conhecer gente de todo o tipo.
— Sim, isso realmente vai ser interessante. Mas e se o pessoal não gostar da gente?
Isabela sorri e passa a mão pelo cabelo do namorado.
— Impossível não gostar de você, Felipe.
— Sua opinião sobre isso não conta — ri o rapaz antes de abraçá-la.
A festa de despedida de Marina adentra a noite. Ela e seus amigos conversam e riem espalhados pelo térreo da casa de Peter. Marina e Brian bebem mais um shot de tequila.
— Caramba! — exclama ela rindo em seguida. Seu amigo e ex-namorado segura em seu braço e a puxa para perto de outros amigos, que dançam uma batida eletrônica.
— A gente também preparou uma playlist especial para você — diz o americano em seu ouvido.
— Como assim? — ri Marina.
— Peter! — chama Brian. — Agora — fala para o amigo. Ele gira Marina na direção da parede em que os vídeos foram projetados. As imagens de Yasmin e Isabela aparecem na parede.
— Ai meu Deus! — exclama Marina em português. — O que é isso? — indaga para Brian, voltando a falar no idioma local.
— Presta atenção — pede o loiro sorrindo.
— Oi, Marina! — exclamam as duas em português. Na sequência Yasmin fala em inglês: — Eu fiquei surpresa quando o Brian entrou em contato comigo pedindo para eu montar com a ajuda da Isabela uma playlist especial para a sua despedida de New York.
— Nós duas — fala Isabela — preparamos uma série de músicas do jeitinho que você gosta. É claro que nem tudo o que você ouve está nessa playlist...
— Ninguém dança MPB na balada, né? — ri Yasmin.
— Mas todas as músicas dançantes que você gosta foram colocadas — continua Isabela. — Inclusive... Funk brasileiro! — exclama juntamente com Yasmin.
— Aproveita sua última noite aí, Marina — deseja a loirinha.
— Nós estamos te esperando cheias de saudade — completa Isabela. — Tchau! — falam as duas.
Nesse instante todas as luzes se apagam. "Vocês pensaram que eu não ia rebolar minha bunda hoje, né?" ouve-se a voz de Anitta seguida pela música Movimento da Sanfoninha.
— Não acredito nisso! — ri Marina olhando para Brian.
— Gostou? — ele pergunta enquanto os amigos deles começam a dançar o funk.
— Eu estou em choque.
— Quero que você me ensine a fazer quadradinho — fala Aria surgindo ao lado de Marina.
— Isso se eu soubesse fazer, né — responde a namorada de Vinícius e elas riem. Marina junta-se aos amigos e cai no ritmo do funk.
O Uber pedido por Jonas para em frente ao casarão da família de Maísa. Enquanto o namorado paga o motorista Maísa observa o portão de madeira através da janela. Os dois descem do veículo, que parte rapidamente, deixando a rua em silêncio.
— Como nós vamos entrar? — pergunta Jonas parado na calçada.
— Mesmo depois de tudo o que aconteceu, eu não ando sem a chave de casa — responde Maísa abrindo a bolsa. Eles passam pelo portão e cruzam o jardim até a varanda. Maísa observa demoradamente uma das poltronas ali presente e Jonas acompanha seus olhos ficarem marejados sob as luzes do jardim que continuam programadas para se acenderem ao anoitecer.
— Vamos entrar — fala a loira segundos depois.
Ao pisar no hall de entrada Jonas sente os pelos de sua nuca arrepiarem-se. Ao contrário do lado externo, o interior do casarão está mergulhado na escuridão. Apenas alguns raios de luz vindos do jardim e da lua iluminam certos pontos. Ele fica esperando Maísa acionar os botões na parede que acendem as luzes e lustres para que o ambiente fiquei menos assustador. No entanto, a jovem parece estar petrificada diante da visão da sala de visitas de sua casa.
