Imagine ChaMel 4ª Temporada (Filhos) - Capítulo 33: Isabela se corta em espelho e é levada para hospital



Imagine ChaMel - Filhos

Isabela deita no tapete e continua a chorar compulsivamente. Vera, a governanta da mansão, vai até a sala e se aproxima de Isabela. 
   — Minha filha! — ela se lamenta e abraça Isabela, a garota não consegue parar de chorar. O desespero sufocando o seu peito, tornando difícil para ela respirar. A governanta tenta consolá-la:
   — Eu ouvi tudo lá de dentro. Desculpa, mas vocês estavam gritando, não deu para deixar de ouvir. Vai passar, minha estrelinha. Tudo isso vai passar!
   — Eu não consigo sem ele, Vera. Eu não consigo!
Vera aperta Isabela em seus braços, tentando transmitir forças para a garota.
   — Ei! Não diz isso. Você é mais forte do que acredita. 
Isabela não diz nada e continua chorando compulsivamente nos braços da governanta. Vinícius desce as escadas, ainda sonolento. Ele para ao ver Vera com Isabela em seus braços. 
   — O que houve? — ele pergunta.
   — O Jonas e a Isabela terminaram. — informa Vera.
   — E você tá chorando, Isa? Isso é pra comemorar! — Vinícius sorri, sem perceber o estado da irmã.
Isabela vira o rosto na direção dele e só então ele vê como ela está péssima. 
   — Ele me deixou!
Vinícius caminha até ela, assustado com o jeito da irmã. 
   — Ei! Fica calma. — ele diz com a preocupação estampada em seu rosto. Vera diz para Isabela: 
   — Acho que você já tem alguém pra cuidar de você, estrelinha. — Ela olha para Vinícius. — Ela está precisando de forças, não de julgamentos. 
Vinícius responde:
   — Tá, pode deixar.
Vera dá um beijo no topo da cabeça de Isabela e levanta, indo para a cozinha. Vinícius puxa a irmã para o sofá e abraça ela
   — Quer me contar o aconteceu? 
   — Foi ele, Vini. — Isabela não para de chorar, tornando sua fala difícil de ser interpretada. — Foi o com o Jonas que o Felipe brigou ontem.
Vinícius franzi a testa, em dúvida.
   — Como assim?
   — O Vinícius pegou...
Vinícius interrompe e corrige a irmã:
   — Vinícius sou eu.
Isabela continua a soluçar.
   — O Felipe pegou o Jonas com outra garota, dai eles brigaram. Depois o Felipe ameaçou o Jonas e disse pra ele contar a verdade para mim. Hoje o Jonas veio aqui, me contou tudo, mas eu o perdoei.
   — Você fez isso? — Vinícius se lembra do Vera disse. — E aí, o que aconteceu depois?
Isabela começa a chorar ainda mais, dizendo:
   — O Jonas disse que não me quer mais! 
O ódio começa a tomar conta do corpo de Vinícius e ele levanta, deixando Isabela no sofá.
   — Eu vou matar aquele filho da p*ta! — Ele soca a parede, imaginando o rosto de Jonas. 
   — Ele falou que não me ama, Vinícius. Esse tempo todo ele nunca me amou!
Conforme Isabela vai falando, Vinícius vai ficando com cada vez mais ódio. Ela fica cada vez mais desesperada, conforme vai revivendo o término. Vinícius olha para a irmã e diz:
   — O que eu faço pra você melhorar? Quer que eu chame a Yasmin ou você prefere o Felipe?
   — Não, eu não quero nada! Só quero ficar sozinha. — ela levanta e sobe para o seu quarto. Vinícius senta no sofá e pega o telefone. 
   — Alô?
Felipe responde do outro lado da ligação:
   — Oi, Vinícius. 
   — Cara, você precisa me ajudar. 
Ao ouvir o tom preocupado da voz de Vinícius, Felipe pensa automaticamente em Isabela e diz:
   — O que houve?
   — O Jonas veio aqui em casa e terminou com a Isabela.
Felipe não consegue segurar um leve sorriso.
   — Você quer dizer que a Isabela terminou com o Jonas, né?
   — Não, foi o Jonas que terminou mesmo.
Felipe sente um arrepio na espinha e fala com a voz mais grave:
   — Como assim? Ele a traiu. 
