Imagine ChaMel 4ª Temporada (Filhos) - Capítulo 295: Victor desabafa em capela de hospital


Os ponteiros do relógio aproximam-se das onze horas da manhã quando Jaqueline levanta do sofá e informa a todos na sala do hospital:
   — Os meus pais chegaram. — Ela guarda o celular que pegou emprestado de Sandra no bolso. — Eu não sou mais importante aqui, então eu prefiro ir pra casa. 
Isabela levanta e caminha até ela.
   — Obrigada, Jaqueline. Você que chegou causando incômodo em quase todo mundo demonstrou ser uma pessoa muito prestativa no momento em que a gente mais precisou.
Jaqueline ri sarcasticamente.
   — Eu fiquei escondida enquanto vocês sofriam, eu não vejo prestatividade nisso.
   — Eu sei que foi você que correu pra chamar a polícia, você nem hesitou em fazer a tipagem sanguínea e eu sei que você tem medo de agulha, o Jonas comentou comigo uma vez.
   — Não fiz nada além do que eu devia — diz a loira dando de ombros.
   — Mesmo assim, obrigada. Eu falo em nome de todos nós. 
   — Ela tem razão — concorda Graziele. — Você não foi tão antipática como sempre. 
Elas sorriem uma para outra e após se despedir de Samuel e Brian, a loira vai embora. 
   Malu está sentada em uma poltrona com uma revista nas mãos, o cabelo preso em um coque alto por causa do grande curativo em uma de suas orelhas.
   — Ei — chama Samuel sentando no braço da poltrona.
   — Oi — ela sorri para ele.
   — Eu estou querendo ir embora, você fica bem?
Malu ri.
   — Eu não nasci grudada com você, querido.
   — Já está normal de novo! — Os dois riem e a morena segura no braço dele.
   — Obrigada — fala com seriedade. — Foi muito bacana você ter ficado do meu lado durante... ah, você sabe.
   — O seu bug? — ele ri e dá um beijo na lateral da testa dela.
   — Palhaço!
Samuel ri e levanta.
   — Eu tô indo embora também, galera. — Todos se despedem dele que pega um táxi na porta do hospital. 
   A sala mergulha no silêncio e Thiago sai. Minutos depois ele retorna e se encaminha até Graziele.
   — Vamos lá fora rapidinho?
A ruiva fica espantada pelo contato dele e assente. Os dois saem no corredor.
   — O que foi? — pergunta ela.
   — Eu liguei pros meus pais e eles estão vindo me buscar. Eu sei que a Malu quer ficar mais um pouco, então... você não quer ir embora comigo?
A proposta pega Graziele de surpresa.
   — Você quer que eu vá com você? — ela responde com outra indagação.
Thiago não olha nos olhos dela quando responde:
   — Eu quero só o seu bem.
Com a respiração entrecortada, a ruiva fala:
   — Eu estou precisando muito dormir, então eu aceito pegar carona com você.
   — Ok. — Ele ergue a cabeça. — Vamos dar tchau pro pessoal?
   — Vamos.
Eles retornam para dentro da sala sem comentarem do intenso olhar que trocaram enquanto Graziele permanecia sob a ameaça direta de Augusto.

