Imagine ChaMel 4ª Temporada (Filhos) - Capítulo 170: Yasmin oferece almoço à Antônio

Isabela analisa o rosto da mãe e responde:
   — É que o pai escolheu uma música pra fazer um cover que me deixou curiosa. 
   — Que música? 
   — Thinking out loud do Ed Sheeran. 
   — Nunca ouvi. 
   — Escuta, têm partes que se encaixam muito com vocês. 
Mel pega na mão dela. 
   — E você acha que o seu pai ainda pensa em mim por causa de uma música? 
Isabela sente o tom de descrença na pergunta de Mel e fala com impaciência:

   — Não, mãe, é sério. Quando eu perguntei pra ele o porquê dele ter escolhido essa música, ele desconversou.  

   — Isso não quer dizer nada, filha.  — Ela levanta da cama. — É só uma coincidência. 

   — Se a senhora quer acreditar nisso — Isabela dá de ombros e levanta da cama com os seus vestidos. — Mas que ele escolheu essa música por causa da senhora, escolheu.  

Mel balança a cabeça com incredulidade e caminha para o seu closet. 

Minutos depois, Yasmin e Victor chegam à loja em que ela irá comprar o presente para Antônio.  

   — Não deu nem tempo de fazer a barba — Victor reclama.

   — Você tava tomando banho pro almoço? — indaga Yasmin saindo do carro. 

   — Tava. 

   — Você não acha que tava cedo?

   — Você também se arrumou mais cedo. 

   — Mas eu já sabia que ia sair antes do almoço. 

   — Eu ia tomar banho mais cedo, fazer a barba, porque pretendia jogar um pouco com uns amigos lá de Nova York.

   — Oh, e você largou tudo pra vir comigo?

   — Pra você ver. E eu nem reclamei. 

   — Quem estava falando que não deu tempo de fazer a barba? — Yasmin ri e entra na loja com Victor.  

   — Mas isso é outra coisa. 

Ela gargalha.  

   — Se serve de consolo, saiba que você continua lindo com barba. 

   — Nossa, isso tocou minha alma. 

   — Vai se ferrar, moleque.

Eles riem. Uma vendedora se aproxima do casal, reconhecendo-os.

   — Posso ajudá-los?

   — Olá — cumprimenta Yasmin. — Estou atrás de uma roupa pra um senhor de meia idade.

   — Sigam-me, por favor. — Os dois vão atrás dela até o meio da loja. — Aqui está a nossa linha condizente a faixa etária que você procura.  

Yasmin assente.

   — Obrigada! — Assim que a mulher se afasta, ela se volta para o namorado. — O que você levaria daqui?

   — Você. 

Yasmin revira os olhos.

   — Eu tô falando sério.  

   — Eu também.

A loirinha suspira e dá meia volta, passando a analisar o setor sozinha. Victor vai até ela instantes depois com uma camisa de manga nas mãos.

   — Eu levaria essa aqui.

Yasmin olha para a peça.

   — Até que é bonita. — Ela segura a camisa. 

Horas mais tarde, Vinícius caminha à pé até a casa de Marina. Depois de ser atendido pela empregada, se dirige ao quarto da jovem e quando a namorada abre a porta, se espanta. 
   — Você ainda está assim? — indaga analisando o pijama de Marina. — Nós vamos nos atrasar para o almoço da Yas.
   — Eu não vou — diz Marina sem rodeios.
Perto dali, Ulisses estaciona o carro na garagem da mansão de Sophia e Micael e uma das herdeiras do casal, Victor e Antônio descem. O senhor está usando as roupas que Yasmin comprou e o convenceu a usá-las.
   — Os meus pais vão adorar conhecer o senhor — ela diz sorridente com Victor atrás.
   — Eu também — fala Antônio sorrindo timidamente.
   — Vamos entrar! — Yasmin pega na mão de Victor e passa pela porta de acesso à mansão com ele e Antônio. Na frente da casa, entre as flores e arbustos do jardim, Felipe conversa ao celular com Branca. Ele está perto da grade e vê Isabela chegando, usando um vestido solto com estampas geométricas das cores rosa, roxo e azul marinho com fundo branco, na cintura um cinto marrom mostra as suas curvas. A adolescente ergue a mão para tocar o interfone, mas paralisa no ar, pois Felipe surge dos arbustos em sua frente.
   — Oi.
Isabela abaixa a mão lentamente.
   — Oi — responde. — O que você estava fazendo — ela olha para as plantas — aí?
   — Respirando ar puro. — Isabela assente e Felipe abre o portão. — Entra.
Ela passa por ele e adentra na mansão.
   — A Yas já chegou com o Antônio? — pergunta.
   — Sim. Agora a pouco eu ouvi o barulho do portão da garagem.
   — Entendi. — Isabela recorda do questionamento que quer fazer a Felipe, mas fica envergonhada e prefere aguardar outro momento. — Eu vou entrar... você vem?
Felipe guarda o celular no bolso.
   — Claro. — Os dois caminham silenciosamente para o interior do casarão.