   — Eu já tô sabendo de tudo e a Isa também, mas ela o perdoou. 
Felipe bufa do outro lado da linha, sem acreditar na atitude de Isabela.
   — E aí?
   — Ele terminou com ela. Parece que não foi o melhor término do mundo, ele disse coisas fortes pra ela.
   — Tipo? — Felipe incentiva Vinícius a prosseguir. 
   — Ele falou que não a ama, que não quer mais ela. 
Felipe morde o lábio para descontar a raiva. 
   — Eu devia ter batido mais naquele idiota. 
Vinícius concorda com o amigo, dizendo:
   — Espancado até a morte.
   — Como a Isa está?
   — Péssima. Péssima de verdade, eu estou muito preocupado com ela.
   — Seus pais estão aí?
   — Não, estamos sozinhos em casa.
   — A Mel tinha que falar com ela agora.
   — Tá bem acho, vou ligar pra ela. 
   — Mais tarde eu pareço aí. Acho que ela não quer me ver agora. — fala Felipe.
Vinícius concorda com o amigo novamente.
   — Ah, não mesmo. Do jeito que ela é deve estar com raiva de você.
   — Prefiro nem pensar nisso. 
   — Pois é. Agora ela está lá no quarto, pediu pra ficar sozinha.
   — É bom ela ficar sozinha pra pensar um pouco.
   — Concordo. Vou ligar pra minha mãe. Até mais tarde!
   — Até! Qualquer coisa me liga.
Eles desligam e Felipe joga o celular na cama. 
   — Que raiva! Que raiva! — Ele soca a parede. — Eu vou matar o Jonas. Matar!
Felipe continua bufando no quarto. 

Isabela está desconsolada em seu quarto. Seu coração pulsa a toda velocidade, suas mãos suam de medo, a angústia toma conta de seu corpo, a deixando sem ar. 
   — Por que, meu Deus? Por quê? — Ela soluça enquanto se esforça para mandar ar para seus pulmões. — Por que a dor tem que ser tão grande? 
Isabela levanta, passando a mão no cabelo. Soluçando, se arrasta até seu notebook, pega o objeto e senta na cama. Com as mãos trêmulas, liga o aparelho e entra no Google.
   — Como aliviar a dor psicológica. — ela digita.
Lágrimas escorrem por seu rosto, pingando nas teclas do notebook. Assim que o site carrega, Isabela lê o título do primeiro link: "Dicas para aliviar a dor da traição". Ela começa a ler:
   — Elabore o luto, perdoe por inteiro, não se culpe, não alimente a autocompaixão. — Ela interrompe a leitura, fechando o site. — Dicas ótimas na teoria, quero coisas que ajudem agora. — O choro continua tornando sua voz mais aguda e as mãos, trêmulas. — Eu preciso de alguma coisa que faça passar a dor agora. 
Isabela lê o segundo link: "Como aliviar uma dor", mas é o terceiro link que chama a sua atenção, praticamente piscando na frente de seus olhos. Uma palavra se destaca entre as outras: "Automutilação". Imediatamente, ela se lembra das matérias que já leu sobre meninas que se cortam para aliviar a dor. Digita na caixa de pesquisa "automutilação" e aperta enter. Várias imagens de cortes surgem na tela do notebook e ela entra no primeiro link. Isabela lê algumas maneira de se automutilar e começa a pensar no assunto. 
   — Falam que isso alivia a dor. — ela se recorda dos depoimentos que já leu.
Isabela coloca o notebook de lado e levanta da cama, procurando algum objeto pontiagudo. Ela caminha até o banheiro e se olha no espelho. Sua aparência está péssima, sua boca está pálida, seus olhos estão vermelhos e com rímel escorrido. Uma ideia passa por sua cabeça. 
   — O espelho! É claro.
Ela permanece se olhando no espelho por alguns minutos, tomando coragem. Lentamente, Isabela começa a erguer o punho, os braços inseguros e a mão fechada. Ela pisca, tentando deixar a visão mais nítida, já que as lágrimas embaçam sua visão. 
   — Por você, Jonas. — ela sussurra.