Os minutos passam e Maísa continua imóvel, apenas com os olhos correndo pelo espaço. A ansiedade e o medo vão tomando cada vez mais conta de Jonas. Em determinado momento ele decide por si mesmo ligar as luzes do casarão. Com o indicador ele torna a sala, os corredores e a escada iluminados. A luz desperta Maísa, que caminha até o centro da sala de estar. Lágrimas escorrem por suas bochechas feito cascata. Os poucos móveis da decoração minimalista nunca pareceram tão solitários diante dos olhos de Jonas. Quando ele enxerga uma revista sobre educação na mesinha de centro relembra de um momento ali vivido:
— Oi — ele sorri para Edson, pai de Maísa.
— Oi, Jonas — responde o homem dando um sorriso. — Veio ver sua namorada?
Jonas dá um leve sorriso.
— A Maísa contou para vocês.
— Sim. Fico feliz por vocês, mas pensei que você fosse pedir oficialmente para mim — fala ainda sorrindo.
— Desculpa. Quando eu pedir ela em noivado, vou falar diretamente com você — responde o jovem com ousadia.
Edson gargalha e caminha até o sofá, sendo seguido por Jonas.
— Você vai ter que esperar um pouco para ver a Maísa — ele fala —, porque ela foi direto do colégio para a casa da Laís.
— Sério? Será que ela vai demorar?
— Acho que não. A gente combinou de jantar juntos essa noite. — Edson liga a televisão e deixa em um canal de notícias. — Hoje a Lorena está fazendo aniversário.
— Ah é, que legal! — diz Jonas com sinceridade.
— Se você quiser ficar pra jantar, sinta-se convidado.
— Obrigado — ele aceita. Os dois ficam quietos e olham para o aparelho de televisão, onde um jornalista e um sociólogo comentam a investigação que envolve o partido de Edson. — Você viu isso? — pergunta Jonas. — Meu pai ficou surpreso, ele conhece esse empresário aí do hospital. A gente já esteve em vários jantares com ele, ninguém esperava por isso.
— Pois é — responde Edson visivelmente incomodado. Ela pega o controle da televisão, desliga e levanta do sofá. — Lembrei que tenho que responder uns e-mails. Fica à vontade.
— Obrigado. — Jonas estranha a mudança de humor dele e quando fica sozinho, comenta consigo mesmo: — Deixasse a televisão ligada pelo menos. — Ele respira fundo e olha ao redor, reparando nos detalhes da decoração minimalista da sala de estar. Estica-se e alcança uma revista sobre educação.
— Jonas?
Ele vira a cabeça, minutos depois, e visualiza Maísa parada ao lado do sofá.
— Oi — diz abandonando uma matéria sobre o ensino superior e se levantando.
— Que surpresa te encontrar aqui. — Mesmo com a aparência abatida, seu tom de voz demonstra alegria por vê-lo.
— Vim te ver. — Ele vai até ela. — Como você está?
— Cansada — ela sorri. — Tenho que tomar um banho e me arrumar para o jantar. Hoje é aniversário da minha mãe, sabia?
— Sim, seu pai me disse.
— Você conversou com meu pai? — ela fica surpresa.
— Ele me recebeu. Aliás, reclamou de eu não ter pedido você em namoro oficialmente — ele ri.
— E o que você respondeu? — indaga ela sorrindo.
— Falei que quando for pedir você em noivado, peço pra ele.
— Você falou isso?
— Falei.
Maísa ri.
— Espera aí, isso quer dizer que você tem a intensão de me pedir em noivado um dia?
— Se você não me chutar da sua vida, por que não?
Ela sorri e dá um beijo demorado nele.
No presente, Jonas alcança um porta-retrato da família de Maísa na mesinha de centro.