Vinícius fecha a porta do quarto ao passar.
   — Como assim você não vai, Mari?
Marina senta em sua cama, soltando um suspiro.
   — Eu não vou em um lugar que eu não fui convidada.
   — Mas a Yasmin te convidou.
   — Você não acha muito estranho ela ter ligado para o meu irmão, chamando ele, e nem mencionar o meu nome e ao ligar pra Isabela, falou para ela te chamar e me chamar?
   — A Yasmin é meio maluca — diz Vinícius dando de ombros.
   — E eu tenho noção. Não vou aparecer nesse almoço!
   — Por que não, Mari? Todo mundo vai.
   — Eu não sou todo mundo — ela responde dando um leve sorriso. Vinícius se agacha na frente dela com as mãos em seus joelhos.
   — Vamos, Mari. Por mim.
   — Não adianta apelar — diz a morena cruzando os braços.
   — Eu não estou apelando, só quero a companhia da minha namorada.
Marina rebate:
   — Os seus amigos vão estar lá para te fazer companhia.
   — Só vai ser completo se você estiver junto.
   — Então vai ficar incompleto — ela responde com determinação.
   — Nossa, você vai mesmo me deixar ir sozinho a esse almoço? — Vinícius pergunta em tom de profundo ressentimento.
   — Sem drama, amor. A sua irmã vai estar lá e os seus melhores amigos também.
   — Mas eu quero que você vá!
Marina fecha os olhos, soltando mais um suspiro.
   — Eu vou com uma condição — fala abrindo os olhos.
   — Que condição?
   — Você me dá aquela aquela sua camisa que eu gosto?
Vinícius estreita os olhos, e pergunta receoso:
   — Que camisa?
   — Aquela com a caricatura da Bellatrix;
O garoto sente uma fisgada no peito.
   — Ah, não, Mari! Aquela não.
   — É a minha condição.
   — Aquela camiseta é rara — ele tenta argumentar.
   — Eu sei, é por isso que eu quero ela.
   — Você sabe que eu tenho um carinho especial por ela.
   — Eu também tenho.
Vinícius pensa por um instante.
   — Tudo bem.
Marina se surpreende com o fato dele aceitar e sorri cintilante.
   — Você é um amor! — exclama se arrastando para o chão, onde fica no mesmo nível do namorado. Ela abraça e beija ele. — Você é um príncipe, sabia?
Vinícius assente, recebendo vários selinhos dela.
   — É melhor você se arrumar.
   — Primeiro eu quero te dizer uma coisa referente ao nosso acordo.
Com medo dela pedir mais algum item de sua coleção, ele pergunta:
   — O quê?
Marina sorri carinhosamente, passando a mão pelos cachos dele.
   — Eu estava te testando.
   — Como?
   — Eu queria saber o quanto a minha companhia é importante pra você. E confesso que você me espantou ao abrir mão dessa camisa que você tanto ama só para eu ir com você no almoço da Yasmin.
   — Então você está me testando desde o começo?
   — Não! Só a partir do lance da condição.
   — Então a camisa continua sendo minha?
   — Claro, amor. Eu nunca tiraria ela de você.
Vinícius sorri.
   — Você é muito palhaça!
   — Eu sou curiosa.
Ele balança a cabeça, incrédulo.
   — E eu achando que tinha perdido a minha lindinha.
Marina gargalha e mordisca o lábio dele.
   — Pensei que a sua lindinha fosse eu.
   — Você é a minha lindona.
Ainda rindo, Marina levanta.
   — Agora que você me convenceu, eu vou me arrumar para esse almoço.
Vinícius também fica em pé.
   — Só não demora, tá? A gente já está atrasado.
Marina assente e vai para o seu closet.

