Imagine ChaMel 4ª Temporada (Filhos) - Capítulo 256: Victor derruba as barreiras e surpreende Yasmin

   — Ah! Quase ninguém vê — Vinícius canta a música Amei Te Ver do Tiago Iorc. — Quanto mais o tempo passa, mais aumenta a graça em te vê. — Ele para de cantar e tocar ukulele, que o acompanhava, e olha para a irmã. — Pegou o ritmo?
Isabela hesita com a cabeça.
   — Acho que sim. 
   — Ok, então tenta. — Ele entrega o instrumento musical à irmã. — Daquele jeito que eu te ensinei.
Ela sorri e indaga:
   — Qual é o primeiro acorde mesmo?
Vinícius ri.
   — Lá menor — lembra posicionando os dedos dela para realizar o acorde. — Não esquece a sequência, lá menor, dó maior, ré menor, fá e sol maior. 
A morena assente.
   — Ok. — Com os dedos desajeitados, Isabela começa a tocar o ukulele tentando repetir os movimentos do irmão enquanto ele canta:
   — Ah! Quase ninguém vê. Quanto mais o tempo passa, mais... — Sua voz cessa quando ela para de tocar.
   — Esqueci como faz o fá maior. 
Sorrindo e com tranquilidade, Vinícius ensina novamente para a irmã como faz o acorde. 
   — Desde o começo? 
   — Sim. — Isabela posiciona os dedos no lá menor e aguarda Vinícius começar a cantar:
   — Ah! Quase ninguém vê... O que foi agora? — ele indaga rindo. 
   — Eu me atrapalhei — justifica Isabela rindo. — Ai, Vini, é difícil!
   — Claro que não — ele retorque com calma. — É só manter a paciência e treinar que você consegue.
   — Não sei se eu quero continuar — ela faz birra.
   — Vai desistir assim tão fácil?
   — Mas não está sendo fácil.
Os dois riem e olham para a porta principal ao ouvir o barulho dela fechando.
   — Oi, mãe! — dizem ao mesmo tempo.
   — Oi, meus amores! — Mel sorri com transparência e leveza e caminha praticamente flutuando até o sofá. — O que vocês estão fazendo?
   — Eu tô ensinando a Isa tocar ukulele — explica Vinícius e a garota ri.
   — Eu sou um fracasso.
   — É só treinar, filha.
   — Viu? — Vinícius olha para a irmã e volta a encarar a mãe. — A senhora está tão feliz.
   — É, estou mesmo — concorda Mel sem conseguir parar de sorrir, o que provoca o sorriso de Isabela, que indaga:
   — Aconteceu alguma coisa para despertar essa alegria toda na senhora? 

   — Planeta Terra chamando Yasmin — sussurra Felipe no ouvido de Yasmin e a loirinha sobressalta-se e vira para encará-lo.
   — Ai, que susto!
   — Susto mesmo, você está pálida pra caramba. 
Atordoada com o que ouviu dos pais, Yasmin pega na mão do irmão e pede:
   — Vem comigo. 
Felipe, ficando confuso, é arrastado por ela até o seu próprio quarto, o mais próximo de onde eles estão. 

