Imagine ChaMel 4ª Temporada (Filhos) - Capítulo 148: O início da Festa do Terceirão é marcado por beijos roubados

O ginásio do colégio Otávio Mendes está completamente diferente do habitual. Um lado das arquibancadas foi decorado somente com a cor vermelha e varais de fotos polaroids foram pendurados sobre as cadeiras. A cor que predomina do outro lado é o verde e os varais foram colocados do mesmo modo. Na quadra, o chão foi coberto por uma folha auto-colante de proteção da cor preta e no centro foi montada uma pista de dança enorme.
   Diversas cabines fotográficas foram espalhadas pelas extremidades do ginásio, assim como barracas de doces, comidas e bebidas que serão vendidos pelos estudantes. Um palco foi armado no fundo do ginásio com uma mesa para o DJ, e em sua frente diversas mesas foram posicionadas. Duas urnas transparentes rodeadas por mangueiras luminosas da cor amarela foram colocadas na entrada e ao lado da pista de dança. Ao lado do palco está uma enorme cabine preta com a placa: O Buraco Negro. 
   O local está quase vazio quando Yasmin e Felipe chegam. O motorista não tem dificuldade de parar em frente ao colégio para os dois desembarcarem, o que desperta a curiosidade de Felipe.
   — Não está vazio demais, não? — pergunta para a irmã.
   — Não, não deu o horário da festa ainda. — Yasmin desce do carro e arruma a sua fantasia.
   — Como assim? Isso quer dizer que nós chegamos antes da hora? — indaga o adolescente saindo do veículo.
   — É, eu sou uma das organizadoras, lembra? Faz parte do meu trabalho ver se tudo está ok.
   — E por que eu tenho que chegar antes? 
   — Porque você é o meu irmão — Yasmin responde com obviedade. 
   — Fala sério! 
   — Para de reclamar. Eu estou te fazendo um favor — diz Yasmin caminhando pela entrada do colégio. 
   — Não vejo qual.
   — A Isabela é uma das organizadoras da festa, ou seja, ela também vai chegar mais cedo. Eu estou dando um tempo para você chegar nela antes que a festa comece. 
   — Hum, entendi. Obrigada.
   — Não há de quê. 
Eles seguem os pisca-pisca que foram colocados no chão e chegam ao ginásio. Antes mesmo de entrar, Felipe fica impressionado com a decoração. Do lado de fora, no jardim que rodeia o ginásio, há diversas lampadas coloridas e confetes. Os irmãos passam pela porta e o queixo do garoto despenca.
   — Car*lho, vocês capricharam, hein?
   — Diz se a gente não colocou as festas do Terceirão do ano passado no chinelo. 
   — Isso porque essa é só a primeira. 
Os olhos de Felipe percorrem o interior do lugar e se concentram na urna que está próxima. 
   — Pra que isso? 
Yasmin segue o olhar dele e responde:
   — É para a votação das melhores fantasias da noite. 
   — Saquei. — Ele estreita os olhos para identificar as meninas que estão reunidas no palco e diz: —  Cadê a Isabela? 
   — Eu estou aqui.
Os irmãos viram para trás e enxergam Isabela parada no meio da porta. O queixo de Felipe cai novamente e ele contempla Isabela dos pés à cabeça. 
   — Você está linda — fala sem pensar. 
   — Obrigada — responde a adolescente, que está usando uma fantasia de Mulher Maravilha. 
   — Acabei de chegar também — diz Yasmin. — Vamos lá ver como estão as coisas. 
   — Ok — responde a morena sem olhar para ela. As duas se distanciam de Felipe e cruzam o ginásio para chegar no palco. Felipe observa Isabela o caminho todo com o desejo estampado nos olhos. Ele caminha até a arquibancada vermelha e começa a analisar as fotos penduradas.
   — São as fotos do nosso Instagram — diz ao perceber isto. — Que criativo!
Após ver todo o varal, ele vai para o outro lado da arquibancada e constata que as fotos daquele lado são dos alunos do terceiro ano B. Quando vê todas as fotos, desce e vai na direção de uma das mesas. Ele se senta e fica observando as garotas no palco. 
   Isabela sente o olhar de Felipe pregado nela e vira a cabeça para encará-lo, confirmando a sensação. Ele sorri carinhosamente, mas ela não retribui e volta a sua atenção para a líder de sala do terceiro ano B, que fala sobre as barracas. 
   Felipe sacode a cabeça, rindo com leveza e enxerga uma garota do primeiro ano caminhando até o palco. Enquanto caminha ela olha para ele e sorri. O jovem retribui e fica admirado com a fantasia dela: Mamãe noel sexy. A garota sobe no palco e se aproxima do comitê organizador. 
   — Oi — diz.
As garotas olham para ela e Yasmin ergue as sobrancelhas com espanto. 
   — Que fantasia... ousada — opina Isabela preferindo não usar a palavra "vulgar". 
   — Eu sei. — A garota sorri e abaixa a cabeça para visualizar a própria roupa. 
   — Demorou demais pra chegar — fala Yasmin autoritariamente. — Cadê as outras?
   — Estão chegando.
   — Ok, enquanto isso você trabalha sozinha. 
A líder do outro terceiro ano, Francine, uma morena alta de cabelos cacheados, que usa uma fantasia de marinheira, diz:
   — Vai nas cabines fotográficas e vê se elas estão funcionando, depois confere se tem cédulas suficientes ao lado das urnas. 
   — Tá bom — assente a garota do primeiro ano. 
Assim que ela desce do palco, Graziele pergunta:
   — Vocês não acham que pegam pesado com elas? 
   — Por quê? — indaga Yasmin.
   — Vocês as tratam como se elas fossem suas súditas. 
   — Mas elas são quase isso — Francine responde. 

