Imagine ChaMel 4ª Temporada (Filhos) - Capítulo 35: Victor e Yasmin curtem balada em clima de romance

Imagine ChaMel - Filhos

Isabela está sentada diante de sua penteadeira. No ano anterior, ela insistiu para que o pai comprasse a penteadeira retrô para ela e acabou conseguindo. Com os olhos abaixados, fita as próprias mãos, evitando olhar no espelho em sua frente. Yasmin está ao seu lado, mexendo nas gavetas da penteadeira a procura dos itens que pretende usar. 

   — Nada como uma boa roupa e maquiagem para melhorar o humor de uma menina. — ela murmura, colocando alguns itens de maquiagem sobre a penteadeira. 

   — Eu não estou de mal-humor. — se defende Isabela. 

   — Mas está triste, o que pra mim faz mal do mesmo jeito. — Yasmin é implacável e não dá oportunidades para Isabela fugir. 
Isabela continua desanimada. Yasmin começa a limpar o rosto da amiga e diz:
   — Nossa, poucas horas de sofrimento acabaram com você, Isa.
   — Não me importo! — responde Isabela.
   — Pois deveria se importar. Agora é o momento de você ficar ainda mais bonita e sambar na cara do Jonas. 
Isabela sente um aperto no peito ao ouvir o nome do ex-namorado. 
   — Não quero sambar na cara dele, só quero a minha vida de volta. Quero o Jonas de volta!
Yasmin tenta controlar a indignação, mas acaba soltando:
   — Ai, Isabela! Olha, eu sei que você tá péssima por causa do término e tal, mas para com esse discurso ridículo. Você não precisa do Jonas, ele não é o oxigênio da sua vida. Se ame, amiga!

   — O Jonas falou para eu me amar mais. — ela fica com um olhar caído sempre que lembra do término. 
   — Pelo menos em alguma coisa ele acertou, né? — resmunga Yasmin. — Mas mesmo assim, eu o odeio!
   — Queria poder dizer o mesmo! — sussurra Isabela. 
Yasmin prefere não prosseguir no assunto, pois percebe que Isabela está ficando cada vez mais para baixo e a intenção não é essa. 

Quase duas horas depois, os adolescentes estão todos espalhados pela sala da mansão de Chay e Mel. Isabela está com uma maquiagem mais leve, que apenas esconde as imperfeições de seu rosto. Yasmin está toda produzida e Marina também, só que em um estilho mais boyish. Conversando com Felipe, Vinícius está no sofá. Isabela também está com eles, só que com o pensamento distante. Yasmin e Victor conversam entre beijos em um sofá na frente de Marina, que mexe no celular tranquilamente sentada em uma poltrona. A garota ainda está se recuperando do término com Brian, mas está aliviada e feliz com isso. Vinícius olha disfarçadamente para ela, pensando se deve se aproximar ou não. Felipe está com um braço em torno da cintura de Isabela e diz para Vinícius:
   — Chega nela, cara!
Vinícius olha para Felipe, fingindo que não sabe do que ele está falando. 
   — Hã?
   — Eu reparei no jeito que você tá olhando para a Marina. Chega nela!
   — Será? Se ela for grossa comigo? 
   — Ela é grossa com todo mundo — ele dá de ombros — qual vai ser a diferença? 
Vinícius dá um leve sorriso, mas não diz nada. 
   — Eu vou começar a nosso programa, dai você dá um jeito de se aproximar dela. 
   — Ok! — responde Vinícius. 
Felipe vira totalmente para Isabela, ainda com um braço a envolvendo. Ele abaixa o tom de voz só para ela ouvir:
   — Ei!
Isabela olha para ele.
   — Hum?
   — Eu não consigo te impedir de pensar nisso, mas você pode fazer um esforço. 
   — Pensar nele me machuca, mas deixar de pensar machuca mais ainda. As lembranças é só o que eu tenho agora, Felipe. 
Ele passa a mão no queixo dela de maneira carinhosa e protetora. 
   — Eu não quero você assim, Isa. Você é a minha melhor amiga e eu vou fazer de tudo pra te ver melhor. 
Isabela apoia a testa no peito dele e começa a chorar, sem se importar com os outros na sala. Felipe passa o outro braço pelas costas dela e deixa que ela chore o necessário para ficar melhor depois. Marina levanta o olhar da tela do celular para ver Isabela e não consegue controlar a pena que sente da garota. Na pressa para desviar o olhar, não querendo sentir pena de ninguém, ela olha para Vinícius. Ele está jogando o vasinho de cristal entre as mãos e Marina dá um leve sorriso. Ela continua olhando para ele a tempo de ver Yasmin levantar do sofá que está com Victor, caminhar até Vinícius e pegar o vasinho das mãos dele. 
   — Criança, para com isso! — ela sussurra no ouvido de Vinícius, que sorri.
Nem Marina, nem Victor ouvem o que a loira fala para Vinícius e ambos ficam com ciúmes, principalmente Marina. Ela pensa: "O que essa idiota está falando com o Vinícius?". 
Felipe limpa o rosto de Isabela, dizendo:
   — Você vai ficar bem, eu juro!
Ele a solta, levanta e olha para os outros. 
   — Gente, vamos começar a nossa aventura? — ele ri ao perguntar. 
   — Mas agora? Ainda está entardecendo. — argumenta Yasmin, querendo ficar mais alguns minutos com Victor. 
   — Você acha que a gente vai demorar quanto tempo pra fazer? É melhor a gente começar agora. — diz Felipe com tranquilidade. 
   — Eu concordo com ele! — Marina fala mais para ficar contra Yasmin do que para apoiar Felipe. 
Yasmin revira os olhos ao ouvir a voz dela e Vinícius percebendo, sorri. 
   — Então vamos lá! — Victor levanta. 
   — Vamos! A cozinha é pra lá. — aponta Vinícius. Ele, Yasmin, Victor e Marina começam a caminhar para a cozinha. Isabela não se move e Felipe olha para ela.
   — Você vai ficar aí? — ele pergunta.
   — É o que eu quero. — Isabela responde sem olhar nos olhos dele. 
   — Isa, eu planejei esse programa pra você, lembra? 
Isabela não diz nada e fita as próprias mãos. 
   — Vem! — ele pega na mão dela. — Você vai se divertir, confia em mim.
Isabela levanta e calça os chinelos. Felipe a puxa para um abraço apertado e sussurra no ouvido dela:
   — Eu queria transferir essa dor que você sente pra mim, só pra não ter que te ver assim. 
Isabela ergue a cabeça para olhar nos olhos de Felipe e diz:
   — Eu não tenho palavras para agradecer o que você está fazendo por mim. Não mereço tudo isso, eu sei. Sou apenas uma idiota e chifruda que não aceita o término do namoro. 
   — Ei! O que é isso? Você não é nada disso. Você é a minha pequena, que está triste porque sua vida mudou de uma hora pra outra. Você ainda não percebeu que essa mudança foi pra melhor, mas logo vai notar isso. 
   — A única coisa que eu notei até agora é que você é a melhor pessoa do mundo. — ela dá um leve sorriso ao pensar em algo.
   — Quer compartilhar o motivo desse sorriso? — pergunta Felipe. 
   — É que eu tava pensando uma coisa. 
   — O quê?
   — A garota que ter você como namorado vai ser a garota mais sortuda do mundo. — responde Isabela. 
   — Eu, namorado de alguém? — ele coloca a mão na testa dela. — Acho que você está delirando. 
   — Você não vai continuar solteiro para o resto da vida. — argumenta Isabela. 
   — Não, mas vai demorar bastante tempo para eu me arrumar com alguém. — rebate Felipe. 
   — Isso é o que veremos! Daqui a alguns meses, você vai estar com sua namorada e eu vou fazer questão de te lembrar das palavras que foram ditas aqui. 
Isabela sorri, pela primeira vez alegre de verdade. Felipe sorri com o sorriso dela e a abraça mais forte. 
   — Para de falar besteira e vamos cozinhar! — ele pega na mão dela e a arrasta para a cozinha. 