Sentado em um poltrona, Brian recebe os cuidados de Marina após sair do escritório do pai dela. A garota faz uma compressa de gelo no maxilar dele enquanto conversa:
   — Então meu pai deu um sermão em vocês?
   — Sim — responde o americano. — Foi horrível. Eu fiquei envergonhado pelo o que eu fiz.
   — Ah, você foi tão culpado quanto o Victor — ameniza Marina sentada no braço da poltrona.
   — Sim, mas eu sou o hóspede, o Victor é filho do Arthur. Eu não deveria ter dado papo para o Victor.
   — Você teve as melhores das intenções, não teve? 
   — Sim.
   — Então é isso o que importa. Sem contar que o meu pai pode ter ficado super bravo na hora, mas ele gosta de você. 
   — Eu achava que o Victor gostava — Brian dá um sorriso melancólico, o que faz o seu maxilar latejar. 
   — No fundo, bem no fundo, ele gosta de você — diz a morena. — É porque você tem esse negócio com a Yasmin, por isso que ele se irrita.
   — Mas eu sempre disse que vou respeitar ela e ele. Eu sou afim da Yasmin, mas não vou ficar dando em cima dela. 
   — Acho bom, né? Já basta a Jaqueline. 
Ao ouvir o nome da loira, Brian dá um sorriso abobalhado e Marina revira os olhos.
   — Nunca pensei que você fosse cair tanto o nível, Brian — ela comenta em tom de desgosto e ele ri, mesmo com o maxilar doendo. 
   — Você fica com ciuminho quando a Jaqueline aparece na conversa, fica? — provoca puxando ela para o seu colo.
   — Para, garoto! — ela pede tentando desvencilhar-se do aperto dele.
   — Só se você admitir que fica com ciúmes.
   — Eu não fico com ciúmes! Eu tenho o meu namorado e o amo muito. 
   — Nossa! — exclama o americano com a voz desanimada. — Você pode não ter ciúmes, mas eu tenho, ok? 
Marina ri.
   — Para de palhaçada. Eu sei que você não tem ciúmes do Vini.
Brian dá um leve sorriso e deixa ela se levantar.
   — Não tenho mesmo. Ele te faz feliz e é isso o que importa para mim. 
   — A sua felicidade também importa pra mim — ela diz voltando a se sentar no braço da poltrona. 
   — A Jaqueline me faz feliz — Brian fala só para deixá-la irritada.
   — Cala a boca, Brian! — exige Marina pressionando com força o gelo contra a pele dele, que reclama mas sorri. 

Mel não deixa de sorrir e responde com tranquilidade:
   — Aconteceu e em breve vocês saberão.
   — Por que a senhora não conta agora? — questiona Isabela com curiosidade.
   — Porque ainda não é o momento certo — responde a empresária levantando. — Agora eu vou tomar um banho e descansar, porque o dia foi maravilhosamente longo. 
Ela saltita até a escada e sobe sem tirar o sorriso e a leveza do rosto. Os seus filhos, sentados no tapete da sala, trocam um olhar de espanto e curiosidade.
   — Do que será que ela está falando? — indaga Isabela ao irmão.
   — Não sei — Vinícius responde dando de ombros, mas em seus pensamentos relembra da forte energia que parecia ligar Mel e Reinaldo horas antes.

Yasmin senta na cama do irmão defronte a ele e desabafa:
   — Eu ouvi o pai dizendo para a mãe que o Victor e Marina têm planos de fazer faculdade nos Estados Unidos.
   — Quê? — Felipe estranha. 
   — O pai falou que daqui a seis meses o Victor estará voltando para os Estados Unidos. — Ela morde o lábio. — Você tem noção disso, Felipe? Daqui a seis meses e o Victor podemos terminar e ele vai sair da minha vida como se nunca tivesse existido.
   — Calma, Yasmin — pede Felipe tentando organizar e digerir a informação. — Você tem certeza de que ouviu isso? 
Yasmin fica irritadiça. 
   — Claro que ouvi, Fê! — Um choro começa a se formar, deixando a garganta dela apertada. — Eu não estou acreditando que isso é sério.
Felipe está tão assustado quanto a irmã.
   — Nem eu. Como assim eles vão voltar pra lá, do nada. 
   — Felipe, você tem noção disso? — ela repete. — Você consegue imaginar a Isabela indo para Nova York da noite pro dia? Se nem ter comentado isso com você antes? 
   — Seria assustador — ele confessa e ao olhar para a irmã constata que suas palavras só estão fazendo ela piorar, por isso emenda: — Mas a gente não pode ter certeza. 
   — Eu ouvi o pai falando!
   — Sim, mas quem sabe mais da vida do Victor, o pai ou o próprio Victor?
Yasmin franze a testa.
   — Hã?
   — O que eu estou querendo dizer é que se o Victor ainda não te falou nada é porque nem ele tem certeza. — Ele percebe que Yasmin cogitou a sua ideia e embora não acredite nas próprias palavras, fica feliz por ela ter acalmado-se momentaneamente. 
   — Faz sentido. Se bem que eu já ouvi uns comentários da Marina com relação a voltar. 
   — A Marina não é o Victor — retorque o moreno.
   — Eu sei, mas se a gente for pensar pelo lado racional, faz total sentido ele voltar, porque seria muito mais fácil para ele fazer faculdade lá.
   — Acontece que não dá pra agir somente pelo lado racional em uma situação dessas.
   — Aposto que o Victor conseguiria — retruca Yasmin tentando usar um tom de voz azedo, mas o máximo que consegue é soluçar. 
   — Não, não conseguiria — discorda Felipe. — Mesmo não gostando das coisas que ele falou pra você, eu tenho que admitir que ele gosta de você. Não seria uma decisão fácil!
Yasmin esconde o rosto entre as mãos e acreditando que ela vá começar a chorar, Felipe pede com urgência na voz:
   — Por que você não conversa com ele?
Ela ri sem humor algum.
   — Nós estamos brigados, lembra? — indaga olhando para ele com os olhos vermelhos, mas sem lágrimas.
   — Yasmin? — Felipe ri. — Olha como você está só de cogitar a ideia do Victor ir morar novamente nos Estados Unidos, você acha que essa briguinha de vocês é maior do que o que vocês sentem um pelo outro? 

