Imagine ChaMel 4ª Temporada (Filhos) - Capítulo 361 [Parte 2]: Marina se despede de Vinícius

Yasmin tenta fazer Vinícius adivinhar por meio de mímicas que o animal que ela está fazendo é um dinossauro. Suas tentativas são frustradas, mas os amigos gargalham bastante de sua performance. Graziele está rindo com os demais quando seu celular começa a vibrar em sua coxa. Ela abaixa a cabeça e seu sorriso desaparece.
   — Droga — sussurra e levanta disfarçadamente indo em direção ao hall de entrada. Thiago conseguiu ler o nome de Douglas no identificador de chamadas e é o único que repara na movimentação dela. Sem chamar a atenção, ele levanta e se aproxima da janela. 
   — Eu nunca ia adivinhar que era um dinossauro aquilo! — exclama Vinícius sorrindo quando o tempo de mímica de Yasmin termina e ela conta qual era o animal que tentava imitar.
   — Quem adivinharia? — Victor provoca a namorada e sorri olhando para os amigos. Seu olhar cruza com Thiago, que força um sorriso.
   — Se eu fosse você, Yasmin — diz o ex-namorado de Graziele —, desistiria dessa brincadeira.
   — Desistir é para os fracos — responde a loirinha sorrindo ao se jogar ao lado de Marina no sofá. — Vai, Victor, quero ver se você é tão bom assim.
Assim que Victor assume o papel de mímico da rodada, Thiago volta a espiar o lado de fora da mansão de Sophia e Micael. Ele enxerga Graziele abrir o portão principal e se encontrar com Douglas. A cena lhe causa um embrulho no estômago e ele fica sem saber o porquê disso.
   — Eu falei para você não vir — diz Graziele diante de Douglas.
   — Eu precisava ter ver, ruiva — responde o rapaz erguendo a mão para acariciar o rosto dela, porém ela dá um tapa em sua mão antes que ele chegue a encostar em sua pele.
   — Vai embora daqui, Douglas.
   — Poxa, ruiva, eu vim aqui só pra te ver. 
   — Você está... alterado.
   — Eu estou bem.
Ela sacode a cabeça.
   — Você não está bem — diz com tristeza na voz. — Você nunca vai mudar, né?
   — Eu não quero mudar.
   — Um dia você vai se arrepender de tudo isso.
   — Eu prefiro fazer tudo o que tenho vontade, ruiva.
Graziele sacode a cabeça e fica em silêncio por alguns segundos.
   — Só vai embora — pede.
   — Mas eu vim justamente para conversar com você e o Thiago. Estou com saudades dos meus amigos.
   — Quando você estiver sóbrio e lúcido, procura a gente.
   — Graziele, eu estou bem! — insiste Douglas elevando a voz.
   — Para de gritar — censura ela.
   — Chama lá o Thiago para eu bater um papo com ele.
   — Você acha mesmo que eu vou chamar o Thiago? Ele está se tratando, Douglas. Te ver assim pode não fazer bem para ele.
   — O Thiago nunca usou o que eu usei hoje, pode ter certeza.
   — Não interessa. Vai embora — ela volta a pedir. Seu olhar atravessa Douglas e ela enxerga o carro dele logo atrás. — Você veio dirigindo? — indaga só então se dando conta disso.
   — Vim — ele responde com simplicidade.
   — Douglas, você não está em condições de dirigir nada.
   — Eu cheguei até aqui, não cheguei?
   — Não posso te deixar ir embora dirigindo nesse estado — fala Graziele mais para si do que para Douglas. Ela olha ao redor, buscando alguma solução.
   Quando ele fala, ela volta a encará-lo.
   — Você pode vir comigo, assim garante que nada vai me acontecer.
   — Não vai fazer diferença nenhuma eu estava do seu lado. Só vamos morrer juntos — ela resmunga.
   — Larga de ser dramática, ruiva. Vem, vamos dar uma volta.
   — Eu não vou a lugar nenhum. 
   — Te trago de volta daqui a uma hora.
   — Tira essa ideia da cabeça — corta Graziele.
   — Só aqui dentro do condomínio — tenta argumentar Douglas sorridente.
   — Não, Douglas.
   — Vamos, Grazi! Colocar o papo em dia.
   — Não tenho o que conversar com você desse jeito.
   — Qual é, ruiva?
   — Para de insistir e vai embora.
   — Só se você for comigo.
Graziele revira os olhos.
   — Isso já está ficando chato.
   — Então entra no carro comigo.
   — Eu já disse que não.
   — Vem, ruiva — chama Douglas segurando no pulso dela.
   — Me solta, Douglas — exige Graziele com firmeza.
   — Vem comigo.
   — Tira a mão de mim — pede a jovem tentando não perder a calma.
   — Oi, Douglas.
O rapaz ergue os olhos, Graziele gira o corpo e ambos encaram Thiago.