Yasmin e Victor estão se beijando encostados na geladeira e Marina e Vinícius mexem em seus respectivos celulares, em lados opostos da cozinha. Felipe entra no cômodo com Isabela e começa a rir. 
   — Ei, maninha e cunhadinho! — ele olha para Yasmin e Victor, que se soltam. — A cozinha da casa do Chay e da Mel tem cara de motel? 
Eles riem, sem saberem que ali já foi local de um momento de amor entre Chay e Mel anos atrás. 
   — Cunhadinho, não, porque eu não sou namorado da Yasmin. — diz Victor. 
   — E nem vai ser! — completa Yasmin, rindo. 
   — Se depender da cupida Isabela, isso não vai demorar muito. — ele e a Isabela trocam um sorriso cúmplice e Victor e Yasmin ficam sem entender, mas sorriem também. 
   — Então, o que nós vamos cozinhar? — pergunta Marina, abaixando o celular. 
   — Escondidinho de carne moída. — responde Felipe.
Marina franze a testa. 
   — O que é isso? 
   — Você não sabe o que é? — ele pergunta de volta.
   — Não. 
   — A gente nunca comeu isso lá nos Estados Unidos. — explica Victor.
Felipe solta a mão de Isabela e pega o seu celular no bolso. Ele mostra uma foto de um escondidinho de carne moída para os gêmeos. 
   — Parece ser gostoso. — diz Victor.
   — É, mas a gente vai conseguir fazer isso? — Marina diz em tom de dúvida. 
   — Bom, nós vamos tentar. — Felipe sorri e olha para Isabela, que força um sorriso de volta. 
   — Então, por onde a gente começa? — Yasmin se aproxima dos outros, parando ao lado de Victor.
Felipe responde novamente, lendo a receita no celular. 
   — Nós temos que descascar as batatas que a empregada já deixou ali pra gente e cozinhá-las, depois pegamos uma panela e colocamos azeite, cebola e o alho e refogamos a carne moída. A gente tempera com sal, pimenta branca e cheiro verde. Ai fica cozinhando até secar. — Ele olha para os outros. — A primeira parte é essa. 
   — Ok! Eu e o Victor descascamos as batatas. 
   — Eu posso fazer a carne moída com o Vinícius. — Ela olha de relance para o garoto, que fica surpreso. 
   — Tá, eu e a Isabela ficamos esperando a parte de vocês ficar pronta pra gente terminar a receita. — diz Felipe. 
   — Tá bom. — Yasmin caminha até as batatas. 
Todos começam a fazer as suas partes e Felipe senta em uma cadeira da mesa. Isabela para na frente dele, em pé. 
   — Nós vamos ficar fazendo o quê? 
   — Sei lá, o que você quer fazer? Estou a sua disposição. — responde Felipe. 
   — Não sei! A ideia do programa foi sua. — Isabela dá um leve sorriso. 
Felipe sorri e puxa Isabela, que cai no colo dele. Os dois se olham por alguns minutos e ele sussurra no ouvido dela:
   — Te amo, minha pequena. 
   — Também te amo, meu grandão. 
Eles sorriem e ela levanta novamente. Isabela começa a ficar menos entristecida. 
   — Posso te pedir uma coisa? — pergunta Felipe. 
   — Pode. — responde Isabela. 
   — Topa passar a noite jogando videogame comigo? 
Isabela ri, o primeiro riso forte depois dos últimos acontecimentos. 
   — Você está fazendo tudo pra me distrair, né? 
   — Claro. — responde Felipe. 
   — Eu não sei jogar videogame direito. — diz Isabela. 
   — Eu te ensino. Isso não é problema! 
Isabela dá um leve sorriso. 
   — Tudo bem! Eu topo. 
Felipe sorri e levanta, ficando na frente de Isabela. Ela ergue os braços e cruza as mãos em torno do pescoço dele. 
   — Prefiro quando você está sentado. 
Felipe acha estranha a afirmação de Isabela.
   — Por quê?
   — Porque só assim eu fico maior do que você. 
Felipe começa a rir e coloca as mãos na cintura dela. 
   — Aceita que você é anã. 
   — Só depois que você aceitar que é um idiota. 
   — Tem quem goste. 
   — Nossa, está assim é? 
   — Assim como?
   — Eu vi você ficando com uma garota ontem na casa noturna.
   — Ah, viu ela gosta. 
   — Idiota! Posso confessar uma coisa pra você? — pergunta Isabela, quase em seu estado normal novamente. 
   — Confesse. 
   — Eu fiquei com um pouco de ciúmes de você com ela.
Felipe ergue as sobrancelhas, surpreso:
   — Sério? 
   — Foi. Estranho isso, né? Não pensei que existisse ciúmes entre amigos. 
Felipe abaixa o rosto, sussurrando perto da boca de Isabela. 
   — Talvez não seja ciúmes só de amigos. — ele não se controlar e começa a gargalhar. Isabela faz o mesmo. 
   — É claro. Somos muito mais que amigos, esse foi o motivo pelo qual eu terminei com o Jonas. Eu o traí  com você. — ela tenta fazer a piada e achar engraçado, mas o máximo que consegue é ficar triste novamente. 
   — Ei! Não fica assim. Viu, é só você envolver esse garoto na história que tudo desanda. 
   — Foi mal!
   — Não precisa se desculpar comigo. — ele sorri e dá um beijo na testa dela.
Felipe se vira para os outros. 
   — E aí? Como está ficando as coisas?
    — A gente ainda está lavando as batatas, Felipe. Vai com calma! — Yasmin ri. 
Vinícius e Marina começam a tentar fazer a carne moída, os dois só conversam o necessário e trocam alguns olhares rápidos. 

Os minutos passam, trazendo o desanimo de Isabela de novo. Ela está sentada em uma cadeira, debruçada sobre a mesa, com os olhos fechados. Felipe acaricia o cabelo dela, olhando o seu rosto delicado. Yasmin, Victor, Marina e Vinícius conversam e riem conforme vão fazendo a receita.
   — Vai! Vai! Vídeo pro instagram. 
   — Larga de ser viciada, Yas! — ri Victor.
   — Vai se ferrar! — reclama Yasmin. 
Ela começa a gravar o vídeo. Eles riem e continuam zoando um com o outro. Marina conversa a maioria do tempo com o irmão, evitando Yasmin, como sempre, e agora Vinícius também. Vinícius puxa Marina para perto do fogão com a desculpa de olhar a carne moída. 
   — Acho que tá ficando bom, né? — ela pergunta, mexendo na panela. 
   — Não sei, experimenta aí. 
Marina pega uma colher e pega um pouco da carne, coloca na palma da mão e come. 
   — Ah, tá salgadinho, mas tá bom. 
   — Salgadinho? Qual foi a quantidade de sal que você colocou aí?
Marina dá de ombros. 
   — Sei lá!
Ela pega um pano de prato para limpar a mão. Vinícius a observa com uma admiração nos olhos, ele coloca uma mecha do cabelo dela atrás da orelha. 
   — Você é linda! — ele admite. 
   — Eu e o Brian terminamos. — conta Marina. 
   — Sério? — Vinícius não consegue esconder a felicidade na voz. 
Marina dá um leve sorriso. 
   — É.
   — Você me parece bem pra quem terminou um namoro. 
Marina olha para ele e sorri novamente, ela está tão concentrada na conversa que não percebe que está aproximando muito o pano do fogão.
   — Ele me ligou pra me contar que tinha me traído. 
   — Novamente, sério? — ele sorri ao perguntar. 
   — Foi. Ele estava tão preocupado quanto eu. — Ela ri. — Agora somos apenas amigos mesmo.
   — Isso é bom, né? — pergunta Vinícius, se aproximando ainda mais de Marina.
Ela sorri, o pano está cada vez mais perto do fogão.
   — Isso não é muito bom, não queria que tive terminado desse jeito, mas já que aconteceu, né? O jeito é aproveitar as consequências. 
   — Qual são as consequências? — pergunta Vinícius, olhando para a boca dela.
Marina dá um leve sorriso e se inclina para beijar Vinícius. Ele coloca a mão na nuca dela e eles se beijam. Marina relaxa nos braços de Vinícius e se entrega. Os dois ficam se beijando, os beijos cada vez mais intensos. Quando finalmente param, Vinícius diz:
   — As coisas esquentaram, né?
Marina ri.
   — É, esquentaram até demais. 
Ela diz isso literalmente, sentindo um calor muito forte. Vinícius olha para o corpo dela e arregala os olhos.
   —  O pano tá pegando fogo, Mari!
Marina olha para o pano e solta um grito. Yasmin, Victor e Felipe olhando na direção dela. Até Isabela, ergue a cabeça, assustada. 
   — Ai meu Deus! O que eu faço? — ela está balançando o pano, tentando apagar o fogo.
   — Me dá! Me dá! — Vinícius puxa o pano das mãos de Marina e joga dentro da pia. A garota abre a torneira e o fogo é apagado.
Todos respiram aliviados e Isabela deita a cabeça novamente. Yasmin se aproxima da pia e fita o pano queimado.
   — Tinha que ser você.
Marina se controla para não cair na provocação de Yasmin. Vinícius a abraça por trás e dá um beijo em sua nuca. Yasmin vê e revira os olhos, depois se aproxima de Victor novamente. 

Os minutos passam, todos já estão em seu estado normal novamente. Isabela quase adormece na mesa com os carinhos que recebe de Felipe. Yasmin e Victor resolveram se concentrar exclusivamente na receita e cessaram os beijos. Ao contrário de Marina e Vinícius se beijam enquanto aguardam a carne moída ficar pronta.