Carregando uma bisnaga com pomada para hematomas, Marina caminha pelo corredor do primeiro andar de sua casa até o quarto do irmão gêmeo. 
   — Oi — ela diz abrindo a porta. 
   — Oi — Victor responde desviando o olhar da tela do celular.
   — Vim ver como você está. — Ela caminha até a cama dele e senta ao seu lado. 
   — Estou bem — garante o loiro com simplicidade e o olhar dela desce até seu abdômen nu.
   — Não é o que parece.
Victor também olha para a marca da joelhada de Brian e sorri.
   — Já recebi piores. 
   — Você passou alguma coisa? Senão vai ficar roxo.
   — Relaxa. 
Marina abre o tubo da pomada e coloca uma quantidade considerável na ponta dos dedos.
   — Eu me preocupo com você — diz passando o líquido concentrado no abdômen dele. 
   — Você tem mudado desde que começou a meditar, hein? 
Ela olha com espanto para ele.
   — Desde quando você sabe que eu comecei a meditar?
   — Eu fui lá no seu quarto antes de dormir esses dias e você estava sentada no chão com as pernas cruzadas e os olhos fechados — sorri o loiro.
   — Nem percebi — comenta Marina e volta a massagear o hematoma, provocando algumas caretas de dor no irmão. Após alguns minutos, Victor pergunta para o espanto maior dela:
   — O que eu poderia fazer para surpreender a Yasmin?
   — Como? 
   — Eu queria surpreender a Yasmin tipo as coisas que o Felipe faz para a grande anã.
Marina ri com incredulidade.
   — O Brian bateu na sua cabeça e eu não vi?
Victor também ri e responde com ironia:
   — Claro. 
   — Por que essa ideia agora? Você não brigou feio com ela hoje de manhã?
   — Sim, mas eu conversei com o pai agora a pouco e ele me vez ver coisas que eu não estava enxergando. 
   — Ah, entendi.
   — E uma coisa que o Brian disse durante a nossa discussão também está martelando na minha cabeça — acrescenta o brasileiro-americano.
   — Que coisa? — questiona Marina limpando o resto da pomada de seus dedos na lateral da barriga dele.
   — Que a Yasmin é uma garota fantástica.
A garota franze levemente a testa.
   — Você é namorado da Yasmin, isso não deveria ser uma surpresa pra você. 
Ele ri.
   — Eu sei que ela é fantástica, mas... mas ouvir isso do Brian? Sei lá, acho que isso me fez tomar consciência de que a Yasmin desperta o interesse de vários garotos além de mim. 
   — Demorou pra cair a ficha, hein? — ri Marina.
   — É, eu não quero abrir portas para outros garotos terem chance de chegar nela. E o que eu fiz hoje, com certeza, abriu uma dessas portas. — Ele suspira. — A minha sinceridade passou do ponto. 
   — É. — Ela apoia as costas na cabeceira. — Mas respondendo a sua pergunta sobre o que você pode fazer pra surpreender ela, eu acho que no fundo você sabe. 
   — Como assim?
   — Victor, foi fez todo aquele negócio do iate sozinho, você sabe como surpreender a Yasmin. 
   — É, mas foi a única vez que eu fiz essas coisas. Eu não estou acostumado com isso e nem gosto muito, mas eu acho que a Yasmin está merecendo um agrado.
Eles sorriem e Marina sugere:
   — Então por que você não pede um help ao Felipe? 
   — Eu não! — exclama Victor rindo. — Ele iria me zoar eternamente. 
Marina ri e revira os olhos.
   — Ai, vocês! — Ela levanta da cama. — Relaxa um pouco, assim a ideia vem naturalmente. 
Victor assente.
   — Ok, valeu. — Marina deixa a pomada sobre a mesa de cabeceira, caso ele precise reaplicá-la, e caminha até a porta. — Marina? — chama o irmão e ela olha por sobre o ombro. — Valeu pela massagem também.
Sua gêmea sorri e diz saindo do quarto:
   — Aproveita porque não é sempre. 

