Imagine ChaMel 4ª Temporada (Filhos) - Capítulo 178: Tentativa de assalto deixa marcas em adolescentes


Segurando com as mãos uma bandeja com seringas e algodões, uma enfermeira cruza a sala de observação e recebe o olhar esmorecido de Samuel. O jovem está sentado em uma cama ao lado de Jonas, que está deitado em outra. Com as mãos apoiadas no lençol azul, ele observa sem interesse ao seu redor e vê quando dois policiais passam pela porta.
   — Jonas Amorim e Samuel Hamid? — pergunta o mais alto deles ao se aproximar das camas. 
   — Sim — confirma Jonas. 
   — Nós viemos tomar os depoimentos de vocês. 
   — Eu não quero falar sobre isso agora — Jonas se apressa em dizer. 
O outro policial fala:
   — Desculpe, mas é necessário. — Jonas revira os olhos e ele ignora o gesto, puxando uma cadeira para se sentar ao pé da cama dele. 
   — Nós queremos saber exatamente o que aconteceu — fala o primeiro policial enquanto se apoia na cama de Samuel, que começa a contar com a voz arrastada:
   — Eu, o Jonas e o Pedro estávamos saindo do colégio. A gente atravessou a rua e andamos um pouco até um cara parar a gente. Ele falou para eu passar o meu celular, que estava na minha mão. Na hora, por impulso, instinto, eu não sei, eu agarrei ainda mais meu celular e empurrei ele. — Samuel olha fixamente para o chão como se a cena passasse diante de seus olhos. — Ele puxou a arma de dentro da calça e bateu com ela na minha cabeça. — O policial fita a lateral da testa dele que está com um grande curativo.
   — Foi aí que eu me meti — conta Jonas. — Não sei o que passou pela minha cabeça e eu empurrei o braço dele no momento em que ele apertou o gatilho. 
   — Era para a bala ter acertado o Pedro — Samuel analisa. — Só que como o Jonas empurrou o braço do bandido, pegou de raspão. 
   — E o que aconteceu depois? — pergunta o policial que está sentado tomando nota do que eles relatam. 
   — Depois ele deu uma coronhada no Jonas e saiu correndo — continua Samuel. — Ele falou alguma coisa e atirou para a outra calçada. Acho que ele acertou alguém, mas eu não vi quem foi porque tinha uns carros na frente. 
   — Em seguida ele atirou pro alto e virou a esquina correndo — Jonas conclui. 
   — Esse seu olho roxo foi do quê? — pergunta o policial alto observando o hematoma ao redor do olho de Jonas. 
   — Isso foi uma briga, não tem a ver com o assalto. 
   — Tentativa de assalto — corrige o outro policial e olha para Samuel. — Você ficou com o seu celular, né?
   — Sim, fiquei. 
Os policiais assentem e o que anotava o depoimento fala:
   — Acho que não passou de uma tentativa de assalto mesmo. Segundo depoimentos de alguns estudantes ele estava observando os alunos e resolveu atacar a vítima mais "fácil", aquela que estava com o celular na mão. 
O outro completa:
   — Agora só falta ouvir a garota que foi baleada, talvez ela tenha algo para acrescentar. Se bem que eu não acredito muito nisso, já que todos os depoimentos contam a mesma sequência de fatos.
   — Então outra pessoa foi baleada? — pergunta Jonas. 
   — Sim, uma garota. 
Os nomes de Maísa e Isabela surgem na mente de Jonas, que indaga:
   — Qual é o nome dela? 
   — Qual é mesmo o nome da garota? — pergunta o policial alto para o outro. 
   — É... Maria Luíza Nantes, se eu não me engano. 
Samuel arregala os olhos.
   — A Malu foi baleada? 