Na sala de visitas da mansão Borges, os donos da casa conversam interessadamente com Antônio e Yasmin participa do diálogo. Eles estão espalhados pelo cômodo junto com Isabela, Felipe e Victor. Sophia, Micael e Antônio dividem um sofá enquanto Isabela está em outro com Victor e Yasmin. Felipe assiste a conversa sentado em uma poltrona.
   — Ele é professor de física — conta Yasmin entre o namorado e a melhor amiga.
   — Sério? — pergunta Micael.
   — Aham.
   — E você está lecionando no momento? — Sophia indaga. Antônio começa a contar sobre o seu novo trabalho e Victor, que está desinteressado na conversa, estica o braço no encosto de sofá acima dos ombros da namorada. Com o indicador ele cutuca o ombro de Isabela e como ainda está chateada com ele, ela finge não sentir. Victor passa o dedo pelo cabelo dela, fazendo cócegas em sua nuca em cima da cicatriz que ela tem na região. Isabela se move no sofá, fazendo que Victor recue os dedos, e lança um olhar cortante pra ele por trás de Yasmin. Ele sorri despreocupadamente e Felipe, que passou a fitar Isabela depois que ela se mexeu, estreita os olhos tentando entender o que se passa entre os dois. Yasmin continua conversando com os adultos sem perceber o que está acontecendo ao seu lado. Depois de alguns segundos Victor volta a fazer cócegas no pescoço de Isabela e a garota finge passar a mão na nuca para beliscar o dedo dele. O loiro afasta a mão rapidamente e por descuido, deixa o membro cair no ombro de Yasmin. Ela olha para Isabela, pensando que foi a amiga, mas ao ver os dedos dele, vira a cabeça para o outro lado.
   — O que foi?
   — Nada — Victor responde tranquilamente.
   — Sem contato, lembra? — Yasmin empurra a mão dele de seu ombro e Victor volta a apoiá-la no encosto do sofá. Assim que sua namorada volta a prestar atenção na conversa dos pais com Antônio, Victor sorri para Isabela. A morena o fuzila com o olhar e ao ouvir Felipe espirrar olha para ele. O garoto troca um olhar intenso com ela, que rapidamente passa a fitar Sophia com um repentino interesse na conversa deles. No entanto, sua concentração foge quando Victor volta a acariciar sua nuca. Tentando fugir dele, se mexe mais uma vez no sofá, dessa vez se afastando um pouco de Yasmin, logo, da mão de Victor. O loiro estica ao máximo os dedos e consegue pegar no cabelo dela. Felipe, que está com a testa franzida desde que notou o contato de Victor com a ex-namorada, observa Isabela girar a cabeça para Yasmin, porém seu olhar vai além da garota, se concentrando em Victor.
   — Quer parar com isso? — sussurra para que os adultos não ouçam, mas como Yasmin está entre eles é impossível ela não escutar. A loirinha olha da amiga para o namorado, virando a cabeça rapidamente.
   — O que está pegando? — indaga fitando Isabela.
   — Esse seu namorado insuportável — responde a morena encarando Victor.
   — O que você está aprontando? — Yasmin pergunta para o namorado.
   — Nada.
   — Você mente sempre agora? — Isabela acusa por trás de Yasmin.
   — Victor — Yasmin chama o olhar dele, que correu para Isabela.
   — Eu só estava brincando com ela — ele responde com sinceridade.

   — Você tava enchendo o meu saco — Isabela corrige.

   — É porque você não quer falar comigo.

   — Caso você não tenha percebido, nós estamos participando de uma conversa.

Enquanto eles falam, Yasmin vira a cabeça de um lado para o outro.

  — Conta outra, Isabela! — exclama Victor. — Você não está falando comigo desde daquele lance do Lorenzo.

  — Não é porquê a Yasmin voltou a falar com você que eu tenho que voltar também. — Ela olha para a amiga. — Pede pra ele parar.

Yasmin gira a cabeça e encara Victor.

  — Deixa ela em paz.

  — Eu só estou brincando com ela.

  — Mas ela não quer.

Victor revira os olhos e reclama:

  — Eu não posso te tocar, não posso tocar nela. Em quem eu vou tocar?

Os olhos de Yasmin se estreitam.

  — Deixa eu ver se eu entendi. Já que você não pode tocar na sua namorada você parte pra melhor amiga dela?