Assim que anoitece, Aline chega ao apartamento de Iago. O rapaz abre a porta a ela com um sorriso tímido no rosto.
   — Oi!
   — Oi, Iago! — ela responde com animação e dá um beijo nele. Iago recebe os lábios dela com ternura e retribui o afeto com delicadeza. — Fiquei feliz quando você me chamou pra passar a noite aqui, mas confesso que me surpreendi quando você falou que a gente ia assistir Star Trek.
Iago fecha a porta quando ela passa e diz:
   — Quando os meus pais disseram que iam jantar fora e voltar tarde, eu não pensei em outra coisa. 
Aline joga-se no sofá e comenta rindo com malícia e ironia:
   — Eu também não pensaria em outra coisa! 
   — Que bom, né? — Iago sorri com animação, sentando ao lado dela. 
Aline entreabre levemente a boca e olha pasmada para ele, vendo em seu olhar inocente que ele não compreendeu seu comentário.
   — É. — É o máximo que ela consegue dizer.
   — Eu não sabia que você curtia Star Trek!
A garota é pega de surpresa.
   — Oi?
   — Você não disse que não pensaria em outra coisa que não fosse assistir Star Trek? Eu não sabia que você gostava. 
Ela se controla para não rir, achando cômica e fofa a ingenuidade dele.
   — Eu estava me referindo a filmes em geral — mente e vê que a empolgação de Iago diminui. 
   — Ah. 
Querendo vê-lo animado novamente, Aline logo completa:
   — Mas eu estou muito ansiosa pra assistir Star Trek. — Ela encosta no braço dele e se aproxima mais, acrescentando com a voz mais suave: — Ainda mais por estar com você. 
Iago desvia o olhar e ela também, sentindo-se envergonhada, o que a faz se perguntar se timidez é transmissível, pois nunca agiu assim antes de começar a se relacionar com ele. Ao pensar diretamente em Iago, Aline toma consciência de que ele é diferente de todos os garotos com que ela já teve algum contato. Talvez seja por isso que ele despertou algo também diferente em mim pensa. 
   — Eu tenho certeza que você vai gostar dos filmes — comenta Iago e ela volta a olhar para ele, encarando intensamente os seus olhos doces e serenos. 
   — Eu não tenho dúvidas — sorri Aline com a mais profunda sinceridade. 
Iago fica encantado com o sorriso dela e tem que forçar os seus músculos para ficar de pé, pois seu corpo não quer sair de perto do dela. 
   — Vou lá fazer pipoca pra gente. 
Aline também levanta.
   — Eu vou com você. 
O interior de Iago vibra e ele sorri.
   — Vamos lá. 
Ele gira e caminha até a cozinha, sendo seguido por Aline, que comenta consigo mesma:
   — Só ele mesmo pra me fazer assistir coisas geeks. 
   — Falou alguma coisa? — indaga Iago olhando por sobre o ombro.
   — Só estou comentando a beleza dos quadros — mente Aline olhando para os objetos pendurados na parede. 
   — Você gostou? 
Ao analisar realmente as peças, Aline assente.
   — Sim, são lindos. 
   — A minha mãe que pintou.
   — Oi? — Ela é surpreendida novamente. 
   — A minha mãe é artista plástica, você não sabia? — ele pergunta parando diante de um balcão, na cozinha.
   — Não — confessa Aline e se aproxima dele, colocando uma mão em sua nuca. — É por isso que você é essa obra de arte?
Iago começa a gargalhar e o coração de Aline bate mais forte. Ela dá mais um passo em direção a ele, unindo os seus corpos.
   — Eu gosto tanto de você — sussurra para ele. 
O sorriso de Iago diminui aos poucos e ele passa a fitar o rosto dela com doçura. 
   — Eu também gosto muito de você. Muito mesmo!
Eles sorriem e se beijam. À medida em que o beijo vai ganhando intensidade, Aline começa a sentir o rosto e o pescoço aquecerem-se e se afasta do garoto. 
   — Vamos fazer a pipoca? 
Ao olhar para ela, Iago constata que a jovem sentiu o mesmo calor arrebatador que ele, por isso desvia o olhar. 
   — Vamos — fala contornando o balcão. 