Com um único golpe, Isabela quebra o espelho com o punho. Um caco de vidro permanece em sua pele e ela observa o sangue começar a escorrer por seu braço, absorvida por seus pensamentos. Com a outra mão, tira o caco e o o utiliza para perfurar ainda mais o braço, fazendo um corte na parte interna. O seu antebraço fica repleto de sangue e ela joga o caco no chão. 
A porta do quarto é aberta rapidamente e Vinícius entra seguido por Vera. 
Ele olha pelo quarto, chamando por ela:
   — Isabela!
Isabela acorda de seu transe e olha para o braço ensanguentado. Ela solta um grito e Vinícius corre até o banheiro. Ele paralisa ao ver a cena dentro do cômodo. Os pedaços do espelho quebrado se espalham pelo chão se misturando com o sangue de Isabela que pinga no piso branco. A adolescente olha para o irmão com os olhos cheios de lágrimas.
Ela treme de pânico e diz baixinho:
   — Eu... eu não sei o que eu fiz.
Vera chega atrás de Vinícius e coloca as mãos na boca. Ele olha para a governanta, dizendo:
   — Nós precisamos levá-la para um hospital. Agora!
   — É claro! Vou chamar o motorista, enrola o braço dela em um pano e desça. 
A senhora sai do quarto rapidamente, ainda em choque. Vinícius olha para a irmã, perplexo, e pega a toalha de rosto cor de rosa que está pendurada ao lado da pia. 
   — Ai meu Deus! — ela diz, nervoso.
Isabela continua chorando e tremendo, sem acreditar no que fez. Vinícius coloca o braço dela embaixo da pia e liga a torneira. A água começa a lavar os ferimentos, mas o sangue continua a escorrer. 
   — Não vai parar. — Ele conclui.
Vinícius fecha a torneira e envolve o braço da irmã com a toalha. 
   — Vem, vamos! — Vinícius diz enquanto passa um braço pelas costas de Isabela e eles saem do banheiro e em seguida do quarto dela. 
Isabela desce as escadas em estado de choque, o olhar parado e a boca entreaberta. Vinícius respira ofegante ao lado dela, cada vez mais nervoso e preocupado com a irmã. Eles saem da mansão e entram no carro da família que já estava a espera deles. Vera está no banco da frente ao lado do motorista e eles partem em alta velocidade para o hospital.
Vera diz:
   — Você deve ligar para os seus pais. — Vinícius responde:
   — Na pressa, eu acabei deixando o meu celular em casa. 
O motorista pega o aparelho no bolso e entrega a Vinícius.
   — Usa o meu celular.
O garoto pega com as mãos trêmulas e disca o número de sua mãe. Mel atende.
   — Oi, Maciel!
   — Mãe, sou eu. — diz Vinícius.
   — Vinícius? O que você tá fazendo com o celular do motorista?
   — Mãe, nós estamos indo para o hospital.
Mel se arrepia.
   — Como assim? O que aconteceu?
Vinícius tenta explicar rapidamente.
   — Nós encontramos a Isabela no banheiro com o braço ensanguentado. 
Mel cai no sofá da sala do apartamento de Hérica, pálida feito papel. Chay observa a reação da esposa e fica preocupado. Ele se aproxima dela, dizendo:
   — O que houve, Mel?
Ela estica o celular para ele, dizendo:
   — Eu não consigo falar. 
Chay pega o celular e coloca na orelha.
   — Aqui é o Chay.
   — Pai, sou eu, Vinícius. Nós estamos indo para o hospital porque a Isabela se machucou.
O corpo de Chay fica tenso.
   — Como assim? É sério?
   — A gente a encontrou no banheiro, o espelho estava quebrado e o braço dela ensanguentado. — Ele olha para o pano no braço de Isabela, que está manchado de sangue. — Não para de sangrar. 
Chay fica assutado e pega as chaves no bolso da calça.
   — Tá, nos encontramos no hospital. Vocês estão indo para aquele perto do condomínio, né?
Vinícius confere o caminho no GPS e responde.
   — Sim.
   — Tudo bem. Nos encontramos lá.
Chay desliga e devolve o celular para Mel. Ela levanta, tentando ficar mais calma.
   — Vamos! — ela diz. 
Os dois saem do apartamento de Hérica sem explicar direito o que está acontecendo. 

Durante o caminho para o hospital, Chay pensa rápido e toma uma decisão. Chay diz:
   — Mel, liga para a Fernanda. 
Mel franzi a testa, sem entender.