Por volta das nove horas da noite os convidados começam a chegar. Três recepcionistas foram contratadas para ficar na entrada do colégio, duas delas recebem os convites e a terceira os vende para aqueles que ainda não tem. Seguranças estão espalhados por todo o colégio para evitar balburdia. Laís, fantasiada de Jasmine, sai de uma sala de aula acompanhada por Graziele. Elas duas estão com asas brancas penduradas nas costas e uma cesta em formato de coração nas mãos. 
   — Está muito fofa essa sua fantasia de Jessie, Grazi — fala Laís caminhando para o ginásio.
   — A sua também. Pena que a Disney não pagou a gente pra fazer essa propaganda dos filmes dela.
As duas gargalham e Graziele vê Thiago conversando com um rapaz fantasiado de xerife. 
   — Vai indo lá para a quadra, eu te encontro lá — fala para Laís. 
   — Ok. 
Elas se separam e Laís vai em direção ao ginásio enquanto Graziele se aproxima de Thiago e seu amigo que estão entre as passagens para o ginásio e um dos pátios. 
   — Oi.
   — Oi! — responde Thiago.
Quando o rapaz que o acompanha abre a boca, Graziele o reconhece. 
   — Oi, Graziele — fala empolgado. 
   — Doulgas! 
Eles se abraçam e ela quase deixa cair a cesta. Thiago pega a cesta da mão dela e pergunta:
   — Pra que isso?
   — É que vão ter dois cupidos durante a festa e eu sou um deles. 
   — Pra que cupidos? — questiona Douglas soltando-a.
   — Pras pessoas poderem declarar o seu amor.
   — Viu, Thiago, já pode se declarar para ela.
Os três riem.
   — Não preciso disso para me declarar — responde Thiago abraçando Graziele.
   — Que lindo o casal da Disney — brinca Douglas vendo os dois vestidos de Woody e Jessie de Toy Story. 
   — Vamos entrar — chama Graziele e eles pegam o caminho para o ginásio.