   — Boa noite — deseja Marina com um sorriso no rosto. Isabela e Vinícius acompanham a garota passar pela porta principal e caminhar até eles. 
   — Oi, Marina — Isabela cumprimenta ainda com o ukulele nos braços.
   — Boa noite, meu amor — Vinícius sorri dando um selinho nela, que senta ao seu lado no tapete. 
   — O que vocês estão fazendo? — ela indaga olhando para o namorado, Isabela e o ukulele. 
   — O Vinícius está tentando me ensinar a tocar — conta Isabela. — Mas é tão difícil — acrescenta aos risos. 
   — Eu que sei! — exclama Marina sentindo o calor da mão de Vinícius em sua perna. — O Vini já tentou me ensinar também.
   — E você conseguiu aprender alguma coisa? — interessa-se Isabela.
   — Mais ou menos. 
   — Ah, você consegue tocar umas musiquinhas, Mari — comenta Vinícius.
   — Bem mal tocadas — ela retorque.
   — Já um nível maior do que eu — ri Isabela e entrega o ukulele para a cunhada. — Toca aí. 
Marina ri, espantada.
   — Eu? Não! Eu não sei tocar direito. 
   — Para de ser tão humilde! — pede Isabela ainda rindo. 
A ex-líder de torcida pega o ukulele e olha para o namorado:
   — Só se o Vinícius cantar comigo.
   — Mas sua voz é tão linda — diz o rapaz fazendo carinho na pele dela.
   — Vai, Marina! — incentiva Isabela. — Só está a gente aqui, não precisa ter vergonha. 
A outra ri, balançando levemente a cabeça, e olha para o instrumento em seus braços.
   — Quais são os acordes de Piscar o Olho mesmo? 
Vinícius diz os acordes para ela e Marina ensaia tocando de leve as cordas para relembrar o ritmo. 
   — Ok — ela diz e começa a tocar a introdução da música. Isabela olha atentamente para ela e para o ukulele enquanto Vinícius admira a namorada. — Foi só piscar o olho — ela começa a cantar —, e eu me apaixonei enfim. No meio da fumaça, ele também gostou de mim. 
A garota canta a música toda alternando o olhar entre o ukulele e Vinícius. No final, Isabela sorri com animação e bate palma.
   — Que lindo, Mari! — exclama. — Você canta muito bem. 
   — Puxou a mãe — brinca Vinícius dando um afago na bochecha dela. 
Marina sorri e pondera:
   — Teria que comer muito feijão com arroz pra chegar ao nível da minha mãe. 
Eles riem e Isabela surpreende o casal ao pedir:
   — Canta uma música vocês dois. 
   — Juntos? — indaga Marina. 
   — Vocês dois — repete Isabela e o trio gargalha. 
   — Pode ser Quem Além de Você, do Leoni? — sugere Vinícius à namorada.
   — Pode — confirma Marina e entrega o ukulele para ele —, mas você toca.
Vinícius e Isabela riem de modo semelhante e ele começa a dedilhar os primeiros acordes da música, pegando o instrumento de forma bem diferente da de Isabela e Marina, com tranquilidade e carinho, acolhendo-o em seus braços e mãos como um companheiro. 
   Isabela sorri com encantamento ao ver e ouvir os dois cantarem o refrão da música.
   — Quem vai te abraçar? — canta Vinícius. — Me fala, quem vai te socorrer quando chover, e acabar a luz. Pra quem você vai correr? 
Marina complementa com a voz harmoniosa:
   — E quem vai me levar entre as estrelas. Quem vai fazer toda manhã me cobrir de luz? Quem, além de você?
Os dois terminam juntos:
   — Quem, além de você? 
O casal encerra a música e Isabela bate palmas.
   — Vocês são tão fofos juntos! — ela sorri. 
Vinícius e Marina continuam se olhando e também sorriem. Vinícius desvia o olhar, encarando a irmã:
   — Agora a senhorita vai voltar para a sua aula. 
Isabela revira os olhos e ri, pegando o ukulele novamente. Seu irmão continua a passar instruções para ela e Marina acomoda-se nos braços dele, apoiando a cabeça em seu peito. 