Também preocupada com Maria Luíza, Yasmin caminha de um lado para o outro na sala de estar de sua casa, ainda usando o uniforme do colégio. Sophia surge na sala com o celular em uma das mãos. 
   — Pelo horário a Nath deveria estar no trabalho e quem estaria com ela? A Larissa! Então eu liguei para a Lari e bingo! elas estão juntas no hospital em que a Malu está. 
Yasmin para de caminhar. 
   — Como ela está? 
   — No momento ela está na sala de cirurgia. 
A loirinha passa a mão no cabelo e volta a caminhar ainda mais apressadamente. 
   — Ai, meu Deus, então é grave. 
   — Não é bem assim, filha. A Larissa disse que os médicos falaram que a Malu chegou consciente no hospital e que a cirurgia está sendo realizada para retirar a bala que ficou alojada no braço dela. 
   — Tá bom, mãe — corta Yasmin sentindo o estômago embrulhar. — Não precisa dar detalhes. — Ela para mais uma vez. — A senhora disse que os médicos falaram que a Malu chegou acordada no hospital? Como? Ela saiu desmaiada lá do colégio. 
   — Posso dar detalhes agora? 
   — Pode, mãe. 
   — Então, parece que ela não desmaiou por causa do tiro em si, e sim por causa da situação. 
   — Como? 
   — Deixa eu explicar melhor. Foi assim, o corpo dela já estava tenso por causa do que está acontecendo, quando a bala atingiu ela foi demais e o corpo apagou. Um mecanismo de defesa. 
Yasmin assente. 
   — Acho que entendi. 
   — Pois é, e quando ela estava sendo encaminhada para o hospital, acordou. 
O sofá recebe Yasmin. 
   — Ela vai ficar bem, né mãe? 
   — Claro, filha. Agora não é melhor você tomar um banho, trocar de roupa e ir almoçar? Você precisa relaxar, eu sei que não foi e nem está sendo fácil para nenhum de vocês. 
   — Não está sendo mesmo — concorda Yasmin. — Eu nunca vou esquecer o som daqueles tiros. 
O coração de Sophia amolece e ela abraça a filha. 
   — Passou, meu amor. O pior já passou. 

No hospital, o policial indaga:
   — Você conhece a outra vítima? 
   — Sim — responde Samuel agitado —, nós somos amigos. — Ele pula da cama. — Como ela está? Onde foi atingida? 
   — Ela também está aqui, está sendo operada. 
   — Operada? — Jonas repete assustado. 
   — Sim, para retirar a bala.
Samuel sente uma pontada no estômago. 
   — Em que lugar ela foi baleada? 
   — No braço. 
   — Ah — Jonas suspira aliviado e completa: — Ela não vai morrer por isso. 
Os três lançam olhares tortos para ele. Samuel volta a mirar os policiais e pergunta:
   — O estado dela é grave? 
   — Parece que não. 
O rapaz volta a se sentar na cama, mais calmo. 
   — Boa recuperação para vocês — deseja um dos policiais antes de sair com o seu companheiro. 
   — Caramba — fala Jonas —, a Maria Luíza foi baleada. 
Samuel deita na cama.
   — Tomara que ela fique bem. 
   — E como será que o Pedro está? 
   — Ele levou um tiro de raspão, não vai morrer por isso — retorque Samuel no mesmo tom que Jonas usou anteriormente. 

As chaves do carro de Lucas balançam entre os seus dedos enquanto ele caminha com pressa para dentro do hospital. 
   — Bom dia — fala apoiando as mãos no balcão de atendimento —, eu queria saber informações de uma paciente que acabou de dar entrada. 
   — Qual é o nome dela? — pergunta a funcionária por trás de grandes óculos. 
   — Maria Luíza Alves Nantes — Lucas informa tamborilando os dedos de nervosismo. 
A mulher digita o nome em um computador e fala:
   — Ela está na sala de cirurgia. 
   — Sala de cirurgia!?
   — Sim, para a retirada do projétil do braço esquerdo dela. 
O coração de Lucas bate com tanta força que chega a deixá-lo tonto. 
   — Tudo bem — fala tentando se acalmar. — Onde os familiares ficam? 
   — Eles podem ficar na sala de visitas ou pelos corredores. 
   — Tá bom. Obrigado. — Ele se afasta do balcão e vira em um corredor, pegando o celular no bolso. — Nathália, onde vocês estão? 
   — Em um corredor na frente do centro cirúrgico. 
   — Ok, daqui a pouco eu estou aí. — Eles desligam e Lucas olha em um quadro de localização onde está e que caminho deve tomar para chegar ao centro cirúrgico. Depois de se informar, corre até um elevador. 