   — Claro que não, Yas. Você é você e a Isabela é a Isabela.

   — Então fica quieto aí na sua.

Depois de alguns instantes, Victor tenta acariciar o braço dela, mas Yasmin se afasta. Enfurecido, ele levanta e vai para a varanda, onde solta um suspiro de frustração e senta nos degraus de acesso ao jardim.  

   — A situação está complicada pra você — Felipe comenta parando em pé ao lado dele. 

   — Por que a sua irmã me chamou? — pergunta Victor. 

   — Porque ela quis. 

   — Qual é a lógica de eu ficar nesse almoço? Ela nem sequer deixa eu pegar na mão dela. 

   — Vocês não chegaram de mãos dadas? — Felipe observa sentando ao lado de Victor. 

   — Porque ela pegou na minha mão.

   — Deixa eu ver se entendi, ela pode te tocar e etc, mas você não pode fazer o mesmo?

   — Exatamente.  

   — Cara, ela tá tirando onda com você.

   — Isso está me deixando nos nervos — Victor confessa encarando uma flor no jardim.

Felipe sorri. 

   — Isso que dá namorar com a minha irmã. 

A porta atrás deles se abre mais uma vez. 

   — A gente está indo para a sala de jantar — conta Yasmin. — Pelo visto o Vinícius e a Marina não virão. 

Felipe levanta e Victor faz o mesmo, encarando profundamente a namorada. Yasmin olha para o irmão e pede:

   — Me deixa sozinha com o Victor. 

   — Cadê a palavra mágica?

   — Vaza. — Felipe ri e ao passar por ela, bagunça o seu cabelo. — Filho da p*ta! — Com as mãos no cabelo, Yasmin caminha até Victor. Mesmo estando chateado com ela, o loiro leva as mãos ao cabelo dela, arrumando alguns fios fora do lugar. — Sem contato — ela relembra afastando as mãos dele. 

   — Como eu pude esquecer? — Victor indaga com monotonia e anda em direção a porta, porém Yasmin segura em seu braço. 

   — Ei, desfaz esse bico. 

Victor puxa o braço com leveza, mas Yasmin aperta com ainda mais força. 

   — A gente vai se atrasar para o seu almoço. 

   — O anfitrião é o Antônio, não eu. — Ela envolve os ombros dele com seus braços. — Por que você está assim? 

   — Por causa dessa situação. 

   — Que situação? — indaga já conhecendo a resposta. 

   — Esse lance de tempo que só funciona quando eu tento te tocar. 

   — Você vai ficar com a cara amarrada por causa dessa besteira? 

   — Não é besteira — ele discorda. — Você fica me rondando, me provocando, e quando eu vou fazer alguma coisa você lembra do "tempo". 

Yasmin passa uma mão pelo rosto dele. 

   — Não fica assim. 

   — Só se você acabar com esse tempo ridículo. 

   — Eu ainda não estou preparada — ela desconversa. 

Victor revira os olhos e se desvencilha com facilidade dos braços dela. Yasmin corre atrás dele e puxa seu braço novamente, dessa vez unindo os seus lábios com os dele, deixando o loiro surpreso com a atitude. No entanto, quando Victor tenta colocar as mãos em sua cintura, Yasmin aperta os pulsos dele, impedindo o contato. Ele sai do beijo, mas quando Yasmin busca a sua boca novamente, ele não se controla e retribui. O casal fica se beijando por um tempo, a boca de Victor sendo a única parte que toca em Yasmin. Enquanto explora a boca dele a loirinha acaricia os seus pulsos, que segura com suavidade. Ela para o beijo com selinhos e solta os pulsos de Victor. 

   — Vem, vamos entrar. 

O loiro lambe os lábios, querendo mais do beijo de Yasmin, porém segue ela para o interior da mansão em silêncio. 

Na cobertura em que mora com os pais, Nícolas se diverte na piscina infantil de fibra que foi colocada especialmente para ele. Luíza está sentada sob um guarda-sol, lendo uma revista quando ouve a voz de Daniel no interior do apartamento. Ela caminha descalça até a porta que dá acesso à cozinha, onde encontra o marido. 

   — Oi — diz Daniel. — Estava de procurando. 

   — Eu estava lá fora com o Nícolas. 

Daniel rodeia a cintura dela com os braços. 

   — Comprei tudo o que você mandou — conta antes de beijá-la. Mesmo com anos de união Luíza sente o corpo se aquecer com cada toque de Daniel. 