Dois dias depois, na terça-feira, os jovens encaminham-se ao colégio pela manhã. Logo após chegar com o irmão, Isabela tira uma caixa da mochila e entrega para Victor, que conversa com Marina sentado no lugar de Felipe. A gêmea do loiro passa a conversar e trocar beijos com o namorado, o que faz com que Isabela e Victor possam conversar sozinhos. 
   — Isso é pra você. 
   — Não — discorda Victor colocando a caixa de um iPhone sobre a mesa —, é da Yasmin. 
   — Ela deixou no camarim na segunda — informa Isabela enquanto Vinícius senta na cadeira de Marina e a garota em sua própria mesa, acompanhando a conversa deles.
   — Eu gastei uma nota nisso — resmunga Victor sacudindo a caixa. — Ela vai ter que aceitar!
   — Vai com calma — aconselha Marina e Isabela e Victor olham para ela ao passo em que Vinícius tira o estojo dela detrás de seu corpo, indagando:
   — Posso jogar esses papéis fora? 
Marina muda o foco da conversa e exclama com urgência:
   — Não! Aqui está o bilhete com a declaração matemática que você me deu. — Ela pega um papelzinho dentre os que estão nas mãos dele e fala: — Agora pode. 
Vinícius levanta e se encaminha ao lixo passando por Victor, que analisa com olhos semicerrados o papel na mão da irmã. Ele pisca rapidamente e tira o celular do bolso, encerrando sem avisos a conversa com Isabela. 
A garota, por sua vez, nem se importa com o fato, pois está observando Jonas no fundo da sala. O rapaz está sentado em sua carteira, olhando para o nada com a expressão extremamente séria e um pouco abatida. Ela acompanha quando Maísa aproxima-se dele.
   — Oi — diz a loira com receio na voz, pois a expressão dele chega a assustar.
   — Oi — responde Jonas olhando para ela com cansaço nos olhos.
   — Está tudo bem? — indaga Maísa encostando na mesa dele, que hesita com a cabeça.
   — Na medida no possível. 
   — E sua mãe? 
   — A gente está esperando os resultados dos exames. 
Maísa reúne toda a sua coragem e acaricia o cabelo dele.
   — Eu estou do seu lado, tá? 
Jonas segura na mão dela e Maísa prende o ar, acreditando que ele vai afastá-la, porém o rapaz entrelaça os seus dedos nos dela.
   — Muito obrigado — agradece com a voz fraca. 
Na mesa ao lado, Samuel, que fingia prestar atenção na conversa de Malu, mas ouvia o diálogo dos dois, vira-se para Jonas e pergunta sem pensar:
   — Está tudo bem com a sua mãe? 
O rapaz olha para ele, um tanto quanto espantado, e diz com a voz grave:
   — Não é da sua conta. — Ele solta os dedos de Maísa e levanta, falando de forma séria, mas terna para ela: — Não vai atrás de mim.
   Isabela franze a testa pelo modo estranho pelo qual Jonas caminha até a saída da sala, com os ombros caídos e a cabeça baixa. Ele cruza com Felipe e Yasmin na porta e os irmãos entram. A loirinha passa reto pelo grupo de amigos, para evitar Victor, pois ainda não sabe o que fazer com relação ao que ouviu do pai nos dias anteriores. Victor, que constatou que ela chegou pois Felipe reivindicou seu lugar a ele, levanta e recolhe a caixa do iPhone da mesa do cunhado.
   — O que ele vai fazer agora? — indaga Felipe para a namorada, que ainda fita a porta. 
   — Hã? — Felipe aponta para a lateral direita do fundo da sala, onde ficam os lugares de Yasmin e Victor, para onde ele foi. — Ah, não sei — ela responde. — Espero que eles não briguem de novo, ainda mais por causa de um celular.