Em um vestido de manga comprida e sapatos de salto, Anelise conversa com alguns conhecidos em um grande evento que ocorre na capital carioca. 
   — E o Bernardo — pergunta Cora, anfitriã da noite —, onde está?
   — Em um jantar da família dele — inventa Anelise. Na verdade, seu esposo encontra-se em um bar com os amigos comemorando o aniversário de um deles.
   — Ah sim, e você preferiu vir a inauguração da minha loja ao invés de ir com ele? Que honra, meu Deus! — ri Cora, que abre sua primeira loja de jóias.
   — Eu não poderia perder, né? Jantares de família sempre tem, agora inauguração da loja da melhor designer de jóias da cidade não é todo dia que acontece.
Elas riem e Cora pega no braço dela.
  — Ai, querida!
Mesmo simpatizando com o trabalho de Cora, a principal razão que levou Anelise ao local foi a recomendação de Sophia para que ela representasse a MelPhia visto que ela almeja uma parceria com Cora em um futuro próximo.
   — Com certeza nós vamos usar suas jóias nos ensaios da MelPhia — fala a jornalista colocando em assunto a marca.
   — Nossa, seria um prazer meu — sorri Cora. Um garçom passa por elas, que se servem de mais uma taça de champanhe. As duas ficam conversando por mais alguns minutos até Cora distanciar-se para atender outros convidados. Anelise volta a caminhar pelo espaço, observando as jóias e as pessoas. 
   Algo que não passa despercebido por ela são os olhares que algumas mulheres lançam em sua direção e umas às outras. Elas não conseguem disfarçar o olhar de comparação e até de inveja, em alguns momentos. No começo, Anelise apenas as ignorou e tentou ser simpática assim mesmo. No entanto, aos poucos ela vai se sentindo cada vez mais incomodada com o clima de competição entre elas.
   — Obrigada — fala deixando sua taça de champanhe com uma garçonete. Ela se encaminha até o banheiro que, para a sua surpresa, está vazio. Após deixar sua bolsa de mão em uma bancada, encara seu reflexo no espelho. Sua pele está incrivelmente lisa e iluminada com a maquiagem, porém o tédio é visível em seus olhos. — Eu deveria ter aceito o convite do Bernardo e ter ido com ele pro bar. Pelo menos acho que lá encontraria um pouco mais de sororidade. 

Depois de ter bebido uma quantidade considerável de cerveja, Bernardo levanta da mesa do barzinho com seus amigos, incluindo Maristela. Eles caminham rindo até a rua e vão se despedindo.
   — Não sei se tenho condições de dirigir — fala tirando as chaves do bolso. Com o gesto, sua carteira cai na calçada e ele nem percebe.
   — Estou vendo — responde Maristela se agachando. — Toma — diz entregando a carteira para ele segundos depois.
   — Nossa! — exclama Bernardo e eles riem.
   — É melhor você pegar um Uber — aconselha a médica.
   — E deixar meu carro aqui? Nem pensar.
   — Por que você veio de carro sabendo que ia beber? — retruca Maristela. — Agora aguenta as consequência, bebê.
Eles riem e Gabriel chega perto dos dois.
   — Vou indo, gente bonita. 
   — Tchau, Gabriel — despede-se Maristela dando um abraço nele.
   — Precisamos repetir isso mais vezes.
   — Com certeza — ela concorda e Gabriel olha para Bernardo. 
   — Você está bem, parceiro?
   — Bem chapado — ri Bernardo.
   — Eu te entendo, estou assim também! — Os dois gargalham.
   — Você vai como para casa?
Gabriel aponta para um carro que está parado do outro lado da rua.
   — Minha patroa veio me buscar.
   — A minha está em um evento de uma socialite — conta Bernardo.
   — Nossa, fiquei com pena dela agora — ri Gabriel, porém assim que ouve a buzina do carro de sua namorada, acrescenta: — Tenho que ir, senão vou perder minha carona — ri. — Tchau, gente!
   — Tchau — respondem Bernardo e Maristela. Assim que fica sozinho novamente com ela, Bernardo começa a observá-la com intensidade.
   — O que foi? — indaga Maristela franzindo a testa.
   — Estou te analisando.
Ela ri e vira o rosto dele para o outro lado.
   — Para com isso, Bernardo. Estou ficando constrangida.
   — É sério — ele ri e volta a olhar para ela. — Quero saber se você é capacitada para dirigir meu possante. 
   — Possante? Que termo mais antigo — ela sorri.
   — Eu sou vintage. — Eles gargalham e Bernardo diz: — Será que você é capaz?
   — Eu tenho carteira de motorista, então acho que sim, né? — retorque Maristela.
   — Então aceita ser minha motorista essa noite? — indaga Bernardo erguendo a chave de seu carro. — Você não veio dirigindo, né?
   — Não, porque sabia que poderia beber — ela o alfineta e Bernardo apenas sorri.
   — Mas você não bebeu, né?
   — Só tinha cerveja barata aqui.
   — Nossa, desculpa, madame. Da próxima vez vamos escolher um barzinho à sua altura.
Maristela ri e toma a chave da mão dele.
   — Vai, vamos logo embora. Onde está o seu carro?
   — Na outra quadra. 
Assim que se despedem dos outros amigos, eles começam a caminhar até o veículo do clínico-geral.
   — Sabia que além de mim, somente a minha mulher é autorizada a dirigir meu carro? — comenta Bernardo.
   — Uau, estou me sentindo lisonjeada — ironiza Maristela e eles se olham sorrindo.