Instantes depois, sozinho, Felipe aguarda pelos pais na recepção do hospital enquanto Marina também sozinha doa os litros de sangue para a transfusão de Yasmin. Sendo os únicos que sobraram na salinha, Vinícius e Isabela conversam.
   — Me conta o que aconteceu — pede o rapaz.
Isabela passa a mão pelo cabeça, aflita.
   — Foi horrível, Vini! A pior experiência da minha vida, sem dúvidas. Pior do que os acidentes de carro, pior que isso — fala olhando para a cicatriz que tem no antebraço, resultado da automutilação após o término com Jonas.
   "Ele mandou a gente ficar junto perto da porta e começou a falar um monte de coisa. Depois que a Malu e o pessoal fugiram, ele mandou a Marina pegar o galão de gasolina em uma mala. Foi aterrorizante ver aquilo, Vinícius! Eu nem posso imaginar como deve ter sido pra Marina. Ele mandou ela jogar gasolina pela sala, depois pegou a Graziele e disse para a Marina jogar no corredor também e se ela não voltasse em dez segundos ele iria atirar na Grazi. Os segundos foram passando e a Marina não voltava, até que ela apareceu correndo e caiu no chão. Não sei se o Augusto ficou bravo porque ela tava desesperada ou algo assim, mas ele deu um tapa no rosto dela e ela caiu de novo. Em seguida ele mandou a gente ficar junto e disse pra Grazi acender o fósforo. Eu pensei que a gente fosse morrer! Quando a sala começou a pegar fogo, a tia gritou pra gente se abaixar e o Augusto começou a atirar na nossa direção. 
   "Naquele momento eu tive a confirmação de que eu ia morrer. Foi ali que a Yasmin foi baleada, mas a gente não sabia. Então, quando as balas acabaram, o Thiago conseguiu levantar e chutou a porta. O Felipe ajudou ele e a gente começou a sair. Já tava amanhecendo e parecia um sonho o jardim, o ar fresco, tudo. Foi quando eu olhei pra trás e vi o pessoal e mais pra trás o Victor carregando a Yasmin.
   "Eu fiquei em pânico quando eu vi aquela cena. Eu pensei que o pior já tinha passado, mas não! A blusa dela estava manchada de sangue e a mancha não parava de crescer, ou seja, ela ainda estava sangrando! Mas o que eu acho que foi pior, mas foi melhor pra saúde dela, é que ela permaneceu consciente. Eu tentei parecer tranquila pra que ela não ficasse assustada, mas eu estava apavorada. Acho que a Yasmin percebeu isso, porque ela ficava olhando de um lado pro outro e também acho que ela tava sentindo dor, ou alguma coisa assim, porque ela não podia se mexer que faltava ar. Eu nunca a vi daquele jeito, Vinícius. Foi quando o pior aconteceu e ela fechou os olhos. Eu pensei que ela tivesse morrido! Eu nunca senti algo igual, eu queria sacudir ela até que ela voltasse, mas não podia. O Felipe começou a chorar loucamente também, o que me deixou ainda mais apavorada. De repente o helicóptero chegou, eu estava tão assustada que nem ouvi o barulho. E aí a Yasmin abriu os olhos e eu vi que ela não tinha morrido. Foi como se eu tivesse voltado à vida também."
Vinícius continua olhando para ela quando ela para de falar pra enxugar as lágrimas.
   — E o Victor? — ele questiona. O comportamento do loiro não passou despercebido por seu olhar atento.
Isabela suspira.
   — Eu não sei o que está acontecendo com o Victor. Ele foi o primeiro a ver o que aconteceu com a Yasmin e depois que colocou ela na grama, ele se distanciou e ficou de costas pra gente. Até ela reparou! Quando o helicóptero chegou, sobrou uma vaga e eu perguntei se ele queria ir com ela, né? Mas ele não quis. Por isso eu que vim. E desde que a gente chegou ele não falou com ninguém nem chorou nem nada.
   — Será que ele está em estado de choque?
   — Não sei. — Ela dá de ombros. — Só sei que está muito estranho. Falando nele, pra onde ele foi?
   — Ele saiu depois do Felipe, mas não disse nada.
Isabela sacode a cabeça.
   — O Victor é muito esquisito, isso me assusta. Agora, por exemplo, eu não sei como agir com ele, porque não sei como ele vai reagir.
   — E aí, gente? — Os dois olham para Malu que entra na sala com um pacote de salgadinhos. — Querem? — Eles negam com a cabeça. — Sabe, eu já estou me sentindo mais leve. Só de saber que a Yasmin vai ficar bem logo, eu já me sinto bem melhor.
   — É verdade — concorda Isabela. 
Malu começa a conversar com eles e aos poucos consegue passar tranquilidade para os irmãos.