Ainda em estado de choque, Graziele chega em sua casa. A governanta, que estava a sua espera, se aproxima dela logo que a ruiva cruza a porta. 
   — Grazi! — fala amparando a jovem. — Eu soube o que houve, deu na televisão. 
   — Foi horrível — conta a ruiva caminhando até o sofá apoiada na senhora. 
   — Você está bem? 
   — A Malu foi baleada. — A garota senta no sofá e joga a mochila no chão. — Ela levou um tiro no braço. — Seus olhos se enchem de lágrimas repentinamente. — Ela estava me abraçando. Ela estava me abraçando! 
A governanta segura nas mãos dela, tentando tranquilizá-la. 
   — Fica calma, Grazi. 
   — Não, ela estava abraçada em mim! Você entende isso? Ela estava abraçada em mim! O braço dela estava nas minhas costas, era pra eu ter sido atingida, não ela. 
   — Ele atirou em vocês por quê? 
   — Não foi especificamente na gente. Ele atirou para qualquer lado e atingiu a Malu, como poderia ter atingido uma árvore ou o muro. 
   — Mas atingiu ela — fala a governanta melancolicamente. 
   — Sim e agora ela está no hospital. 
   — Não deixaram você ir com ela? 
   — Não, falaram para a gente ficar para conversar com a polícia. Os professores foram com ela e com o Pedro.
   — Ele também foi atingido?
   — Sim, só que foi de raspão. 
   — A polícia está atrás do bandido. Eu vi que têm um monte de viaturas pela região. 
Graziele limpa as lágrimas. 
   — Eu vou subir, tomar um banho e tentar me controlar. 
   — Ok, eu levo o seu almoço para o quarto. 
A ruiva para a caminho da escada. 
   — Os meus pais nem ligaram pra cá, né?
   — A sua mãe está com a Nathália no hospital e o seu pai está vindo pra cá. 
   — Que milagre! — resmunga Graziele subindo os degraus. 
   — Grazi, não fala assim. Parece até os seus pais não se importam com você. 
   — E eles se importam? — indaga a adolescente parando. — Eu passo o dia sozinha com o Phil nessa casa porque eles só se importam com o trabalho. De que adianta terem chegado onde chegaram se nem aproveitam a vida? Às vezes eu sinto que não posso contar com eles.
Com os olhos novamente cheios de lágrimas, Graziele termina de subir as escadas. Assim que ela some no primeiro andar, a porta da frente da mansão abre. 
   — Seu Henrique — fala a governanta. — Eu falei do senhor agora a pouco. 
   — Eu sei — ele diz. — Eu ouvi. 
   — Como? — indaga a senhora, assustada devido a possibilidade dele ter ouvido o desabafo de Graziele. 
   — Eu ouvi o que a minha filha te contou. — Ele olha para baixo, entristecido. — Ela tem razão.
   — Ela só estava nervosa por causa do que aconteceu com a Malu, Seu Henrique. 
   — Não! Ela está certa, eu e a Larissa passamos o dia no trabalho e ela fica aqui, sozinha com o cachorro. Eu nunca tinha parado pra pensar nisso e agora que tive esse choque de realidade percebi que eu sou um péssimo pai. 
   — Não diga isso, Seu Henrique!
   — É a verdade. — Ele senta no sofá. — Eu venci na vida profissional, mas parece que fracassei na pessoal. 