   — Isso que os maridos prendados fazem — ela diz depois do beijo. Daniel ri e dá um selinho nela. A psicóloga sai dos braços dele e analisa o conteúdo das sacolas plásticas. 

   — Muito bom — elogia. — Mais tarde eu vou preparar uma comidinha especial para a gente.

Daniel assente e caminha até a geladeira, onde serve um copo d'água. Luíza senta em uma das banquetas do balcão da cozinha e cruza as pernas. 

   — Eu tava pensando em levar o Nícolas lá na casa da Mel amanhã. — Daniel apoia, confirmando com a cabeça, enquanto entorna o copo de água. — Ele tem falado muito que quer ver a Isa, o Vini. 

   — É bom ele matar a saudade dos primos. — Daniel lava o copo na pia. — Só que você tem que ir cedo, lembra que a gente marcou de almoçar com a Anelise e o Bernardo? 

   — Ah é, verdade. Tinha me esquecido. Então eu vou deixar para o final da tarde, porque de manhã eles estão dormindo. 

Daniel ri e tira a camisa para aliviar o calor. 

   — Esses adolescentes. 

   — Não se esqueça que você já foi um deles. 

   — Prefiro nem lembrar da minha adolescência. 

Luíza pula da banqueta e se junta a ele. 

   — Então não vamos ficar revivendo o passado. — Ela dá um selinho nele. — Eu prefiro viver o agora. — Luíza abraça o esposo e o beija intensamente. Daniel retribui o beijo imediatamente e cola o corpo dela no seu. Eles se beijam cada vez mais fervorosamente e Daniel senta Luíza no tampo da pia. Ela cruza as pernas no quadril dele e arranha as costas nuas do engenheiro e arquiteto. Daniel desce o pescoço dela, distribuindo beijos em toda a região enquanto suas mãos acariciam a barriga dela por dentro da blusa. Luíza segura no cabelo dele com força e busca a sua boca novamente. Uma das mãos de Daniel saem da blusa dela e caem na coxa da psicóloga, apertando com firmeza. Luíza se derrete nos braços dele e beija profundamente a boca do marido. 

   — Pai! Mãe! — O chamado de Nícolas anuncia a sua chegada e Daniel se afasta rapidamente de Luíza enquanto ela pula do tampo. Porém, o seu tornozelo vira ao atingir o chão e ela cai no instante que Nícolas entra na cozinha. — Mãe? Tá tudo bem?

Daniel se agacha sem demora e ergue a esposa do chão. 

   — Machucou? 

   — Não — ela garante. — Foi só um torcidinho bobo. 

Nícolas corre até ela. 

   — Tá tudo bem, mãe? 

Luíza olha para ele e exagera na expressão de espanto. 

   — Como vai estar tudo bem se o mocinho está molhando toda a minha cozinha? 

Nícolas ri. 

   — Desculpa, mãe. 

   — Desculpa nada — Daniel responde e pega o garotinho nos braços. — Vamos vazar daqui, mocinho. 

Ele segura Nícolas acima da cabeça e o garoto estica os braços como se fosse um avião. Daniel corre, desviando do rastro molhado do filho, para fora da cozinha. Luíza observa a cena rindo e caminha até a geladeira para pegar gelo pra colocar no tornozelo. 

Reunidos na sala de jantar, Sophia, Micael, Yasmin, Victor, Felipe, Isabela e Antônio almoçam. Eles conversam sobre o rumo da música popular brasileira e dessa vez todos participam da conversa. Micael está sentado na cabeceira da mesa com Sophia de um lado e Antônio de outro. Yasmin está ao lado do senhor e Victor ao seu lado, de frente para Isabela, que está do lado de Felipe, que por sua vez, está do lado da mãe. Nos lugares ao lado de Isabela e Victor, têm pratos vazios. 

   — Desculpem o atraso — fala Vinícius passando pelas portas de correr junto com Marina. Todos os presentes viram as cabeças em sua direção e Yasmin olha para Marina dos pés à cabeça, analisando o visual dela. A morena optou por uma jardineira de lavagem clara com um top cropped branco e rasteirinhas. A loirinha gosta do que vê, mas não demonstra nenhuma reação. 

   — A gente pensou que vocês não fossem aparecer — fala Sophia sorrindo. 