Luíza está sentada na sala de estar da cobertura em que mora. Seu esposo desce as escadas enxugando o rosto em uma toalha branca e comenta:
   — Só eu estou preocupado com o Nícolas?
   — Hã? — Luíza ergue a cabeça para ele.
   — Ele não acorda!
   — O Vinícius deu um sonífero pra ele antes deles fugirem pra floresta — conta a psicóloga. — Pra ele não ficar nervoso com tudo o que aconteceu.
   — Sério? — surpreende-se Daniel. Ele senta ao lado dela e opina: — Que bom que eles fizeram isso, né? Imagina o Nícolas passar por aquela tensão?
Luíza assente e eles ficam em silêncio por longos minutos.
   — Daniel?
   — Oi — ele responde e passa a mão pelo cabeço dela de maneira carinhosa e protetora.
   — Eu estou com medo... E se descobrirem o que a gente fez?
   — A gente não fez nada, Luíza.
   — Não! — Ela levanta. — A gente provocou a morte do Augusto!
   — Ele provocou a própria morte.
   — Eu bati na cabeça dele, Daniel! Se ele tivesse consciente, poderia ter escapado assim como a gente escapou. A gente foi responsável pela morte dele!
   — Luíza. — Daniel vai até ela e segura com firmeza em seus ombros. — Para de pensar assim. O Augusto queria me matar, você viu. Ele estava disposto a morrer e me levar com ele. — Com os dedos ele acaricia a bochecha dela. — Se não fosse por você, eu estaria morto a essa hora.
   — Não fala isso! — Só de cogitar a hipótese, Luíza sente uma dor fora do comum em seu peito.
   — É verdade. Você me salvou e o que a gente fez não foi errado. 
   — Na sua consciência e no seu julgamento não, mas pela lei sim.
   — Se é isso que te preocupa, eles nunca vão descobrir o que aconteceu lá dentro. Só se a gente contar.
   — Eu não vou contar.
   — Nem eu. Vem cá. — Daniel pega nas mãos dela e a leva até o sofá novamente. — Eu andei conversando com o César e ele me orientou sobre como agir.
   — O que ele disse? — questiona Luíza rapidamente.
   — Caso encontrem o corpo do Augusto carbonizado, o que é uma probabilidade grande já que o incêndio não durou muito depois que a gente saiu, ou seja, ele não virou cinzas por completo...
   — Não fala assim — pede Luíza. — Soa muito frio e calculista.
   — Desculpa. Então, caso encontrem o corpo dele vão nos chamar para depor, já que nós afirmamos que não tinha mais ninguém no casarão. — Luíza estremece. — Fica calma — pede. — O César me falou a história que nós temos que contar para escapar de qualquer investigação.
   — Que história?
Com calma e racionalidade, Daniel conta:
   — Eu entrei no casarão para buscar Augusto, porque mesmo sabendo de tudo o que ele fez, eu não queria que ele morresse lá.
Luíza sacode a cabeça.
   — Foi exatamente o contrário.
   — Você, apavorada com o risco de me perder — ele continua como se o comentário dela não tivesse ocorrido —, entrou escondido pela sala. 
   — Mas eu entrei pela cozinha.
   — Não é isso que você vai falar caso a polícia pergunte. Você me disse que ninguém viu quando você entrou, não é?
   — Sim — confirma a psicóloga. — Eu esperei todo mundo se distrair e tentei entrar, porque sabia que ninguém me deixaria fazer isso.
   — Pois então, não tem ninguém pra te desmentir. Continuando, você entrou pela sala que estava pegando fogo e me viu caído no chão. Eu entrei e tentei procurar o Augusto, mas não o vi na sala e deduzi que ele tinha conseguido fugir. Eu tentei sair, mas fui perdendo a consciência por causa da fumaça e cai. Quando você me achou, conseguiu me acordar e a gente saiu pela janela. 
Luíza assente, absorvendo a história. Alguns questionamentos vão surgindo em sua mente, como:
   — Por que a gente tem que falar que entramos e saímos pela sala?
Seu marido explica imediatamente:
   — O corpo do Augusto vai ser encontrado no corredor para a cozinha. Se você falar a verdade, que entrou pela porta do cozinha, vão deduzir que você passou por ele pra chegar em mim na sala. Como você não o viu?
   — Entendi! E se virem marcas de luta no corpo dele, você deu um soco nele, não foi?
Daniel sorri.
   — Ele foi queimado, Luíza. Não haverá marcas, impressões digitais, nada que comprove que eu encostei nele.
   — Mas tem marcas de dedos no seu pescoço.
   — A polícia não vai investigar isso, sem contar que eu não fiz exame de corpo de delito então não tem como provar que o Augusto foi o autor disso. Olha, eles não desconfiam da gente. Nós só seremos chamados pra prestar satisfações e como o nosso relato faz total sentido, não haverá investigações sobre a gente. O Augusto tentou fugir pela cozinha, desmaiou pela fumaça e morreu queimado. Simples assim! 
Luíza assente mais uma vez e não faz mais nenhum questionamento. 
   — Eu vou pegar um copo d'água pra você — fala Daniel e segue para a cozinha.
A irmã de Mel permanece pensativa na sala por um tempo. Em seguida, levanta e vai atrás dele.
   — Daniel?
   — Mais alguma dúvida? — ele sorri virando para ela diante da pia.
   — Na verdade é uma observação.
   — Fala.
Luíza mexe na blusa para evitar o olhar dele.
   — Eu não estou querendo te julgar, nem nada disso. É mais uma... coisa, que veio na minha cabeça.
   — Hum. — Ele cruza os braços e olha para ela com interesse.
   — Querendo ou não, se o Augusto morreu foi porque a gente não prestou socorro para ele. É... Querendo ou não, ele era seu pai. Eu não estou te julgando, só quero entender. Você não sente nada? — Ela ergue a cabeça e retribui o olhar dele. — Você não sente culpa, remorso? Porque eu sinto! Apesar de tudo o que o Augusto fez, eu não queria que tivesse acabado assim. Sei que foi o melhor pra gente e que várias vezes eu disse que faria qualquer coisa pra proteger a nossa família, mas eu me sinto mal, culpada, uma assassina. 
Daniel fica em silêncio, pensando sobre o que ela disse.
   — Sabe, Luíza, eu e o Augusto discutimos antes dele tentar me sufocar. E sabe o que ele me disse?
   — O quê? — ela sussurra. 
   — Que ele nunca me amou, que ele nunca quis que eu existisse. Você sabe o que é ouvir isso do seu pai, a pessoa que deveria te amar mais do que tudo? — Luíza nega com a cabeça, começando a chorar. — Pois é, eu ouvi. Eu penso no Nícolas, eu jamais faria nada que pudesse machucá-lo, eu daria a minha vida por ele. E o meu pai quis me matar. O meu pai disse que eu sou fruto de uma relação ridícula, que a minha mãe era ridícula. Então, Luíza, a minha resposta é não. Eu não sinto remorso, eu não sinto culpa, eu não sinto alegria, eu simplesmente não sinto nada. — Lágrimas também rolam por seu rosto. — Eu só quero amar o Nícolas como eu nunca fui amado pelo meu pai. Eu só quero proteger o meu filho como o meu pai nunca me protegeu. Eu quero dar carinho, atenção, ensinar o que é respeito, educá-lo. Tudo o que o meu pai não fez comigo. — Ele soluça. — Eu só quero ser o pai que eu nunca tive. 
Luíza corre até ele e se afunda em seu peito.
   — Desculpa — pede molhando a camisa dele com suas lágrimas. — Desculpa! Eu nunca passei nem pela metade do sofrimento que você já passou. Eu não sei como é carregar esse fardo, mas eu juro, Daniel — ela ergue a cabeça para olhar nos olhos dele —, eu juro que daqui pra frente eu vou tentar ser a melhor pessoa que você possa ter ao seu lado. Eu sei que não há como apagar o que você já sofreu, mas eu quero que o seu futuro seja muito feliz. Você merece isso!
Daniel pega o rosto dela em suas mãos.
   — Você me faz feliz desde quando a gente começou a se envolver. Se eu sou o pai que sou hoje, o marido que sou hoje, é por sua causa. Você só precisa existir pra me fazer feliz.
Luíza chora e abraça o marido com força.