O sorriso de Douglas aumenta ao ver o amigo e ex-namorado de Graziele.
   — Thiago! — exclama.
   — Não sabia que você vinha — Thiago comenta dando um leve sorriso.
   — Resolvi de última hora.
   — Está tudo bem aqui? — indaga o rapaz e olha para Graziele.
   — Está — responde a garota imóvel com as mãos nos bolsos. — O Douglas é que está um pouco alterado.
   — Percebi.
   — Qual é, Thiago? — ri Douglas. — Antigamente você era mais legal. Antes de tudo o que aconteceu no meio do ano.
Graziele fica incomodada com o comentário de Douglas e sua tensão aumenta com a resposta de Thiago:
   — Se era pra eu virar um merda igual vocês foi melhor eu parar mesmo. — Assim que termina de falar, Thiago arrepende-se do que diz e fica sem entender o que o levou a pronunciar essas palavras.
Douglas apenas ri, mas na sequência fala com o olhar triste:
   — Sinto falta da amizade de vocês.
O coração de Graziele se amolece e Thiago dá outro sorriso comedido.
   — Eu também — fala o rapaz e olha para a ex-namorada, ficando com a sensação de que os olhos dela estão mais brilhantes. Graziele sente o olhar de Thiago e abaixa a cabeça no momento exato que uma lágrima escapa e cai rápida e diretamente no chão.
   — É melhor você ir embora — Graziele retoma o assunto com Douglas.
   — O meu convite para você vir comigo ainda está de pé — responde ele.
   — Jamais — diz Thiago de imediato e recebe um olhar duro de Graziele. 
   — Você não manda em mim. — Douglas começa a rir e ela se vira para ele. — E eu não vou com você. — O sorriso de Douglas desaparece. — Tive uma ideia — continua Graziele —, vou chamar um Uber para você e amanhã, se você estiver melhor, passa aqui e pega o seu carro.
   — Eu não tenho dinheiro para pagar.
   — Eu estou vendo o volume da sua carteira — retruca Graziele olhando para o bolso da frente dele.
   — É o volume de outra coisa — brinca Douglas entre risos —, você sabe como é.
O incômodo de Thiago é visível e o constrangimento de Graziele não fica atrás.
   — Vou chamar o carro — diz a jovem pegando o celular.