Diante dos olhares perplexos de Samuel e Malu, Maísa diz:
   — O Jonas está passando por um momento muito difícil. 
   — Essa é a justificativa pela grosseria dele? — indaga Malu. — Porque se for, ele está passando por esse momento desde que nós nos conhecemos. 
Se não estivesse tão preocupado com o ex-amigo, Samuel até riria do comentário de Malu. 
   — Aconteceu alguma coisa com a mãe dele, né Maísa? — ele questiona olhando intensamente para a loira. Ela hesita em responder e escolhe não contar o que está acontecendo com Jonas, pois acredita que ferirá a vontade dele. Ao invés disso, aconselha:
   — Tenta se aproximar do Jonas, Samuel. Ele está precisando de um amigo mais do que nunca. 

Victor para atrás de Yasmin, que remexe na própria mochila em pé, ao lado de sua carteira.
   — Isso é seu — diz com a voz grave e baixa. 
Yasmin leva um susto e gira com rapidez, ficando frente a frente com o namorado.
   — Quer matar do coração?
   — Quero apenas te devolver o que eu te dei. 
Ela desce o olhar até a caixa, que está entre eles na mão de Victor. 
   — Isso não é meu — fala com a voz sem emoção.
   — Eu comprei pra você — argumenta Victor ainda com a voz séria, mas Yasmin identifica um ínfimo tom de delicadeza. 
   — Eu não quero — recusa colocando as mãos atrás de si, na mesa, evitando o olhar de Victor.
   — Aceita, Yasmin — insiste Victor. — Você está sem celular, porque eu quebrei o seu, e não tem dinheiro pra comprar outro, porque está de castigo.
   — Não foi só você que quebrou o meu celular. O Felipe teve participação nisso — ela corrige olhando atrás de Victor, para os pés de Malu, que estão pendurados no ar pois ela está sentada em sua própria mesa. 
   — Eu fui tão responsável quanto ele, por isso comprei outro como pedido de desculpas. — O loiro encara tão profundamente Yasmin que ela começa a se sentir incomodada e transparente. 
   — Mas eu não quero! — ela repete finalmente deixando seu olhar encontrar o dele.
   — Pelo menos abre a caixa. — Victor não se abala e empurra a caixa para ela, encostando o papelão em sua barriga.
   — Eu não — retruca Yasmin empurrando a caixa de volta pra ele. 
   — Só dá uma olhada no aparelho. 
   — Eu não quero — diz Yasmin, desejando apenas que Victor afaste-se para não ser grossa com ele nem receber grosserias. 
   — Só dá uma olhada. 
   — Victor, para! — ela dá um sussurro alto. 
   — Olhar não vai fazer mal — retruca o rapaz e ela puxa a caixa da mão dele, irritada.
   — O que esse celular tem de tão especial? — questiona abrindo a caixa, que já está com o lacre rompido. Ela franze a testa ao ver um papel dobrado sobre o iPhone. — O que é isso? — indaga fitando o namorado. 
Victor olha para o papel, incentivando ela a pegá-lo. Yasmin pinça o papel com os dedos e coloca a caixa sobre a mesa atrás de si, desdobrando o pedaço de folha de caderno rasgada. Ela reconhece imediatamente a letra dele e lê a mensagem:

Considerando a seguinte afirmação:

O amor é o produto de um homem com uma mulher.

Chamando eu (o homem) de A e você (a mulher) de B, temos:

Amor = A x B

Agora, se somarmos a segunda potência do homem com a segunda potência da mulher e o amor de cada um formaremos o trinômio quadrado perfeito:

A x A + 2 x A x B + B x B

Porém, se extrairmos a raiz quadrada dessa equação irá sobrar apenas eu e você, ou seja, irá sobra A + B, pois (A + B) x (A + B) = A x A + 2 x A x B + B x B.

Agora eu pergunto: Cadê o amor? Será que ele não existe? 

A resposta é essa: O amor existe, mas não podemos vê-lo porque está em nossos corações. Te amo muito! Mesmo que você não perceba, não quer dizer que este amor não exista.

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