   

   — Eca! Isso tá muito ruim. — reclama Yasmin ao experimentar o escondidinho que eles prepararam.
   — Está realmente muito ruim. — concorda Vinícius.
Isabela não diz nada, apenas afasta o prato. Os seis estão sentados em torno da mesinha de centro, cada um com seu prato em sua frente. Felipe faz uma careta ao experimentar o escondidinho e percebe que os outros estão com razão.
   — Então, o que vamos fazer? — ele pergunta.
   — Não tem condições de nós comermos isso. — fala Marina.
Victor surge com uma alternativa:
   — E se a gente pedir pizza?
   — Boa! — apoia Yasmin.
   — É o jeito. — resmunga Felipe, chateado por sua ideia não ter funcionado.
   — Vão querer de que sabor? — pergunta Victor pegando o celular.
Eles começam a debater sobre o sabor da pizza. No final, eles escolhem uma pizza metade calabresa, metade frango com catupiry e outra metade baiana, metade bolonhesa. Isabela apoia a cabeça no ombro de Felipe e continua muda. Ele passa um braço em torno da cintura dela, acomodando ela ainda mais em seus braços. Marina diz a Vinícius:
   — Vamos ficar essa noite sem pensar no amanhã, pode ser?
   — Claro que pode. — ele dá um beijo na bochecha dela ao responder.
Marina sorri e coloca uma mão na nuca de Vinícius, dizendo:
   — É bom estar aqui com você.
   — Sempre é bom estar com você. — diz Vinícius com suavidade. Os dois se beijam calmo e lentamente. Quase uma hora depois, eles jantam a pizza.  Ficam conversando mais um pouco e resolvem se despedirem.
   — Ai! Adorei a nossa experiência barra desastre na cozinha. — Yasmin ri.
   — É, confesso que foi legal, tirando o final trágico. — concorda Felipe.
Eles riem, exceto Isabela, que está quase caindo dos braços de Felipe, sonolenta e cansada. Marina diz:
   — Vamos indo, Victor? — ela boceja. — Estou com sono.
   — Vamos. — ele responde e se vira para Yasmin. — Boa noite, coisinha!
   — Boa noite, coisa! — eles sorriem e se beijam.
Vinícius puxa Marina e beija os lábios dela com intensidade.
   — Até amanhã! — ela diz.
   — Durma bem! — ele dá um selinho nela.
Marina caminha até Isabela em um surto de bondade. Ela abraça a garota e sussurra em seu ouvido:
   — Fica bem, tá? — ela sorri gentilmente e Isabela, surpresa com a atitude dela, sorri de volta. Marina olha para Felipe:
   — Tchau!
   — Tchau! — ele responde gentilmente.
Victor prefere ignorar tudo o que Isabela está passando e escolhe tratá-la normalmente. Ele vai até ela e puxa para um abraço.
  — Tchau, Isa!
Isabela retribui o abraço, esperando que ele diga alguma coisa parecida com as palavras de apoio dos outros. Ela fica surpresa novamente e agradecida por ele se virar para Felipe, sem dizer o esperado por ela.
   — “Falô”, cara!
  — Até mais! — responde Felipe colocando um braço em torno da cintura de Isabela novamente.
Marina e Victor saem da mansão de Chay e Mel. Yasmin olha para o irmão, dizendo:
   — E aí, vamos? — ela pergunta.
Felipe olha para Isabela enquanto responde.
   — Vou ficar mais um pouco!
Yasmin sorri e olha para Vinícius.
   — Ok, né! Eu já vou indo.
Ela caminha até Isabela e pega nas mãos dela.
   — Se cuida, amiga! — ela abraça e beija Isabela, depois vai até Vinícius. — Eu percebi que você e a americana nojenta se acertaram de novo. Falo mais nada, hein? — ela sorri, beija uma bochecha de Vinícius e caminha para a porta. Vinícius olha para Isabela e Felipe e diz:
   — Vou para o meu quarto. — ele olha exclusivamente para Isabela. — Qualquer coisa pode me procurar. 

Isabela vê que ele está preocupado e resolve tranquilizá-lo:
   — Não precisa se preocupar, eu vou ficar bem. O Felipe está comigo!
Vinícius sorri gentilmente para Felipe e vai para o seu quarto. Isabela olha para Felipe, os olhos dela estão pequenos e quase se fecham de sono.
   — Vem, vou te levar para o quarto. — ele pega Isabela no colo e vai para as escadas.

Em seu quarto, Marina tira a blusa e joga sobre a cama. Ela caminha até o seu closet e pega uma calça moletom e uma blusa larga. Ainda no espaço ela tira os tênis e a calça jeans e vai caminhando para a cama enquanto veste as peças que pegou. Ao sentar na cama, revive os momentos que passou com Vinícius na noite e não consegue segurar um sorriso que se forma em seu rosto. Nesse instante pensa em ligar para o seu melhor amigo (e agora ex-namorado), Brian, para contar as novidades. Após pensar um pouco mais no assunto, decide que ele decididamente não irá gostar se ela ligar para ele para contar sobre um garoto com quem está ficando.
   — Não gostaria que ele fizesse isso comigo! — ela conclui e deita na cama, puxando as cobertas. Poucos minutos depois, ela começa a suar e revira os olhos.
   — Esqueci que estou no Brasil, no país tropical. — Marina diz de mau-humor, levanta e liga o ar condicionado. Após se certificar que a temperatura no quarto está a mais próxima possível da do seu quarto nos Estados Unidos, deita novamente. Então começa a pensar no rosto Vinícius e em questão de minutos dorme com o rosto dele em sua mente.

Com as mãos atrás da cabeça e de barriga para cima, Vinícius pensa em Marina, no rosto dela, no seu toque, sua voz enquanto ela sorri, em todos os detalhes que a formam. Pela primeira vez em toda a sua vida, ele sente algo verdadeiramente forte por uma garota.
   — Espero que ela consiga esquecer o americano o quanto antes. — ele sorri e vira para o lado, tentando dormir.

Victor já está dormindo profundamente em sua cama, ele nem se deu ao trabalho de trocar de roupa e ainda veste a camisa e a calça jeans que usou na casa de Isabela e Vinícius. Ao contrário dele, Yasmin está acordada em seu quarto, passando creme de pele enquanto conversa com Maria Luíza.
   — Não acredito que você está se envolvendo com o filho da Lua e do Arthur.
   — O nome dele é Victor, tá? E não é envolvimento, é só uma amizade com benefícios.
   — Pra mim é tudo a mesma coisa. Você está apaixonada, Yasmin!
Yasmin quase derruba o tubo com o creme ao ouvir a fala de Malu.
   — Credo! As palavras apaixonada e Yasmin não se encaixam na mesma frase.
   — Ah, não? Pois é isso que você está, perdidamente apaixonada pelo Victor.
   — Rá! Rá! Vai sonhando. — ela desliga na cara da amiga, sem se despedir. Interrompe a passagem de creme e joga o frasco para longe.
   — Apaixonada, eu? — ela deita a cabeça bruscamente no travesseiro, absorvendo as palavras ditas por Malu. Depois de um tempo, ela diz: — Não! Não estou apaixonada.
Assim, debatendo interiormente, Yasmin adormece.