   — Nós tivemos um imprevisto — Vinícius mente. 

   — Alguma séria? — indaga Micael. 

   — Não — ele responde. 

   — Senta, gente — diz Yasmin. Vinícius e Marina soltam as mãos e vão cada um para um lado da mesa, sentando ao lado de seus respectivos irmãos. Depois da refeição, Yasmin percebe que Antônio e os pais estão bastante entrosados, por isso propõem para os amigos:

   — Vamos subir e jogar um pouco? 

   — Eu não gosto muito de videogame — Isabela fala. 

   — A gente pode jogar outra coisa ou só ficar batendo papo mesmo. 

   — Então vamos? — chama Felipe. Eles sobem as escadas e Victor nota que a parte de trás do vestido de Isabela está suja. 

   — Sua bunda está suja, Isabela — fala ao chegarem no primeiro andar. 

   — Como? — indaga a menor do grupo parando repentinamente. 

   — A sua bunda está suja — ele repete. 

   — Você estava reparando na bunda dela? — pergunta Marina com curiosidade. 

   — Não, mas o meu olho foi pra lá. E não é bem na bunda, é ali ó, na barra do vestido. 

Os cinco olham para as pernas e glúteos de Isabela e fica incomodada. 

   — Para, gente! — ela pede encostando de costas na parede. 

   — Quer que eu limpe? — pergunta Victor e Yasmin o encara. Vinícius questiona:

   — Você quer passar a mão na minha irmã? 

   — Credo, gente! Eu não pensei besteira — fala Victor com sinceridade. 

Isabela olha para Felipe. 

   — Limpa pra mim? 

Ele ergue as sobrancelhas.

   — Eu? 

   — Não seria mais coerente o Vinícius limpar? — pergunta Marina. 

   — Não estraga o momento — diz Yasmin. 

   — Quer saber de uma coisa? — Isabela desencosta da parede. — Eu vou limpar sozinha, no banheiro. — Ela caminha até o banheiro, deixando os amigos para trás. 

   — A gente vai ficar parado aqui? — Vinícius sorri para os amigos e eles voltam a caminhar rumo à sala de tv. Yasmin fala baixinho para Victor:

   — Só estou observando você e a Isabela. Primeiro fica tocando nela pelas minhas costas, literalmente, e agora quer limpar a bunda dela? 

   — Não era a bunda, caramba. Era a barra do vestido. 

   — Mesmo assim. Você iria gostar se eu me oferecesse para desemperrar o zíper da calça do Vinícius? 

Victor engole em seco e não responde. 

   Felipe fica para trás de propósito e não entra na sala com os demais. A porta do banheiro abre e Isabela sai passando a mão na barra de seu vestido. Ela ergue a cabeça e o vê metros à frente. Respirando fundo, se aproxima dele. 

   — Limpou? — Felipe pergunta. 

   — Sim. 

   — Você não achou esquisito o Victor se oferecendo para limpar? — ele indaga diretamente. 

Isabela dá de ombros. 

   — O Victor é assim mesmo e agora ele está cada vez mais irritante pra cima de mim porque eu não estou falando com ele. 

Felipe assente. 

   — Vocês estão bem próximos, né? 

   — Você ouviu o que eu disse? — indaga Isabela suavemente. — Eu não estou falando com ele. 

   — Eu sei, mas se ele insiste tanto em voltar a falar com você é porque a relação de vocês é importante pra ele. 

   — É, pode ser. — Um silêncio palpável se instala entre eles. Depois de reunir toda a sua coragem, Isabela fala: — Felipe?

   — O que foi? 

   — Eu recebi uma coisa ontem... — Ela deixa a frase no ar para ver a reação do ex-namorado. 

   — Que coisa? — pergunta Felipe franzindo a testa. 

   — Você não faz ideia? — indaga com espanto. 

   — Do que você está falando? 

Isabela sente o gosto amargo da decepção em sua boca. 

   — Ontem eu recebi um presente e pensei que fosse você quem tinha me mandado. 

   — O que era? 

   — Uma luminária.

   — E não tinha remetente? 

   — Não um nome específico — responde Isabela evasivamente e volta a encará-lo. — Eu jurava que era você, porque foi uma surpresa bem a sua cara. — Uma ruguinha surge na testa dela. — Quem mais escreveria "do amor da sua vida"?

   — Estava escrito isso? — indaga Felipe.

   — Sim. 