A porta do centro cirúrgico está fechada e eventualmente enfermeiros entram e saem de lá. Larissa está em pé, encostada na parede próximo a porta, e Nathália se encontra sentada em uma das cadeiras com os cotovelos apoiados nos joelhos e a mão escondendo o rosto. Lucas caminha até a esposa e a amiga.
   — Oi. 
Larissa olha para ele e Nathália ergue a cabeça. 
   — Oi, Lucas — fala e ele se senta ao lado dela. 
   — Nenhuma notícia? 
   — Ela ainda está sendo operada. 
   — E como é o estado dela? 
   — Estável. O médico falou que ela chegou consciente. 
   — Ainda bem. 
Nathália apoia a cabeça no ombro do marido. 
   — Não quero que nada aconteça com a nossa filha. 
   — Ela vai ficar bem — Lucas fala para acalmar não só o coração de Nathália como o seu também. 
Larissa desapoia da parede e fala:
   — Agora que a Nath não está mais sozinha, eu vou indo. A Grazi deve estar precisando de mim. 
   — Tudo bem — fala Lucas. — Obrigado por ter ficado com ela, Lari.
   — Obrigada, Larissa — agradece Nathália. 
   — Não há de quê. Qualquer novidade me avisem, tá bom?
   — Pode deixar. 
Larissa pega sua bolsa ao lado de Nathália e vai embora. 

As horas passam, trazendo uma tarde ensolarada e quente. Bernardo abre a porta do apartamento em que mora com a esposa e entra com ela.
   — Ainda não acredito que recebi uma proposta de emprego da Melphia — fala Anelise se jogando no sofá. Ela ri e tira os sapatos de salto. 
   — É, e parece que você está em alta por lá. 
Anelise sorri e coloca os pés na mesinha de centro, orgulhosa do próprio trabalho. Ela pega o seu celular dentro da bolsa e entra em suas redes sociais e portais de notícia, como rotineiro. 
   — Bernardo, ouve isso — diz em tom de alerta depois de uns minutos, colocando os pés no chão. — Tiroteio na porta de colégio de luxo — lê a manchete e continua: — Alunos do colégio Otávio Mendes não imaginavam ao ir para o colégio esta manhã que presenciariam um tiroteio na saída das aulas. A confusão começou quando um homem ainda não identificado tentou roubar o celular do filho do empresário Elias Hamid. O jovem resistiu ao assalto e o bandido atirou, acertando de raspão o amigo dele, o filho de Adriano Azambuja, importante economista brasileiro. Também ficou ferida na tentativa de assalto a filha do casal de empresários Lucas Nantes e Nathália Alves. A adolescente levou um tiro no braço e foi encaminhada para o hospital inconsciente. A rua estava cheia de estudantes e todos ficaram bastante assustados com o ocorrido. Uma jovem que estava saindo do colégio no momento, contou com exclusividade: "Foi horrível! Ele atirou para os lados, sem se importar se atingiria alguém. Eu fiquei apavorada na hora assim como os meus colegas." O homem ainda não foi encontrado. 
Anelise abaixa o celular, digerindo a informação. 
   — Poderia ter sido os meus sobrinhos — ela fala. 
   — Quem poderia imaginar? A filha do Lucas e da Nathália foi baleada, será que é sério? 
   — Não sei. Vou ligar pra Mel pra saber de mais informações. 

Mesmo depois de ter recebido alta, Samuel permanece no hospital com Jonas. Sua mãe, Ruth, também está no local e conversa com Diana, mãe de Jonas, na lanchonete do local. Os dois adolescentes procuram por informações de Pedro e Malu.
   — Pedro Azambuja está em observação — informa uma funcionária à eles. 
   — E Maria Luíza Nantes? — pergunta Samuel preocupado.
A funcionária faz uma busca no sistema do hospital.
   — Ela está no pós-operatório. 
   — Então a cirurgia acabou? 
   — Sim. 
Samuel suspira. 
   — E ela está bem?
   — Pelo o que tudo indica sim, mas certeza é só falando com o médico responsável. 
   — E qual é o nome do médico responsável?
Jonas se intromete:
   — Ela já disse que ela está bem, Sam. 
Samuel ignora o amigo e ouve a mulher informar o nome do médico. 
   — Obrigado. 
Ele se afasta do balcão e Jonas o segue. 
   — Aonde você vai? — pergunta. 
   — Atrás do médico da Malu. 
   — Velho, pra quê? Ela está bem. As nossas mães estão nos esperando pra ir embora. Era só pra gente saber informações do Pedro e voltar lá pra lanchonete. 
Samuel pede um elevador.
   — Eu ainda não tenho informações suficientes da Malu. 
   — Ela está bem! Se estivesse morrendo estaria na UTI. 
   — Jonas, a vida não se resume em estar bem e estar morrendo. 
O elevador chega.
   — Não? — indaga Jonas e Samuel entra no elevador. 
   — Vem comigo ou vai ficar aí? 
O ex-namorado de Isabela revira os olhos e entra no elevador. 