   — Pra quê?
   — O Vinícius falou que eles encontraram a Isabela no banheiro, que o espelho estava quebrado e o braço dela ensanguento. Acho que a Fernanda pode ajudar.
Mel entende o que Chay quer dizer e fica mais apavorada ainda.
   — Você não acha que ela provocou isso, acha?
Chay vira uma esquina em alta velocidade.
   — É o que tudo indica. 
Mel pega o celular e liga para Fernanda, a amiga já sofreu com problemas de automutilação e inclusive, Mel esteve do lado dela durante momentos muito difíceis. 

Sentindo calor sob as cobertas, Yasmin acorda. 
   — Ai, que calor dos infernos! — ela diz ao tirar o cobertor de cima de si.
Yasmin senta na cama, calça os chinelos e levanta. Caminhando para o banheiro, coça os olhos e boceja. Depois de fazer sua higiene matinal, ela desce e encontra Felipe na sala com os pais. O clima está um pouco pesado e ela percebendo isso olhando nos rostos sérios dos seus familiares. 
Yasmin sorri e diz:
   — Alguém morreu?
Felipe olha para ela e responde:
   — Ainda não, mas em breve o Jonas vai morrer.
Sophia lança um olhar de censura para o filho. Ele contou para os pais do término do namoro de Isabela com Jonas e de toda a confusão envolvendo o acontecimento. Até agora eles não sabem do que Isabela fez.
   — O que ele fez dessa vez? — Yasmin senta ao lado do irmão, ambos esqueceram da discussão do dia anterior. — A Isabela tem algo a ver com essa raiva toda?
Felipe concorda.
   — Ela tem tudo a ver.
Felipe silencia e Yasmin fica aguardando que alguém explica melhor o que está acontecendo, mas ninguém fala.
   — Eu vou ter que implorar para vocês me contarem mesmo? — ela fala impaciente.
Micael abre a boca pela primeira vez.
   — O seu irmão pegou o Jonas traindo a Isabela, eles brigaram e o Felipe ameaçou o garoto, falando para ele contar a verdade para a Isabela. Hoje, o Jonas foi na casa da Isabela, contou tudo pra ela, ela o perdoou, mas mesmo assim ele quis terminar o namoro.
Yasmin fica de queixo caído por alguns segundos, depois levanta do sofá em um pulo.
   — Como a Isabela consegue ser tão idiota? Meu Deus! O garoto trai ela  e o que ela faz? Perdoa ele! — Ela eleva a voz, indignada. — Como assim?
Sophia tenta explicar o lado de Isabela, dizendo:
   — Ela o ama, filha.
   — Uma coisa é amor, outra é idiotice. — Yasmin rebate.
Felipe diz mais calmo:
   — Todo mundo sabe que a Isabela é dependente do Jonas. Uma hora ou outra isso ia acabar acontecendo.
Yasmin continua indignada.
   — Mas eu não pensei que fosse ser desse jeito. 
   — Ninguém pensou. — diz Micael.
   — Eu juro que se o Jonas aparecer na minha frente eu mato ele! — ameaça a garota.
Felipe diz:
   — Não se eu ver primeiro.
Sophia repreende os filhos:
   — Vocês dois parem com isso. Você já brigou ontem, Felipe, não quero que isso se repita. E você, Yasmin, não me apronte também.
Yasmin senta novamente e fala com a voz mais calma.
   — Foi mal por ontem, Felipe. Eu não sabia o que você tinha feito e interpretei tudo errado.
   — Tá de boa, eu também acabei descontando a minha raiva em você.
   — Eu  vou tomar café.
Micael diz:
   — A essa hora? Nós já estamos indo almoçar. 
   — Ah, então vamos, estou morrendo de fome.
Ela e os pais levantam. Sophia para no caminho para a cozinha e olha para o filho.
   — Não vai almoçar, Felipe?
   — Agora não.
Micael aconselha: 
   — Você tem que comer, filho.
Felipe levanta, ficando estressado novamente.
   — Eu só não estou com fome, que saco! — ele sobe para o seu quarto.
Micael ameaça ir atrás dele, mas Sophia segura em seu braço.
   — Ele só está preocupado com a Isabela. É só isso! — ela tenta justificar a atitude do filho.