O moreno dá de ombros. 

   — Deve ser qualquer garoto que também quer te conquistar. Quem mais mandaria uma luminária do homem de ferro escrito "do amor da sua vida"? 

   — Mas eu não tenho uma fila de garotos que querem me... — Ela interrompe a frase e fita intensamente o rosto de Felipe. — Eu não te contei que a luminária é do homem de ferro. 

Felipe engole em seco e depois de alguns segundos fala dando um leve sorriso:

   — Eu não queria que você descobrisse de imediato. 

O olhar de Isabela brilha. 

   — Então foi mesmo você? — O adolescente confirma com a cabeça e ela sorri alegremente. — Por que você não queria que eu soubesse? 

Felipe ergue uma das mãos e acaricia o queixo dela. 

   — Porque eu queria ver esse seu rosto iluminado, como ele está agora. Se eu te contasse logo de cara, você poderia controlar sua reação. Agora se eu falasse que não tinha sido eu, poderia ver se você iria ficar triste ou não, o que indicaria o seu desejo de querer que tivesse sido eu quem enviou o presente. — Ele abaixa o tom de voz e completa: — E agora, vendo o seu rosto desse jeito, eu percebo que você realmente ficou feliz não só pelo presente, mas por ter sido eu o remetente. 

   — Eu caí como um patinho. 

   — Você sabe que eu não gosto de jogar com você, mas eu precisava saber.

Isabela assente e admira o olhar dele, fitando-o intimamente. Felipe ergue lentamente o queixo dela enquanto inclina o seu rosto rumo ao dela. Antes que seus lábios possam se unirem, Yasmin coloca a cabeça para fora da sala de tv, perguntando:

   — Cadê a Isabela e o... — O nome do irmão não deixa a sua boca, pois ela constata que atrapalhou o momento dos dois. Isabela se afasta de Felipe com rapidez e passa por ele ainda mais veloz. 

   — Consegui limpar o meu vestido — fala se aproximando de Yasmin e entrando na sala de tv. Felipe abaixa a cabeça e olha lentamente para a irmã, que pede baixinho:

   — Desculpa. 

A tarde se estende preguiçosamente e por volta das cinco horas, Antônio se despede de todos. 

   — Foi um prazer recebê-lo — diz Sophia. 

   — O prazer foi meu — o professor garante. 

Yasmin dá um abraço nele. 

   — Volte mais vezes — fala no ouvido dele. 

   — É só me chamar — ele brinca, bem mais confortável do que quando chegou. 

   — Não desaparece, ok? — Ela pede soltando-o. — Agora você já tem o meu celular, o número da minha casa, só não liga se não quiser. 

   — Pode ter certeza que eu vou dar notícias. 

Os outros adolescentes se despedem de Antônio e o senhor entra no carro para Ulisses levá-lo de volta ao seu simplório apartamento. 

   — A gente também já vai indo — diz Marina. 

   — "A gente" você e o Vinícius ou "A gente" você e o Victor? — pergunta Micael gargalhando.

   — "A gente" todo mundo — é Isabela quem responde. 

   — Mas já? — se surpreende Sophia. 

   — É que a gente vai se arrumar pro show de mais tarde, mãe — conta Yasmin. 

   — Vocês vão ao show de quem? — Micael pergunta. 

   — Do meu pai — responde Vinícius. 

   — Muito bonito! — ironiza o pai de Yasmin e Felipe. — Vocês todos vão no show do Chay, mas no meu ninguém dá as caras!

   — É porque o senhor, pai, não está fazendo show — justifica Yasmin. — Está, como o senhor diz mesmo? "Trabalhando no meu novo álbum." 

Micael ri e abraça a filha. 

   — Quando eu sair em turnê, quero ver se esse papo ainda vai colar. 

Eles riem e Felipe se aproveita da descontração para chegar em Isabela. 

   — Te vejo mais tarde no show? — pergunta no ouvido dela.

Arrepiada, a morena responde:

   — Sim.

   — Vou esperar ansiosamente. 

Isabela sorri e recebe um selinho curtíssimo de Felipe. 

   — Felipe!?

   — Desculpa, não resisti. — Ele olha carinhosamente para ela e se junta aos seus pais e Yasmin no portão. A loirinha se solta dos braços do pai e vai até o namorado. 

   — Mais tarde a gente se vê. 