Isabela sai de seu banheiro e olha para Felipe deitado em sua cama de maneira relaxada. Ela prende o cabelo em um coque, já vestida com seu pijama. Ao sentir a presença dela, Felipe se senta na cama. Isabela olha para ele com um pedido de desculpas nos olhos e diz:
   — Felipe, dá pra gente adiar a partida de videogame? — ela suspira. — É que eu estou cansada.
    — Tudo bem! — ele levanta. — Já vou indo então.
Felipe dá um passo em direção à porta e Isabela segura o braço dele.
   — É... Eu quero adiar a partida, mas não quero que você vá.
Felipe fica surpreso com o que Isabela diz.
   — Sério?
Isabela confirma com a cabeça e ele dá um leve sorriso.
   — E o que nós vamos ficar fazendo?
Ele vê no rosto de Isabela que ela está envergonhada de dizer algo.
   — Quer dizer alguma coisa? — ele pergunta.
Isabela hesita por um momento, mas acaba dizendo com os olhos marejados.
   — Eu to me sentindo péssima de novo. — Lágrimas começam a rolar pela face dela. — Estou com saudades do Jonas, do abraço dele, do beijo dele, da voz... de tudo. — ela sacode os ombros, chorando compulsivamente. — Eu não sei se vou conseguir passar por isso, Felipe! Eu quero que você fique, porque estou com medo de ficar sozinha e — ela olha para o braço enfaixado — fazer algo parecido, ou até pior, que isso.
Felipe a puxa para um abraço forte.
   — Eu não vou te deixar sozinha! — ele diz com confiança.
Isabela chora nos braços dele, molhando a camisa que ele veste. Felipe a guia até a cama e ela deita. Ele fica ao lado dela a envolvendo em seu braços.
   — Quer desabafar?
Isabela sacode a cabeça em negação e continua chorando. Em sua cabeça, revive cada momento do seu dia: o término, o consolo de Vera e Vinícius, o surto no quarto, o caminho para o hospital, o desabafo de Fernanda no quarto, a volta para casa, os momentos que passou com Felipe e Yasmin e a noite com os amigos. Os minutos passam e ela dorme nos braços dele. Felipe percebe que ela dormiu e diz:
   — Boa noite, minha pequena!
Ele beija a testa dela e com cuidado a deita totalmente na cama, coloca o lençol sobre o seu corpo e se ajoelha ao seu lado. Felipe fica olhando para o rosto sereno de Isabela enquanto ela dorme.
   — Espero que um dia algum garoto te faça feliz de verdade. Você não merece passar por isso! Você ainda vai ser muito feliz, Isabela. Você nasceu pra ser feliz!
Ele dá um beijo na bochecha dela, levanta e apaga a luz. Felipe sai do quarto de Isabela, desce as escadas e quando abre a porta da frente da mansão encontra Chay e Mel.
   — Ainda aqui? — pergunta Chay, sorrindo.
   — Estava com a Isabela. — responde Felipe.
   — Como ela está? — Mel olha com apreensão para o garoto.
Felipe dá de ombros ao responder.
   — Mal, né? Ela dormiu chorando.
O rosto de Mel fica entristecido.
   — Então o lance de cozinhar não funcionou?
   — Não, sem contar que a comida que a gente fez não ficou boa.
   — Entendi!
   — Já tava saindo. Boa noite!
   — Boa noite! — diz Chay.
Mel segura no braço de Felipe do mesmo modo que Isabela fez.
   — É... eu quero agradecer por tudo o que você está fazendo pela Isa. Desde que tudo aconteceu hoje de manhã, você não saiu do lado dela. Eu, como mãe, fico muito grata a você.
Felipe dá um leve sorriso.
   — Imagina! A Isabela é muito importante pra mim, isso é o mínimo que eu posso fazer por ela.
Mel sorri e solta o braço de Felipe. Ele acena para o casal e se afasta, indo para a sua casa. Chay e Mel trocam um olhar e entram na mansão.
   — Estou tão preocupada com ela! — exclama Mel sentando no sofá.
Chay fecha a porta e caminha até ela.
   — A Isabela vai ficar bem. Ainda é recente, por isso que ela tá sofrendo tanto.
   — É, acho que você tem razão. — Mel não consegue controlar o choro. — É que dói tanto ver minha filha sofrendo desse jeito. Eu daria qualquer coisa pra não a ver passando por isso.
Chay fica emocionado e abraça Mel.
   — Calma! Tudo vai ficar bem. Nós precisamos ser fortes para que ela fique forte.
Mel assente e enxuga as lágrimas.

Em sua cama, durante a madrugada, Isabela vira de um lado para o outro, o rosto agoniado enquanto ela tem um pesadelo:
Ela está na sala de alguma casa e Jonas fica em sua frente. Ele diz:
   — Eu não quero você, Isabela! Não quero mais namorar uma garota como você, uma garota que se corta!
Ela fica desolada e sem reação, Jonas sai da casa e Isabela cai no chão, chorando muito. Sua cabeça gira rapidamente enquanto ela levanta e vai para um quarto. Ela revira uma gaveta e encontra um canivete, segurando o objeto em sua mão esquerda perfura o interior do braço direito. Imediatamente, o sangue começa a escorrer pelo seu braço e pingar pelo chão. Assustada com o que fez, ela respira ofegante e percebe que tudo a sua volta está ficando escuro e sente o seu corpo cair no chão.
Isabela desperta, sentando rapidamente na cama, ofegante como no pesadelo. Ela passa a mão pelo cabelo, percebendo que algumas mechas se soltaram do coque e escorrem por sua costa. Fazendo um grande esforço, ela começa a respirar fundo e engole a saliva.
   — Foi só um pesadelo! Só um pesado! — ela tenta se acalmar com as palavras. Depois de alguns minutos, percebe que o seu sonho tinha profunda relação com a história de Fernanda. Lágrimas invadem o seu rosto no instante que a culpa toma o seu coração. — Eu não devia ter sido tão grossa com ela! Não devia.
Ainda chorando bastante, Isabela deita novamente. Quase uma hora depois, ela adormece com o rosto molhado de lágrimas.

Na manhã seguinte. Ainda sonolento Felipe senta no sofá da mansão de Chay e Mel ao lado de Vinícius, que está ao lado de Marina e Victor. Ele coça os olhos, tentando despertar, em vão. Seus pais, Sophia e Micael, se posicionam no mesmo sofá que Mel, Chay, Lua e Arthur.
    — Então, qual é o motivo da reunião matinal? — indaga Marina, mal-humorada por ter acordado cedo.
    — Nós temos uma proposta para a festa de aniversário de vocês. — responde Arthur.
    — Essa conversa não podia ser lá em casa? O aniversário só é meu e da Marina.
    — É aí que a nossa proposta entra. – diz Lua.
Marina e Victor se olham confusos. Mel resolve explicar.
    — Como o aniversário de vocês quatro são bem próximos, nós pensamos em fazer uma festa coletiva.
    — O quê? — Marina arregala os olhos. — Uma festa coletiva por quê? Vocês estão falindo, querendo poupar dinheiro? Não! Nada de festa coletiva. Já basta eu dividir o meu aniversário com o Victor, agora vocês querem que eu divida com o Vinícius e com o Felipe? — ela esbraveja.
    — Calma, Marina! — pede Arthur tranquilamente.
    — Nós não estamos falindo, filha. — diz Lua — Só que nós pensamos em fazer a festa de vocês na fazenda do Chay e da Mel, durante quatro dias, um dia para cada aniversariante. Entende?
Marina começa a se acalmar e pensa melhor na ideia. Como ela não diz nada Victor resolve dar a sua opinião.
   — Eu gosto da ideia! — ele sorri — Pode ser divertido.
Mel e Chay olham para o seu filho com uma pergunta silenciosa.
   — Eu também gosto! — diz Vinícius.
   — Felipe? — diz Sophia.
   — Hã, eu aceito também. — Felipe se esforça para falar e depois boceja.
   — Só falta você, Marina. — Arthur olha para a sua filha.
Marina continua pensando até que responde:
   — Tá, vai, pode ser.
   — Pode ser nada, nós queremos saber se você aceita, se não vai ficar triste ou chateada com a festa. — diz Lua.
   — Não, pensando bem eu gostei da ideia. Vai ser legal! — ela sorri ao pronunciar as palavras.
   — Tudo bem! — Chay diz. — Podem ficar tranquilos que nós vamos tratar de tudo.
   — Só precisamos saber se vocês têm algum pedido especial. — complementa Mel.
   — Pista de dança. — Victor diz automaticamente.
   — Coisas pra fazer de dia. — Marina opina.
   — Piscina liberada. — Felipe diz quase tombando no sofá.
   — Coxinha! — Vinícius sorri. Os pais começam a rir e Sophia diz:
   — Olha que não é filho do Micael.
Mais uma onda de risos invade a sala.
   — Uma perguntinha! — Marina fala entre as risadas. Os adultos se recuperam dos risos e olham para ela, aguardando a pergunta. — Os convidados vão ficar aonde?
   — Nós já pensamos nisso. — tranquiliza Micael — Vai ter hospedagem pra todos.
   — É, a fazenda é enorme, não precisam se preocupar com isso. — garante Mel.
   — Então tá. — Marina dá de ombros.
Felipe boceja novamente e diz:
   — Já acabou? Já posso voltar para casa e dormir?
Sophia e Micael sorriem.
   — Já, filho. Daqui a pouco nós estamos indo.
Felipe levanta.
   — Eu vou indo, encontro vocês lá em casa.
   — Tá bom! — Micael responde.
Felipe para a caminho da porta e olha para Mel.
   — Como a Isabela tá?
   — Como ontem. Hoje, mais cedo, o Chay a levou para passar a manhã da casa da Luíza e do Daniel.
Felipe dá um leve sorriso, não parecendo mais um zumbi.
   — Isso, com certeza, vai ser bom pra ela, o Nícolas vai animá-la. — ele se recorda do filho de Luíza e Daniel, o garoto é bem esperto e engraçado.
   — É, por isso achamos melhor levá-la para lá. — concorda Chay.
   — E também porque a  Luíza é psicóloga, ela pode ajudar nesse período difícil da Isa. — complementa Mel.
   — É verdade. — Felipe boceja — Ok, agora eu vou dormir. Quando ela chegar, fala pra me ligar.
   — Tudo bem! — diz Mel.
Felipe sai da mansão.