Com os pequenos pés descalços, Isabela caminha seguida por Nina até o portão, pois viu Felipe parar diante dele de sua sacada. 
   — Como está? — pergunta o garoto quando ela abre o portão. 
   — Razoável. 
Felipe dá um leve sorriso e beija a namorada. 
   — Você tem notícias da Malu?
   — Não. Eu soube que ela tava sendo operada, depois disso nada.
   — É só o que eu sei também. — Felipe pega Nina no colo e vai com Isabela para o interior da mansão. 
   — Será que ela vai ficar bem? — pergunta Isabela. 
   — Acho que sim. Um tiro no braço não parece ser muito grave. 
   — É porque não é o seu braço. 
Ele ri. 
   — É verdade, mas eu realmente acho que ela vai ficar bem. A Malu é osso duro de roer.
Eles passam pela porta e depois de se empoleirar no sofá, Isabela comenta:
   — Com essa tragédia, eu percebi o quanto gosto da Malu. 
   — É, eu também notei que gosto bastante dela. 
Felipe passa um braço em torno de Isabela e ela se acomoda no abraço dele. 
   — Tomara que ela fique bem logo — diz a garota acariciando a cabeça de Nina, que está deitada no colo de Felipe. 

Alguns visitantes do hospital olham com curiosidade para dois adolescentes que caminham vestidos com o uniforme de um dos colégios mais respeitados da capital carioca, pois ambos estão com curativos na cabeça. 
   — Ei, olha ali! — fala Samuel parando abruptamente ao virar em um corredor. — Aqueles não são os pais da Malu? 
   — Acho que são. 
   — Será que eu pergunto pra eles como a Malu está?
   — Pergunta ué, qual é o problema? 
Samuel dá de ombros.
   — Ah, eles nem me conhecem, né? A Malu não deve ter falado de mim para eles. 
   — Não foi ano passado que o seu pai fez negócio com o pai dela? 
   — Hã?
   — Eu li que os comerciais dos hotéis do seu pai tinham sido feitos pela empresa do pai dela. 
   — Ah, acho que foi, mas isso não muda nada. 
   — Ai, cara, pergunta logo. 
Samuel respira fundo e caminha até Lucas e Nathália. 
   — Boa tarde. 
O casal olha para ele. 
   — Boa tarde — responde Lucas. 
   — Vocês também foram feridos no tiroteio? — pergunta Nathália depois de conferir o uniforme deles e confirmar que estudam no Otávio Mendes. 
   — Sim — responde Samuel. — O bandido deu coronhadas em mim e no Jonas e atirou de raspão em um outro amigo nosso. 
   — Ele feriu bastante gente — observa Lucas. 
Samuel coloca as mãos nos bolsos e pergunta:
   — Como a Malu está? 
   — Bem, está sedada por causa da cirurgia mas fora de perigo. 
O adolescente solta um suspiro de alívio que não passa despercebido pela mãe de Malu. 
   — Quem é você? — pergunta Nathália. 
   — Samuel Hamid. 
   — Ah! — exclama Lucas. — Eu conheço o seu pai. 
Jonas olha para o amigo com uma cara de "eu não disse?".
   — A Malu ia gostar de saber que você está aqui, Samuel — fala Nathália e o jovem fica surpreso. 
   — Como? 
   — Ela me contou da amizade de vocês. 
Lucas franze a testa com o tom que Nathália pronuncia "amizade" enquanto Jonas segura uma risada. 
   — Ah, contou? — Samuel fica espantado e um pouco constrangido. 
   — Sim. Se você quiser voltar quando ela puder receber visitas...
Samuel assente. 
   — Quando isso vai acontecer? 
   — O médico disse que daqui a algumas horas. 
   — Tudo bem, eu volto sim. — Lucas e Nathália ficam olhando para ele em silêncio. — É... então tchau.
   — Tchau! — fala o casal e Samuel se afasta com Jonas. 
   — Cara, você tava nervoso — conta Jonas. — Imagina quando você for apresentado formalmente aos dois? — pergunta rindo. 
   — Cala a boca — fala Samuel virando o corredor. 
   — Será que o Pedro pode receber visitas? — Jonas indaga ficando mais sério. 
   — Acho que sim. — Samuel olha para um quadro de localização. — A gente está no mesmo andar que ele, quer ir lá ver? 
   — Aham, vamos!