— Não vou ter a oportunidade de pedir a mão dela para você — fala olhando para a imagem de Edson. Maísa está tão concentrada em seus pensamentos e emoções que sequer escuta o que ele diz. Ela caminha pela sala, observando cada móvel, cada elemento da decoração. Cada um deles desperta uma memória de seu pai, deixando-a ainda mais emocionada. A pequena porta abaixo da escada chama a sua atenção e ela vai até lá. Tudo no pequeno cômodo está da maneira como ela deixou. Nem as paredes alaranjadas, a mesinha redonda amarela ou o tapete indiano melhoram seu estado de espírito.
— Meu cantinho — sussurra antes de fechar a porta e partir para o andar de cima seguida por Jonas. A primeira porta que abre é a do quarto de seus pais. Dessa vez, logo de início acende a luz. Ao contrário dos outros cômodos que não demonstram nenhuma alteração na família, neste há peças pretas sobre a cama que foram descartadas por Lorena na escolha de uma roupa adequada para o velório e enterro de Edson. Os olhos de Maísa passam rapidamente por elas e ela segue em direção ao closet.
É a primeira vez que Jonas está ali e ele se sente um pouco incomodado por estar no espaço tão íntimo de seus sogros. Ele vai atrás de Maísa e encontra a namorada abraçada em paletós de seu pai, agachada no tapete. Sem pronunciar nenhuma palavra, ele se junta a ela e a abraça.
As malas de Marina estão reunidas ao lado do armário de casacos próximo à porta de entrada da casa de Brian. O ponteiro do relógio acima da porta marca seis horas e trinta minutos e flocos de neve acumulam-se nos batentes das janelas. A gêmea de Victor está no centro da sala de visitas recebendo abraços de James e Claire, pais de seu ex-namorado.
— Volte sempre que quiser, Marina — fala Claire.
— Nossa casa sempre estará de portas abertas para você — complementa James.
— Muito obrigada por todo o carinho e atenção que vocês tiveram comigo durante essa semana.
— Não precisa agradecer, meu amor — responde a mãe de Brian e Juliana.
— Foi muito bom matar a saudade nesses dias — diz Juliana abraçando Marina. — Venha nos visitar mais vezes ou se quiser vir para ficar... — provoca sorrindo.
— Nem vou comentar — Marina devolve o sorriso e a abraça com ternura. — Vou sentir falta da dose desse humor peculiar que você tem. Se bem que eu tenho uma amiga lá no Brasil que é bem parecida com você, sabia?
— Acho difícil, eu sou única — ri Juliana.
— Bem leonina — comenta Marina. — Aliás, essa minha amiga também é leonina!
— Nossa, qual é o nome dessa minha gêmea?
— Maria Luíza.
— Mande meus abraços para ela.
Marina ri.
— Pode deixar.
— Vem cá — fala Juliana puxando a ex-líder de torcida para mais um abraço. — Boa viagem, Mari.
Eles escutam uma buzina e Brian espia pela janela:
— A Aria chegou.
— Tenho que ir — fala Marina para a família dele.
— Tchau, meu amor — despede-se Claire dando um último abraço nela.
— Boa viagem, minha querida — fala James fazendo um afago em seu cabelo.
— Até breve! — diz Marina caminhando até a porta, onde Brian já a aguarda. Eles colocam os casacos pesados e saem com as malas. Aria ajuda os dois a guardar os pertences de Marina e eles partem rumo ao Aeroporto Internacional John F. Kennedy.
Os três vão conversando ao longo do percurso, porém conforme vão se aproximando do aeroporto diminuem os assuntos até o carro de Aria ficar em total silêncio. Marina observa cada detalhe do caminho, tentando armazenar em sua memória o máximo de recordações de Nova York. O comportamento é inevitável, embora não passe batido por ela que há grandes chances de retornar para a cidade em menos de seis meses. Tanto a ideia de não pisar em solo americano tão cedo quanto o que tem por trás dela voltar nos meses seguintes deixam seu coração apertado.