Victor está entre Marina e Vinícius, mas isso não impede de que os dois se olhem e sorriam um para o outro. Os adultos começam a conversar dos preparativos para a super festa de aniversário dos quatro. Vinícius inclina o tronco para frente e vê o rosto de Marina.
   — Vamos sair daqui? — ele pergunta à ela.
Marina não sabe nem para onde eles irão, mas confirma com a cabeça. Vinícius levanta do sofá e olha para os pais, eles estão tão entretidos que não reparam nele.
   — Vem! — ele estende a mão para Marina, que pega imediatamente. Victor olha para eles e diz:
   — Aonde vocês vão?
   — Não é da sua conta! — Vinícius responde sorrindo.
Marina manda um beijo para Victor e sai com Vinícius. Victor revira os olhos, dando um leve sorriso, e deita a cabeça no encosto do sofá. Assim que ele fecha os olhos, a imagem do rosto de Yasmin surge em sua mente e o seu sorriso aumenta ainda mais.
   — Minha coisinha! — ele sussurra para si.

Com as mãos nos joelhos, Isabela observa a sala luxuosa do apartamento de Luíza e Daniel, sentada em um sofá branco. Toda a decoração do ambiente é de tons claros e neutros, uma mesinha de centro tem algumas flores dentro de um vasinho, o tapete bege claro se estende entre os sofás, uma minúscula mesa redonda está posicionada ao lado do sofá em que ela está, sobre a mesa estão os celulares do casal, o telefone fixo e uma agenda.
Isabela ouve o barulho de xícaras se encostando vindo da cozinha, onde Luíza está preparando um chá para que elas conversem. Daniel desce as escadas sendo seguido de perto pelo filho, Nícolas. Isabela gira a cabeça na direção deles e sorri para o garotinho de cinco anos. Nícolas corre até o sofá e se joga ao lado dela, abrindo os braços em sua direção.
   — Bela!! — ele sorri, abraçando o pescoço de Isabela. Ele é o único que a chama por esse apelido.
   — Oi, Ni! — ela retribui o abraço.
Nícolas a solta, mas continua bem próximo a ela, sorrindo alegremente.
   — Você está mal, né? — ele pergunta quase afirmando.
Isabela olha incrédula para Daniel, que caminhou até o outro sofá e lá está sentado. Ele dá de ombros e ela volta a encarar Nícolas.
    — Do que você está falando? — Isabela pergunta sem acreditar que os pais dele foram capazes de contar uma coisa tão pessoal dela para o garoto, ainda mais porque isso é insignificante para ele. Para sua surpresa, Nícolas levanta do sofá e dá um tapa na próxima testa. Isabela franze a testa sem entender a reação dele. Nícolas diz:
   — A mamãe falou pra mim não falar isso das pessoas.
Isabela fica ainda mais confusa e por força do hábito corrige a frase de Nícolas em pensamento: “para eu não falar”. Nícolas volta a sentar no sofá e olha profundamente nos olhos de Isabela.
   — Desculpa, Bela! A mamãe me ensinou a não dizer esse tipo de coisas pras pessoas. É que o seu rosto já esteve mais bonito, por isso eu pensei que você tava mal. Não é que você tá feia, mas já foi mais bonita. A mamãe falou que é falta de educação falar que as pessoas tão feias.
Daniel ri baixinho da sinceridade do filho e Isabela fica aliviada ao constatar que ele não sabe do que ocorreu com ela.
   — Ah! — É o máximo que ela consegue dizer e acaba sorrindo por Nícolas ter reparado tão bem em seu rosto, agora mais cansado, com olheiras, olhos profundos e boca pálida. Ela acredita que ele notou também as imperfeições do seu rosto, pois antes todas elas estavam escondidas pela maquiagem. O máximo que Isabela fez foi pentear os longos fios de cabelo, colocar uma calça jeans e uma blusa regata branca, por isso não se espanta que Nícolas tenha reparado na sua aparência.
Nícolas desvia o olhar do rosto dela para visualizar os braços.
   — O que foi? — ele pergunta vendo o braço enfaixado dela. Isabela estremece e percebe que Daniel ficou mais sério em seu lugar. Ela se esforça, mas não consegue responder a pergunta do garotinho. Daniel resolve intervir para ajudá-la:
   — A Isabela se machucou, filho.
   — Aonde? — ele pergunta sem tirar os olhos do rosto dela.
   — Cozinhando! — responde Luíza entrando na sala com uma bandeja nas mãos. Ela coloca o objeto sobre a mesinha de centro ao lado do vasinho com flores.
   — Ela machucou o braço enquanto cortava abacaxi, não foi Isa? — Luíza pergunta, sorrindo tranquilamente como se não tivesse inventando uma mentira. Isabela afirma com a cabeça. Nícolas olha para a mãe, que senta ao seu lado no sofá.
   — Entendi.
Luíza e Daniel trocam um rápido olhar, curto, mas necessário para que ele entendesse que deveria agir.
   — Filho, vamos tomar café?
   — Oba! To morrendo de fome. — Nícolas pula do sofá e vai até o pai. Ele gira abruptamente e olha para Isabela. — Não vai embora, Bela!
Isabela sorri ao responder:
   — Claro, Ni!
Nícolas e Daniel vão para a cozinha. Luíza olha para Isabela, dando um sorriso acolhedor.
   — Você está bem? — ela pergunta — Eu sei que você deve estar cansada de ouvir isso, mas é importante pra mim.
   — Eu to bem, tia. — responde Isabela quase que automaticamente. Luíza suspira, frustrada com a resposta dela.
   — Isa, eu quero saber de verdade, como você está? — insiste Luíza.
Isabela pensa se deve mentir novamente, dizendo que está bem ou se abrir e contar a verdade para Luíza. A psicóloga espera a resposta dela com paciência. A adolescente decide desabafar, pois Luíza parece ser a única pessoa depois de Felipe para que ela consegue dizer exatamente tudo o que sente.
   — Eu... eu estou em cacos por dentro, tia. — ela ri sem o mínimo humor — e parece que por fora também, né?
Luíza pega nas mãos de Isabela, transmitindo apoio.
   — Pode me dizer o que você sente.
Isabela pensa um pouco novamente, tentando organizar todos os seus pensamentos e sentimentos para que possa contá-los para Luíza.
   — Ainda está doendo muito, me sinto perdida, confusa, sem rumo. Ele terminou comigo e levou tudo o que eu tinha, tudo o que eu era. Eu não sou a mesma sem ele, tia. Eu não consigo ser a mesma sem ele!
   — Posso te entender.
Isabela continua o desabafo.
   — Eu não consigo dizer isso tudo pros meus pais, porque eu sei que eles estão sofrendo bastante por me ver assim. Eu vejo a preocupação estampada nos olhos deles. Não quero dizer o que eu realmente estou sentindo para não deixá-los mais tristes e preocupados. Não quero que eles sintam o que eu estou sentindo.
   — Então você escolheu passar por tudo isso completamente sozinha? — pergunta Luíza.
   — É, quer dizer, eu não estou totalmente sozinha, o Felipe está sempre do meu lado. — ela dá um leve sorriso ao lembrar de Felipe. — Eu não sei se conseguiria sem ele!
   — Você fala muito o verbo conseguir. Acredita que pode não conseguir.
Isabela assente com a cabeça.
   — Você quer saber a minha opinião, como sua tia, não psicóloga? — Isabela confirma novamente e ela continua: — Eu acho que você tem que se amar primeiro, acho que tudo isso é um grande problema de amor próprio. Você não consegue fazer as coisas por conta própria, sempre precisa de alguém ao seu lado. Não é isso?
Isabela pensa um pouco, percebendo que a tia está certa, e começa a chorar.
   — Ei! Ei! Eu não quero te ver chorar. — diz Luíza abraçando Isabela. — Eu estou aqui pra te ajudar. Quero que você fique bem logo.
   — Só que eu não sei como fazer isso. Não sei, tia! A cada segundo que passa a dor aumenta junto com a saudade.
Luíza fica conversando com Isabela por mais alguns minutos, depois Nícolas volta e começa a brincar com a adolescente.

