Imagine ChaMel 4ª Temporada (Filhos) - Capítulo 334: Sophia incentiva Yasmin a cursar moda

A claridade solar do meio dia inunda a sala de jantar da mansão dos Abrahão-Borges. Os chefes da família estão sentados à mesa juntamente com o filho do casal.
   — Cadê a Yasmin? — pergunta Sophia vendo Sandra, uma das empregadas da casa, colocar uma travessa de arroz sobre a mesa.
   — Ela está no quarto — Felipe conta. — Ela disse que vai comer mais tarde, está sem fome.
   — Algum motivo para isso? — indaga Micael se servindo de strogonoff. 
   — A Yasmin está chateada com o resultado do teste vocacional que a gente fez lá no colégio.
   — Por quê?
   — Porque não deu algo muito preciso, digamos assim. E ela está apavorada porque ainda não sabe o que quer cursar.
   — Ela ainda não sabe o que quer cursar? — surpreende-se Micael. — Mas como... — ele olha para a esposa. — Eu pensei que ela já soubesse!
   — Eu sabia que ela ainda está indecisa — responde Sophia.
   — Mas gente! Só eu vejo o que ela tem? Amor, você sabe o que fazer, né?
   — Hã? — A loira franze a testa. — Do que você está falando, Micael?
   — Mostra aquilo pra ela. 
   — Aquilo? — repete Sophia sem entender o raciocínio dele e Felipe pergunta tão perdido quanto ela:
   — Aquilo o quê?
Micael continua olhando fixo para Sophia.
   — Aquilo que ela fez. 
Finalmente a fisionomia de Sophia demonstra compreensão.
   — Claro! Você está certíssimo, Micael. Aquilo não pode passar batido.
   — Aquilo o quê, gente? — questiona Felipe com enorme curiosidade. Sophia e Micael continuam se olhando com intensidade e sorrisos de satisfação no rosto. — Gente!?
Seus pais olham para ele e Sophia fala:
   — Primeiro eu tenho que conversar com a sua irmã, filho.
   — Conversar sobre o quê?
   — Sobre o futuro dela.
   — O que foi "aquilo que ela fez"? — ele pergunta imitando a voz de Micael.
   — Primeiro eu tenho que falar com ela — Sophia insiste.
   — Vocês não vão mesmo me contar?
   — Se a Yasmin quiser, ela te conta, filho — diz Micael. — É algo muito importante pra ela.
   — Aquilo que ela fez?
Os adultos riem e seu pai responde:
   — No tempo certo você saberá, Felipe.

Algumas horas depois, Thiago e Samuel se encontram para correr no condomínio.
   — Você tem um fusca? — pergunta Thiago com espanto após ter visto Samuel estacionar o automóvel na praça.
   — Comprei semanas atrás — conta o jovem sorridente. — É um charme, né?
   — Sim, mas se fosse eu compraria algo mais moderno e potente.
   — Só que eu tenho uma alma velha, é isso que me atrai — ri Samuel e eles começam a trotar pela rua.
   — Se você gosta de coisa velha, a Malu não está muito jovem? — brinca Thiago.
   — Toda regra tem uma exceção. — Os dois riem.
   — Quando a gente estava vindo embora, a Graziele me contou que você vai fazer faculdade fora.
   — Não sabia que a Graziele tinha esse lado Laís.
   — Hã?
   — Fofoqueira — responde Samuel rindo.
   — Ah, pois é. Deve ser a convivência.
   — É verdade — confirma Samuel. — Eu quero fazer ciências aeronáuticas e os melhores cursos ficam foram do estado.
   — Nossa. Coragem, hein?
   — É o que eu mais tenho — Samuel sorri. — É o que eu quero, sabe? Não gosto de ficar parado em um lugar sempre. Finalmente completei meus dezoito anos e está na hora de sair do ninho.
   — É, mas é difícil esse voo.
   — Eu gosto de voar. — Eles riem e Samuel acrescenta: — Só fica complicado quando a gente deixa pessoas queridas. No meu caso uma pessoa em específico. 
   — Sua mãe?
Samuel ri.
   — Não, acho que vai até ser bom ficar um pouco longe da minha velha. Sentir saudade da mãe maravilhosa que ela é. — Ele olha para Thiago e comenta: — Nós temos muitas diferenças, sabe?
   — Posso imaginar.
   — Não pode — ri Samuel. — Mas enfim, a Malu é a pessoa que eu não queria deixar.
   — Oh, que fofo!
   — Quem diria que um dia como esse chegaria, né? — gargalha Samuel.
   — É, mas ela pode te encontrar depois ou você voltar. Vai ser difícil, mas não é impossível.
   — Impossível não é, você tem razão.
   — Vamos parar um pouco? — pede Thiago dando um toque no braço dele. Eles param sob uma árvore e Samuel comenta:
   — A gente não correu nem três quarteirões.
   — O meu condicionamento físico é prejudicado pelo tempo que eu passei fumando — Thiago fala e o outro se sente culpado pelo o que disse.
   — Foi mal. 
   — Relaxa. 
Samuel coça atrás da orelha e finge não reparar que Thiago está bem mais ofegante do que ele.
   — Mas e aí, como anda você e a Graziele?
   — A gente está bem. — Thiago dá um sorriso ao lembrar da ruiva. — Ter ela por perto me faz muito bem.
   — Então por que você quis que ela ficasse distante, cara?
   — Naquele momento a nossa proximidade não fazia bem nem pra mim nem pra ela. Eu tinha medo de que ela se machucasse com alguma coisa que eu fizesse. Eu estava muito instável, sabe Samuel, não tinha muito controle sobre mim. A abstinência foi mais forte do que eu pensava que seria.
   — Mas agora você já está muito melhor, né?
   — Sim! — Thiago abre um sorriso alegre. — Eu me sinto bem como não me sentia a muito tempo. Aos poucos estou reconstruindo tudo aquilo que eu mesmo destruí. A minha relação com os meus pais, a confiança deles em mim...
   — A sua relação com a Graziele — acrescenta Samuel dando um leve sorriso.
   — É, só que isso é mais complexo do que parece. Eu amo a Graziele, ainda tenho muito medo de ferir ela.
   — Você nunca deixou de gostar dela, né?
   — Jamais — sussurra Thiago olhando para o jardim de uma mansão. — Era nela que eu pensava nos piores momentos das crises de abstinência. Só a memória dela já me dava uma força que eu nem sabia que tinha. Nós já estamos mais próximos agora, como amigos. Eu quero ir aos poucos, reconstruir a nossa amizade primeiro e depois... depois a gente pensa no depois.
Samuel assente.
   — Você está certo.