   — Com certeza. — Ele coloca uma mecha do cabelo dela atrás da orelha. — Será que até lá o tempo já acabou? 

Yasmin sorri misteriosamente. 

   — Você não prefere aguardar e ver com os próprios olhos? 

Victor ri e tenta roubar um beijo dela, mas Yasmin vira o rosto. 

   — Se comporta, rapaz. 

O loiro revira os olhos, porém o sorriso permanece no rosto. 

   — Até mais tarde! — diz a loirinha. Após todos se despedirem, vão para suas respectivas casas. 

Horas mais tarde.

Marina entra no quarto do irmão sem se anunciar e se depara com Victor de cueca com duas calças jeans nas mãos e uma camisa vermelha pendurada no ombro. 

   — Opa, é pretinha — ela brinca fazendo referência à cor da cueca dele. 

   — Será que hoje é o dia das pessoas me verem pelado? — ele pergunta olhando para ela. Marina ri e fecha a porta, caminhando em seu salto alto para a cama dele. 

   — Quem mais te viu peladinho? 

   — A Yasmin. 

Um sorriso malicioso surge instantaneamente no rosto de Marina. 

   — Está a um passo do paraíso, maninho. 

Victor joga as roupas na cama, ficando apenas com uma calça jeans preta nos braços. 

   — Sabe o que é melhor? — ele pergunta vestindo a peça. — É que ela não me viu de cueca, como você agora, ela me viu pelado. De verdade. 

Marina arregala os olhos.

   — Pelado, pelado? Como? 

   — Eu tinha acabado de sair do banho e ela entrou no banheiro. 

A garota gargalha.

   — Ela pediu também, né! 

   — Você tinha que ver a reação dela — fala Victor começando a rir. Marina cruza as pernas em sua calça jeans de cintura alta. 

   — Como foi? — indaga curiosa. 

   — Parecia que tinha visto um fantasma. 

   — É tão branco como o resto do corpo? — brinca Marina e Victor olha para ela com incredulidade. 

   — Não vou nem comentar, ok? A Yas ficou sem graça como raramente fica. — Ele ri e pega a camisa vermelha. 

   — Não — fala Marina segurando a blusa. — Você não fica bem de vermelho sangue. Pega aquela coral ali — indica olhando para o armário dele que está escancarado. Victor, a contragosto, pega a camisa que a irmã escolheu e veste. 

   — Vamos? 

   — Você já está pronto? — indaga Marina colocando a barra da blusa com listras em preto e branco dentro da calça. 

   — Estou, não parece? 

   — É que você não fez a barba — ela observa levantando da cama. 

   — Ah, a Yasmin falou que eu continuo bonito de barba. 

Marina ri e se aproxima do irmão, bagunçando o cabelo dele. 

   — Ai, que bonitinho, levando em consideração a opinião da namoradinha. 

Victor dá um tapa na mão dela. 

   — Vamos logo!

Ainda gargalhando, Marina segue o irmão para fora do quarto. 

Em seu closet, Isabela confere mais uma vez sua roupa. O vestido da grife da mãe caiu perfeitamente em seu corpo. Com o tecido sofisticado, o modelo é tomara que caia da cor vinho com a saia rodada com babados, porém o babado é mais durinho e estruturado, o que tira o efeito romântico. Em seu pescoço, Isabela usa um colar de ouro que ganhou da Mel em seu último aniversário. 

   — Você está linda — elogia Mel entrando no closet.  

   — Obrigada. — A adolescente sorri. — Tem certeza de que não quer mesmo ir com a gente? 

   — Tenho, meu amor. 

Vinícius entra logo atrás da mãe. 

   — Vamos, Isa! 

Isabela olha para a mãe, que assente, e responde para o irmão:

   — Vamos. — Os dois se despedem de Mel e saem do quarto. No carro, Vinícius comenta:

   — Eu bem vi você e o Felipe de cochichos hoje na hora que a gente tava indo embora. 

Isabela sorri. 

   — Foi ele mesmo quem me mandou a luminária!

   — Sério?  

   — Aham, achei muito fofo. 

   — Isso foi o suficiente pra você ver que quer ficar com ele? 

   — Nem começa, Vini! 

O garoto ri.

   — Quem sabe hoje, no show do pai, ao som das músicas românticas, role alguma coisa? 

Isabela sorri levemente e apoia a cabeça na janela do carro, lembrando do sabor do beijo de Felipe. 

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