Os dias passam com rapidez. Isabela conseguiu convencer os pais a não ir mais para o colégio, já que passou de ano e não quer ver Jonas para não sofrer mais. Comovidos com o sofrimento dela, Chay e Mel aceitaram. Vinícius e Marina estão cada vez mais próximos e a um passo da paixão. Victor viu a fúria de seus pais novamente após se envolver em sua primeira confusão no Brasil: uma briga em uma casa noturna. Ele e Thiago conseguiram entrar por suborno, beberam muito e acabaram trocando socos com outros dois frequentadores da casa. Yasmin, que já estava chateada por ele ter pedido para ela não acompanhá-lo na noitada, ficou ainda mais enfurecida quando soube da briga, ainda assim, ajudou na recuperação dos machucados dele. Victor fez de tudo para conquistá-la de novo, mas ela manteve o pulso firme e cuidou dele sem dar ao menos um beijo. Felipe continuou ajudando Isabela a se recuperar do término, mas voltou a frequentar baladas com Victor e Thiago, porém na ocasião da briga ele não tinha ido. Se dependesse de sua vontade, Isabela não o deixava sair nenhuma vez com Victor e Thiago, mas não conseguia pedir isso a ele, mesmo sabendo que ele aceitaria por ela. Os preparativos para a super festa de aniversário de Vinícius, Felipe, Marina e Victor estão a todo o vapor, faltando apenas dois dias para o acontecimento.
Felipe, Victor, Thiago, Graziele e Yasmin curtem a noite na casa noturna que eles costumam ir. Felipe dança e troca algumas carícias com uma garota na pista, Thiago e Graziele conversam e ele bebe vodka.
   — Como você consegue beber isso? — ela pergunta acima da música.
   — Abrindo a boca e engolindo! — Thiago responde, rindo.
   — Mas é muito forte e nós somos tão jovens. — tenta argumentar Graziele.
   — Ah, Grazi, sem essa! — ele passa um braço nas costas dela, colando os seus corpos — Você não tem noção de como é bom um beijo com gosto de vodka.
Graziele entende o que ele quis dizer e o empurra um tanto quanto indignada.
   — Ei! Isso não! Nós somos a-mi-gos. Não vamos passar disso, ainda mais com você bêbado.
   — Eu não estou bêbado! — rebate Thiago com razão.
   — É o único motivo que eu vejo para você tentar me beijar.
   — Já pensou na hipótese de que eu me sinto atraído por você? — Thiago pergunta sem rodeios.
    — Você, traído por mim? — Graziele começa a rir — Por favor, para de falar besteira!
   — Qual é o problema? Você é legal e gostosa, por que eu não posso me sentir atraído por você?
   — Porque nós somos amigos, é difícil de entender essa parte?
   — A Yasmin e o Victor também são amigos.
   — Mas a nossa amizade não é do jeito da deles. Eu gosto de você como amigo, ficaria muito estranho se a gente ficasse.
   — Tudo bem, então. Já entendi que você não quer ficar comigo. — ele funga, fingindo um drama.
Graziele sorri.
   — Para com isso! — Ela aperta as bochechas dele e olha para os seus lábios.
   — Vai dizer que não dá vontade de beijar? — Ele percebe para onde ela está olhando.
Graziele solta Thiago imediatamente, dizendo:
   — Não viaja! — ela ri e se afasta.
Thiago acaba rindo também e olha para Felipe, que continua beijando a garota. Ele procura Yasmin e Victor, que estavam dançando separadamente, mas não encontra nenhum dos dois.
   — Vou caçar uma gata pra mim já que com a Graziele não vai rolar.

Victor joga Yasmin contra uma parede da casa noturna e prende o corpo dela com o seu.
   — Eu posso saber o que você está tentando fazer? — ela pergunta como se estivesse se divertindo com a situação.
   — Eu te quero! — Victor dá um beijo no ombro nu de Yasmin e ela não esboça nenhuma reação. Quando ele olha para os olhos dela, Yasmin ergue as sobrancelhas, dizendo:
   — Já acabou? Posso voltar a curtir a minha noite?
Victor fica de queixo caído, mas sua boca não se move.
   — Você não sente nada?
   — Eu deveria sentir? — rebate Yasmin, deixando Victor chocado com o seu autocontrole.
   — Deveria. Eu sinto toda vez que te vejo.
   — O que você sente?
Victor aperta a cintura de Yasmin ao responder.
   — Desejo, muito desejo.
Yasmin resolve provocá-lo ainda mais ao responder:
   — Desejo do quê?
Victor ri.
   — Para de se fazer de inocente, Yasmin. Sei que você não é assim. — ela não diz nada e ele resolve responder a pergunta dela. — Eu sinto desejo de te beijar, de te tocar, de te ter.
Yasmin não consegue controlar o arrepio em sua pele ao ouvir as palavras ditas por Victor e ele percebe.
   — Viu? Você sente.
   — Ok, eu sinto! Satisfeito? Pode me soltar?
   — Só depois de te beijar.
Victor tenta encostar nos lábios de Yasmin com os seus, mas ela vira o rosto e ele acaba beijando a bochecha dela.
   — Por que você tá agindo assim? — ele pergunta impaciente com a atitude dela.
   — Eu já falei mais de cem vezes porquê.
   — Então não vai se importar de dizer mais uma. — Victor abandonou o espírito de conquistador e conversa sério com Yasmin.
   — Você não me respeita, Victor!
   — Eu não te respeito? Você ficou maluca? — O desejo cede espaço para a raiva no peito de Victor.
   — É isso mesmo! Você falou para eu ficar em casa aquele dia e foi cair na gandaia com o Thiago.
   — Eu só disse aquilo porque queria curtir.
   — E desde quando eu impeço a sua curtição?
   — É que eu não queria que você me visse com outras. Pronto falei!
Victor se afasta um pouco de Yasmin, mas continua impedindo a saída dela. Ela fica ainda mais brava.
   — Eu já vi você ficando com outras, caso não lembre. Eu mesma já fiquei com outros meninos na sua frente. Isso nunca foi problema pra gente, Victor!
   — Eu sei, mas a Marina não gosta nem de pensar no Vinícius beijando outra garota na frente dela, daí eu pensei que você também poderia não gostar.
   — Eu não sou a Marina! — esbraveja Yasmin.
   — Mas é menina.
   — Eu sou diferente das outras meninas. Não vou dizer que é a coisa mais agradável ver você com outra, mas eu não me importo. Não vou tirar a sua liberdade, porque não quero perder a minha.
   — Eu só pensei que você poderia estar se magoando, não quero te ver como a Isabela está agora.
Yasmin sente um arrepio mais sombrio só de pensar no estado de Isabela, mas prefere empurrar essa ideia para mais fundo em sua mente.
   — Eu não sou tão frágil como a Isabela.
   — Mas é uma menina. — repete Victor.
   — Você só tem esse argumento? — Yasmin acaba rindo ao falar. Victor faz o mesmo.
   — Talvez, sim.
   — Olha, eu fiquei mais brava ainda com você por causa da briga.
Victor revira os olhos.
   — Ainda essa briga? Você tá parecendo os meus pais, nunca se esquece dessa maldita briga.
   — Eu não me esqueço mesmo! Poxa, você foi brigar logo quando eu não tava junto?
   — Isso não é bom? Pelo menos você não ia se machucar.
   — E também não ia bater.
Victor começa a rir e Yasmin não entende o motivo.
   — Você queria brigar junto comigo, Yas?
   — Dependendo da causa, sim. Ou então eu ia tentar te segurar, impedir que você brigasse.
   — É, acho que a segunda ideia é mais sensata. Você com certeza conseguiria me impedir.
   — Isso é uma piada? — ela pergunta desconfiada.
   — Não! — responde Victor com sinceridade.
   — Hum. — Yasmin ainda não se convence.
Victor acaricia o cabelo dela, dizendo:
   — Mesmo com o seu jeito toda pra cima, animado, você consegue me acalmar. — ele dá um leve sorriso — Essa briga foi a primeira que eu me envolvi no Brasil. Se eu ainda estivesse nos Estados Unidos já teria me envolvido em umas três pelo menos.
   — Você era tão terrível assim?
   — Ainda sou, mas com você eu tento me acalmar.
   — Por que comigo?
   — Sinceramente?
   — Totalmente.
   — Porque eu não quero que você me veja perdendo a cabeça, não quero que você me veja brigando com alguém. Você não precisa ter essas lembranças de mim.
Yasmin sorri.
   — Acho que embaixo desse pegador idiota tem um príncipe.
   — Não exagera! – Victor ri.
   — É sério! — Yasmin diz com firmeza.
   — Digamos que você tenha razão, todo príncipe tem uma princesa.
   — E...?
   — Quer ser a minha? — pergunta Victor mais sério do que Yasmin esperava e queria.
   — Isso não é um pedido de... você sabe o que, é?
   — Não, claro que não! Foi mal se você pensou que fosse. — Victor explica rapidamente.
Yasmin solta o ar que estava segurando sem perceber.
   — Nossa, que alívio!
Victor ri.
   — Você realmente não é igual as outras meninas. Não gostou de pensar que eu estava te pedindo em... você sabe o que. — ele ri.
   — É claro, só de pensar em namorar — ela pronuncia a palavra com um certo esforço — eu me sinto tonta. — Eles riem.
   — É por isso que eu te amo!
Victor coloca as mãos na cintura de Yasmin.
   — Você me ama mesmo?
   — Sinceramente? — ele segura um riso.
   — Totalmente. — ela também prende uma risada.
   — Eu estou indo no caminho de te amar.
   — Que esse caminho seja bem grande! Não quero você me amando, isso iria, bem, dificultar nossa amizade. — ela ri.
   – É, e você me ama?
Yasmin ri, dizendo:
   — Deus me livre!
Victor também ri e olha para os lábios dela, mas volta a fitar os seus olhos.
   — Posso te beijar agora ou você vai virar o rosto de novo?
   — Não prefere descobrir sozinho?
Victor dá um leve sorriso e se aproxima de Yasmin. Ele acaricia a bochecha dela e em seguida a beija profundamente.