— Chegamos — fala Aria instantes depois estacionando e uma vaga. Eles descem, pegam as malas e caminham para o interior do aeroporto. — Não queria que você fosse embora — diz a jovem para Marina quando eles param de caminhar.
— Eu sei, também é muito difícil deixar vocês aqui — responde Marina com a garganta apertada.
— Só que eu vejo também que você construiu uma ligação muita intensa com o Brasil durante esse ano.
— Eu aprendi a gostar daquele país. O meu outro país — acrescenta sorrindo. — Queria poder viver seis meses aqui e seis meses lá.
Aria sorri e de repente puxa Marina para um abraço apertado.
— Vou sentir sua falta — diz chorando no ombro da amiga.
— A gente vai continuar se falando todos os dias — diz Marina —, como tem sido desde que eu me mudei.
— Eu sei, mas é outra coisa quando você está aqui.
Marina finalmente liberta suas lágrimas e chora abraçada em sua melhor amiga. Brian desvia o olhar das duas, visivelmente emocionado.
— Feliz aniversário antecipado — fala Aria dando um sorriso emocionado.
— Obrigada. — Elas trocam mais algumas palavras e se soltam. Os olhos lacrimejantes de Marina alcançam Brian e ela chora com mais intensidade.
— Por que é tão difícil me despedir de você? — pergunta pegando nas mãos dele. Aria afasta-se dos dois para se recuperar, dando privacidade aos amigos.
— Eu penso que vai ser mais fácil, mas nunca é. — Ele enxuga as lágrimas dela com os polegares, segurando seu rosto carinhosamente. — Se cuida, Marina. Você já sabe, mas não custa nada reforçar. Sempre que precisar, saiba que eu estarei aqui.
— Eu sei que posso contar com você. E você também sempre poderá contar comigo, para qualquer coisa.
— Eu te amo — ele fala dando um abraço nela. — Feliz aniversário! Você merece tudo de mais maravilhoso que pode existir nesse mundo.
— Obrigada! E eu também te amo — responde Marina chorando contra a camisa dele. Eles passam longos minutos abraçados. A voz da locutora ecoa pelo aeroporto convidando os passageiros do voo de Marina a embarcarem. — Da próxima vez que a gente se ver, tudo já estará resolvido — observa.
— Sim. Espero te encontrar mais calma.
— Estarei — promete Marina secando suas lágrimas. Ela solta uma mão de Brian e entrelaça os dedos nos de Aria. — Eu amo vocês dois. Até a próxima!
— Até a próxima! — eles respondem e Marina caminha com sua bagagem de mão para a área de embarque.
Pouco depois das oito horas da manhã, o avião em que Marina está sobrevoa os arredores de Nova York.
— Até mais, New York — diz a jovem ainda em inglês observando a cidade pela janela. — Eu amo você. — A imagem da cidade pequenina lá embaixo, cada vez mais distante de si, é dolorosa demais para Marina, por isso ela deita em sua poltrona e fica chorando por um bom tempo. Aos poucos as lágrimas vão cessando e a adolescente cai no sono.
A confusão instaura-se na mente de Marina quando ela desperta. Ao olhar pela janela enxerga o céu noturno e um aglomerado de luzes abaixo. Ela senta em uma poltrona e fica alguns segundos processando onde está. Quando se familiariza com o avião novamente, decide sair de sua cabine privativa na primeira classe e caminhar em busca de informações. Ela revira os olhos ao constatar que todas as cabines próximas à sua estão com o aviso de Não Incomodar acionado.
— Droga! — exclama e resolve ir ao banheiro. Ao retornar para sua cabine aciona o botão que chama um comissário de bordo. — Onde nós estamos? — pergunta em inglês quando a aeromoça aproxima-se.
— Estamos prestes a entrar no espaço aéreo de São Paulo — responde a funcionária.
— Já? — surpreende-se Marina em português e a moça sorri.
— Já — confirma no mesmo idioma.