Micael se solta sem falar nada e vai para a cozinha. Sophia vai atrás dele e Yasmin balança a cabeça.
   — Hoje essa casa está atacada. — ela segue os pais.
Yasmin para na porta da cozinha, dizendo:
   — Já volto!
Yasmin volta para a sala, sobe as escadas e vai para o quarto do irmão. Ela abre a porta devagar e encontra Felipe sentado na cadeira do computador com um violão nos braços, dedilhando algumas notas.
  — Felipe? — ela fala baixinho.
Felipe responde sem tirar os olhos do violão.
   — O que foi?
   — Posso entrar? — ela pergunta com apenas a cabeça dentro do cômodo.
Felipe dá de ombros e Yasmin entra no quarto.
   — Você tá bastante preocupado com a Isabela, né?
Ela senta na cama e olha para o irmão, que não retribui o olhar e continua fitando o violão.
   — Tô.
   — Confesso que eu também estou. — O tom de voz de Yasmin está bem mais grave. — Tenho medo do que ela possa fazer.
Os dois permanecem em silêncio, pensando em Isabela. 

Aos poucos, Isabela começa a abrir os olhos. A primeira coisa que ela vê é um teto branco, vira a cabeça e enxerga uma poltrona, onde Fernanda está sentada. Mel se aproxima da cama da filha e pega na mão dela. A adolescente olha para o rosto da mãe e não consegue controlar as lágrimas que se formam em seus olhos.
   — Desculpa, mãe! Desculpa! — ela se sente culpada.
Mel também está emocionada e aperta ainda mais a mão de Isabela. A garota olha para o próprio braço e vê uma faixa o envolvendo. 
   — O que aconteceu comigo? — ela pergunta.
   — Você se cortou, filha. — responde Mel em um tom mais suave.
Isabela controla o choro e diz:
   — Eu sei, quero saber o que aconteceu depois. Eu não consigo me lembrar de depois que cheguei no hospital.
   — Te sedaram porque você estava muito nervosa. 
   — O que aconteceu com o meu braço?
   — Você levou alguns pontos. 
Isabela desvia o olhar, fitando os próprios pés enquanto absorve as palavras de Mel. Em seguida, olha para Fernanda, se perguntando o que ela está fazendo ali. Como se tivesse lido os pensamentos da filha, Mel diz:
   — A Fernanda veio aqui para poder conversar com você.
Isabela continua sem entender e não fala nada. Fernanda sorri gentilmente e caminha até a beira da cama. Ela pousa as mãos no braço "bom" de Isabela enquanto diz:
   — Eu já passei por isso, Isa.
   — Isso o quê? — Isabela ainda está confusa e se esforça ao máximo para entender o que Fernanda diz, mas o remédio ainda está em seu sangue e dificulta o seu raciocínio. 
    Eu já me automutilei. — Fernanda diz com todas as letras.
Isabela fica surpresa e ao mesmo tempo constrangida por estar ouvindo isso dela. 
   — Eu sei exatamente o que você está sentindo. — completa Fernanda.
Isabela lembra do término e da angústia que é imaginar sua vida sem Jonas.
   — Você também já foi abandonada? — ela pergunta a Fernanda.
Fernanda levanta um braço, exibindo a parte interna, onde uma leve cicatriz está estampada e diz:
   — Esse foi o corte mais grave que já fiz. Eu me lembro como se fosse hoje desse dia. — Ela fica com o olhar parado no lençol da cama enquanto se recorda. — Eu tinha brigado com o Mateus, na época a gente ainda era apenas namorados, ele ficou com ciúmes de um menino e a gente discutiu. Ele sabia do meu problema e jogou isso na minha cara. Foi horrível, eu senti o chão quebrar sob os meus pés, o mundo desabando na minha cabeça. 
Isabela se identifica com a descrição de Fernanda e a mulher, que era apenas uma garota quando tudo aconteceu, continua:
   — Eu me senti um lixo, como se eu fosse nada. Como eu sempre fazia quando me sentia mal, me cortei no pulso. Depois eu fui em um show dos Rebeldes com um primo do Chay e o Mateus estava lá com uma garota, a Valentina. A noite foi horrível, eu fiquei com o Gustavo, primo do Chay, e o Mateus com a Valentina. No dia seguinte, o Mateus foi conversar comigo, só que eu não conseguia perdoá-lo. — Ela respira fundo, se lembrando do momento mais difícil. — Quando ele foi embora, eu corri para o quarto da minha mãe, peguei um estilete e fiz um corte no meu braço esquerdo. Como eu sou canhota, não consegui controlar a força e fiz um corte muito, mais muito fundo. Começou a sair bastante sangue e eu fiquei desesperada.