Caminhando apressadamente, Sophia entra no hospital seguida de perto por Micael e Mel. Ela olha para os lados, tirando os óculos de Sol, e suspira de alívio ao ver Felipe encostado em uma parede.
   — Filho! — exclama correndo até ele e chamando a atenção de alguns dos presentes. Mel está com o cabelo preso em um rabo de cavalo baixo e um grande chapéu e Micael usa um boné, tudo para não serem reconhecidos.
   — Oi, mãe — responde Felipe sufocado no abraço da loira, que está com um lenço no cabelo. 
   — Você está bem? — ela pergunta afastando-o para analisá-lo. — Machucou alguma coisa? Aquele monstro te fez algum mal?
   — Fisicamente não — ele fala.
   — Ai, meu bebê! — Sophia o abraça novamente e Micael faz carinho em sua cabeça.
   — E a sua irmã? — pergunta o cantor e Sophia solta Felipe, começando a chorar imediatamente. Mel passa a mão pelas costas dela tentando acalmá-la.
   — A Yasmin foi baleada, vocês sabem, né? — questiona Felipe olhando para os pais com curiosidade.
   — Sim — responde Micael. — Como ela está?
   — Anelise! — exclama Mel ao ver a jornalista aproximando-se juntamente com Bernardo.
   — Oi, gente — falam os dois.
Sophia abraça novamente Felipe, como se ele corresse perigo iminente, e olha para o casal.
   — Você é médico, né Bernardo? Como está a minha filha?
Bernardo, com as mãos no bolso, fala timidamente:
   — Eu estou apenas como visitante, não estou atendendo ela.
   — Eu sei, mas você sabe como ela está, não sabe? — indaga Sophia visivelmente fora de si. — Como está a minha filha? O estado dela é grave?
Bernardo lança um olhar de esguelha para a esposa e fala:
   — Pelo o que eu fiquei sabendo, a bala atravessou o abdômen dela. Mas não atingiu nenhum órgão vital! — acrescenta com rapidez diante das expressões de terror de Sophia e Micael. — Ela perdeu muito sangue, porque não teve um socorro imediato e afinal, haviam duas feridas abertas, né? A na parta dianteira onde a bala entrou e na traseira onde...
   — Sem detalhes, Bê — pede Anelise observando os rostos pálidos dos pais da jovem.
   — Pois é — continua Bernardo —, ela precisou de uma transfusão de sangue.
   — Ai meu Deus! — exclama Sophia. — Ela tem o tipo sanguíneo muito raro, é igual ao meu!
   — É — concorda Bernardo. — Ninguém tinha o tipo sanguíneo igual ao dela no grupo, mas o da Marina era o outro compatível. Eu não sei se vocês sabem, mas o tipo da Yasmin, A negativo, pode receber apenas igual ao seu ou O negativo, por causa das...
   Sem detalhes — repete Anelise entredentes.
   — Enfim, a Marina está doando sangue pra Yasmin — encerra Bernardo dando um sorrisinho.
   — Então ela vai ficar bem? — questiona Micael.
   — Acredito que sim.
Sophia solta um suspiro de alívio e Mel pergunta:
   — E os meus filhos?
   — Também vão ficar bem — Bernardo responde estranhando a pergunta. — Eles não foram feridos.
Mel dá um leve sorriso.
   — Eu sei, eu quero saber onde eles estão.
   — Ah! — Ele exclama e olha para Anelise.
   — Eles estão em uma salinha perto da emergência, a Marina e a Malu precisaram de cuidados. Vamos até lá!
O grupo segue em direção à sala e Sophia não desgruda do filho.