Evaldo, motorista de Vinícius e Isabela, para a alguns metros da entrada do colégio e Vinícius, Marina e Victor descem, fantasiados respectivamente de Páris, líder de torcida e Thor. 
   — Vamos ver se essa festa vai ser tão espetacular quanto dizem — fala Victor segurando o seu martelo. 
   — Pode se preparar — Vinícius avisa. 
Eles chegam ao portão e uma das recepcionistas, pede:
   — Convite?
   — Nós somos do terceiro ano — responde Vinícius.
A moça ergue uma lista, perguntando:
   — Quais são os nomes de vocês?
   — Vinícius Fronckowiak Rocha. 
   — Ok, pode entrar. 
Vinícius passa pelo portão e aguarda os irmãos do lado de dentro.
   — Marina Blanco Aguiar. 
   — Pode entrar também. E você? — Ela olha para o loiro.
   — Victor Blanco Aguiar. 
   — Ok.
Os três se dirigem ao ginásio com tranquilidade. Quando chegam próximos a entrada, começam a ouvir a música alta. 
   — A música está boa — Marina opina identificando a voz de Rihanna em Diamonds. 
   — Oi, gente! — cumprimenta Yasmin quando eles passam pela porta. 
   — Oi — os três respondem. 
   — Legal a sua fantasia — diz a loira olhando para Marina. 
   — Valeu, a sua também. 
Uma garota do terceiro B fantasiada de funcionária do McDonald's se aproxima deles.
   — Aqui o bilhete de consumo livre — fala entregando três cartões vermelhos para eles. 
   — Pra que isso? — Victor pergunta olhando para o cartão.
   — Nós do Terceirão não pagamos para consumir as coisas — Yasmin responde com paciência. 
   — Nossa, que legal! — fala o loiro com entusiasmo. 
   — Falou em comida de graça que ele já fica empolgado — brinca Vinícius e eles caem na gargalhada. 

Iago e Isabela estão sentados em cadeiras da arquibancada vermelha. 
   — Muito fofa a sua fantasia de Super Mario — elogia a morena.
   — Valeu. Você está muito bonita de Mulher Maravilha. 
Isabela sorri.
   — Quase que eu não venho com ela, porque é uma fantasia clichê, mas por outro lado ninguém podia esperar que eu viesse com ela. Uma menina do segundo ano disse que acreditava que eu fosse vim de princesa. 
Eles gargalham.
   — É porque combinaria com o seu jeito. 
   — Acho que sim. 
   — Então, você não vai trabalhar durante a festa? — pergunta Iago com curiosidade. 
   — Não, alguns alunos foram sorteados para trabalhar hoje, mas a maioria foram dos terceiro B. Ainda bem!
   — Entendi. Então vai ser bom, porque você vai ter mais tempo para aproveitar. 
   — Exatamente. 
Eles sorriem timidamente um para o outro. 
   — Quer dançar? — Iago chama.
   — Aham, vamos lá.
Eles descem das arquibancadas e vão para a pista de dança, onde alguns alunos curtem All about that bass. Entre os que estão dançando a música estão Jaqueline e Luciana fantasiadas, respectivamente, de Katy Perry em California Gurls e Cleópatra. 
   — Hoje eu fico com o Victor — afirma a loira com convicção. 
   — De onde veio tanta certeza?
   — Do meu plano infalível. 
Elas riem.
   — Qual é o plano? — Luciana pergunta.
   — Surpresa. 
Jaqueline sorri misteriosamente e remexe no ritmo da música. 

Ao final da canção, Yasmin pede para o DJ fazer uma pausa e assume o microfone no meio do palco. 
   — Boa noite! — fala e todos os presentes olham para ela. Alguns gritam elogios e ela sorri. — Obrigada, gente. Quero dar início oficialmente a Primeira Festa do Terceirão deste ano! — Os alunos vibram. — Como vocês já devem ter percebido e para aqueles que ainda não notaram, há cabines fotográficas espalhadas pelo ginásio para vocês registrarem essa festa. Aqui ao lado — ela aponta para a sua direta — foi montado O Buraco Negro. Muitos de vocês devem estar se perguntando, que diabos é isso, não é? — Eles riem. — Pois bem, eu explicarei. Nesta sala não há absolutamente nada. Não tem objetos, luz nem som. Lá dentro vocês ficarão, literalmente, no breu. Então, aproveitem para fazer o que não teriam coragem de fazer na luz. No entanto, moderação, pessoal! Caso algo sério aconteça lá dentro nós saberemos, pois contamos com o auxílio de câmeras noturnas.
Todas as pessoas ficam agitadas e comentam sobre O Buraco Negro. Yasmin, satisfeita com a reação delas, prossegue:
   — Nas arquibancadas foram colocados varais com fotos dos donos dessa festa, nós, estudantes do Terceirão! — Os alunos dos terceiros anos gritam. — Vocês também podem aproveitar os cupidos que estão vagando pelo ginásio. Caso falte coragem para se declarar, eles podem te ajudar. E não se esqueçam de votar nas melhores fantasias da noite. Tem uma urna lá na entrada e outra ao lado da pista de dança. No final da noite, descobriremos o garoto e a garota com a fantasia mais apreciada. Para finalizar, gostaria de pedir uma salva de palmas para o maior responsável por essa festa, o nosso querido diretor Joaquim. — Todos, inclusive Yasmin, batem palmas. — O Terceirão tem orgulho de dar início a essa festa que vai ficar na história!
Aplausos e gritos ecoam no ginásio e Yasmin acrescenta:
   — Solta o som, DJ!
Ela se afasta do microfone e se junta a Victor, que estava esperando por ela ao lado do palco. 
   — Decorou bonito o que tinha para falar, hein? — ele brinca. — E o que foi essa pagação de pau para o diretor?
   — Cala a boca!
Eles dão um beijo e saem do palco. 