— Obrigada — responde a adolescente. Assim que fica sozinha, Marina sente sua barriga roncar e decide comer somente quando pousar em São Paulo. Ela confere as horas em seu celular, porém prefere ler uma revista do que mexer no aparelho. Após folhear algumas páginas, abandona a revista e fica apenas observando pela janela a noite paulista. Apenas quando começa a sentir o suor acumulando em sua nuca, que se dá conta que ainda está usando pesados casacos novaiorquinos. Ela retira as peças, ficando somente com uma segunda pele preta, e volta a repousar em seu assento.
Cerca de uma hora depois, Marina desembarca no Rio de Janeiro.
— Voltei — sorri levemente para Lua, Isabela e Yasmin, que estavam a sua espera.
— Oi, meu amor! — exclama Lua abraçando a filha com força. Mesmo à noite ela usa um chapéu enorme, dificultando seu reconhecimento. — Senti tanto a sua falta.
— Foram apenas seis dias, mãe — responde a jovem. Mesmo tendo dormido quase dez horas seguidas, ela aparenta desânimo.
— Para mim foi uma eternidade — fala Lua finalmente largando a filha. Yasmin e Isabela também recebem Marina com um abraço.
— Gostou da surpresa que a gente preparou para a sua despedida? — pergunta Yasmin e Marina dá outro sorriso sutil.
— Adorei.
— Vamos indo? — chama Lua.
— Claro — responde Marina. Yasmin e Isabela ajudam a morena com as bagagens e elas caminham até o carro. — Só vieram vocês três? — indaga a jovem e todas elas entendem o que tem por trás do questionamento. Só então fica claro o porquê de sua apatia.
— O Vinícius não veio — Yasmin responde sem rodeios e Marina não fala mais nada até elas entrarem no automóvel. Durante o percurso até o condomínio, Marina vai relaxando e contando detalhes de sua estadia para as amigas e sua mãe.
Quando chega em casa, despede-se carinhosamente de Yasmin e Isabela e sobe para seu quarto. Logo que fica sozinha no primeiro andar para de inibir a tristeza e a preocupação por não ter sido recepcionada pelo namorado. Ao entrar em seu quarto, se joga na cama antes mesmo de tirar a roupa e os sapatos que colocou nas primeiras horas da manhã, ainda nos Estados Unidos. O barulho da descarga vindo de seu banheiro a assusta e ela rapidamente senta na cama, inflando-se de esperança.
A porta do banheiro é aberta e Victor sai enxugando as mãos na bermuda.
— Ah, é você? — Os ombros de Marina caem.
— Também estou muito feliz de ter ver, maninha — responde o loiro puxando a garota da cama. Eles se abraçam e sentam um de frente para o outro.
— Estou feliz de ter ver — confessa Marina —, é que eu pensei que...
— Fosse o Vinícius — completa Victor. — Desculpa te decepcionar, mas ele não vai vir.
— Ele disse alguma coisa?
— Não precisa, né Mari? Se ele fosse vir, já estaria aqui.
Marina assente.
— É verdade. Eu estou tão feliz por estar de volta aqui com todos vocês — fala —, mas essa minha situação com o Vinícius está me preocupando tanto que nem estou conseguindo aproveitar direito o meu regresso.
— Pensa que amanhã é o nosso aniversário. Ele não vai poder faltar ao almoço — comenta Victor tentando animá-la.
— Não sei se fico feliz ou não com esse fato.
— Pela expectativa que eu vi nos seus olhos na hora que eu saí do banheiro — comenta Victor — tenho certeza que você vai ficar feliz por encontrar com ele.
— Eu sei — admite Marina. — Mas também estou com muito medo do que pode acontecer nesse encontro.
— O máximo que pode acontecer é o Vinícius falar que o tempo não foi suficiente e que ele quer terminar.
Marina sente uma pontada no estômago.
— Você acha que ele faria isso?
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