Do outro lado do hospital, Marina caminha lentamente com os pensamentos nos pais, imaginando como eles reagirão quando souberem o que aconteceu e quando os verá de novo, pois os dois aproveitaram que os filhos foram para a fazenda para fazer uma viagem de casal. Distraída em seus pensamentos, ela demora para ver que Victor entrou no mesmo corredor que ela. O loiro também não repara em sua presença, pois anda de cabeça baixa. 
   Sem entender as próprias intenções, Marina esconde-se atrás de uma funcionária, fingindo conferir o curativo no local em que seu sangue foi colhido. Ela acompanha o irmão discretamente e franze a testa ao ler a plaquinha acima da porta que ele entra. 
   — Capela? — se pergunta com incredulidade.
   — É logo ali — responde a funcionária da limpeza que está parada na frente dela, passando pano em umas cadeiras.
Marina olha para ela e força um sorriso.
   — Obrigada. — Ela segue até a capela e espia lá dentro antes de entrar.
O espaço é pequeno e um pouco escuro, mas transmite serenidade e acolhimento. É iluminado apenas por velas no altar, que fica do lado oposto ao da porta, o que torna o fundo escuro. É ali que Marina se esconde. Ela observa o irmão sentar em um banco na primeira das três fileiras da capela. 
   O rapaz olha para trás e Marina afunda ainda mais nas sombras e fica aliviada por ele não ter olhado em sua direção. Victor vira para frente e fica alguns minutos apenas analisando a imagem de Cristo pregada na parede e o altar com flores e velas. Sua irmã começa a acreditar que ele foi ali somente para se esconder dos outros, pois ninguém procuraria por ele na capela.
   Então, para o espanto da jovem, Victor limpa a garganta e fala com a voz rouca:
   — É... Deus, Jesus, não sei pra quem as pessoas rezam em geral. — Sua voz está hesitante e ele esfrega as mãos impacientemente na calça. — Eu queria começar falando que eu não acredito em você, aliás nem sei porque eu estou aqui — ele ri nervoso. — Quer dizer, eu sei o que eu quero, mas não sei se estou fazendo certo. Nem sei o que eu estou falando! Enfim — respira fundo —, falam que você, Deus, Jesus ou os dois, vê tudo o que a gente faz, por isso eu acho que não preciso contar o que houve, né? — Ele ri com nervosismo e esfrega novamente as mãos na calça. Marina percebe que ele está enxugando o suor da palma das mãos. — Eu não sei o que fazer. Será que eu devo ajoelhar? — ele pergunta para si mesmo. — Acho que não precisa, né? Então — seu olhar fixa-se na imagem de Jesus —, eu vim te desafiar. Se você existe, faça a Yasmin melhorar!
Victor abaixa os olhos e abaixa a voz, dificultando a audição de Marina.
   — A verdade é que eu estou desesperado, Deus e Jesus. A minha namorada foi baleada de uma forma tão covarde. Aquele filho da p*ta atirou para todos os lados e acertou ela. Eu vi a barriga dela sangrando! Ela tava com tanto medo, estava evidente nos seus olhos. E eu não podia fazer nada pra ajudá-la! 
   "Os médicos falaram que ela precisava de uma transfusão de sangue e tudo o que eu desejei foi que o meu sangue fosse compatível com o dela, pra que ela não sofresse mais. Eu não fui compatível, mas a minha irmã foi. Ainda bem! Por um lado eu estou aliviado, mas por outro eu ainda estou preocupado. Eu sei que mesmo com a compatibilidade há chances do organismo dela rejeitar o sangue novo e... e se isso acontecer... Nossa, acho que eu morro por dentro!
   "Eu estou tão desesperado que estou aqui, conversando com vocês, que eu nem acredito que realmente existam. Mas se vocês existirem de verdade, eu peço com todas as minhas forças que salvem a minha namorada. Por favor! Eu nunca passei por uma situação como essa e não sei como deveria ser, mas eu sinto o meu peito doer. Isso não é bacana! Eu só consigo pensar na Yasmin sangrando e em todo momento eu ouço os gritos da Isabela e o do Felipe quando eles acharam que ela tinha morrido. 
   "Minha mente e o meu corpo estão exaustos, mas eu não consigo relaxar pois só penso em como a Yasmin deve estar agora. Eu só quero vê-la bem de novo, sorrindo, dançando, fazendo palhaçadas e porquices. Sei que conheço ela não faz muito tempo, mas eu a amo muito, a dor que eu estou sentindo agora prova isso. Por isso eu volto a implorar, salvem a Yasmin! Ela é jovem, tem muita coisa pra fazer ainda, muitos sonhos para realizar e, é egoísta o que eu vou dizer, mas eu não posso viver sem ela. Por favor, eu sei que eu não mereço ser atendido por vocês, afinal eu não acredito em vocês, mas ela acredita. Eu não estou pedindo por mim, eu peço por ela. Salvem a Yasmin, por favor!" Victor limpa as lágrimas que gotejam de seu rosto e funga. 
   Com muito esforço, Marina consegue movimentar as pernas e sai silenciosamente da capela. Ela caminha o mais rápido que seus machucados permitem até o banheiro mais próximo e se apoia na pia, olhando para as próprias mãos. Ela chora de soluçar, sem acreditar em tudo o que ouviu e viu. Uma de suas mãos aperta o braço direito sobre o adesivo da doação e ela fala:
   — Eu com certeza fiz a coisa certa. Tanto por você, quanto por ele!