A adolescente está envolvida com a história e se recorda também da manhã, sentindo um arrepio na nuca. Fernanda prossegue, ainda olhando fixamente para o lençol:
   — Vendo a quantidade de sangue que estava saindo de mim, não consegui controlar o desespero e acabei desmaiando. Quando eu acordei já estava deitada em uma cama de hospital, igual a você.
Fernanda olha para o rosto de Isabela, voltando para o presente. Mel que estava tão absorvida na história quanto a filha, lambe os lábios e começa a falar:
   — A história da Fernanda é mais sofrida do que a sua filha, porque ela passou anos com esse sofrimento. 
Fernanda diz:
   — A minha mãe nem sonhava que eu fazia isso. Depois quando ela descobriu, nós duas começamos a fazer tratamento e tudo. — Ela respira fundo. — Enfim, hoje eu só tenho as cicatrizes e as memórias.
   — A gente está fazendo tudo isso porque não queremos que você passe por isso, Isa. — diz Mel.
Isabela se defende:
   — Foi só uma vez, mãe. 
   — O primeiro passo. — fala Fernanda.
Isabela fica impaciente.
   — Eu não vou dar mais nenhum passo. Foi um erro, eu sei, mas eu não preciso de tratamento, eu não preciso da compaixão de vocês. — Ela fecha os olhos, se sentindo culpada por estar falando assim com as pessoas que só querem ajudá-la, mas ao mesmo tempo irritada com a situação.
Fernanda e Mel trocam um olhar preocupado. Mel tenta mudar de assunto, dizendo:
   — Daqui a pouco você vai receber alta. 
Ainda com os olhos fechados, Isabela diz:
   — Tá. 
Fernanda solta o braço de Isabela, dizendo:
   — Eu vou indo. Até mais!
Mel olha agradecida para ela.
   — Obrigada. Tchau!
Antes de sair, Fernanda lança um olhar carinhoso para Isabela, mas a jovem não vê, pois permanece com os olhos fechados. Mel pega no braço da filha, a obrigando a abrir os olhos.
Isabela olha para a sua mãe.
   — O que foi?
   — Você poderia ter sido um pouco mais educada com a Fernanda, né?
Isabela suspira e nada diz. 
   — A Fernanda vem aqui, conta a sua história para você e você nem agradece. — Mel está realmente chateada com a filha. — Nem o Thiago, que é filho dela, sabe dos problemas que a mãe passou, sabia?
Isabela da de ombros.
   — Não posso fazer nada, mãe.
Mel respira fundo, tentando manter a calma e se lembrando que o dia da filha não começou nada bem. 
   — Tudo bem. 
   — Eu posso ficar sozinha? — pede Isabela, com medo de magoar ainda mais a mãe se passar mais alguns minutos com ela. 
   — Pode. Qualquer coisa é só apertar esse botão. — Mel indica um botão na lateral da cama. 
   — Tudo bem. — A garota evita o olhar da mãe.
Mel dá um beijo na testa de Isabela e sai do quarto em silêncio. Assim que a porta se fecha, Isabela começa a chorar, envergonhada pelo que fez e principalmente, desesperada por causa do término. 

No corredor do hospital, Mel abraça Chay. Ele aperta a sua mulher em seus braços, tentando tranquilizá-la. 
   — Eu estou tão preocupada. — ela sussurra para ele.
   — Calma! Ela vai ficar bem. — Chay está tão preocupado com Isabela quanto Mel, mas prefere ocultar isso. 
Vinícius observa os pais, sentado em uma cadeira. Ele lembra da conversa com Felipe e resolve avisá-lo do que houve. 
   — Já volto! — ele diz enquanto levanta. Caminhando em um ritmo contínuo, ele se afasta dos pais e pega o celular no bolso da calça jeans. 

Marina está pensativa, deitada no sofá de sua casa. Lua e Arthur estão na sala de jantar, combinando os preparativos para o aniversário dos gêmeos. Ninguém na mansão sabe do que houve com Isabela.