Maristela estaciona o carro de Bernardo na vaga dele.
   — Pronto, está entregue — diz tirando a chave da ignição.
   — Estou com preguiça de subir — fala Bernardo sorrindo.
   — Nem vem que você nem precisa subir escada.
   — Mas não quero caminhar até o elevador. — Os dois riem e Maristela apoia a cabeça no encosto do banco como Bernardo já está.
   — Para de reclamar por pouca coisa.
   — É, eu estou reclamando por uma coisa besta. Poderia estar reclamando sobre... deixa eu ver... que tal nossa situação trabalhista?
Maristela gargalha.
   — É melhor voltarmos a falar de elevador.
Eles riem por alguns minutos e em seguida ficam apenas encarando a parede diante do carro.
   — Poderia passar o resto da noite aqui com você — fala Bernardo quebrando o silêncio da garagem. — Maristela dá um leve sorriso e não responde. — O que você acha dessa ideia? — pergunta olhando para ela.
Após encará-lo por longos segundos, a médica volta a sorrir.
   — Já ouvi melhores.
   — Ah é? Então vamos subir de uma vez — ri Bernardo abrindo a porta do carro. Eles caminham até o elevador, os saltos de Maristela ecoando pela garagem deserta.
   — Sabia que durante um bom tempo eu tive medo de elevador? — comenta Maristela arrumando seu cabelo no reflexo do espelho acompanhada pelo olhar de Bernardo.
   — E não tem mais?
   — Não, foi desaparecendo com o tempo. Bizarro, né?
   — Sim. Mas se você tivesse, agora não precisaria temer.
   — Por quê? — ela pergunta voltando a sua atenção para ele. 
Controlando a risada, Bernardo responde aproximando-se repentinamente dela:
   — Porque eu estou aqui com você.
   — Cala a boca — ri Maristela dando uma empurrada nele. O elevador chega ao andar do apartamento de Bernardo e Anelise e eles descem.
   Maristela entrega a chave do carro para o amigo que após algumas tentativas segurando a maçaneta as devolve para ela.
   — Abre pra mim.
Ela ri e abre a porta. Os dois entram e Bernardo puxa Maristela para o sofá junto com ele.
   — Muito mais confortável do que o carro que você queria ficar, não? — comenta Maristela.
   — Muito mais! — exclama Bernardo e eles riem ainda mais.
   — A Anelise não está em casa? — pergunta Maristela estranhando o silêncio e o interior do apartamento escuro.
   — Acho que ela ainda não chegou. O carro dela não estava na garagem. — Ele deita a cabeça em um dos braços do sofá. — Agora eu só saio daqui carregado.
   — Isso fica para a Anelise, porque eu passo a vez. — Os dois gargalham.

Após se despedir dos amigos, Marina aproveita que Victor ainda está comendo bolo com Isabela e Yasmin para falar com Vinícius.
   — Não vai acabar com o bolo também? — sorri ao sentar ao lado dele no sofá.
   — Já comi demais — responde Vinícius também sorrindo. O falatório dos pais e avós de Felipe na sala dá mais privacidade ao casal.
   — Estou esperando o Victor terminar de comer pra gente ir.
   — Hum.
Marina se remexe no sofá.
   — Eu viajo amanhã bem cedo — conta.
   — Boa viagem — deseja Vinícius educadamente.
   — Não queria ir embora sem me despedir de você.
Ele olha profundamente para ela e levanta do sofá.
   — Vamos lá para fora — chama. Marina segue o namorado até o jardim e eles cruzam com Thiago e Graziele.
   — Bem que eu procurei vocês para dar tchau — fala Marina abrindo um sorriso. — Vocês estavam juntos.
   — Com o Douglas — conta Thiago e os ombros de Marina caem.
   — Aquele seu amigo?
   — Sim.
   — Esse não é aquele que fingiu que queria assaltar eu e a Marina na praia? — indaga Vinícius.
   — Esse mesmo — Graziele responde.
   — Foi horrível aquilo — diz Marina lembrando do pânico que sentiu. No entanto, ela também se recorda com saudades dos instantes em que meditava junto com o namorado.
   — Pois é. Agora eu só quero comer um brigadeiro — ri Graziele bem mais calma agora que Douglas já foi embora em segurança. — Aproveitem o jardim — acrescenta lançando um olhar cheio de intenções para Vinícius e Marina. O casal apenas sorri e Graziele e Thiago seguem para dentro da mansão.
   — Aproveita a viagem — fala Vinícius ao ficar sozinho com Marina.
   — Eu aproveitar. Bastante. Quem sabe da próxima vez você não vai comigo, né?
Vinícius sorri com descrença.
   — Quem sabe?
Marina respira fundo e fala:
   — Eu não queria viajar brigada com você.
   — Nós não estamos brigados, Marina. Eu só preciso de um momento para colocar meus pensamentos em ordem.
   — Eu sei. É que nunca se sabe o que pode acontecer com um avião, né? — ela dramatiza tentando arrancar um sorriso de Vinícius e alcança seu objetivo.
   — Marina — sorri o rapaz. — Você vai chegar viva aos Estados Unidos.
   — Mas também tem a volta.
O sorriso dele aumenta.
   — Você vai chegar viva no Brasil.
   — E você vai estar aqui me esperando? — ela pergunta ficando repentinamente séria.
   — Pode ter certeza que eu vou estar aqui.
Marina sorri e assente.
   — Eu posso te dar um abraço?
Os braços de Vinícius envolvem suavemente a cintura dela como resposta e ela afunda o rosto no pescoço dele e fecha os olhos.
   — Eu te amo — sussurra com os lábios roçando a pele dele. Vinícius a abraça com mais força e beija seu cabelo.
   — Boa viagem, Marina — volta a desejar quando solta seu corpo.