Anelise abre a porta da saleta e Mel, Sophia e Micael entram com Felipe e Bernardo. 
   — Mãe! — Isabela pula do sofá e corre até Mel, que a recebe de braços abertos. — Mãe! — chora a garota. — Eu pensei que nunca mais fosse ver a senhora.
Mel começa a chorar também e aperta Isabela.
   — Ai, minha filha! — Elas ficam chorando em silêncio. — Como você está? 
   — Bem.
Mel beija demoradamente sua cabeça e olha para Vinícius.
   — Vem cá, meu amor. — O rapaz caminha até ela e Mel abraça os dois filhos. — Eu fiquei tão preocupada com vocês! 
   — Eu estou bem, mãe — garante Vinícius. — Eu fiquei escondido o tempo todo na floresta com o Nícolas.
   — Não sei o que teria acontecido se você não tivesse fugido com ele — Anelise estremece e Bernardo a abraça.
   — Não pensa nisso — aconselha em seu ouvido.
   — O casarão pegou fogo, mãe — conta Isabela chorosa.
   — O que importa é que vocês todos estão vivos! — Mel continua abraçada nos filhos.
De olhos inchados e vermelhos, Marina adentra na sala e recebe os olhares de todos. Sophia, Micael e Mel apiedam-se do estado dela. Sua fisionomia está deplorável, o rosto pálido, os lábios ressecados, a bochecha marcada pela mão pesada de Augusto, os olhos fundos e com olheiras, um hematoma no ombro e um pequeno curativo na articulação do braço. 
   Vinícius estreita os olhos e se pergunta o motivo que a fez chorar recentemente. 
   — Marina — fala Sophia indo até ela. — Eu fiquei sabendo que...
   — Com licença — uma enfermeira entra na sala e Sophia se cala.
Marina caminha para perto do namorado e Vinícius passa a mão ao redor do corpo dela na altura do quadril para não encostar no machucado da barriga.
   — Eu vim aqui para explicar o estado clínico da paciente Yasmin Borges. — Ela segura firmemente uma prancheta. — Vocês são os pais dela? — indaga para Mel e Micael.
   — Acho que ela não viu a Yasmin, né? — sussurra Malu para Vinícius. — Quando que loira daquele jeito ela seria filha da Mel e do Micael?
O rapaz ri baixinho enquanto Mel aponta para Sophia e Micael.
   — Eles — corrige.
   — Ah, sim! — Ela confere a prancheta. — A Yasmin teve o abdômen perfurado por uma arma de fogo, a bala entrou e saiu, mas não atingiu nenhum órgão vital. Ela perdeu muito sangue e precisou de uma transfusão. O sangue dela é A negativo, por isso só permite receber sangue A negativo, obviamente, ou O negativo que é o doador universal. Os amigos dela fizeram a tipagem e ninguém era A negativo, mas havia um doador universal, a paciente... — Ela procura o nome na prancheta.
   — Marina Aguiar — fala a própria.
   — Exatamente! O sangue da doadora foi colhido e os exames padrões estão sendo realizados para confirmar a compatibilidade. A transfusão será feita em breve e assim que puder vocês poderão visitar a sua filha.
   — E os ferimentos da bala? — pergunta Micael.
   — Ela levou pontos — responde a enfermeira com naturalidade.
   — Tem previsão de alta? — Sophia questiona.
   — É muito relativo e depende do médico, mas se tudo ocorrer bem, em torno dez dias ela poderá sair. Os pontos precisão de cuidado, mas isso é algo para ser conversado futuramente. 
Todos assentem.
   — Alguma dúvida? — pergunta a funcionária.
   — Nenhuma — respondem Sophia e Micael.
   — Tá bom, com licença. — Ela sai e o casal se abraça.
   — Vai ficar tudo bem — Micael diz com alívio.
Em seguida, Sophia volta a se dirigir a Marina.
   — Você ajudou a salvar a vida da minha filha. — Marina fica sem saber o que dizer, por isso dá apenas um sorrisinho envergonhado. — Eu nunca vou poder te agradecer por isso!
   — Não precisa!
   — Obrigada! — Sophia puxa Marina e a abraça com força, provocando gemidos de dor na jovem.
   — Mãe!? — exclama Felipe afastando os braços de Sophia do corpo de Marina. — Ela está machucada.
   — Ai, meu Deus, desculpa! — pede Sophia com sinceridade. — Mil perdões!
Com dificuldades para respirar, Marina apenas balança a cabeça. 
   Victor entra na sala e Micael não consegue disfarçar seu desagrado. Os dois ainda não se acertaram da discussão que tiveram. 
   — Oi — ele fala para os recém-chegados.
   — Oi, Victor — responde todo mundo.
Marina escapa do abraço protetor de Vinícius para ir até o irmão.
   — Vamos comigo lá fora.
   — Eu acabei de chegar, Marina.
   — Não foi um convite — ela diz com seriedade e sai da sala. O loiro de olhos tão vermelhos quanto os dela também se retira.
Marina está sentada em uma fileira de cadeiras logo a direita.
   — O que você quer? — pergunta Victor sentando ao lado dela.
   — Te dizer uma coisa bem simples.
   — Estou ouvindo.
Ela junta as mãos sobre o colo e fica olhando para os dedos enquanto fala com dificuldade.
   — Eu queria te lembrar que desde que você era do tamanho de um mirtilo lá na barriga da nossa mãe, era eu quem estava ao seu lado. — Seus olhos enchem-se de lágrimas. — A gente nasceu um atrás do outro e desde então sempre estivemos lado a lado, crescendo juntos. Então — ela morde um dos lábios —, você pode ficar bancando o valentão, o forte ou apenas não consegue se expressar, mas eu te conheço. Não dizem que gêmeos sempre sentem quando o outro está mal? Eu não vou fazer um discurso enorme e tal, mas eu queria que você soubesse que eu sou sua irmã e estou com você pra qualquer coisa. 
Victor fica em silêncio.
   — Desculpa por ter contribuído para alguns dos seus machucados — diz finalmente.
Marina sorri.
   — Tudo bem, eu passei por coisas piores.
Victor também sorri e abraça a irmã com cuidado.
   — Eu te amo — fala após beijar a testa dela.
A morena faz carinho no rosto dele.
   — Eu também.