Na sala de jogos da mansão de Sophia e Micael, Victor tenta acalmar Yasmin. Ele está sentado no chão com as costas apoiadas no sofá que ela está deitada.
   — Fica tranquila, Yas, quase ninguém morre com um tiro no braço. 
   — Mesmo assim, é difícil ficar tranquila pensando que sua amiga está com o braço aberto em uma sala de cirurgia. 
   — Pelo horário ela já deve ter saído da cirurgia. 
   — Quero ir visitar ela logo. Imagina a Malu com aqueles roupões de hospital? — Ela ri, relaxando um pouco. 
   — Impagável — concorda Victor. 

Em seu quarto, Marina pensa mais uma vez no ocorrido da manhã. Ela ainda está bastante nervosa pelo o que aconteceu e o estampido dos tiros ecoa em seus ouvidos. A porta de seu quarto se abre e Vinícius entra. Só de olhar para ele e sentir a energia dele, Marina fica menos nervosa.
   — Vim ficar com você — fala Vinícius deitando na cama ao lado dela. 
   — Que bom que você está aqui. — Ela coloca a cabeça no peito dele e a mão em seu abdômen. 
   — Você está gelada, Mari. — Vinícius constata quando abraça ela. 
   — Eu não paro de pensar no que aconteceu. 
   — A gente tem que tentar esquecer isso. 
   — Como eu vou esquecer? Talvez se eu tivesse comentado com alguém sobre o cara apoiado na árvore nada disso teria acontecido. 
   — Claro que não, amor — Vinícius fala com doçura. — Quando a gente poderia imaginar que o cara que estava apoiado na árvore estava armado?
   — Eu sei, mas sei lá. 
Vinícius acaricia o cabelo dela. 
   — Esquece isso, meu anjinho. Você não tem responsabilidade por nada do que aconteceu. 
Marina não fala nada e recebe um beijo do namorado em sua testa. 