Na companhia de Nícolas, Anelise vai até o apartamento de seus pais.
   — Oi, mãe! — sorri a jornalista quando Hérica abre a porta.
   — Oi, meu amor. — Elas se abraçam e a senhora olha para Nícolas. — Oi, garotinho!
   — Oi, tia Hérica! — Nícolas responde sorridente. Ao se sentarem no sofá, Anelise pergunta olhando para os lados:
   — Cadê o papai?
   — Ele foi jogar baralho com uns amigos.
   — Ah, sério? Eu queria tanto ver vocês dois.
   — Que avisasse antes de vir, né filha? Ainda mais com esse garotinho lindo com você — fala Hérica dando um abraço apertado no filho de Daniel e Luíza.
   — Os meus pais deixaram a tia Ane me trazer — conta Nícolas.
   — É? Que bom, porque eu adoro te ver, sabia?
   — Sabia. — Mãe e filha riem da resposta dele e Anelise entrega uma revista para Nícolas se distrair.
   — O Dan pediu pra eu trazer ele pra dar uma volta mesmo. Ele tem dado trabalho ultimamente.
   — Sério?
   — É, quando a Luíza e o Daniel contrariam ele, ele fica emburrado na dele por um longo tempo. Coisa da idade — ela ri.
   — E você, minha querida, quando vai ter um filho pra trazer aqui em casa?
Anelise joga a cabeça para trás.
   — Ai, não! Até a senhora, mãe?
Hérica sorri.
   — A ideia de ter um filho te atormenta tanto assim?
   — Nesse momento, sim! Só porque eu cheguei nos trinta não significa que eu tenho que engravidar. Todo mundo fica me pressionando, até o Bernardo!
   — Até o Bernardo?
   — Sim. O instinto paterno dele deu às caras e agora ele quer ser pai.
   — E você não quer ser mãe agora?
   — Não.
   — Por quê, Ane? — indaga Hérica passando a mão pelo cabelo da filha.
   — Primeiro, pra eu engravidar agora teria que dar uma pausa na minha carreira. Mãe, eu comecei a trabalhar esse ano na assessoria de imprensa da MelPhia, não posso parar agora! E segundo, eu e o Bernardo não estamos preparados para ser pais agora.
   — Você e o Bernardo? Ou só você?
   — Não, ele também! Vira e mexe ele tira plantões, mãe. É assim que ele quer criar um recém-nascido? Me deixando sozinha por vinte e quatro horas? Sem contar que ele ainda não fez a especialização dele. Vai adiar isso por quanto tempo ainda? Ele quer ser pai, mas vai ficar sendo clínico-geral para o resto da vida? Não é isso o que ele quer.
   — Ele quer ser cirurgião, né?
   — Isso, a residência levaria dois anos. Se eu engravidasse, ele teria que esperar pelo menos um ano para começar a residência dele. Isso se ele conseguisse estudar com uma criança pequena em casa necessitando de toda a nossa atenção. Não, mãe, ele pode bater o pé, dizer que está pronto, mas não vai rolar bebê. Se ele quer tanto ser pai agora, que vá procurar outra mulher pra ser a mãe, porque eu não serei!
Hérica dá um leve sorriso.
   — Tenho certeza que o Bernardo não quer ser pai do filho de outra mulher, Ane. — Ela pega na mão de sua filha. — Eu entendo a sua posição e te respeito. Espero ter saúde para ver você engravidar e para conviver um pouco com o meu netinho ou netinha.
Anelise demora um tempo para responder.
   — Mãe... é claro que você vai conviver com o meu filho!
   — Eu já estou velha, filha. Posso aparentar ter cinquenta anos, mas já passei um pouquinho disso — ela ri. 
   — Você nem tem sessenta e cinco anos, mãe! Você vai conviver muito com o seu netinho, vamos parar de drama, dona Hérica.
As duas riem e a senhora olha para Nícolas.
   — E aí, Ni, vamos comer alguma coisa?
   — Vamos! — exclama Nícolas e elas sorriem.