Na pista de dança, Isabela e Iago continuam aproveitando as músicas. Afastado dali, Felipe chega em uma barraca de bebida. 
   — Uma Coca-Cola, por favor — pede para um garoto do terceiro B. Quando o refrigerante é colocado em sua frente, ele mostra o cartão vermelho para o garoto e se afasta. Antes que ele possa voltar para perto de Alexandre e Danilo, com quem conversava anteriormente, Graziele o aborda.
   — Felipe — chama. 
   — Oi, Grazi. 
   — O meu primeiro correio elegante é pra você. 
   — Olha que honra a minha — diz rindo. Graziele entrega um bilhete vermelho em forma de coração para ele.
   — Aproveitando essa situação, eu te deu um conselho de amiga. Curta essa noite, esqueça tudo. 
Felipe entende a mensagem que ela quer passar.
   — Ok, obrigada.
Eles trocam um sorriso e ela se afasta, saltitando e anunciando:
   — Olha o cupido! Olha o cupido!
Felipe olha para o bilhete escrito a mão que segura e lê em pensamento: Te observo desde o começo do ano e ainda procuro defeitos em você. Se ela não te quer, saiba que eu te quero. Para saber quem eu sou, vá até a cabine fotográfica próxima à entrada. 
Inconscientemente Felipe olha para a cabine fotográfica que fica ao lado da porta. Em seguida volta a fitar o papel em suas mãos, decidindo se vai ou não. A curiosidade vence e ele se dirige até o local indicado no papel. Quando está quase chegando na cabine fotográfica, Yasmin surge em sua frente, falando apressadamente:
   — Nós estamos combinando de ir no Buraco Negro, vamos com a gente? 
   — Não dá — ele fala olhando por sobre a cabeça dela para a entrada da cabine. 
   — Claro que dá, você não está fazendo nada de importante. — Ela começa a empurrá-lo rumo ao outro lado do ginásio. — Vamos lá!
   — Não, Yasmin, eu tenho outra coisa pra fazer. 
   — Depois você faz. Relaxa!
Contra a sua vontade, Felipe é arrastado até a entrada do Buraco Negro, onde estão parados Marina, Vinícius e Victor. 
   — Onde está a Isabela? — pergunta Yasmin ao chegar com o irmão.
   — Dançando com o Iago — responde Vinícius. — Ela não quis vim. 
Ao ouvir a resposta de Vinícius, Felipe se sente ainda mais arrependido de não ter ido até a cabine fotográfica. 
   — Vai, vamos entrar — fala Marina. Os cinco passam pela porta e mergulham na escuridão e o silêncio da enorme cabine. Victor sorri, empolgado com a experiência. Explorando o espaço, Yasmin se afasta dos amigos e se choca contra alguém.
   — Ai — reclama quando algo duro cai em seu pé. Segundos depois, sente lábios se encontrem com os seus em um selinho curtíssimo. Quando ela se dá conta do que acabou de acontecer e tateia ao seu redor, tentando encontrar a pessoa que a beijou, não encontra mais nada. 