Deitado de maneira relaxada no sofá de seu apartamento com Anelise, Bernardo troca de canal em busca de algo interessante. Indeciso, não tem certeza se deve ou não fazer o que está pensando. Ele ouve o som de um baque vindo da cozinha e um xingamento pronunciado por Anelise. Curioso e preocupado, ele vai até o cômodo. Anelise está agachada no chão, limpando algo com um pano.
   — O que aconteceu, Ane?
Anelise tira o cabelo do rosto para olhar para ele.
   — Derrubei a panela com o macarrão que eu tava fazendo.
   — Você tá bem?
Anelise confirma, mas seu rosto não condiz com a resposta. Bernardo agacha ao seu lado.
   — Você tá bem mesmo, amor?
Anelise joga o pano com força no chão.
   — Eu to com raiva, Bê! Eu nunca tento cozinhar, quando tento derrubo a panela? Pelo amor de Deus!
Bernardo dá um leve sorriso e afaga o rosto dela.
   — Relaxa, amor! Quer que eu te ajude a preparar outro macarrão?
A proposta a faz rir.
   — Você é pior do que eu na cozinha, Bê.
   — Só estava tentando te ajudar. — Bernardo sorri carinhosamente.
   — Me ajuda a limpar essa sujeira toda que já está bom.
Bernardo dá um selinho em Anelise e começa a limpar o chão. Minutos depois, eles sentam juntos no sofá. Bernardo toma coragem de tocar no assunto que estava pensando anteriormente.
   — Ane?
   — O que foi? — ela olha para ele.
Bernardo se arruma no sofá, ficando mais sério. Anelise aguarda a resposta, começando a ficar curiosa devido à postura dele.
   — Eu... eu quero te dizer uma coisa, ou melhor, te pedir uma coisa.
   — Pode falar.
   — Nós já estamos morando juntos faz um bom tempo e até agora nós continuamos apenas namorados. Eu não te considero mais só a minha namorada, te considero a minha mulher, a minha vida. Por isso queria oficializar a nossa relação. — ele respira fundo — Anelise, quer se casar comigo?
Anelise fica sem fala e expressão. Bernardo continua fitando-a com atenção e começa a ficar assustado com a reação dela.
   — Casar com você? — Anelise começa a falar rapidamente. — Nós começamos a morar juntos para ver se dava certo, porque nós namoramos desde a nossa adolescência e tínhamos medo de casar e não dar certo. Compramos esse apartamento, trazemos a nossas coisas e eu te pergunto, deu certo? Olha o nosso apartamento! Essa sala está toda bagunçada, o nosso quarto é a mesma coisa, a cozinha só fica limpa quando a situação já está crítica, o banheiro é o único lugar higiênico do apartamento. Nesse tempo nós não conseguimos apreender a cozinhar, a limpar a casa direito nem lavar roupa. Deu certo?
Bernardo fica perplexo com a resposta dela, o medo da negação trancando seus canais respiratórios. Anelise pega em uma mão dele e sorri.
   — Deu certo, sim. Esse tempo só confirmou o que eu já sabia. Mesmo com todos os nossos pequenos problemas, nós continuamos unidos. A cada dia que passa eu te amo mais e é óbvio que eu quero me casar com você.
Bernardo continua imóvel e é Anelise que começa a ficar assustada.
   — Bê?!
Bernardo sorri com os olhos ficando cheios de lágrimas.
   — Eu te amo! Te amo mais do que tudo.
Ele a puxa e beija os seus lábios.
   — Peraí! Peraí! Tá faltando uma coisa. — Bernardo fala e levanta. Ele vai até o quarto do casal e volta depois de quase dois minutos. — Uma coisinha pra oficializar o pedido.
Bernardo pega na mão de Anelise a puxando para cima. Ela levanta e ele se ajoelha em sua frente. Abrindo uma caixinha, ele diz:
   — Anelise, minha primeira e única namorada, quer se casar comigo?
   — Sim! Sim! Sim! — ela responde sorrindo.
Bernardo pega um dos dois anéis de dentro da caixinha e coloca no dedo anelar de Anelise. Ela sorri, completamente feliz.
   — Minha vez! — Anelise pega a caixinha das mãos dele enquanto Bernardo levanta.
Surpreendendo o seu noivo, Anelise ajoelha na frente dele.
   — Bernardo, meu primeiro e único namorado, quer ser o meu esposo?
Bernardo sorri ao responder igual a ela:
   — Sim! Sim! Sim!
Anelise ri e coloca o outro anel dourado no dedo anelar direito de Bernardo. Ela levanta e cruza os braços em torno do pescoço dele.
   — Te amo! Não vejo a hora de subir no altar e me unir matrimonialmente a você.
   — Eu também estou aguardando ansiosamente te ver entrando na igreja vestida de noiva e dizendo sim para mim.
   — Eu sempre vou dizer sim a você. — ela sussurra próxima a boca dele e eles se beijam.