Com a porta do quarto aberta, Felipe lê uma proposta de redação se preparando para produzir uma dissertação argumentativa. Ele percebe quando Sophia passa pelo corredor com uma pasta na mão.
   — Mãe, mãe! — chama pulando da cama. Ele coloca a cabeça para fora do quarto e pergunta: — Você vai conversar com a Yas sobre aquilo?
Sophia ri.
   — Larga de ser fofoqueiro, Felipe. Não quero te flagrar ouvindo atrás da porta, viu?
   — Copo na parede, pode? — ele brinca e Sophia ri, dando uma batidinha na porta do quarto de Yasmin.
   — Volta a estudar, volta!
Felipe sorri e retorna para dentro de seu quarto.
   — O que foi, mãe? — pergunta Yasmin abrindo a porta. Seus olhos estão vermelhos, o que indica que ela andou chorando recentemente. 
   — Eu vim falar com você — responde Sophia passando pela porta.
   — Mãe, eu quero ficar sozinha.
   — Pra pensar sobre o curso que você quer fazer?
Yasmin revira os olhos.
   — Não acredito que o Felipe deu com a língua nos dentes!
   — Não tem problema nenhum no fato dele ter contado que você está indecisa, filha — fala Sophia sentando na cama da adolescente. — O problema é você estar indecisa. 
   — Nossa, mãe — fala a loirinha surpresa. — Não esperava isso da senhora.
   — Você está surpresa por eu estranhar você estar indecisa? Claro que eu fico surpresa, Yasmin!
   — Isso é mais normal do que parece e se todo mundo ficar fazendo pressão não ajuda — rebate Yasmin fechando a porta com força.
   — Eu estou estranhando a sua indecisão porque pra mim e para o seu pai é muito claro o caminho que você deve seguir.
A jovem fica encarando Sophia com descrença.
   — Do que a senhora está falando?
   — Estou falando disso. — Sophia abre a pasta que estava em sua mão e espalha alguns croquis sobre a cama. 
   Os olhos de Yasmin se estreitam ao verem os croquis de vestidos de noiva que ela própria desenhou.
   — O... o que é isso, mãe? — questiona para Sophia.
   — Isso se chama talento, Yasmin. Talento. — A loirinha continua calada e imóvel. — Vem cá, senta aqui.
Yasmin caminha lentamente até a cama e se senta diante de Sophia e de seus croquis.
   — Vou ser sincera com você, filha — fala Sophia. — Olhando com um olhar profissional, de estilista que eu me tornei, há muito o que trabalhar nesses croquis. Há um pouco de excesso de traços. O próprio traçado, que seu pai até chegou a comparar com o meu, é muito delicado, mas deve ser mais preciso. 
   "Enfim, não vou ficar pontuando as coisas, porque você não entenderia sobre isso. O que eu quero dizer é que apesar dessas coisas que eu falei, fica evidente aqui o talento que você tem para criar peças, Yasmin. A minha curiosidade é se o seu talento vai para além dos vestidos de noiva ou não, mas isso não importa agora. 
   "É importante que você enxergue e veja que você tem talento para algo, Yasmin. Um talento lindo e bruto que precisa ser lapidado. Por isso que eu vim aqui para conversar com você. Quando o seu irmão disse que você estava indecisa sobre o que cursar, o seu pai quase teve um infarto, porque até ele que é leigo na área da moda viu o quanto você tem um instinto para isso. 
   "Então, estou aqui para te mostrar o que você já deveria ter percebido a muito tempo. Você tem um talento enorme para a moda, Yasmin. E isso não é influência minha não. Depois de muitos anos eu fui me encaminhando para isso, tive que estudar muito para aprender tudo isso que eu sei. E só aprendei porque tinha necessidade, como iria montar uma grife sem ter conhecimento de moda? Agora você, Yasmin. Você nasceu com isso, porque pra desenhar desse jeito com dezesseis anos! Caramba! Isso é... talento. Não tenho outra palavra pra usar."
   — Você acha, mãe? — indaga Yasmin com insegurança.
   — Eu tenho certeza, Yasmin. Se você está em dúvida, porque eu sou sua mãe, saiba que eu estou falando aqui como Sophia Abrahão, uma das donas de uma das maiores grifes do país. Você tem talento.
   — Então... você acha que eu deveria cursar moda? — questiona Yasmin.


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