Ao ritmo de Pompeii do Bastille, Iago e Isabela dançam. Lorenzo chega à pista quase correndo em sua fantasia de Capitão América. Ele passa por algumas pessoas até se juntar a Iago e Isabela.
   — Preciso falar com você — diz com uma velocidade frenética. 
   — Agora não — dispensa Iago.
   — É sério!
Isabela nota que poderá atrapalhar a conversa dos dois e diz:
   — Vou ao banheiro. 
No momento em que Isabela não está mais perto, Iago fala:
   — Poxa, Lorenzo, você atrapalhou o meu clima.
   — Foi mal — pede o jovem. — É que eu acabei de fazer uma coisa — fala agitado. 
   — Que coisa?
   — Eu beijei a Yasmin. 
Os olhos de Iago se arregalam. 
   — Eu ouvi direito? — pergunta com incredulidade quando Pompeii acaba e começa a tocar Safe and Sound do Capital Cities. 
   — Aham. — Ele passa a mão na testa. — Eu não sei o que me deu, quando vi já tinha feito. Eu tenho que pedir desculpas para ela, sem contar que o Victor vai me matar se descobrir. Ai meu Deus, o que foi que eu fiz? — A velocidade com que ele fala é muito alta e Iago quase se perde. 
   — Fica calmo, cara! — pede colocando as mãos no ombros dele. — Vamos sair daqui. 
Eles se movem até a arquibancada onde sentam em cadeiras. 
   — Me conta, como foi? — Ao perceber que Lorenzo irá começar a falar descontroladamente, acrescenta: — Com calma.
   — Eu estava no Buraco Negro, só pra saber como era lá dentro, daí do nada eu esbarrei em alguém e deixa cair o escudo no pé da pessoa. — Iago olha para o escudo que está no colo de Lorenzo, que prossegue: — Quando a pessoa disse "Ai" eu a reconheci, era a Yasmin. O que aconteceu depois foi muito rápido, eu peguei o escudo do chão e deu um selinho nela. Depois saí correndo da cabine. 
Iago absorve as palavras dele e diz segundos depois:
   — Então a Yasmin não sabe que foi você?
   — Não, mas eu devo contar para ela, não devo? Se bem que eu não vou ter coragem. — Ele esconde o rosto nas mãos. — Ai, cara, por que eu fiz isso?
   — Lorenzo, fica calmo — insiste o outro. — A Yasmin não sabe que foi você, então nada vai te acontecer. O Victor não vai te matar!
   — Então você acha que eu não devo contar para ela? — pergunta Lorenzo abaixando as mãos lentamente. 
   — Claro que não. Deixa quieto, para ela não deve ter significado nada. 
   — Valeu — fala Lorenzo ironicamente. 
   — Desculpa — pede Iago colocando uma mão no ombro dele. — Mas me conta, como foi pra você?
   — Bom, muito bom — Lorenzo confessa. — A boca dela é macia. 
Iago sorri e diz para animar o amigo:
   — Viu, você realizou o sonho de todos os meninos do colégio: ficar com a Yasmin.
   — Foi só um selinho — lembra Lorenzo, olhando para os próprios pés. 
   — Mais longe do que qualquer garoto chegou. Esse ano, pelo menos. Pelo o que eu fiquei sabendo ela era bem, como posso dizer, animada, ano passado. 
   — É. 
   — Então, cara! Se anima, você deu um beijo na Yasmin.
   — Como é que é? — indaga Isabela parando ao lado de Iago. Lorenzo ergue a cabeça e o seu amigo gira, ambos para olhar para a recém chegada. — Você beijou a Yasmin, Lorenzo? 
O garoto fica vermelho vivo e como ele não consegue responder é Iago que diz:
   — Sim.
Isabela cobre a boca com as mãos, perplexa. 
   — Caramba! — exclama segundos depois. Ela se senta na cadeira ao lado de Iago. — Como você conseguiu?
Lorenzo permanece impossibilitado de falar.
   — Foi no Buraco Negro — conta Iago.
   — Ah, só podia ser — Isabela fala sem pensar, mas logo percebe o que disse e completa: — Sem querer ofender. 
O adolescente assente sem olhar para ela.
   — Eu falei para ele não contar para a Yasmin que foi ele, porque para ela não deve ter significado nada, né? — comenta Iago.
   — É, com certeza a Yasmin vai levar como brincadeira ou vai achar que foi engano. 
   — E o Victor?
A morena dá de ombros.
   — Não sei, ele é meio imprevisível. — Lorenzo estremece e os outros dois percebem. — Mas caso ele saiba, não vai fazer nada demais — acrescenta depressa para tranquilizá-lo.
   — Você não vai contar nada, né Isabela? — pergunta Iago com insegurança. A adolescente desvia o olhar, encarando as pessoas que dançam na pista, decidindo o que irá fazer. 