   — Quando a gente vai contar dos nossos planos para eles? — pergunta Arthur a sua esposa.
   — Precisamos reunir todos. Ou melhor, só os aniversariantes mesmo. — explica Lua.
   — Isso precisa ser breve, porque os aniversários já estão aí. 
   — Eu sei, depois converso com a Mel e com a Sophia. — tranquiliza Lua. 
Na sala, Marina decide quando vai ligar para Brian, tentando criar coragem para contar da traição. Em sua barriga, seu celular começa a tocar e ela se assusta, quase derrubando o aparelho. Ela sente um calafrio pelo corpo ao olhar no identificador de chamadas.
   — Brian. — ela sussurra para si. Depois engole em seco e atende. — Alô? — Marina se esforça para manter a voz firme, em vão.
   — Oi, Mari. — a voz de Brian está mais séria, mas Marina está tão nervosa que nem percebe isso. 
   — Oi, Brian. — É o máximo que ela consegue dizer.
   — Como você tá? — ele pergunta.
   — Bem. — O estômago dela se revira. 
  — Mari, eu agradeceria se você falasse em inglês. — pede Brian gentilmente, mas ainda sério. 
Marina dá um leve sorriso ao ser alertada que está falando em português. Ela começa a falar no mesmo idioma que o namorado.
  — Desculpa, acho que estou me acostumando a falar português sempre. 
  — Estou percebendo. 
Os dois permanecem em silêncio por alguns longos segundos. Marina está tão concentrada na própria culpa, que não percebe que Brian está diferente. Ele quebra o silêncio, dizendo:
   — Eu tenho uma coisa pra te contar. 
O coração de Marina dispara e ela se esforça para conseguir falar.
   — Eu também tenho. — A voz dela está mais fraca do que nunca. 
   — Eu passei a semana pensando em como te dizer isso, mas não consegui pensar em uma maneira agradável.
Marina está cada vez mais nervosa e senta no sofá, forçando o seu pulmão a respirar. 
   — Pode falar.  — ela conclui em pensamento: "Não pode ser pior do que o que eu tenho a dizer."
Brian exita por um momento, mas acaba soltando um suspiro e dizendo:
   — Eu te traí! — ele confessa com a voz tremida. 
   — O quê? — Marina é pega de surpresa. 
   — Desculpa, meu amor! Eu estou me sentindo péssimo, não sei como pude fazer isso com você. Me desculpa, por favor!
   — Eu sei exatamente como você está se sentindo. Eu também te traí, Brian! — ela desabafa. 
   — É sério? — ele pergunta, perplexo.
   — Sim! Desculpa. 
   — Eu sei como você se sente. Ao mesmo tempo que você me ama, não conseguiu evitar a traição, né?
   — Exatamente. — ela ainda está assustada com o que está acontecendo.
   — Foi o que aconteceu comigo. Sabe o que eu acho, Mari?
   — Não. O que você acha?
   — Eu acho que é melhor nós terminarmos. 
Marina sente uma pedra descendo por sua garganta, rasgando tudo o que vê pela frente. 
   — Como?
   — Eu te amo muito, mas a distância está acabando com o nosso relacionamento. — ele diz com a voz frustrada. — Olha o que nós fizemos. Eu nunca pensei que fosse te trair e nunca pensei que fosse ser traído por você. 
   — Mas Brian, e tudo o que a gente viveu? — ela pergunta com uma voz chorosa. 
   — Foi ótimo, mas é melhor nós terminarmos agora do que continuar desse jeito. Eu não quero te machucar e também não quero me machucar. É o melhor para a gente, Mari. 
Marina se sente péssima, mas no fundo sabe que Brian tem toda a razão. 
   — Você está certo. — ela diz baixinho. 
   — Saiba que esse é o término do nosso namoro, mas não da nossa amizade. Eu te amo muito e sempre vou te amar, mas como amiga. Não quero que você desapareça da minha vida. — Brian pede. 
   — Eu não vou sumir da sua vida e não quero que você suma da minha. — Marina não consegue controlar as lágrimas. — Eu te amo, Brian!
Do outro lado da linha, Brian também chora. 
   — Eu também te amo! 
Eles soluçam. Marina respira fundo. 