Dentro da sala, Mel paparica os filhos sentada em um sofá.
   — O pai de vocês está muito preocupado — ela conta fazendo carinho no cabelo de Vinícius. — Ele está doido para voltar, mas tem alguns compromissos importantes em São Paulo e eu falei pra ele não cancelar, já que vocês estão bem.
   — A senhora está certa — apoia Vinícius.
   — Quando ele volta? — pergunta Isabela.
   — Nessa semana. — Mel dá um beijo na cabeça da filha. — Estou tão aliviada pela Yasmin.
   — Nós também — diz Vinícius.
   — O Victor está estranho, né? — comenta Mel. — Parece distante. Ele é assim?
   — A gente não sabe direito — conta Isabela. — Ele se fecha quando o assunto é sério. 
   — A Marina entende ele, mas ela o respeita muito e não fala pra gente nem interfere em nada — comenta Vinícius e Isabela acrescenta:
   — A única que dizia o que estava pegando com ele é a Yasmin, mas agora...
Mel aperta a filha nos braços.
   — Ela ainda vai decifrar muito o Victor pra vocês, fica tranquila!

Do lado de fora, Marina conta para Victor que a doação de sangue é exatamente igual tirar sangue para exames.
   — Só que com muito mais sangue, é claro! — complementa. — Por isso demora mais. Eu quase dormi, estou muito cansada só que... — Ela estreita os olhos ao ver um homem entrar na sala em que eles estavam.
   — O que foi? — Victor olha para trás.
   — Entrou um homem lá na sala, acho que é o...

   — Reinaldo — Mel sorri ao ver o homem passar pela porta. Ela e os filhos ficam em pé rapidamente. — Ainda bem que você pôde vir — fala indo até ele.
A intimidade com que eles se olham e o fato de Mel ter chamado o empresário desperta o interesse e a indignação de Isabela.
   — O que ele está fazendo aqui? — questiona com a testa franzida.


Comentários

  1. Tou amando a Isa cada vez mas!!! E isso mesmo Isa não deixa esse homem com a sua Mãe! O que ele quer no hospital? Nenhum do grupo é filho dele fora Reinaldo

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  2. A Isabela realmente não gostou da aparição do Reinaldo e pelo visto você também não rsrsrs Tadinho, ele foi até lá porque a Mel pediu.

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    1. Não sei por que ela pediu quem devia estar lá era Chay pra dar suporte e mimos aos seus filhos... E realmente eu não gosto do Reinaldo e ha Isa tem que fica contra tbm

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    2. Ha Isa parece um pouco comigo não fui com a cara do namorado da minha mãe. Já no meu caso o que pude fazer pra separar eu fiz... Quando foi o segundo namorado eu deixei não fiz nada só que alegria deles não durou muitoo tempo kkkkkkkkk adooooroooo

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  3. Ameei! Victor e Yasmin são meus favoritos, ele e a Mari tbm são muito fofos. Quando a Yas acordar faz uma cena fofa dela com o Felipe? Eu amo os dois juntos!! Já disse mil vezes que seu imagine é perfeito e digo mais se precisar

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  4. Ameii a isa não gosta nem um pouco do Reinaldo

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  5. Isso Isa faz um escândalo!!!Sdds de ChaMel♥

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    1. Também achoo o Reinaldo merece mas!! Não gosto nem um pouco dele

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    2. Também sinto saudades de ChaMel, mas não acho que a Isa deva fazer escândalo. Ela não é dessas e cairia no meu conceito se fizesse!

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  6. Eita q a Isabela é muito mimada viu!!!

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  7. AI MEU DEUS DO CÉU! Ri muito com o Victor rezando e caiu uma lagriminha quando ele é Marina conversaram 😛😛😛

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  8. Renata do céu como que você faz isso com o meu coração? Você quer me matar? Só pode né, esse capítulo foi maravilhosooo, amei o Victor todo sentimental por causa do acidente com a Yas, que ela fique boa logo, tô torcendo pra recuperação dela, que o Victor continue sentimental depois que a Yas se recuperar! Continua logoooo, bjs

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  9. Eu sou ChaMel e acredito que eles vão ficar junto no final, mas todo AMANDO essa fase dela com o Reinaldo. Super madura e confiante <3

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  10. Ai, Isa, não vamos começar com infantilidade, né? Não me decepcione kkkkkkk

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    1. Nao acho que seja infantilidade da Isa eu acho super certo o que ela ta fazendo o Reinaldo não é príncipe todo algo ele tem pra esconder e eu acho super certo ela tratar ele assim! Isso ainda é pouco pq se fosse eu teria saindo de casa para morar com meu pai

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    2. A Isabela sempre foi super educada e eu acho feio ela agir assim já que o Reinaldo não fez nada demais! Seria infantilidade mesmo

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  11. Eu estava intrigada com o jeito que o Victor reagiu, ficando longe e quieto, e queria saber o que estava passando pela cabeça dele e a resposta veio nesse capítulo... GENIAL! Mostrou todo o desespero dele com a situação da Yasmin, senão ele não teria ido na capela, né? E a cena com a Marina foi linda. Eles não costumam ser carinhosos um com o outro e são até distantes se comparados aos outros e eu achei perfeito. Muito emocionante!

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