Por volta das nove e meia da noite, Lucas e Nathália deixam o quarto em que Malu está e encontram Samuel de cabeça baixa sentado em uma cadeira. 
   — Você veio — fala Nathália sorrindo e Samuel ergue a cabeça. 
   — Oi. 
   — É melhor correr se quiser pegar a Malu acordada — avisa Lucas. 
   — Como? 
   — Está no horário de visitas, mas ela está quase adormecendo por causa dos remédios. 
Samuel levanta da cadeira. 
   — Entendi. 
   — Mais uma coisinha — fala Nathália antes que ele entre no quarto. — Também por causa dos remédios e da anestesia ela está meio lenta.
   — Nossa, isso sim é uma surpresa — Samuel fala com sinceridade e eles riem. O adolescente abre a porta e fica realmente assustado com o que vê. 
Maria Luíza está deitada em uma cama com diversos aparelhos de monitoramento ligados ao seu corpo e um enorme curativo protegendo o local em que foi atingida pela bala. No entanto, o que mais deixa Samuel espantado é o rosto e cabelo dela, pois a pele está pálida, a boca esbranquiçada, os olhos pesados e os fios sem brilho e frizados. 
Com a movimentação, Malu olha para a porta e um sorriso cansado surge em seu rosto. 
   — Estou tão mal assim? — pergunta observando Samuel caminhar até a cama. 
   — Como assim? 
   — Só isso justifica a sua vinda aqui. 
Samuel ri. 
   — Bem no fundo eu me importo com você, garota. 
Malu ri levemente e analisa o curativo em torno da cabeça dele. 
   — Pelo visto você também ficou ferido. 
   — É. 
   — Como tudo aconteceu? Eu... eu só me lembro de ouvir o barulho de um tiro e depois todo mundo começou a correr... Eu abracei a Grazi e a gente se agachou... Depois eu senti o meu braço queimar, a Grazi gritou e eu caí... Só acordei na ambulância. 
Samuel repete a história para ela e por alguns momentos para de falar, pois Maria Luíza fecha os olhos, mas logo em seguida os abre novamente. 
   — Parece que encontraram a arma dele em um quarteirão perto do colégio, mas ele nada — ele conclui. 
   — Nossa. — Malu fica quieta por alguns segundos e Samuel só não fala nada pois nota que ela está pretendendo continuar. — Esses remédios são... muito... fortes. Eu juro que vi... uma enfermeira pelada... achei estranho... achei que tinha mudado de ideia e virado lésbica por isso estava vendo ela... desse jeito. 
Samuel ri sem saber dos antecedentes de Malu. 
   — Seus pais me falaram que você está mais devagar. 
   — Eu não... eu não estou devagar. — Ela engole saliva e continua: — Eu vi meu próprio sangue. Eu sangrei tanto, Samuel, você nem imagina. Acho... acho que sangrei todas as minhas menstruações... juntas. 
Samuel ri e se aproxima ainda mais da cama dela, colocando a mão direita no lençol perto do corpo dela. 
   — Pelo menos você está bem agora. 
   — É. Sabe o que eu pensei agora? 
   — O quê? 
Maria Luíza luta contra os remédios e o sono para continuar falando. 
   — Se você... se você tivesse dado o celular... eu não estaria aqui. 
Samuel fica sério repentinamente e a frase dela começa a fazer sentido em sua mente. 
   — Você tem razão.
Malu reúne forças para pegar na mão dele. 
   — Não fica assim... O que eu disse foi culpa dos remédios... Não fica bolado. 
Ele acaricia os dedos dela. 
   — Eu não queria te ver aqui nesse estado. 
   — Eu estou bem! — ela garante e os seus olhos pesados de sono se fecham por um fração de segundos. — Eu estou bem — repete baixinho. — Você está aqui e tudo vai ficar bem. — Os remédios vencem a batalha e Malu adormece, deixando Samuel com os olhos lacrimejantes. 
   — Eu não queria que você tivesse se machucado por minha causa — ele fala olhando para o rosto sereno dela. — Nem você nem ninguém. Desculpa, Malu. 
Samuel dá um beijo demorado na mão dela e sai do quarto. 
   — Está tudo bem? — pergunta Lucas ao vê-lo passar pela porta. 
   — Sim — Samuel mente e caminha rapidamente para longe dos dois. 

Victor adormeceu com Yasmin no tapete da sala de jogos e aos poucos desperta. Ele olha para a namorada, que está com a cabeça apoiada em uma almofada, dormindo em posição fetal. Victor passa a fitar o teto e esvazia a sua mente. 
   O sono tranquilo de Yasmin fica agitado quando ela começa a ouvir sons de tiros vindo de todos os lados. Ela tenta se esconder, porém se apavora ao constatar que não enxerga nada ao seu redor. A imensidão preta a sufoca e um grito idêntico ao de Graziele quando Malu foi baleada se destaca entre os tiros. 
   A loirinha sente um aperto levíssimo em seus braços e um chamado distante. Aos poucos a voz de Victor pronunciando o seu nome vai ficando mais alta do que os estampidos do tiroteio e o aperto em seus braços mais forte. Seu corpo sacode e ela desperta ofegante. 
   — Foi só um pesadelo, só um pesadelo — Victor repete olhando fixamente para ela. Yasmin olha ao redor, tomando consciência de onde está. Ela respira aliviada e afunda a cabeça na almofada. 
   — Eu sonhei que estava em um tiroteio. 
   — Passou. — Victor volta a se deitar e abraça ela. — Agora você está em segurança. 
Yasmin encaixa o rosto no pescoço dele e fala:
   — Acho que nunca vou esquecer dessa manhã. 