   — Eu... eu vou desligar. Jura que essa não vai ser a última vez que nós vamos nos falar?
   — É claro que eu juro. A gente não vai só se falar, eu vou aí no Brasil te ver assim que der. — promete Brian.
   — Te amo! — Marina sussurra e desliga. Ela fecha os olhos, deixando as lágrimas rolarem. Ao mesmo tempo que está triste por causa do término, se sente aliviada por ter esclarecido tudo com Brian. 

Após almoçarem, Sophia e Micael voltam para a sala e encontram o celular de Felipe tocando sobre a mesa de centro. 
   — Vou lá entregar pra ele. — Sophia pega o aparelho e sobe as escadas. Ela abre a porta do quarto de Felipe e o encontra com Yasmin. Os dois estão em silêncio.
   — Tava tocando lá em baixo. — ela entrega o aparelho do filho e sai do quarto.
Felipe atende. 
   — Oi, Vinícius. 
   — Até que enfim você atendeu, eu já liguei umas quatro vezes. 
   — Aconteceu alguma coisa? — A voz de Felipe fica grave, como sempre acontece quando ele altera o seu humor. 
   — A gente está no hospital. 
A preocupação de Felipe chega ao nível mais elevado. 
   — Como? O que aconteceu?
   — A Isabela se cortou no espelho, Felipe. — informa Vinícius. 
Felipe levanta e recebe o olhar curioso de sua irmã. 
   — O que está acontecendo? — pergunta Yasmin.
   — Você tá falando sério? — Todos os músculos do corpo de Felipe estão tensionados. 
   — Infelizmente estou. 
   — Meu Deus! Ela fez de propósito? 
   — Sim. Ela está muito nervosa, Felipe, já tomou uns calmantes, mas não funcionou. 
   — Ela vai ficar internada? 
Yasmin arregala os olhos e fica em pé na frente do irmão. 
   — Internada? Do que vocês estão falando?
Vinícius responde a pergunta de Felipe.
   — Não, daqui a algumas horas nós estamos indo para casa. 
   — Eu vou esperar vocês lá. 
   — Tá, acho que a Isabela vai precisar de você. Apesar de tudo, você é o melhor amigo dela.
   — Ok! Tchau. 
Eles desligam e Felipe desaba na cadeira novamente. Yasmin continua olhando para ele. 
   — E então? — ela questiona com as sobrancelhas arqueadas. 
   — A Isabela se automutilou. — Felipe conta totalmente sério. 
Yasmin continua olhando para ele, agora inexpressiva. Ela recupera a voz e diz:
   — Eu vou matar o Jonas! — Uma fúria invade os olhos de Yasmin. Felipe levanta e segura nos braços dela. 
   — Agora não! A Isabela está precisando da gente, nós temos que ajudá-la primeiro. 
Yasmin se solta e começa a andar pelo quarto, indignada.
   — Isso tudo só está acontecendo por causa dele, aquele filho da p*ta!
   — O que é dele ainda está guardado. 
O ódio transparece pelo olhar de Felipe. 

Horas depois. A cabeça de Isabela sacoleja apoiada na janela, conforme o carro anda. Ela fecha os olhos, esperando acordar do pesadelo que está vivendo. Quando percebe que isso não irá acontecer, ela encara a rua que passa e começa a lembrar de Jonas. Lágrimas invadem seus olhos e ela enxuga o rosto antes que alguém veja. Ao seu lado, Vinícius repara que ela chora, mas prefere não dizer ou fazer nada. 
Chay estaciona na garagem da mansão e eles descem. Mel abre a porta enquanto Vinícius diz para irmã:
   — Tem alguém aí a sua espera. 
O rosto de Isabela se ilumina ao pensar em Jonas e ela é a primeira a entrar na mansão. Ela para ao ver Felipe sentado no sofá, de costas para a porta. Yasmin também está na sala, sentada em uma poltrona de frente para a entrada. Ela levanta e Felipe faz o mesmo. Isabela olha para os dois rapidamente e focaliza o seu olhar em Felipe. 
   — O que ele tá fazendo aqui? — ela pergunta com a voz acusatória. 


Comentários

  1. Naaaaaaaaaaaao! A Isa nao pode brigar com o lipeeeee! Nao pode!!!!! Ele tem que cuidar dela, a Isa vai precisar de carinho

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