Ainda dentro do Buraco Negro, Victor sente uma mão acariciar sua nuca um pouco antes de uma boca se unir à sua. Acreditando que é Yasmin, ele não recusa de imediato e até retribui o beijo, mas aos poucos vai notando algo diferente. Os lábios de Yasmin são menores e alguma coisa que ele não consegue definir difere o beijo. Os seus braços envolvem a cintura de "Yasmin" e é nesse momento que ele tem a certeza de que não está beijando a sua amiga colorida.
   Victor interrompe o beijo imediatamente e se afasta da pessoa, secando os lábios. 
   — Quem é? — pergunta sussurrando. Ele recebe um selinho e tenta segurar a pessoa, mas ela se liberta e se afasta. O loiro começa a percorrer a sala atrás da verdadeira Yasmin, apalpando o ar. Suas mãos encontram o tecido do vestido da loira e ele segura no braço dela.
   — Vamos sair daqui — sussurra, acredita ele, próximo ao ouvido dela. 
   — Vamos — diz a loira e de mãos dadas, eles deixam O Buraco Negro. 

Voltando a encarar os olhos castanhos de Iago, Isabela responde:
   — Podem confiar em mim. 
   — Obrigada — Lorenzo agradece timidamente. — Vou comer alguma coisa.
Ele levanta e desce as arquibancadas. Isabela ri para Iago.
   — Ele é tão tímido.
   — É, isso porque eu pensei que ninguém era mais tímido que eu. 
   — Timidez às vezes é uma qualidade.
   — Não no meu caso. 
   — Claro que é, deixa você mais fofo. 
Iago sorri levemente.
   — Obrigada. 
   — Só fui sincera. 
Eles se calam e trocam um olhar profundo. Iago é o primeiro a desviar e pergunta:
   — Quer voltar para a pista de dança?
   — Ótima ideia.

Em frente ao palco, Yasmin e Victor conversam.
   — Eu alguém me beijou — ele conta. 
   — Como? — Yasmin se surpreende, achando que aquilo aconteceu somente com ela.
   — Eu pensei que fosse você, mas depois comecei a notar que tinha alguma coisa diferente e quando eu fui abraçar a garota, vi que a roupa dela não era a sua. Então não podia ser você. 
   — Você retribuiu o beijo?
   — Por um momento — Victor assume. 
   — Você faz alguma ideia de quem era a pessoa?
   — Não. 
Yasmin morde um lábio olhando para as pessoas que estão sentadas nas mesas.
   — Como era a roupa dela? — pergunta voltando a fitar Victor. 
   — Esquisita. 
   — Como assim?
   — Tinha um bando de... eu não sei a palavra. Tipo, altura.
Yasmin franze a testa.
   — Altura?
   — É, relief.
   — Ah, relevo. A roupa da pessoa tinha relevo?
   — É, acho que tinha algumas coisas pregadas no vestido, alguma coisa assim. 
   — Eu não faço a mínima ideia de quem possa ser. 
Victor faz a pergunta que estava martelando em sua cabeça:
   — Você ficou brava comigo?
   — Não, sei bem como é essa sensação de ser beijada no breu. 
   — Como assim, o que você quer dizer com isso?
Yasmin respira fundo e conta:
   — Também me beijaram. Na verdade foi só um selinho. 
   — Será que foi a mesma pessoa?
Yasmin ri.
   — Óbvio que não, né? 
   — Sei lá, quem sabe? 
A loirinha observa todos que estão próximos.
   — Eu preciso descobrir quem são esses beijoqueiros. 
   — Pode contar comigo. Ou a pessoa acha que é assim, dá um selinho em você e fica por isso mesmo? 
   — E você que ainda aceitou o beijo!?
   — Eu pensei que era você. 
   — Não reconhece mais o meu beijo, Victor?
   — Reconheço, mas você tem tantas versões.
Yasmin pega o martelo das mãos dele e gira em suas mãos, dizendo:
   — Você não viu nem a metade. 
Victor envolve a cintura dela com seus braços.
   — Estou doido para conhecer. 
Eles dão um beijo acalorado, deixando algumas meninas do segundo ano que estão próximas com inveja. Yasmin empurra Victor, dizendo:
   — Para! Foco, porque nós temos algo para descobrir. 
   — Ok, Elsa.
   — Vamos lá, Thor. 