As horas passam e a madrugada chega. Como nos últimos quinze dias, Isabela chora silenciosamente em seu quarto. Lembranças de Jonas e dos momentos passados com ele  invadem sua cabeça. Com o coração apertado de saudade, ela chora sem parar. Ao lado da cama, sobre uma mesinha de cabeceira, seu celular recebe uma nova mensagem. Isabela pega o aparelho e lê: “Ainda está acordada? Quero te ver” de Felipe. Ela responde: “Sim, pode vim!” e Felipe manda de volta: “Ok, daqui a pouco chego aí!”
Sentindo um alivio imenso por Felipe estar chegando, Isabela coloca o celular de volta na mesinha de cabeceira e levanta da cama. Tomando cuidado para não fazer barulho e acordar seus pais e Vinícius, desce as escadas e abre a porta da mansão. Isabela olha para o jardim e mais a frente o grande portão preto. Caminhando em passos curtos e lentos, ela vai até a grama e senta ao lado de um pequeno arbusto. Mesmo com o ar puro da madrugada, o desespero em seu peito não passa e lágrimas continuam correndo por seu rosto macio. Nos dias que se passou, Isabela foi ficando cada vez mais abatida, as olheiras em seus olhos permaneceram e a profundidade em torno destes cresce a cada dia. Seus lábios estão mais pálidos e pelinhas se acumulam conforme ela morde tentando se acalmar. A pele de seu corpo está mais fina, um pouco ressecada e frágil. A cicatriz que se formou no interior de seu braço, faz com que ela se lembre a todo o momento do que fez, aumentando ainda mais a sua dor interna.
Felipe entra em seu campo de visão ao parar no portão. Antes que ele toque o interfone, Isabela levanta e corre até ele.
   — Ainda bem que você veio! — ela diz aliviada por não estar mais sozinha.
Felipe dá um leve sorriso, mas fica preocupado ao ver as lágrimas no rosto dela. Isabela abre o portão e ele a abraça no momento em que pisa na mansão. Se sentindo protegida, como sempre se sente nos braços de Felipe, Isabela volta a chorar.
   — Ei, calma! Eu estou aqui. — Felipe a aperta ainda mais em seus braços. Os dois fecham o portão e entram na casa. Sem fazer barulho, sobem para o quarto de Isabela.
Felipe observa a garota deitar em sua cama e esconder o rosto no travesseiro, apenas os ombros balançam conforme ela chora. Se sentindo no dever e reconfortá-la, ele se aproxima da cama e se ajoelha ao lado, ficando com o rosto bem próximo do cabelo de Isabela. Passando a mão nas costas dela de maneira carinhosa, Felipe diz:
   — O que você tá sentindo?
   — Saudade. — Isabela responde com a voz abafada no travesseiro.
   — Vem cá!
Felipe ajuda Isabela a se levantar e a leva até o espelho. Ela tenta voltar para a cama, evitando o próprio reflexo. Felipe a segura fortemente em sua frente, com a imagem dos dois refletidos no espelho. Isabela é bem menor do que Felipe e sua cabeça fica poucos centímetros abaixo do queixo dele, seus braços e pernas estão mais finos e seu rosto abatido. Atrás do corpo frágil dela, Felipe está firme com seu corpo definido e alto para a pouca idade.
   — Olha como você está!
Isabela ergue o olhar dos seus pés descalços e encara seu reflexo abatido. Felipe continua:
   — Você acha que é assim que eu quero te ver? Não, não é.
Ela continua encarando o seu rosto, sem acreditar no que está vendo. Os seus olhos focam nas bochechas que estão bem mais definidas devido ao abatimento.
   — Eu estou horrível! — ela exclama em choque.
   — Não, você não tá horrível, só está abatida.
Isabela se aproxima mais do espelho, quase colando o nariz nele. Ela observa cada milímetro de seu rosto, vendo sua pele seca, as olheiras, os olhos profundos, o estado da boca, tudo. Ainda perplexa, ela vira e olha para Felipe.
   — Eu estou acabada, estou um monstro.
Felipe ri do exagero dela.
   — Claro que não. Eu só queria que você visse como você tá mal, para que queira melhorar.
   — Eu quero melhorar, mas não consigo.
   — Para de dizer que não consegue, Isa! Você é linda, inteligente, rica, qual é o problema?
Isabela abraça Felipe novamente e chora no peito dele.
   — Eu não tenho o Jonas!
   — Mas você tem você mesma. — Ele toma o rosto dela em suas mãos — Você é a garota mais incrível que eu já conheci, não precisa de um garoto para ser feliz. Você não precisa do Jonas para sorrir, Isabela!
   — Eu queria acreditar nisso! — ela diz aos prantos.
Felipe não diz nada e continua olhando para o rosto dela, pensativo. Isabela fecha os olhos e afunda o rosto no peito dele de novo. Depois de alguns minutos, Felipe a solta e se afasta um pouco.
   — Tive uma ideia! — diz ele mais animado.
   — Que ideia? — pergunta Isabela enxugando as lágrimas.
   — A Yasmin as vezes faz uma noite de meninas lá em casa com a Malu, você sabe, né?
Isabela assente.
   — Sei, ela faz isso pra dar uma arrumada na aparência da Malu, já que ela não se importa com isso.
   — Então, é isso que eu vou fazer com você!
O queixo de Isabela cai.
   — Como é?
   — Isso mesmo! — Felipe se aproxima de Isabela e pega na mão dela. – Vem comigo!
   — Não, eu não quero Felipe!
   — Você não tem querer, essa noite você é minha.
Felipe arrasta Isabela para o closet dela e a senta em uma cadeira acolchoada. Em seguida ele abre um dos guarda-roupas embutidos e procura por alguma roupa mais fashion.
   — Eu não entendo nada de moda, então se você quiser me dar uma mãozinha. – ele pede, sorrindo.
   — A ideia foi sua, se vira. — Isabela diz sem humor nenhum.
Felipe revira os olhos enquanto sorri novamente e continua procurando algumas peças. Ele joga uma calça jeans de lavagem clara com alguns rasgos na altura do joelho e uma regata vermelha lisa na cabeça de Isabela. Ela tira as peças de seu rosto de má vontade.
   — Veste isso aí! — diz Felipe saindo do closet. Ele fecha a porta, deixando Isabela sozinha.
   — Eu estou muito bem com o meu pijama! — ela eleva a voz para que ele ouça do lado de fora.
   — Veste logo, Isabela! — Felipe se diverte e senta na cama.
Enquanto Isabela troca de roupa, Felipe começa a procurar maquiagem na penteadeira retrô que ela tem. Isabela sai do closet vestida com a calça jeans e a blusa que ele escolheu. Felipe olha para ela e sorri.
   — Linda! Agora senta aqui. — ele aponta para o banquinho acolchoado que está na frente da penteadeira. Isabela senta e lembra a última vez que foi maquiada ali por Yasmin.
   — Olha, eu recomendo que você mesma se maquie, porque escolher roupa é uma coisa, maquiar é outra.
   — Eu tenho outra opção? — pergunta Isabela.
   — Não.
   — Ok! — Isabela pega alguns itens de maquiagem nas gavetas da penteadeira.
   — Oh, eu quero aquelas maquiagens chiques.
Isabela revira os olhos.
   — Tá.
Devido a prática que tem, Isabela faz uma maquiagem bem feita em poucos minutos. Com a ajuda dos produtos, ela conseguiu esconder as olheiras, amenizar os olhos profundos e hidratar os lábios.
   — Tá bom? — ela gira e olha para Felipe que esteve sentado o tempo todo na cama.
   — Ah, agora sim! — ele diz levantando da cama.
   — Ótimo! Agora já posso tirar tudo isso e me preparar pra dormir?
Felipe começa a rir e ajuda ela a se levantar.
   — Nossa, como você é engraçada. — ele ironiza. — Nós vamos sair, Isabela!
   — Como é que é? — Isabela arregala os olhos.
   — É claro, você achou que eu ia fazer toda essa super produção para nada? Nós vamos sair, curtir a madrugada carioca.
   — Nem pensar! Meus pais vão me matar se eu fizer isso.
   — Eles vão é me agradecer, faz quinze dias que você não sai de casa.
   — Porque eu tenho tudo o que eu preciso aqui. — ela rebate.
   — O que você precisa agora é sair e é isso que a gente vai fazer. — Felipe começa a arrastar Isabela para a porta do quarto. Vendo que não vai ter outra saída, Isabela diz:
   — Peraí! Deixa eu pegar o meu celular, pelo menos.
   — Ok! — Felipe solta a mão dela.
Isabela vai até sua cama, pega o seu celular na mesinha de cabeceira e volta para a porta. Os dois descem as escadas e saem da mansão. Felipe para no portão e tira o celular do bolso.
   — O que você vai fazer? — pergunta Isabela.
   — Vou ligar para o Thiago.
   — O Thiago vai com a gente?
   — Ele adora essas maluquices. — responde Felipe ligando para o amigo.
Isabela pensa rápido e diz:
   — Fala para ele chamar a Grazi.
   — Tá.
Felipe liga para Thiago, chama ele e Graziele e desliga.
   — Pronto! Daqui a pouco ele vem pegar a gente com o motorista.
   — Motorista?
Felipe sorri.
   — O Thiago tem o motorista da família a disposição dele durante a noite.
   — Nossa, não sabia que a Fernanda e o Mateus eram tão liberais. — diz Isabela com sinceridade.
   — Mas parece que são, agora vamos esperar ele lá fora. — Felipe pega na mão de Isabela e com a outra mão livre abre o portão.
Isabela não se move e segura na mão dele, tentando impedir que ele saia.
   — Não é perigoso a gente ficar aí fora?
Felipe olha para ela como se não acreditasse na pergunta que ela fez.
   — A gente tá no condomínio, Isa. Só entra aqui quem é morador ou quem vai fazer alguma visita. Acho meio difícil algum visitante aparecer essa hora e nenhum morador oferece risco pra gente.
Isabela pensa no que ele diz e chega a conclusa de que ele está certo.
   — Ok, vamos esperar lá fora então.
Os dois saem e ficam parados na calçada. Inconscientemente Isabela se aproxima de Felipe e ele passa um braço na cintura dela. Ela apoia a cabeça no peito dele e inspira o ar fresco da madrugada. Junto com o ar, Isabela inala um cheiro e franze o nariz. Vira a cabeça e cheira a camisa de Felipe, reconhecendo a origem do cheiro desagradável ao seu olfato.
   — Você está com um cheiro ruim. — ela informa a ele.
   – Sério? — pergunta Felipe. — Eu vim direto da balada, deve ser suor.
    — Não, é um perfume de menina muito ruim. — explica Isabela.

Felipe dá um leve sorriso.
   — Deve ser da menina que eu fiquei.
   — Da próxima vez escolha uma com um perfume mais agradável, não esse horroroso.
Felipe abaixa a cabeça e cheiro o pescoço de Isabela.
   — Tipo o seu? — ele pergunta ainda com o rosto perto do pescoço dela.
   — O meu é Chanel nº 5, meu querido.
   — Ui, menina rica é outro nível. — Felipe ri e Isabela faz o mesmo.
Felipe olha para ela, agora bem vestida e maquiada e até com um astral melhor.
   — Você nem tá parecendo aquela garota de quando eu cheguei aqui.
Isabela abaixa o olhar, fitando o asfalto.
   — Acho que isso é bom.
Felipe aperta ainda mais a cintura dela.
   — Isso é muito bom! — ele dá um beijo no topo da cabeça de Isabela.
Um carro para na frente dos dois e o vidro negro do passageiro é aberto.
   — E aí, vão ficar aí? – Thiago sorri para eles.
   — Pensei que fosse demorar mais pra se arrumar, princesa. — Felipe diz para o amigo, rindo.
   — Vai se f*der, Felipe!
   — Ei, tem uma dama aqui! — Felipe diz e olha para Isabela.
   — Dama que também fala palavrão, agora vamos entrar logo antes que eu me arrependa.
Felipe ergue as sobrancelhas na direção dela, surpreso com a mudança rápida de seu estado de espírito. Os dois entram no banco de trás do carro.
   — Pra onde a gente vai? Aquela casa noturna de sempre? — pergunta Thiago sobre o ombro.
   — Não, quero curtir em um lugar mais tranquilo, vamos pra Copacabana. — responde Felipe.
    — Como queira. — Thiago olha para o motorista. — Vamos pra Copacabana.
O carro acelera e eles saem.

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