Comentários

  1. Marina e Samuel se culpando foi de partir o coração. O IMAGINE ESTÁ LINDO!!

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  2. Sempre fico com gostinho de quero mais tamanha criativa que você tem ao escrever. Amo o seu Imagine e acompanho sempre! 😍😍

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  3. O Imagine está perfeito!

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  4. Não encontro mais palavras para descrever ele

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  5. Amei O Capítulo , Só Tá Faltando Mais BeLipe, Bjs Rê Sou Sua Fã! ❤

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  6. Precisam achar esse bandido e prendê-lo. Tadinha da Malu, tomara que o Samuel não fique se sentindo culpado por mto tempo.

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  7. "Acho... acho que sangrei todas as minhas menstruações... juntas."

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  8. "Esses remédios são... muito... fortes. Eu juro que vi... uma enfermeira pelada... achei estranho... achei que tinha mudado de ideia e virado lésbica por isso estava vendo ela... desse jeito." Mesmo nos momentos tristes, você consegue trazer graça para.o Imagine kkkkk Amooo isso!

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  9. "— Eu estou bem — repete baixinho. — Você está aqui e tudo vai ficar bem. — Os remédios vencem a batalha e Malu adormece, deixando Samuel com os olhos lacrimejantes.
    — Eu não queria que você tivesse se machucado por minha causa — ele fala olhando para o rosto sereno dela. — Nem você nem ninguém. Desculpa, Malu.
    Samuel dá um beijo demorado na mão dela e sai do quarto."
    Essa parte foi tão triste! 😢😢

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  10. Estou com dó da Malu e do Samuel!

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  11. Mais um capítulo maravilhoso, Rê! Amo o seu Imagine porque você consegue escrever cenas românticas, fofas, engraçadas, tristes, dramáticas e sérias com a mesma intensidade e perfeição. Esse capítulo foi tenso, mas tão viciante quanto o da volta de Belipe, por exemplo. Fiquei com pena da Malu! A Grazi também está sofrendo e ler o desabafo dela foi de partir o coração. Espero que agora que o Henrique sabe do que ela está sentindo tente melhorar, porque eu sei que eles não fazem isso de propósito. Espero que o Samuel não fique se sentindo culpado, porque foi uma ação involuntária ele não ter entregado o celular. Não quero ver a Marina se sentindo responsável por tudo o que aconteceu e foi muito fofo o Vinícius consolando ela. O pesadelo da Yasmin foi angustiante. Como fala o próprio título do capítulo, essa tentativa de assalto deixou realmente marcas em todo mundo.

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  12. Estou in love com o Samuel 😍😍😍😍

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  13. Quero muito saber o que vai rolar entre a Grazi, o Henrique e a Larissa. A vida da nossa ruivinha favorita não está fácil. O namorado está mentindo pra lá, os pais estão "nem aí" e a amiga foi baleada enquanto estava abraçada nela. Tadinha! :(

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  14. "Eu passo o dia sozinha com o Phil nessa casa porque eles só se importam com o trabalho. De que adianta terem chegado onde chegaram se nem aproveitam a vida? Às vezes eu sinto que não posso contar com eles." Meu forninho caiu em prantos.

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  15. Com dó da Malu e da Grazi

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  16. Que a Mau se recupere logo!

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  17. Estou tão ansiosa para o próximo capítulo! O seu Imagine é demais e estou encantada.

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  18. Uhuu! Hoje é dia de Imaginee. Não vejo a hora de ler o próximo capítulo, porque esse foi demais.

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