Felipe deixa O Buraco Negro com as vestes de príncipe amassadas. Aline e Laís, que estão conversando na porta da cabine, usando as respectivas fantasias de Pocahontas e Bela Adormecida, brincam com ele:
   — Pelo visto você aproveitou o escurinho, hein Felipe? — diz Laís. 
   — A roupa está até amarrotada — se diverte Aline. Felipe ri e passa a mão pelo corpo, tentando arrumar a fantasia. 
   — O que acontece no Buraco Negro permanece no Buraco Negro. 
As duas riem e ele se afasta. 
   Alexandre e Danilo estão pulando na pista. O primeiro está vestido de Hobbit e o outro de bombeiro. Felipe se junta a ele, dizendo:
   — Cara, acabei de ficar com uma garota lá no Buraco Negro. 
   — Sério? — pergunta Alexandre. — Quem era?
   — Não sei, mas acho que é alguém do primeiro ou segundo ano. O corpo dela não me lembrou de nenhuma das meninas que eu conheço. 
   — Experimentando novos ares — brinca Danilo.
Felipe tira o quepe e passa a mão no cabelo.
   — Eu estava precisando disso. Fazia um mês e pouco que eu não beijava ninguém. 
   — E desde o ano passado você não beijava outra boca que não fosse a da Isabela — lembra Alexandre. 
   — Nem toca no nome dela — pede Felipe não querendo ficar pra baixo. 
   — Boa! Vamos deixar o passado no passado — apoia Danilo e eles voltam a dançar. 

Malu está se divertindo em uma das cabines fotográficas e Samuel entra. 
   — Ei, quem te deu autorização para invadir as minhas fotos? — ela pergunta rindo. 
   — Fica quieta, Malévola — ele responde fazendo referência a fantasia dela. 
   — Fica quieto, você, pirata.
Ele se senta no banco ao lado dela.
   — Eu não sou qualquer pirata, sou Jack Sparrow. 
   — Só na fantasia mesmo — ela ri. 
   — Palhaça. E aí, vamos ou não tirar fotos?
   — Você vai mesmo aparecer nas minhas fotos?
   — Qual é o problema?
   — Eu não quero ter lembranças com você. 
   — Como se você já não tivesse — rebate Samuel. Malu sorri e instantes depois eles começam a tirar a sequência de fotos. Na primeira pose, Malu faz chifrinho em Samuel com os dedos; Na segunda ele se esconde atrás da capa dela; Na terceira ela sai tentando puxar a espada das mãos dele; E na última, Samuel aparece beijando Malu. 
   No início Malu recusa, mas aos poucos aceita o beijo e deixa sua boca se moldar com a de Samuel. Ele a puxa para mais perto, intensificando o afeto. 
   — Estava com saudades da sua boca — confesse o jovem entre o beijo.
   — Só não se apaixona — brinca Malu e eles riem. Samuel mordisca o lábio dela e eles voltam a se beijar vorazmente. 

Na noite estrelada, Yasmin deixa o ginásio e vai para o banheiro, onde tem o desagrado de encontrar com Talita, que está fantasiada de Neytiri de Avatar. Elas trocam um breve olhar cortante e a loirinha entra no box. 
   Rindo e conversando, Luciana e Jaqueline entram no banheiro feminino, cruzando com Talita na porta.
   — Ainda não estou acreditando que você conseguiu — diz Luciana.
   — Eu falei, meus planos infalíveis são realmente infalíveis, meu bem. 
Luciana gargalha.
   — Me conta, como é o beijo dele? Ele tem pegada?
   — Ah, o beijo foi bom, mas não deu muito tempo para aproveitar, porque ele se afastou. 
   — Ele deve ter pensado que você era a Yasmin.
   — Só que eu sou muito mais gostosa do que a aquele palito. — Elas gargalham. — Eu quero gritar na cara dela "Eu beijei o Victor, eu provei do sabor americano!". 
   — Ai, amiga, você é hilária — fala Luciana caindo na gargalhada. Jaqueline retoca a maquiagem e deixa o banheiro com a melhor amiga. 
   Um baque ecoa no banheiro quando Yasmin abre a porta com força, fazendo a madeira se chocar contra a parede de mármore. Ela caminha furiosa até a pia e fala para o seu reflexo no espelho:
   — Essa vadia vai se arrepender de cada palavra que disse aqui neste banheiro. Eu garanto.

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