Os dedos dos pés de Anelise clamam por liberdade e ela caminha o mais rápido que pode do elevador até seu apartamento. Assim que passa pela porta, retira os sapatos e solta um suspiro.
   — Ai que delícia! — Seu olhar cai em Bernardo, que está dormindo sentado no sofá. — Amor — chama caminhando até ele. — Bernardo — fala cutucando o braço dele. — Vish, esse daí não vai acordar tão cedo. — Ela senta no sofá e abre o zíper na lateral de seu vestido antes de tentar acordar o marido novamente. — Bernardo, acorda. Vamos para a cama.
Finalmente o médico desperta, mas o sono e o álcool impedem com que ele fale alguma coisa com nexo.
   — Tá, tá bom — concorda Anelise sem entender nada que ele fala. — Vamos para o quarto, vamos. Já está bem tarde e... — ela não chega a concluir a frase, pois ouve um ruído vindo da cozinha. — Tem alguém... — tenta perguntar para Bernardo, mas nota que ele já voltou a dormir. 
   Anelise rapidamente fecha seu vestido novamente e levanta, indo com cautela até a cozinha. O medo dá lugar à raiva quando encontra Maristela no cômodo.
   — Oi, Anelise — sorri a médica enquanto coa um café.
   — O que você está fazendo aqui? — pergunta Anelise perplexa com a cena.
   — Um café. Achei que o Bernardo estava precisando, então tomei a liberdade de vir aqui fazer. Pode ficar tranquila que eu já lavei tudo o que usei — diz sorrindo.
   — Você está fazendo café para o Bernardo? — certifica-se Anelise.
   — Sim, ele está precisando de uns cuidados, né? Bebeu demais hoje, você tinha que ver.
   — É, eu não vi — responde a jornalista rispidamente. — Mas eu já cheguei, então você pode ir embora. Eu cuido do meu marido.
Maristela deixa a garrafa térmica sobre a pia, espantada com a grosseria de Anelise.
   — Tá, tudo bem. Eu... eu vou indo. — Ela passa pela irmã de Chay e sai da cozinha com rapidez. A médica pega sua bolsa em uma poltrona da sala, lança um olhar de despedida para o corpo adormecido de Bernardo e sai do apartamento. Para a sua surpresa, ouve a voz de Anelise chamando por ela.
   — O que foi? — pergunta olhando para a jornalista que está parada no batente da porta.
   — Desculpa — pede Anelise. — Desculpa por ter falado com você daquela forma.
   — Ok — responde Maristela espantada com a mudança de humor.
   — Não, é sério. Desculpa mesmo. — Ela muda o peso do corpo para outra perna. — Você só estava fazendo uma gentileza para o Bernardo, mesmo que estivesse abelhudando na cozinha da minha casa — as duas riem. — Eu não quero fazer o papel da mulher ciumenta, eu não sou essa mulher. E também você não tem culpa de nada, se fosse para eu descontar meu ciúmes em alguém tinha que ser no Bernardo, que é o meu esposa, é quem me deve satisfação.
   — Você não precisa ter ciúmes de mim — diz Maristela. — Eu sou apenas amiga do Bernardo. Jamais me envolvi com homem comprometido, ainda mais casado. Assim como você disse que não quer fazer o papel de mulher ciumenta, eu não quero e nem vou fazer o papel de amante de ninguém. 
   — Ótimo. Se depender de mim, aquilo que aconteceu lá na cozinha fica pra trás.
   — Totalmente. — O elevador chega e Maristela dá um leve sorriso. — Boa noite, Anelise.
   — Boa noite — responde a jornalista.

Horas mais tarde, quando todos os outros na mansão dos Abrahão-Borges já dormem, Isabela acompanha o sono de Felipe. Observando os traços do namorado, ela se lembra do quanto sofreu com o término com Jonas e de que chegou a acreditar que não encontraria outra pessoa.
   — Ele sempre esteve ao meu lado — sussurra emocionada. — Que venham muitos outros dezessete anos para você, meu amor.


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